Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ivson Alves de Sá

ASPAS

MÍDIA GLOBALIZADA

"Um americano nada tranqüilo", copyright Coleguinhas, uni-vos (www.coleguinhas.jor), 29/04/01

"Quando eu digo que a paranóia é uma maneira tão boa quanto qualquer outra para se chegar à verdade, tem gente que fica insistindo para aqueles rapazes de branco virem me fazer uma visita. Mas eis que até um sobrinho do Tio Sam critica a concentração da mídia e o poder das empresas de comunicação, que, sim, uma ameaça premente à democracia.

O amigo americano é Robert McChesney, pesquisador e professor da Universidade de Illinois e autor de ?Rich Media, Poor Democracy: Communication Politics in Dubilous Times? (University of Illinois Press, 427 páginas). O livro é o resultado de pesquisa e análise da história recente dos meios de comunicação e sua tendência à concentração. Entrevistado pela revista ?CartaCapital?, McChesney explicou que apenas sete grandes empresas controlam o ?sistema global de mídia comercial?. O autor coloca tal sistema como o pilar central da democracia neoliberal, cujo modelo máximo são os Estados Unidos, onde os direitos formais dos cidadãos raramente são exercidos e as corporações reinam sozinhas.

Nos últimos 20 anos, disse ele à publicação, os conglomerados tornaram-se a ordem do dia. Atualmente, o sistema global de mídia é controlado por sete conglomerados – Bertelsmann, Vivendi, AOL-Time Warner, Disney, News Corporations, Viacom e Sony. Com apenas uma exceção, todas detêm uma parte ou todos os canais de TV a cabo ao redor do mundo e controlam as empresas de música responsáveis por 90% do que é tocado no planeta. A AOL-Time Warner, por exemplo, está entre as cinco maiores em filmes, TV a cabo, seriados televisivos e revistas. Em 1980, diz o gringo, não havia nenhuma empresa de mídia na lista das 500 maiores do mundo. Hoje, essas sete estão entre as 200 maiores.

Mr. McChesney afirma que a globalização da mídia comercial é parte fundamental do projeto neoliberal ao redor do mundo. É inimaginável, segundo ele, a existência de mercados globais para mercadorias e serviços, sem que haja um sistema global de mídia comercial para divulgar os produtos, incutindo nas pessoas os valores de consumo.

Além disso, a mídia comercial globalizada é especialista em produzir o tipo de cultura política necessária para a democracia neoliberal. Na opinião de McChesney, este tipo de democracia é mais eficaz quando a maioria das pessoas não vota ou não discute política. Estas acabam canalizando toda a energia para sua vida particular ou relações comerciais. Segundo ele, as corporações de mídia estão cientes que o status quo corre riscos quando o público perceber que pode mudar este sistema. Isso porque sua força está baseada na crença das pessoas de o sistema é imutável.

Outro ponto favorável é que a reforma da mídia ultrapassa os limites da política tradicional. Nos EUA, exemplifica McChesney, é possível conversar com pessoas que votam nos conservadores, mas que são contrárias a propaganda que bombardeia as crianças. Para McChesney, uma sociedade é saudável quando possui um sistema de mídia heterogêneo e sem um comando centralizado. ?Não é possível ter uma sociedade justa, racional e política quando uns poucos interesses comerciais dominam a comunicação?, diz o estudioso.

McChesney também identificou um outro grupo, com cerca de 80 companhias, que denominou de ?empresas de segundo escalão?. Estas empresas, a maioria de origem européia ou norte-americana, também são grandes, figurando provavelmente entre as mil ou duas mil maiores do mundo. Algumas delas encontram-se na Ásia e na América Latina. É o caso da Globo, no Brasil; Televisa no México; Grupo Clarín, na Argentina, e o Cisneros, na Venezuela. De acordo com o intelectual, ?eles tendem a ser grandes locomotivas regionais como a Globo e a Televisa, mas não têm alcance global?. As demais emissoras de fora desta esfera de influência dificilmente conseguem aparecer.

Uma das grandes tendências atuais é o desaparecimento de muitas das distinções entre empresas de mídia, de informática e de telecomunicações. Atualmente, já é possível perceber conexões, inclusive algumas fusões, entre empresas de telecomunicações ou telefônicas com empresas de mídia. É o caso do grupo espanhol Telefónica, que tornou-se um grande player na América Latina e possui grandes interesses em mídia na Espanha.

