Saturday, 19 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1310

Ivan Finotti

BAIXARIA NA TV

“?Ranking da baixaria? quer apoio do governo”, copyright Folha de S. Paulo, 3/05/03

“Para pressionar as emissoras a elevar o nível de sua programação, a campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados, quer a ajuda do governo federal para fazer o máximo de barulho possível com seu ?ranking da baixaria?.

Divulgado anteontem, o ranking lista os programas de TV que receberam o maior número de reclamações, como ?Domingo Legal? e ?Big Brother Brasil?.

Além de enviar a lista para o Ministério Público e para as redes de TV, a comissão agora busca o apoio dos ministérios da Educação, Cultura e Saúde.

?É uma ótima idéia?, afirma o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), coordenador da campanha. ?Vamos mandar o ranking e nossos pareceres para o Ministério da Educação porque o linguajar utilizado nesses programas, com o uso de palavras de baixo calão, é um desserviço à população?, afirmou o deputado.

?Ao Ministério da Cultura, pediremos uma análise para ver se esses programas são culturais ou não. Já o Ministério da Saúde poderá confirmar o impacto à saúde pública exercido pelas imagens de tentativas de suicídio, exibidas por alguns desses programas. Ver na TV uma pessoa apontando uma arma para o próprio queixo pode ser um estímulo a pessoas desequilibradas.?

Boicote

Na semana que vem, Fantazzini vai solicitar que as direções das emissoras recebam os pareceres e alterem seus programas. Mas como sabe que isso não é fácil, o coordenador já traçou duas novas possibilidades de ataque.

Fantazzini explica: ?Se as emissoras resistirem, entraremos em contato com os patrocinadores desses programas. Pediremos que retirem o patrocínio. Se isso também não der certo, iniciaremos uma campanha pedindo o boicote da população aos produtos desses patrocinadores?.

Iniciada em novembro de 2002 por iniciativa da CDH, a campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania coletou 805 denúncias de telespectadores por meio do www.eticanatv.org.br e do telefone 0800-619-619. A justificativa da maioria das reclamações foi o forte apelo sexual, seguido pela violência.

Após a definição do ranking, em 13 de abril, os programas foram analisados individualmente pelo conselho da campanha -que elaborou pareceres sobre os pontos positivos e negativos de cada programa.

Esse é o segundo ?ranking da baixaria? divulgado pela campanha da CDH. O primeiro, de fevereiro, acabou desmoralizado pelas emissoras de TV. Uma das razões é que ele apresentava apenas 62 denúncias, sendo considerado inexpressivo.

A outra razão que afundou o ranking anterior é que ele seguia critérios confusos de justificativa das denúncias. Confundia baixaria (desrespeito aos direitos humanos, segundo a cartilha da campanha) com qualidade questionável.

Assim, programas como o infantil ?Xuxa no Mundo da Imaginação?, que teve quatro reclamações, apareciam à frente de outros bem mais polêmicos, como ?Domingão do Faustão?, que havia recebido três denúncias.”

“Gugu Liberato lidera ranking da baixaria”, copyright O Estado de S. Paulo, 1/05/03

“O Domingo Legal, do SBT, é o campeão da baixaria na TV. O programa de Gugu Liberato foi o maior alvo de queixas da campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, coordenada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O Domingo Legal recebeu 157 das 805 denúncias dirigidas à Comissão – a maioria via internet -, entre os dias 12 de fevereiro e 13 de abril.

Considerando que o Domingo Legal normalmente esbarra nos 20 pontos de média de audiência na Grande São Paulo, onde 1 ponto equivale a 48 mil domicílios, o número de queixas pode ser pouco representativo. Mas contando que a campanha não saiu às ruas para colher a opinião do público – dependeu unicamente da manifestação espontânea dos telespectadores – o parâmetro é legítimo.

?É espontâneo e vem do universo de internautas, o que resulta um perfil bem diferente do telespectador de modo geral, mas é um início?, reconhece Laurindo Leal Filho, da ONG TVer e integrante da comissão. Laurindo participa também do Fórum Paulista pela democratização do rádio e da TV, criado anteontem, na Assembléia Legislativa, a fim de supervisionar também a programação regional. Um grupo como este vem sendo criado paralelamente em outros Estados.

