Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ivson Alves

ASSESSORIA DE IMPRENSA

“Repensando assessorias – III”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/7/03

“Bem, voltando à vaca fria, vou falar mais um pouco sobre assessorias de imprensa. Como você deve lembrar, comecei a série admitindo a minha mudança de ponto de vista sobre assessor de imprensa exercer função jornalística – antes acreditava que sim e agora creio que não. Essa nova visão, porém, não desmerece em nada o trabalho do assessor. Na segunda coluna, em cima de um emeio enviado por coleguinha a respeito da primeira, escrevi sobre a minha crença de que o jornalista institucional – também conhecido como assessor de comunicação ou de imprensa – é um profissional importante no quadro da democracia contemporânea.

Esta importância, porém, deve vir acompanhada de algumas regras básicas, de uma deontologia (definida no Houaiss como ?conjunto de deveres profissionais de qualquer categoria profissional minuciados em códigos específicos?) a ser seguida com rigidez. Mais uma vez aquela colega citada na segunda coluna vem em meu auxílio. Veja de novo o simpático emeio que ela me mandou:

?Caro colega,

Li o texto ?Repensando Assessorias?. Não tenho a intenção de polemizar o assunto até porque acho que esse é um tema que ainda renderá muitas interrogações, que precisam numa ampla discussão, sem ofensas, serem respondidas e os ponteiros acertados entre os jornalistas de redação de um jornal e os das assessorias de imprensa.

Por causa de vários fatores desempenho as duas funções (assessor e repórter diário). Quero apenas dizer, que o que me impulsionou a fazer jornalismo foi saber é a profissão é um braço da democracia e que pode

contribuir, e muito, com pleno exercício da cidadania. Procuro, sempre que existem brechas, fazer meu papel de cidadã porque assim me sinto bem.?

A primeira regra deontológica de um profissional de jornalismo institucional é que ele/ela, creio, não pode ser, ao mesmo tempo, empregado de uma empresa jornalística. Essa jornada dupla deixa o profissional muito vulnerável a pressões, tanto de um lado como de outro. Mesmo que o/a colega trabalhe numa editoria no veículo de comunicação (por exemplo cultura) e a instituição a que presta serviço de assessoria seja de outro campo (por exemplo economia), ainda assim as pressões estariam presentes, já que apenas a presença física do/da profissional nos dois lados propiciaria oportunidades para que ele/ela fosse pressionado/a.

O conflito de interesses pode parecer óbvio no eixo Rio-São Paulo-Brasília, mas parece não ser o caso em outros locais do Brasil (a propósito, não sei onde é a colega que me escreveu). Há que se observar que, fora dos três grandes mercados, as condições de emprego e salário dos jornalistas são em muito inferiores às existentes nas três cidades citadas (que já não são lá muito boas). Este fator deve ser levado em consideração com cuidado, mas, em minha opinião, ainda assim não pode ser determinante, já que está em jogo a credibilidade de duas funções, a de jornalista e a de assessor.

Este é um exemplo bastante claro da necessidade de ser escrito um código em que estejam claras algumas definições sobre o ?fazer assessoria?, um texto que abranja diretamente questões como a levantada por um outro colega sobre um jornalista que se torna assessor e depois volta para redação de posse de informações mais ou menos confidenciais de uma empresa. Ele tem direito de usar estas informações, obtidas quando ele estava sob contrato de outra empresa, em seu novo emprego?

Como esta, certamente outras questões deveriam ser debatidas por profissionais, empresas e sindicatos e outras instituições envolvidas não só no dia-a-dia das assessorias, mas também por aquelas com responsabilidade por formar os profissionais, como as universidades. É uma tarefa enorme, bem sei, mas já está passando da hora de começarmos a enfrentá-la.

SS, Contigo e Elmore – Você já leu algum livro de Elmore Leonard? Se não leu, devia. Ele é um dos mestres da literatura policial americana e na maior parte dos seus livros há malandros de segunda, terceira ou quarta que, em busca do grande golpe ou apenas de mais uma maracutaia que garanta seis meses de boa vida, acaba por entrar em encrencas que acabam sendo maiores do que a capacidade deles de lidar com elas (ou não, pois às vezes se mostram à altura da situação).

