JÔ SOARES TAGARELA
"Quem fala mais?", copyright Folha de S. Paulo, 15/04/02
"Não. Jô Soares não fala mais que seus convidados. Ao contrário do que se costuma dizer desde que estreou seu ?talk show? diário, em setembro de 1988, ele fala menos -ainda que só um pouquinho menos.
O placar indica: Jô discorre por 44,4% do tempo de suas entrevistas. Seu convidados comparecem com 55,6%. A cronometragem, feita pela Folha entre 2 e 5 de abril, semana de reestréia do ?Programa do Jô? na Globo, não contabilizou a abertura, as piadas no início de cada bloco nem os musicais.
Comparado a seus colegas de ?talk shows? diários, Jô fala bem mais. Marília Gabriela (Rede TV!, 23h) monopoliza 28% das conversas e o norte-americano David Letterman (GNT, 22h), 28,2%. A cronometragem dos programas de Marília e de Letterman foi feita nos mesmos quatro dias que a de Jô Soares.
?Acho uma boa média. Nada de assustador. Mesmo porque, às vezes, tenho coisas a dizer sobre o assunto?, diz Jô. O apresentador também lembra que seu programa tem um perfil de entretenimento, não sendo propriamente jornalístico. ?Um dos intuitos é divulgar, outro é entreter?, explica o artista, que atuou em humorísticos por 17 anos na Globo, antes de comandar entrevistas no SBT.
Com todas as críticas que se possa fazer, o ?Programa do Jô? é um campeão de audiência. Na semana de reestréia, em seu terceiro ano na Rede Globo, o programa deu uma média de 11 pontos. No dia da reestréia, ao vivo, começando após a 1h e se estendendo até perto das 3h, Jô conseguiu a média de 12 pontos de audiência (um ponto de audiência equivale a cerca de 47 mil domicílios da Grande SP com a TV ligada).
Quanto ao chamado ?share?, um índice que mede a audiência apenas entre as TVs que estão ligadas naquele momento, Jô conseguiu média semanal de 49%. Na terça-feira, alcançou 68%.
Reestréia verborrágica
Analisando os tempos das entrevistas de Jô Soares, percebe-se que há dias em que o anfitrião está bem mais verborrágico do que em outros. Isso acontece bem menos tanto com Marília Gabriela quanto com David Letterman, que mantêm suas porcentagens mais uniformes. Pegue-se o exemplo de terça, por exemplo, quando o programa reestreava.
Nesse dia, Jô realmente falou mais que seus entrevistados. Durante os 61 minutos e 53 segundos que duraram as três entrevistas, Jô dominou 56,9% do tempo, contra 43,1% dos convidados.
O etimólogo Gabriel Perissé, 40, foi quem menos falou no dia -e na semana. Sua contribuição para a entrevista de 23 minutos e 25 segundos foi de apenas 35,8%.
?Não fiquei chateado nem nada, mas deu um gostinho de quero mais. Jô foi muito elegante. Ele estava preparado para a entrevista e falou de palavras que eu não conhecia etimologicamente?, diz o estudioso, que lançou um livro no prazo recorde de uma semana, ao saber que iria aparecer no programa.
?Me deixa falar?
No extremo oposto da terça-feira está a quinta, quando Jô falou tão pouco (32,2%) que teve uma média próxima a de seus colegas Marília Gabriela e David Letterman. Nesse dia, o mais falador foi o jornalista Hélio Bloch, 76, que monopolizou 81,8% do papo.
?Falei bastante mesmo. Senti um interesse e respeito da parte dele e tive um ótimo retorno após a entrevista?, diz Bloch.
Outro falador, que dominou 60,3% de sua entrevista, foi o cientista Cleófas Uchoa, 66, na sexta-feira. Uchoa acabou protagonizando um momento curioso. Discorria sobre genética quando Jô o interrompeu. Uchoa virou-se para a platéia e soltou: ?Ele vai falar dez dias seguidos aqui?. ?Não, eu só queria encaixar uma pergunta, não queria falar nada?, respondeu Jô. O cientista diz que não ficou irritado na hora. ?Falei em tom de brincadeira?, diz Uchoa."
"?Não falo mais que os entrevistados?, diz Jô Soares", copyright Folha de S. Paulo, 15/04/02
"Jô Soares, 63, criticou a cronometragem de seu programa e quis saber se a abertura estava incluída. Interessado nos números de David Letterman, argumentou que, no fim das contas, quem fala mais é o norte-americano. Abaixo, a entrevista. (IF)
Jô Soares – Vem cá, essa cronometragem de 44% é o programa inteiro, com as aberturas, ou só as entrevistas?