McChesney afirma que não lhe causará surpresa que, em 2020, em vez de mercados distintos de telecomunicações e mídia, ?pudermos contar nos dedos as gigantes que dominarão um único mercado integrado de telecomunicações?. O problema é que este tipo de sistema foi concebido para satisfazer os interesses dos acionistas destas companhias e não os dos cidadãos. Nenhum povo, pondera o intelectual, pode ser livre se suas redes de comunicação são controladas por um pequeno número de indivíduos e corporações extremamente ricos. Os ?senhores da mídia? não respeitam a integridade do jornalismo se ela estiver obstruindo seu lucro.

Pois é…Acho que vou pegar o vídeo de Matrix pra dar uma olhada…

Picadinho à Coleguinhas

Ainda no assunto… – Antigas regras de regulação do mercado de mídia dos Estados Unidos estão sendo rompidas. No mês passado, uma lei da Federal Communications Commission (FCC), órgão governamental fiscalizador das normas do setor de telecomunicações norte-americano, foi quebrada por uma corte de apelações de Washington. Ao analisar o limite de 30% do total de assinantes do país para cada grupo controlador do serviço de cabo, o tribunal entendeu que a porcentagem mais adequada é de 60%. Esta decisão favorece o ?lobby? desenvolvido pelas quatro grandes cabeças de rede da TV aberta naquele país. ABC, CBS, NBC e Fox questionam antigas determinações que estabelecem limites de tamanho a grupos de mídia e restringem a propriedade cruzada de meios de comunicação.

IG e O Dia juntinhos – O IG dá mais um passo para ser reconhecido como empresa emergente de comunicação integrada (parece que não saio deste assunto hoje…). O ex-apenas provedor gratuito assinou contrato de parceria com O Dia para parceria de conteúdos. A idéia é botar sítios como Morango e outros na boca do povo carioca, enquanto o Dia ganha uma presença mais forte no ciberespaço.

Português vende – O jornal O Globo vem aumentando suas vendas em bancas aos domingos, segundo o pessoal da assessoria do jornal (é a InPress). O crescimento, que chega a 45% segundo informa a assessoria do diário, é atribuído ao sucesso da coleção ?Ao Pé da Letra?, com informações sobre a língua portuguesa elaboradas pelo professor Pasquale Cipro Neto, que apresenta programa na TV Cultura de São Paulo O jornal também bateu recorde de venda de livros aos assinantes, totalizando mais de 100 mil livros vendidos no primeiro mês da promoção. São 12 fascículos distribuídos gratuitamente, encartados no jornal. Assinantes recebem a coleção completa, encadernada com capa dura, por R$ 9,90. Lançada em 18 de março, a coleção levou a tiragem do matutino ao patamar de 490 mil exemplares aos domingos. Confrontados com dados do IVC de fevereiro, os números conduzem O Globo à liderança – líder nos dias úteis no mercado carioca, o Extra registra média de 428 mil exemplares em sua edição dominical.

Os planos na TVE – Transformar novamente a TV Educativa na segunda emissora mais assistida no Rio de Janeiro. Essa é a meta de seu diretor-presidente, Fernando Barbosa Lima, que pretende transformar a TVE numa emissora nacional para levar cultura ao povo brasileiro, e com isso atrair o público das classes A, B e ?C inteligente? – ?pessoas influentes em seu meio, embora com poder aquisitivo menor, como os professores?. (Cadê o pessoal do politicamente correto quando se precisa deles?). Para tanto, a TVE estréia sua nova grade de programação em 15/5. O principal atrativo, afirmou Barbosa Lima à revista ?Meio & Mensagem?, será o jornal ?Edição Nacional?. A idéia é atrair grandes anunciantes, para assim alcançar a cifra de R$ 40 milhões de faturamento anual. Atualmente, o valor é de R$ 18 milhões – R$ 13 milhões são repassados pela Secretaria de Comunicação do Governo (Secom) e R$ 5 milhões pelo Ministério da Educação (MEC). ?Estamos fazendo uma grade muito econômica, apoiada na produção independente, mas precisamos de R$ 6 milhões para poder pagar as dívidas da TVE?, explicou. A emissora terá como slogan ?TVE, uma emissora da Rede Brasil?. Na entrevista, Barbosa Lima explicou que a mudança visa mostrar que a TVE não que produzir só no Rio e em São Paulo. O grande erro da televisão brasileira, disse ele, é fazer produções centradas apenas no eixo Rio-São Paulo como se o resto do país não existisse. ?Quando a televisão faz alguma produção em outro Estado, costuma-se mandar uma equipe de reportagem que gera a matéria sob um olhar carioca ou paulista?. Barbosa Lima, no entanto, negou que a TVE esteja deixando a Rede Pública de Televisão (RPTV), que tem 26 afiliadas em todo o Brasil e foi concebida pela TV Cultura. ?Acho que a TV pública tem um lado importante: ela sempre coloca o interesse da população acima do interesse comercial?, disse ele.