Lembrei de Leonard nessa história do Silvio Santos com a Contigo. A revista foi fazer uma matéria típica de Contigo: fofoca de ?famoso? sem maiores conseqüências. Só que, como num enredo leonardiano, acabou topando com algo grande, no caso a suposta venda do SBT para o Boni e a Televisa devido a mais suposta ainda ?doença terminal de seis anos de duração? do SS. Como alguns dos personagens do escritor americano, a Contigo até se saiu bem – vendeu que nem água -, mas nem tanto: o pouco que tinha de credibilidade se foi de vez – agora, mesmo quando afirmar que água é molhada, a revista será posta em dúvida pelos seus leitores. embora eles não lguem muito de saber se o que está escrito ali é ou não verdade.

Quanto ao jornalismo propriamente dito, não vejo, como muitos, que ele tenha sido mortalmente atingido em sua honra. Contigo e outras revistas do tipo fazem um jornalismo que não pode ser (e não é) levado a sério. Ele existe para suprir uma necessidade de uma determinada fatia de público, cuja exigência de verossimilhança é pequena, que lê as reportagens em suas páginas mais como ?romance do real? do que como verdade verdadeira.

O problema, na verdade, não é que a Contigo tenha feito o que fez – publicar algo em que não acreditava e ainda por cima sem checar direito – pois isto ela faz em todas as edições. O grave é que algumas publicações ditas sérias estão enveredando pelo caminho. Mas isso é papo para outra ocasião.

Mais do mesmo – Mais doses de veneno paranóico, turbinadas com outras análises tresloucadas e, até, informações relevantes? Então assine o devezemquandário Coleguinhas Por Mail, mandando emeio para cpm@coleguinhas.jor.br. Não tem mais burocracia que isso (bem, tem umazinha do yahoo, mas é indolor…) e, melhor de tudo, é ?de grátis?.”

 

SERMÃO & ESPETÁCULO

“A religião como espetáculo é foco de estudo universitário”, copyright O Estado de S.Paulo, 12/7/03

“O gajo era um pastor português, no canal Gospel, às quatro da tarde. Não pude conter o riso. Mal habituado, como brasileiro, a associar sotaque lusitano e situações de anedota, deixei de fixar-me no sermão. Tudo soava cômico, inverossímil. Ele não me parecia um pastor, mas um comediante a imitar um pastor português.

Aos poucos fui entendendo que se tratava de um missionário profissional.

Esta é a palavra, profissional. Em meio à pregação, o homem foi direto ao ponto. Queria dinheiro. Falava rápido, misturando frases e gritos de ?Glória a Deus!?, com toda a força do sotaque. O que pude memorizar foi: ?Vão acontecer coisas boas, glória a Deus, porque Deus está do meu lado.

Precisamos pagaire 250 contos em 24 horas. Tu entras na próxima igreja que encontrares, glória a Deus, e depositas lá algum dinheiro!?. Bem, aparentemente a Igreja tinha alguma dívida e os fiéis eram chamados a contribuir para sua quitação urgente. Isso até me parecia legítimo.

Intrigante era a forma do apelo. Seguiam-se preces pela salvação das almas, advertências, brados de ?amain? (amém!). No final, passavam um clipe em que o pastor recolhia muletas de alguns fiéis, naturalmente sugerindo que os paralíticos, em razão de seus milagres, voltavam a caminhar.

Teses – O banco de teses e dissertações da Universidade de São Paulo mostra que o fenômeno vem preocupando os pesquisadores acadêmicos. Segundo Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias, entre os estudos mais recentes destacam-se uma tese de doutorado (Religiosidade e Mídia Eletrônica – a Mediação Sociocultural Religiosa e a Produção de Sentido na Recepção da Televisão) defendida na Escola de Comunicações e Artes por Attílio Ignácio Hartmann, e uma dissertação (Manifestações Espirituais nas Igrejas Pentecostais: um Estudo Psicossocial do Êxtase e do Transe Através da Música como Mobilizadora de Emoções), desenvolvida por Valdevínio Rodrigues dos Santos, no Instituto de Psicologia.