Em segundo lugar, na lista dos piores, vem o apresentador dos programas Canal Aberto e Eu vi na TV, João Kleber, da Rede TV!. O terceiro lugar é ocupado pelo reality show Big Brother Brasil, da TV Globo, seguido dos programas de Ratinho, Faustão, Sérgio Mallandro, Hora da verdade (de Márcia Golschmidt), Zorra Total, Falando Francamente (de Sônia Abrão) e Cidade Alerta.

O próximo passo é encaminhar essas queixas às emissoras de TV. E, se nenhuma providência for tomada, o time da campanha levará a questão ao conhecimento dos anunciantes que patrocinam esses programas ou veiculam seus comerciais em seus intervalos. A idéia é mostrar que o produto ali anunciado é associado a um programa mal visto em termos de qualidade.

O telefone e o site para que o público encaminhe suas queixas continuarão em funcionamento. A comissão da campanha divulgará as posições no ranking dos piores da TV a cada dois meses. O site é o www.eticanatv.org.br e o telefone, 0800-619619.”

“A televisão que faz mal aos adultos”, copyright O Estado de S. Paulo, 4/05/03

“Há um debate que não quer calar. Diz respeito à influência nociva da TV na vida das crianças. É um fato que a televisão continua sendo a babá eletrônica da imensa maioria das crianças brasileiras. Com o aumento de aparelhos nas classes C e D, não é difícil adivinhar que, enquanto os adultos das chamadas ?camadas pouco favorecidas da população? batalham em busca do pão nosso de cada dia, seus filhos postam-se diante da TV, que passa a ser, para muitos, a grande, senão única, opção de lazer.

A TV causa estragos às crianças. Possui virtudes positivas, mas as negativas se referem desde a estragos comportamentais quanto a outros, de natureza mais física. A passividade da criança diante da TV favorece a obesidade, pode levar a disfunções motoras. Tudo isso é certo e há cada vez mais pais, educadores, juízes e ONGs que se dedicam à defesa de crianças preocupados com o assunto. O problema é sério. Preocupemo-nos com as crianças, mas preocupemo-nos também com seus pais. Ou devemos partir do pressuposto de que os adultos são casos perdidos, que a TV já completou neles seu ciclo de estragos?

Não se trata de pedir censura na TV, mas não vamos ser cínicos de achar que não há uma censura já em vigor. Chama-se dinheiro. Money, tutu, dêem o nome que quiserem. No mundo globalizado, a liberdade virou uma calça azul e desbotada. A única liberdade é de escolha, mas, claro, essa escolha é induzida pela publicidade. Vive-se hoje uma ditadura da audiência, embora seja difícil definir, desde o advento da TV, quando ela não esteve em vigor.

O lixo televisivo está no ar porque dá audiência e aumenta a audiência porque não sai do ar. Temos aqui um belo paradoxo.

No ano passado, Cidade de Deus bateu recordes de público nos cinemas e um derivado do filme de Fernando Meirelles, a série Cidade dos Homens, não apenas teve ótima audiência na Globo, como ganhou o grande prêmio de televisão atribuído pelos associados da APCA, a Associação Paulista dos Críticos de Artes. Em princípio, seria o tipo de programa que o público não quer ver. Pela lógica das emissoras, o público quer ver Ratinho (ainda!), Sérgio Mallandro, João Kleber. Não são programas para crianças, mas aos quais as crianças terminam tendo acesso pelos fatores que todo mundo está cansado de saber. Não pense agora nas crianças. Pense, por um momento, nos adultos. Teoricamente, eles têm a mente formada, possuem discernimento e, pombas!, são maiores de idade, eleitores (presumivelmente), devem saber escolher o que querem.

Pense nesses adultos. O que eles, nem são mais as crianças, têm a aprender com esses programas? A exploração da miséria humana é neles uma constante.