Batedeira informativa – A fabricante de eletrodomésticos Walita resolveu transformar os tradicionais manuais de instruções de seus produtos em veículos de comunicação. O manual, que antes era impresso apenas em uma cor, passará a ter quatro cores e conterá receitas que podem ser feitas com os eletrodomésticos da fabricante e com o auxílio de produtos de marcas parceiras. ?O que antes tinha um jeito muito técnico, com visão quase de engenheiro, agora passa a apresentar uma linha de marqueteiro?, diz o diretor-geral da Boccato Editores e idealizador do projeto, André Boccato. O empresário tratou também de registrar o manual como veículo de comunicação. A fabricante recorreu à publicação de dicas culinárias como forma de atrair a atenção dos consumidores brasileiros, conhecidos pelo hábito de não ler os manuais dos produtos que adquirem. ?Com as receitas publicadas no livreto, esperamos que o consumidor conheça todas as qualidades do produto?, argumenta o diretor de marketing e produtos da Walita, Ricardo Adams. A fabricante de eletrodomésticos também vêm distribuindo livros promocionais de capa dura a todos que adquirem suas batedeiras. Segundo Adams, esse tipo de ação coloca o produto em evidência perante o consumidor, sem gerar custos para o mesmo. ?Nosso objetivo não é aumentar as vendas, mas agregar valor ao produto, mostrando a multiutilidade da marca Walita?, explicou Adams. Anualmente, por exemplo, a empresa comercializa 1,8 milhão de liqüidificadores."

PARCERIAS COMERCIAIS

"Vice-presidente de ‘O Dia’ defende parceria comercial entre jornais", copyright O Estado de S. Paulo, 24/04/01

"As parcerias são, hoje, peça importante da estratégia de fortalecimento dos jornais, especialmente as que envolvem os setores industrial, comercial e tecnológico. A opinião é de Fernando Magalhães Portella, vice-presidente do jornal carioca O Dia, um dos maiores em venda de banca do País. Ele participou ontem, no Hotel Transamérica, do 3.? Banho de Jornal da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que reuniu profissionais da área comercial.

Sem entrar nos detalhes da operação de parceria que o jornal O Dia vem aprofundando com o Jornal do Brasil, incluindo a distribuição, Portella afirmou que, no momento atual, o que diferencia os veículos de comunicação de massa é o seu conteúdo, e cada vez mais esse meio de comunicação – mais antigo que revistas, rádio e televisão – irá se transformar num provedor de informações, podendo usar gráficas, canais de distribuição e fechar acordos comerciais para a venda de espaços com outros veículos.

Um dos exemplos citados foi o Anúncio Brasil, sistema de comercialização de espaço de âmbito nacional aos domingos, reunindo o Estado, O Globo, Correio Braziliense, Zero Hora e O Estado de Minas. Portella mostrou interesse em participar desse acordo de venda de página dupla em cores nos cadernos culturais ou página dupla em cores em formato revista nos chamados primeiros cadernos – na maioria dos jornais, esse espaço é reservado às editorias de política, internacional e geral.

Com uma única ordem e um preço único, o interessado anuncia simultaneamente em todos esses jornais, garantindo cobertura nacional. O presidente da ANJ e do Conselho de Administração do Estado, Francisco Mesquita Neto, defendeu a iniciativa como uma forma de fortalecer o meio jornal. Nos domingos, o principal concorrente dos jornais são as revistas semanais, daí a oferta de espaço similar aos anunciantes.

Já o publicitário Luís Grottera, tendo à mão pesquisa sobre a mudança de hábitos do consumidor brasileiro, mostrando que a oferta de informações aumentou, deu ênfase à importância das marcas como fator de diferenciação dos veículos nesse cenário de pulverização. Para Grottera, a força de uma marca é uma arma importante para a área comercial. Na sua avaliação, jornais populares exigem maior técnica para trabalhar o chamado custo por mil exemplares, enquanto jornais com vínculo com as classes A e B podem usar o marketing de relacionamento que têm com esse público.

Portella, antes, havia endossado a tese ao afirmar que sua grande preocupação, como dirigente de um jornal popular, é com a tonelada do papel versus a venda comercial dos espaços. Uma discussão que tem pautado os banhos de jornal promovidos pela ANJ."

Volta ao índice

Imprensa em Questão ? texto anterior

Mande-nos seu comentário