O professor Hartmann, além de estudar a figura do padre Marcelo, analisou novelas da rede Globo em que a religiosidade popular faz parte da trama. A sua pesquisa foi de caráter ?empírico-qualitativo?. Ele acompanhou atitudes de duas famílias, um grupo de jovens e três especialistas. Diante das reações detectadas, Hartmann concluiu que se está formando uma espécie de ?neoreligião, individualizada, curativa, assistencialista, de louvor. E ainda a-histórica, não tendo compromisso com a realidade e não estimulando uma prática político-social?.

Já sobre o uso da música em cerimônias religiosas para se chegar a um estado de transe, objeto de sua dissertação, o pesquisador Valdevínio Rodrigues dos Santos diz que essa prática estimula o aumento do número de fiéis em várias igrejas pentecostais.

As igrejas pentecostais são as que mais crescem no mundo inteiro e esse tipo de recurso (uso de ritmos musicais contemporâneos) só tende a aumentar.

Santos analisou as igrejas pentecostais desde a primeira Assembléia de Deus, trazida ao Brasil pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, em 1910.

Estudou também a Igreja do Evangelho Quadrangular, instalada em 1950, e a Renascer, na década de 1980.

Entende o pesquisador da USP que a Igreja Renascer é a mais liberal. Para se aproximar dos seus fiéis utiliza até heavy metal. Pastores vestidos de metaleiros pregam para jovens utilizando uma linguagem semelhante à deles.

?Jovens são atraídos pela atmosfera a que estão acostumados. Esse tipo de recurso une a pregação da fé com uma filosofia de vida que não seria bem aceita em outras religiões?, explica o professor.

Shows de religiosidade – Especulações acadêmicas à parte, o certo é que shows de religiosidade sobrepõem-se, em termos de representação popular, aos partidos políticos e aos movimentos sociais.

Nenhuma destas forças da sociedade, isoladamente, reuniu 600 mil pessoas na Zona Norte de São Paulo, como aconteceu em junho com a ?Marcha por Jesus?, e acontece rotineiramente nas missas de Rossi, igualmente em bairros periféricos.

Uma parte da Igreja de Roma vem adotando procedimentos similares aos da ?concorrência?. Daí o surgimento dos padres de tevê, que em nosso tempo substituem os ?padres de passeata? descritos por Nelson Rodrigues nos anos 60 e 70. Marcelo Rossi e Antonio Maria são os mais conhecidos no vídeo.

Homens místicos e bons, porém claramente adeptos da idéia da evangelização pela via do espetáculo, incluindo canto, dança e gestual pop em seus ritos.

Marcelo é o mais popular e grava discos de tiragens astronômicas. O dinheiro, como o recolhido pelo pastor português, vai para a igreja. Antonio prefere atrelar-se aos chiques e famosos do show biz. Celebra batizados ou casamentos das estrelas do segmento brega.

Números – O clipe do pastor português é apenas uma entre as inúmeras cenas de fanatismo que rolam dia e noite na tevê. A prática é de grande eficácia na mobilização da gente do povo, egressa do catolicismo, para outras confissões. Os dados do IBGE demonstram que enquanto a população brasileira cresce 1,93% ao ano, a população evangélica evolui a uma taxa também anual de 5,18%. Há no País 26 milhões de praticantes dessa religião, cerca de 15,4% da população residente. Os católicos dispõem de larga maioria (73,6% ou 124 milhões), mas estão em regressão numérica. Projetando-se o ritmo atual de crescimento dos evangélicos, eles chegarão, em 2045, a 50% da população. O Piauí resiste.

Lá, 92% dos habitantes são católicos. Mas há estados com média de evangélicos que superam a média nacional dessa religião. Rondônia é o campeão, com 27,7%. Unidades tradicionais também figuram na lista, como o Rio de Janeiro (21%) e São Paulo (17,2%).