Folha – Só as entrevistas, a partir do momento em que você faz o sinal para o sexteto parar. Também não foram contadas as atrações musicais. O que você achou?
Jô – Acho uma boa média. Não acho nada de assustador. Mesmo porque, às vezes, tenho coisas a dizer sobre o assunto.
Folha – Mas você já ouviu comentários de que você fala mais que seus entrevistados?
Jô – Eu sei, já ouvi isso várias vezes. E eu sei que eu não falo mais que meus entrevistados. E, se um dia eu falar mais, é porque ele não está falando nada. O programa é um bate-papo, um jogo de tênis. Eu mesmo brinco: ?Sou um gordo exibido?. Depois sai publicado que eu sou um gordo exibido. Acho injusto isso. Não me interessa saber se eu falo menos que David Letterman, se eu falo mais do que a Marília Gabriela. É muito provinciano isso, ridícula essa comparação.
Folha – A Marília Gabriela tem um programa jornalístico. No seu caso, seria mais entretenimento?
Jô – É verdade, o meu programa já tem esse perfil. O programa também é de entretenimento. E tem um propósito de divulgação, sem nenhum interesse. Editores dizem que, quando vêm aqui, a primeira edição do livro está garantida. Um dos intuitos é esse. Por curiosidade, quanto é que o David Letterman fala?
Folha – Quase 30%.
Jô – Mas quanto tempo dura a entrevista dele?
Folha – Entre 10 e 15 minutos.
Jô – E quantos convidados ele traz?
Folha – Geralmente um.
Jô – Pois então. Ele faz um programa de uma hora e só traz um convidado. Dá 12 minutos pra ele e ainda rouba 30% do cara. Eu pego três convidados e cada um fala 18, 20 minutos. Então, vê quem fala mais?"
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"Convidado faz livro só para ir ao programa", copyright Folha de S. Paulo, 15/04/02
"Gabriel Perissé, 40, pode ter sido o convidado que menos falou na noite de reestréia do ?Programa do Jô?. Mas em compensação, protagonizou uma história das mais curiosas nos bastidores do programa.
Professor de literatura com dois livros lançados e etimólogo nas horas vagas, Perissé recebeu um telefonema da produção do programa uma semana antes da reestréia.
?Queriam que eu fosse falar a respeito de etimologia, que estuda a origem das palavras. Tinham lido artigos meus na internet?, conta o professor.
Ele desligou o telefone feliz com o convite, mas se lamentando: ?Pena que eu nunca tenha publicado um livro sobre etimologia?.
Um instante depois veio a idéia. O professor ligou para a editora Mandruvá, que publicou uma de suas obras sobre literatura, e despejou: ?Me chamaram para o Jô. Tenho vários artigos e 185 verbetes pesquisados. Falta organizar. Dá para fazer o livro em uma semana??.
Os funcionários trabalharam na Sexta-Feira Santa e no Domingo de Páscoa, mas deu. Na terça-feira, dia 2 de abril, lá estava ele no programa com seu ?Palavras e Origens?, 95 páginas e 14 reais, debaixo do braço.
A edição, à venda na Livraria Cultura e outras redes, saiu com mil exemplares. ?Até quinta passada, já tínhamos vendido 354 exemplares?, comemora Perissé, criador do livro-relâmpago."
ESQUINAS DE SP CENSURADA
"Capa de revista da Cásper Líbero causa polêmica", copyright Folha de S. Paulo, 20/04/02
"O presidente da Imprensa Oficial de São Paulo, Sérgio Kobayashi, determinou que o órgão não imprima o próximo número da revista ?Esquinas de SP?, editada pelos alunos do curso de jornalismo da faculdade Cásper Líbero.
Os motivos foram fotos consideradas ?de mau gosto? pela gráfica. A imagem da capa mostra dois homens se beijando, um branco e o outro negro. Sobre a foto foram inseridos eletronicamente uma cruz e uma estrela-de-davi em forma de brinco.
Para Kobayashi, a cena é muito polêmica e trará ?mais prejuízos do que dividendos à imagem da Imprensa Oficial?.
Para os editores da revista, a decisão de Kobayashi equivale a uma censura. ?Só queremos colocar as pessoas para pensar sobre intolerância?, disse Carolina Cassiano. A revista deve ser impressa em outra gráfica."