Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jander Ramon e Paula Puliti


TV DIGITAL

“Sistema de TV digital brasileiro vai superar os outros, diz Miro”, copyright O Estado de S. Paulo, 19/07/03

“O ministro das Comunicações, Miro Teixeira, voltou a defender ontem a adoção de uma tecnologia própria do Brasil para a TV digital. Em visita ao Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (MG), e acompanhado do vice-presidente da República, José Alencar, ele disse que o País tem condições e pessoal capacitado para levar adiante o projeto.

?Vamos criar um sistema melhor do que o de japoneses, europeus e americanos e ganharemos na comparação, porque os sistemas deles não têm a previsão do nosso?, afirmou. Miro elogiou o projeto de transmissão de TV digital que o Inatel está desenvolvendo e ironizou o fato de o seu ministério ser assediado pelo lobby de japoneses, europeus e americanos: ?Tenho dito que, humildemente, nós gostaríamos de desenvolver nosso próprio projeto para podermos compará-lo com os demais. Quem, sabe, no futuro, se o nosso sistema for melhor, eles (Japão, Europa e EUA) não poderão adotá-lo??

Segundo o ministro, o Brasil produzirá uma linha própria de softwares nesse segmento e também de chips, seguindo a tecnologia mais moderna do atual sistema Motion Pictures Excellence Grupo (MPEG), versão 4. ?Chegou a hora de o Brasil ousar e mostrar capacitação?, disse. ?Temos uma geração formidável de empresários na área de componentes, peças e software, e nossos aparelhos de TV estão entre os melhores do mundo.?

União Européia – O Brasil e a União Européia (UE) fecharam ontem, em São Paulo, uma parceria para a realização de pesquisas conjuntas na área de TV e inclusão digital. O comissário europeu de Indústria e Sociedade da Informação, Erkki Liikanen, que visita o Brasil , afirmou que, após se reunir com ministros e dirigentes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em Brasília, está convencido de que o País vai optar pela criação de seu próprio sistema de TV digital. Com a parceria, a UE tenta participar do desenvolvimento da tecnologia.

Segundo Márcio Wohlers de Almeida, assessor especial de Miro Teixeira, a parceria demonstra a intenção do País de ?adensar as linhas de colaboração com os europeus para um padrão brasileiro de TV digital?. A UE quer tornar o padrão DVB (Digital Video Broadcasting), conhecido como sistema europeu, a base do que virá a se tornar o padrão brasileiro. Almeida disse que o fato de o País e a UE estarem ?juntos à mesa? no seminário ?União Européia- Brasil: uma parceria na área da TV digital para fomentar a inclusão social? mostra que as partes estão convergindo.

 

“Europeus oferecem dinheiro para pesquisa e parceria em TV digital”, copyright Valor Econômico, 21/07/03

“Representantes da Comissão Européia e das empresas que controlam o padrão europeu de televisão digital ofereceram ao Brasil financiamento para pesquisas e parceria no desenvolvimento de novas tecnologias, se o país adotar o sistema europeu. O governo brasileiro planeja criar um sistema nacional, que combine tecnologias estrangeiras com outras desenvolvidas no país.

Ao final de uma visita de três dias ao Brasil, o comissário europeu para a Indústria e a Sociedade da Informação, Erkki Liikanen, afirmou na sexta-feira que muitos dos recursos tecnológicos que o governo brasileiro deseja incluir no seu sistema de televisão digital já foram desenvolvidos para o padrão europeu.

Liikanen sugeriu que o Brasil corre o risco de ficar isolado se insistir no desenvolvimento de um sistema nacional, sem mercados para exportar as tecnologias desenvolvidas no país. ?Você não pode vender qualquer coisa?, disse o comissário europeu. ?Os custos são altos e o ideal é ter soluções globais, baseadas em plataformas abertas e flexíveis.?

Em sua passagem pelo Brasil, Liikanen conversou com os ministros das Comunicações, Miro Teixeira, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, além de manter contatos com executivos da indústria de produtos eletrônicos e do setor de telecomunicações.

