Saturday, 07 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1304

Jantarzinho a dois

MONITOR DA IMPRENSA


BERLUSCONI E MURDOCH

Silvio Berlusconi, barão da mídia italiana e primeiro-ministro eleito no domingo, dia 13, afastou-se brevemente da campanha política em 4 de maio para jantar com o colega magnata Rupert Murdoch. Os jornais italianos tiveram um dia do cão especulando se Berlusconi estava procurando resolver um aspecto da campanha que teria irritado muito o eleitor ? sua montanha de dinheiro (ele é o 14? homem mais rico do mundo, e primeiro da Itália).

Berlusconi controla, entre outras coisas, as três emissoras privadas de TV da Itália. Desconfia-se de que ele possa estar tentando vendê-las a Murdoch, cujo império inclui a Fox e a News Corporation. As notícias elevaram o valor das ações do grupo de mídia de Berlusconi, a Mediaset, no mercado acionário italiano, de acordo com John Tagliabue [The New York Times, 7/5/01]. Mas nada parecido aconteceu. Em vez disso, disse Berlusconi ao Sunday Times (jornal londrino carro-chefe do império de Murdoch na Inglaterra), em 6 de maio, uma comissão de experts internacionais proporá uma solução para o conflito de interesses em que está envolvido: um político dono de uma rede midiática. Berlusconi não informou se Murdoch estará na comissão.

A profundidade e a extensão de tal conflito de interesses tornou-se evidente na própria campanha. Sob a legislação italiana, comerciais eleitorais são proibidos na TV. Duas organizações que computam o tempo dedicado aos candidatos na TV indicaram que, no final de abril, os três canais estatais haviam dado a Berlusconi e a Francesco Rutelli, seu adversário de centro-esquerda, quase o mesmo tempo. Os três canais de Berlusconi exibiram-no por quatro vezes mais tempo em relação ao concorrente.

O que é meu, é meu

Berlusconi afirmou que apresentará uma lei sobre conflito de interesses nos primeiros 100 dias no poder, apesar de não haver menção a isso no manifesto de centro-direita publicado na internet no mesmo dia. A centro-esquerda, liderada por Rutelli, chamou a iniciativa de Berlusconi de "promessa oca", e disse que não se deve brincar com o fato de o barão italiano estar controlando diversas emissoras privadas e influenciando a RAI, emissora estatal. De acordo com Richard Owen [The London Times, 9/5/01], Berlusconi e seus aliados acusaram a RAI de infiltração comunista.

O jornal La Stampa comparou ? desfavoravelmente ? a oratória de Berlusconi à de Cícero, dizendo que embora o magnata acredite na legitimidade de sua causa e tenha o dom de mobilizar multidões, seu predecessor da Roma Antiga teria arriscado um debate público sobre as alegações de corrupção. Em vez disso, Berlusconi ficou apenas "papagaiando" sobre uma conspiração de comunistas contra sua subida ao poder.

Em 10 de maio, Berlusconi foi entrevistado em uma de suas três emissoras. Recebeu quatro minutos para esquematizar seu programa de governo. Ao mesmo tempo, Rutelli foi malhado por 12 minutos pelo âncora de outra emissora do magnata, de acordo com Alessandra Stanley [The New York Times, 11/5/01]. Em compensação, o noticiário da noite da RAI deu a Rutelli maior tempo no ar, segundo monitoramento independente da própria emissora estatal.

A maioria dos italianos parece indiferente à maneira com que a TV tem sido usada e abusada. Mas a percepção de injustiça levou Emma Bonino, a famosa feminista e política italiana, a retomar uma greve de fome na semana passada, reclamando da cobertura televisiva, que ignorou assuntos morais difíceis, como a eutanásia, os quais nem Berlusconi nem Rutelli querem enfrentar.


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