QUALIDADE NA TV
NO LIMITE 2
"Gente má", copyright no. (www.no.com.br), 1/02/01
"A segunda edição de No Limite promete banquete de um olho de cabra especial. Sexo. No primeiro episódio, um casal já dormiu na mesma rede e confessou beijo na boca. É pouco. Uma adolescente disse aos jornais que beijou cinco meninos durante o show do Red Hot no Rock in Rio. Vem mais por aí. A produção parece ter escolhido a dedo as equipes de araras e lobos. Os rapazes andam com muito jeito para uma capa de revista gay (o primeiro a ser eliminado foi namorado de um famoso decorador careca no Rio). As garotas usam biquínis e colocam-se em poses que não negam: ‘alô Playboy, estamos aí’. Vai rolar, e não tem outra saída. Não dá para viver apenas dos mesmos méritos da série anterior: uma edição ágil e um jeito bem resolvido de roteirizar, meio jornalismo-meio novelinha, os quiproquós de uma aventura. É preciso revelar outras idiossincrasias além das que já estavam na Praia dos Anjos. Fulano não é solidário, sicrana tem ego inflado, um está desesperado pela fome, outra com saudade da família. No Pantanal, glória da fauna pátria, é preciso testar os animais com fome de sexo. Soltar os bichos e rodar o vt.
Gente má
Que Fernandinho Beira-Mar, que nada. Cruel, sinistro mesmo, era o Pablo Escobar. Mandou explodir um avião com 116 colombianos só para mostrar até onde poderia ir. Mau como o Pica-pau, o Sargento Garcia, o Coringa, e todos os outros vilões juntos. A People and Arts está exibindo uma série policial em seu horário nobre. Grandes crimes triviais, como o do sujeito que matou sete enfermeiras nos Estados Unidos, ou grandes crimes políticos, como os da família do czar na Rússia em 17. Grandes criminosos ideológicos, como Hitler, e outros cotidianos, como Escobar. São filmes com diferentes procedências e formatos, mas a série é única na televisão ao deixar de lado as celebridades do bem e perfilar os demônios. O impacto, de violência nos atos e bom gosto na realização, dá a sensação de que a finada Notícias Populares largou o papel e veio para a cabo. Imperdível. Pablo Escobar invadindo o Ministério da Justiça, matando candidatos a presidente, decepando cabeças de rivais e explodindo aviões é gente que faz o que não devia – mas que imaginação!
Pit-gay
É muito polêmico tudo que envolve o personagem Sócrates, de Malhação. Ele é homossexual, e até aí tudo bem, há vários no horário das sete e parece que Porto dos Milagres, a próxima das oito, também vai ter o seu. O perfil de Sócrates começa a ficar complicado no momento em que o autor, para tirar o estigma de afetado passivo, dotou o gay Sócrates de fúria pit-boy. O garoto é um monstro. Não dá qualquer pinta, mas se os colegas na escola começam a caçoar, e a toda hora, sem motivo, há uma provocação – o pau come. Sócrates já espancou vários colegas. Para piorar o politicamente incorreto, há o pai de um coleguinha que tenta afastar o filho de uma possível cantada de Sócrates. Qualquer dia vai apanhar também. Os gays, sempre protegidos pela boa vontade maniqueista da dramaturgia, começam a botar as manguinhas para fora – no mau sentido da coisa. Os adeptos da causa não gostam. Mas quebra-se uma reserva de mercado, e isso é bom. Pit-gay cruel, por que não?"
"Mais apimentado, ‘No Limite 2’ não sustenta audiência da versão original", copyright Valor Econômico, 30/01/01
"O fenômeno de audiência do programa ‘No Limite’, da Rede Globo, não teve o mesmo fôlego na estréia de sua segunda versão. Ainda assim, garantiu a emissora índices de espectadores invejáveis para o horário das 23h de domingo. A média de audiência foi de 34 pontos no Ibope, com picos de 40 pontos. No mesmo horário, a vice-líder SBT ficou com média de 17 pontos. Na primeira edição, a média foi de 47 pontos no Ibope, com picos de 51 pontos.