Estimulam todo tipo de preconceito. Os piores são sempre quanto à orientação sexual e você sabe do que estamos falando. Com o preconceito, indesligável dele, está a pornografia, já que esses programas todos vivem de subentendidos e analogias de quem só pensa naquilo. Ratinho deve ser recordista em matéria de infringir direitos humanos, mas ele posa com cara de santo, como se fosse o arrimo dos pobres, o salvador dos desvalidos. Se alguém se salva deve ser ele, cuja conta bancária aumenta na proporção em que baixa o nível de seu programa.

Qual é a solução, nesse processo? Defender o politicamente correto, como fazem os americanos? Não dá certo. Nosso sincretismo cultural é oposto ao calvinismo deles, que também está diminuindo. Vamos ser francos: pode-se falar mal de tudo. O lixo eletrônico parece inesgotável. Telenovelas – todo mundo vive reclamando delas -, Big Brother Brasil, esses programas que exploram conflitos pessoais. Não é um fenômeno brasileiro. Nos EUA, na Europa está ocorrendo a mesma coisa. É modelo global. Você leu global? Sim, tem a ver com esse mundo globalizado e o modelo consumista sobre o qual ele se assenta. George W. Bush disse num discurso que era preciso fazer guerra ao terror porque ele cria inquietação, promove a insegurança e isso reduz o consumo. É complicado mudar tudo isso, mas de alguma forma é preciso começar. Você está preocupado com o que seus filhos estão consumindo? Faz muito bem. É preciso uma ação política integrada entre Estado e sociedade civil para forçar as redes a encararem sua responsabilidade. Na verdade, é preciso cidadania. Tudo pode começar daí. Sem cidadania, não há solução.”

“Gugu e João Kleber lideram o ranking de baixarias na TV”, copyright Revista Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 30/4/2003.

“O programa Domingo Legal, do apresentador Gugu Liberato, lidera o ranking dos programas mais denunciados pelos cidadãos à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A lista do ranking foi divulgada durante o 2? Encontro de Conselheiros da campanha ?Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania?, esta semana.

De acordo com a Agência Câmara, o programa do SBT recebeu 157 reclamações do total das 805 apresentadas até o dia 13 de abril. As queixas mais constantes foram sobre as atrações de apelo sexual e sensacionalismo.

O segundo lugar ficou com o apresentador João Kleber pelos programas Canal Aberto e Eu vi na TV, da Rede TV, que receberam 115 reclamações da população. Motivo: ?repertório de palavrões? do apresentador e discriminação por orientação sexual observada no programa.

Em seguida, com 97 queixas de telespectadores, aparece o Big Brother, da Rede Globo. Os cidadãos afirmaram que o programa tem um forte apelo sexual.

Os telespectadores reclamaram principalmente de apelo sexual na programação da TV brasileira, vocabulário impróprio, uso de palavrões e incitação à violência. O resultado será divulgado na Assembléia Legislativa de São Paulo.

O 2? Encontro de Conselheiros reuniu dez conselheiros dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Distrito Federal, que opinaram sobre os programas que mais violam os direitos humanos.

O coordenador da campanha, deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), garante que a iniciativa não visa a censura e sim a melhoria da qualidade dos programas de televisão.

Qualquer pessoa pode fazer denúncias contra programas de TV. Basta acessar o site www.eticanatv.org.br ou o telefone 0800-619-619.

Conheça o ranking dos programas mais reclamados:

1? – Domingo Legal, de Gugu Liberato, com 157 reclamações por apelo sexual e sensacionalismo;

2? – Canal Aberto e Eu Vi na TV, de João Kleber, com 115 queixas pelo repertório de palavrões e discriminação por orientação sexual;

3? – Big Brother, com 97 denúncias por apelo sexual;

4? – Programa do Ratinho, de Carlos Massa, com 94 ocorrências, por incitação à violência e cenas impróprias para o horário;

5? – Programa do Faustão, com 78 denúncias por apelo sexual e vocabulário impróprio;

6? – Sérgio Malandro, com 37 queixas por incitação à violência e vocabulário impróprio;

7? – Hora da verdade, com 15 reclamações devido ao horário impróprio;

8? – Zorra Total, com 13 denúncias por apelo sexual;

9? – Falando Francamente, com 12 ocorrências por apelo sexual;

10? – Cidade Alerta, com 10 denúncias por violência.”