O diretor-executivo do consórcio de empresas que controla o padrão europeu, Peter MacAvock, disse que há muito espaço para parcerias com as indústrias e os pesquisadores brasileiros. ?Ninguém precisa reinventar a roda?, afirmou. ?Se vocês têm necessidades específicas, vamos desenvolver juntos a solução.?

O padrão europeu de televisão digital tem sido adotado em vários países fora da Europa, como a Austrália e Cingapura. O padrão japonês é em grande medida uma adaptação do europeu. Seu alcance é maior que o obtido até aqui pelo padrão americano, cujos representantes já ofereceram parcerias ao Brasil também.

Ainda é cedo para saber se os acenos feitos pelos estrangeiros vão produzir resultados. O desenvolvimento do sistema nacional de televisão digital que o governo deseja criar ainda não começou. Ainda falta definir a composição do grupo de trabalho que conduzirá o projeto, formado por representantes de vários ministérios, instituições de pesquisa e empresas interessadas.

Caberá a esse grupo estudar os padrões existentes e a possibilidade de desenvolver novas tecnologias no Brasil. Só depois disso é que será possível discutir a sério parcerias com europeus e americanos, se o grupo de trabalho concluir que o melhor é promover adaptações e aperfeiçoamentos dos padrões existentes.

Mesmo nesse caso, há dúvidas sobre a influência que os brasileiros poderiam ter numa organização como o consórcio europeu, formado por 300 empresas e instituições que já estão muito adiantadas em relaç&atildatilde;o às indústrias e aos pesquisadores brasileiros e dificilmente teriam interesse em incentivar o aparecimento de novos concorrentes.

O governo tem reagido com cautela diante das ofertas estrangeiras. Em seminário promovido na sexta-feira pelos europeus, o assessor especial do Ministério das Comunicações Márcio Wohlers disse que a colaboração dos europeus poderá ser útil no futuro, mas deixou clara a preocupação do governo com os pesquisadores e a indústria nacional.

?Queremos achar soluções tecnológicas apropriadas para o Brasil sem excluir de antemão as soluções estrangeiras existentes?, afirmou.”

 

“Escolha de modelo ainda divide fabricante nacional”, copyright, Valor Econômico, 21/07/03

“A escolha do modelo tecnológico que será adotado pelo Brasil para a TV digital divide os fabricantes nacionais. ?O desenvolvimento de um padrão digital brasileiro tende a estabelecer um cartório. Não irá beneficiar nem a indústria nem os consumidores?, critica Afonso Hennel, presidente da Semp Toshiba, a maior fabricante de televisores do país. A empresa brasileira tem com sócio, desde 1977, o grupo japonês Toshiba, que detém 40% do capital da companhia.

A criação de uma tecnologia digital brasileira para a televisão começou a ser defendida por representantes do novo governo, como do ministro da Comunicações, Miro Teixeira, e pelo empresário Eugênio Staub, controlador da fabricante nacional de aparelhos eletrônicos Gradiente, que começou a produzir televisores neste ano.

Segundo Hennel, as indústrias não estão recebendo a devida atenção. ?O ministro (Miro Teixeira) vem demonstrando estar pouco permeável às idéias que sejam diferentes das que ele defende?, disse o empresário, acrescentando que a Eletros, a associação dos fabricantes, não foi chamada para discutir o assunto.

Mundialmente, foram desenvolvidos três padrões digitais para a televisão: o americano, o europeu e o japonês. Até o ano passado, as discussões na Anatel giravam em torno da escolha de um dos três modelos patenteados nos países industrializados.

?Essa gente (os países ricos) tem dinheiro para gastar com aprimoramento tecnológico. Para que gastar este dinheiro no Brasil? O país não deve introduzir a televisão digital até que essas tecnologias já estejam estabilizadas lá fora, o que ainda não aconteceu?, defende Hennel.