Em outros países, além de religiões seculares, multiplicam-se o número de seitas. Dentre estas, uma esdrúxula Igreja da Cientologia, que associa princípios teológicos e científicos em sua ?doutrina?. Garantindo o cast artístico, os ?cientologistas? recrutaram, com êxito, nomes como John Travolta, Nicole Kidman, Tom Cruise e Chick Corea. O show não pode parar.

Observando a performance evangélica, os carismáticos brasileiros imaginaram a coreografia lançada pelo padre Marcelo. Mas felizmente, no mundo religioso, nem tudo é exibicionismo e comunicação. Escrevendo recentemente sobre a crença rastafári e o misticismo africano de modo geral, o agnóstico Vargas Llosa observou que, sem as religiões, a vida seria mais pobre e miserável para todos os pobres e miseráveis do mundo. A fé, disse ele, é ?uma comovente aposta pela vida do espírito contra a desintegração moral e a injustiça humana?. No Brasil, vários cultos ainda persistem nessa linha de solidariedade e compaixão. Há padres e pastores devotados exclusivamente à pregação nos templos, com a liturgia de sempre. São conhecidos apenas entre os seus fiéis. Têm vida modesta, quase uma sobrevivência, mantida por dízimos parcos. Aposentam-se quando muito pelo INSS e há vários casos de pobreza voluntária.”

 

TVs BRIGAM PELO PAN

“TVs iniciam disputa para exibir o Pan do Rio”, copyright Folha de S. Paulo, 10/7/03

“As negociações para a venda dos direitos de transmissão dos Jogos Pan-Americanos de 2007, que acontecerão no Rio de Janeiro, já vão começar no próximo mês.

Apesar de o Brasil ser sede da competição, as emissoras brasilei ras terão de disputar a transmis são como qualquer rede do conti nente americano. E mais: prova velmente pagarão mais que as es trangeiras _principalmente pela maior possibilidade de faturar com a publicidade do evento.

A estratégia do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é tornar a exibição do Pan a mais ampla possí vel, ainda que tenha de negociar a preços baixos com as TVs de países mais pobres. Para o Caribe, as imagens deverão ser cedidas gra tuitamente, segundo Leonardo Gryner, diretor de marketing do COB. A estratégia é assegurar uma ampla transmissão, para valorizar os jogos e, consequente mente, suas cotas de patrocínio.

?A região coberta pelo Pan não tem potencial de gerar muita re ceita com direitos das TVs. Por is so, vamos garantir a maior trans missão possível, envolvendo to dos os países, e ganhar pelos acor dos de patrocínio?, diz Gryner.

Parte do dinheiro que virá das TVs será usado para financiar obras aprovadas pelo comitê, que serão realizadas para o Pan.

César Maia, prefeito do Rio, afirmou à Folha, por e-mail, que esse esquema deverá se repetir se a cidade vencer a disputa para sediar as Olimpíadas de 2012.

OUTRO CANAL

Pense em mim

A Globo está negociando duas cotas nacionais de patrocínio do ?Tributo a Leandro?, a ser exibido no próximo sábado. O programa, que lembra os cinco anos da morte do cantor sertanejo, vende também duas locais. A da Grande São Paulo, por exemplo, pode custar algo em torno de R$ 19 mil.

Game over

Apesar de ter estreado no final de maio, ?O Jogo?, da Globo, ainda não conseguiu vender uma das duas cotas de patrocínio que ofereceu ao mercado. A primeira foi comprada pelo detergente Minuano. O site da Superintendência Comercial da emissora continua com o plano de comercialização no ar.

Night

A produtora americana Shock Video demonstrou à Rede TV! interesse em comprar trechos do ?Noite Afora?, de Monique Evans. As imagens podem entrar num documentário para a HBO, dos EUA, sobre programas inusitados em várias TVs do mundo.

Tentáculos

A Fox Brasil exibirá, a partir do dia 17, a Copa Nissan Sudamericana (Torneio Sul-Americano de Futebol), diz o site Play TV. É mais uma demonstração da velha estratégia do empresário Rupert Murdoch, dono do canal, de ganhar mercado com programação exclusiva, principalmente eventos esportivos.”