Mesmo apimentando a competição com clima de sexo no ar, a conhecida fórmula do ‘No Limite’ parece não ter gerado a mesma curiosidade do público desta vez. É muito cedo, porém, para se ter certeza de que o programa ficará mais popular à medida que mais participantes forem eliminados.
No episódio de domingo, um homem e uma mulher da mesma equipe dormiram juntos e deixaram no ar a idéia de uma possível relação sexual. Curiosamente, esse foi o mesmo artifício usado pelo ‘Surviror 2’, original americano que também estreou no domingo. Nele, duas participantes falaram sobre masturbação e desejo de ficar nuas em frente ao grupo. A rede CBS informou que o programa atingiu 25,6 pontos – ou 26,1 milhões de residências -, ficando com 38% da audiência. O último episódio do programa original foi visto por 51 milhões de lares.
A queda na audiência não deve ter desanimado os anunciantes globais, que pagaram R$ 1,95 milhão pelo patrocínio. Schincariol, Grendene, Fiat e Banco Real anunciam nesta edição."
"‘No Limite 2’, pobre de espírito, inspira tédio de domingo", copyright Folha de S. Paulo, 30/01/01
"É fim de férias e, como no último final de julho, tempo de estréia da segunda versão de ‘No Limite’. O cenário mudou -das praias cearenses para uma fazenda no Mato Grosso. Os personagens participantes possuem outros nomes e biografias, mas o programa é o mesmo, de novo.
O sucesso de público da primeira gincana embalou em grande estilo a aparição do segundo. ‘No Limite 2’ foi notícia de blocos do ‘Fantástico’, foi lançado com um novo modelo de perua e precedeu a exibição de uma entrevista do presidente da República.
Com o tempo, as imitações que ‘No Limite’ inspirou em outras emissoras e as inevitáveis e infindáveis especulações sobre a autenticidade dos desdobramentos da trama, o programa inspira aquele tédio de domingo.
O programa é pobre de espírito. Pessoas deixam seus contextos para tentar a sorte em um esporte radical, em que o desafio não é reunir forças interiores para vencer profundidades, temperaturas ou velocidades extremas, mas emplacar um dedo de fama. Longe de inspirar algum crescimento interior, as pessoas-personagens serão reduzidas a objeto da brincadeira alheia.
As provas são pobres de sentido e emoção. São testes que envolvem algum movimento, escalada, remo, corrida e que tais, sem implicar risco real. São tarefas infantis, brincadeiras de quermesse, deslocadas para o cenário do Planalto Central. Sem crianças, os adultos, infantilizados, representam um pouco o seu papel.
Como a aventura em si não pode ser o assunto, a atenção se volta às relações humanas. Cada participante é anunciado com uma rápida descrição de sua personalidade. Em cena, a câmera procura registrar tudo o que acontece nos acampamentos. As redes, a sede, a fome, brigas e amores.
Humanos aqui são como os camundongos das experiências médicas. Cabe observar suas reações ao brilho dos holofotes e aos olhares de outros milhares de humanos que, durante oito domingos, estarão sobre eles. Os trechos do material gravado são editados, ganham narração em off e uma trilha sonora que provavelmente é o que há de melhor no programa.
O resultado é fraco. Mal dá para entender como o barco afundou na primeira prova e como isso levou à desclassificação da equipe amarela. É estranho que os membros da equipe perdedora que não foram votados sejam aqueles que desempatam a votação sobre quem será o primeiro excluído. A lógica que levou à escolha final e rápida de Leon, jovem atlético, que, aparentemente, poderia ajudar a equipe, tampouco é clara.
O jogo é movido por uma sucessão de operações intrincadas regidas por regras, em grande parte, arbitrárias, ditadas pela produção do programa. Mas as regras do jogo aparecem como pressuposto inquestionável e não são motivo de contestação.
O foco do programa nas relações humanas não inclui as relações entre os participantes da gincana e os que promovem o espetáculo. O limite de ‘No Limite’ aparece aqui de forma escancarada. Afinal trata-se de mais um espetáculo, um que lida com a fascinação pelo próprio espetáculo sem especular, nem de brincadeira, sobre suas regras.
Em um milênio em que os avanços científicos na área da biotecnologia prometem revoluções que inspiram questões éticas, a exposição de seres humanos a pequenos ensaios de fama talvez gere o mesmo tipo de consideração."
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