Segundo ele, o parque instalado hoje no Brasil para a distribuição de sinais de TV apresenta um alto nível tecnológico. ?A qualidade de transmissão é maravilhosa?, diz o empresário, para quem a migração do sistema analógico para o digital teria, num primeiro momento, pouco efeito para o país.”

 

“Europeus saem na frente e negociam acordo com Brasil”, copyright Gazeta Mercantil, 21/07/03

“Objetivo é colaborar nas pesquisas para a definição de um padrão aberto. A disputa pela escolha do padrão de TV digital teve uma nova rodada na semana passada, quando representantes da Comissão Européia e defensores do Digital Video Broadcasting (DVB), mais conhecido como padrão europeu, estiveram em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro para discutir perspectivas de cooperação bilateral em pesquisa em tecnologia e comunicação. O membro da comissão européia responsável pelas empresas e a sociedade da informação, Erkki Liikanen, anunciou na sexta-feira que, em breve, será assinado um acordo de cooperação para o intercâmbio de pesquisas para desenvolvimento de um padrão de TV digital nacional.

Liikanen visitou os ministros Miro Teixeira (das Comunicações) e Luiz Fernando Furlan (do Desenvolvimento) e representantes da indústria e demonstrou bastante otimismo com relação às negociações com o governo. Ele defendeu a importância do sistema aberto, que seja compatível com qualquer plataforma. Empresas como Nokia investem no desenvolvimento da plataforma até nos telefones celulares. O comissário é enfático ao falar da importância do padrão aberto da TV digital para o aumento da inclusão digital. ?É uma forma de massificação, uma vez que a TV está presente em praticamente em todos os lares?, afirmou.

?O padrão europeu tem a vantagem de ser aberto, ao contrário do norte-americano, que é restrito às TVs digitais de alta definição, ainda muito caras no mercado?, disse o assessor especial do ministro das Comunicações, Márcio Wohlers de Almeida.

O novo governo, que tem como objetivo incentivar o desenvolvimento de uma tecnologia nacional, fez com que o tom das negociações com os representantes de cada padrão mudasse. ?A negociação anterior previa apenas uma contrapartida comercial?, disse Almeida. Segundo ele, o governo busca o desenvolvimento de uma tecnologia nacional, com base nos padrões já existentes e que possa alavancar as exportações da indústria nacional. ?Não podemos desperdiçar o importante poder que o Brasil tem nessa disputa, pois a nossa decisão influenciará os países vizinhos?, afirmou. Por isso, Almeida defende uma negociação em bloco. Inicialmente, pelo Mercosul. ?Existem conversações adiantadas?, afirmou.

Almeida contou que os europeus saíram na frente dos norte-americanos ao oferecer esse acordo de cooperação de pesquisas. O Ministério está preparando um decreto para dar início às pesquisas. ?O ministro (Teixeira) quer urgência nesse processo?, disse. Segundo ele, a pesquisa será coordenada pelo CPqD e desenvolvida, principalmente, em universidades federais. Serão destinados R$ 100 milhões do Fundo das Telecomunicações para o desenvolvimento do padrão.

De acordo com Liikanen, a União Européia está investindo cerca de 4 bilhões em pesquisas para desenvolvimento tecnológico da plataforma aberta nos países europeus. Para os países não europeus serão destinados 90 milhões. ?O Brasil tem grandes chances de conquistar uma parcela desse investimento?, disse. Desde 2001, a sociedade da informação européia investe no @LIS, fundo de investimento para incentivo de pesquisas na América Latina. Segundo Liikanen, também neste ano serão investidos 10 milhões em uma rede de alta velocidade para facilitar o intercâmbio das informações das pesquisas.

O tamanho do mercado brasileiro, estimado em US$ 100 bilhões em 12 anos, e a influência da decisão nos países vizinhos, que não definiram seu padrão da TV digital, tem atraído o lobby de europeus, norte-americanos e japoneses. Hoje, existem 30 milhões de aparelhos receptores do DVB no mundo, em grande parte na Europa, segundo Liikanen.”