REALITY SHOWS
“A desgraça do Big Brother Brasil”, copyright No mínimo (www.nominimo.com.br), 26/7/02
“Que país é esse em que dez milhões de pessoas, na mesma semana em que o dólar bate nos R$ 3, vão até o telefone, esperam linha, discam dez números, esperam completar a conexão, ouvem uma gravação boba de agradecimento e imediatamente, merecidamente, são taxadas em R$ 0,25 por tamanha idiotice?
Que país é esse com dez milhões de pessoas sem nada melhor para fazer, nem mesmo sexo conjugal, nem mesmo um livro de auto-ajuda, nem mesmo dormir, do que se colocarem à disposição, até meia-noite de uma terça-feira fria, de um ritual tão deletério para decidir quem fica com os R$ 500 mil do Big Brother Brasil?
Que país é esse em que dez milhões de pessoas, no mesmo dia em que a ONU colocou o Brasil atrás do Paraguai, Colômbia e Venezuela num ranking de pobreza, estão principalmente interessadas em decidir se gostam mais da ?universotária? que não sabe o dia da Proclamação da República ou do ?caubobo? que desconhece o Dia da Independência?
É uma desgraça, tão alarmante quanto a de que já chega a 20 milhões o número de pessoas no país sobrevivendo com menos de R$ 3 por dia, ter à disposição uma equipe de profissionais capaz de fazer as edições geniais de terça-feira e, no entanto, deixá-la debruçada sobre um projeto que não melhora nada em nada a vida de ninguém – a não ser o estúpido da vez que carrega os R$ 500 mil.
Novamente, como da série passada com Bambam e Vanessa, chegam à final do Big Brother os candidatos com mais dificuldade de verbalizar seus ideais, sentimentos e complexidades; jovens filhos da televisão incapazes de completar um pensamento sem começar a gritar vogais – ?aaaaaaaêêêêêêê?!, ?uuuuuuuuuuuuú? – como se fossem os últimos remanescentes da tribo do saudoso cacique Juruna, que nos deixou recentemente. Os silêncios que se seguiam aos vagidos eram constrangedores. Quem votava de casa também não precisava falar. E assim, de grão em grão, da escola ruim ao programa ruim, passando pela tecnologia de última geração, vai se perdendo a língua e tudo o que Fernando Pessoa/Caetano Veloso queriam dizer com ?minha pátria é minha língua?.
O caubói Rodrigo, com meio neurônio a mais do que o Bambam da vez passada, ganhou o prêmio. Ele colocou uma imagem de Nossa Senhora dentro do chapéu e, com cada beijo que dava no papelzinho santo, ia recolhendo os votos do Brasil católico. No outro canto do ringue, Manuela, tão impenetrável – Thyrso que o diga pelo lado físico e os espectadores pelo lado do conhecimento intelectual – quanto a modelo Vanessa da vez passada, levou R$ 30 mil. Sua estratégia, já que não parece muito católica, era beijar o bonitinho do programa e simular para o Brasil-família que daqueles amassos poderia sair uma.
A televisão conseguiu mais uma vez reunir na final essas suas duas grandes platéias, a do Brasil rural, representada pelo vaqueiro de calças apertadas, e o Brasil urbano da carioquinha de umbigo sempre de fora. Poderia ser um grande e curioso choque de culturas, não fossem todos filhos da mesma cultura sem pátria do Xô da Xuxa e do Show da Malhação. Foi-se embora também o culto das diferenças regionais. O peão e a gatinha, típicos representantes da geração uga-uga, ficaram iguais em sua sensaboria apática – e só os muito tolos não percebem que um BBB desses é mais um indicador precioso, embora ainda não requisitado pela ONU, para medir o índice de pobreza de um país.”
“Baratas, minhocas e ratos viram moda”, copyright O Estado de S. Paulo, 28/7/02
“Tudo começou com No Limite. Entre as provas de ?sobrevivência? dos participantes do programa da Globo estava a ingestão de olhos de cabra, testículos de boi, larvas e uma variedade de insetos. O Hipertensão, outra atração do domingo, obrigou os concorrentes a serem soterrados por ratazanas vivas e a mastigar baratas esperneantes. E, sempre na falta de boas idéias, o gênero instala-se aparentemente de modo definitivo na TV.
Por isso, para os estômagos mais sensíveis, zapear pelos canais pode ser uma experiência repugnante. Oferecer farofa de formigas e colocar jovens dentro de urnas transparentes repletas de baratas e outros bichos nojentos está no cardápio do game-show Interligado, apresentado por Fabiana Saba, na Rede TV!
A radicalização do modelo que usa os medos primais como isca para atrair o público, fazendo com que as provas de acariciar chinchilas e ratos, de olhos vendados, a que Gugu Liberato submete seus convidados do Domingo Legal, parece brincadeira de escola maternal.
Em se tratando de TV, as experiências que dão resultado no Ibope contaminam o resto da programação na velocidade do vírus da gripe, alojando-se de maneira mal acochambrada em territórios cuja receita original não permitiria essas variações. Na noite de quarta, por exemplo, o Superpop de Luciana Gimenez – em tese, uma revista de variedades – serviu salada com minhocas vivas para seus convidados vips.
A graça era focalizar a modelo Núbia Oliver, a atriz Mara Manzan e outras personalidades remexendo folhas de alface e cortando minhocas ao meio, enquanto decidiam se degustariam ou não o prato.
Essas brincadeiras perversas levam o espectador a empregar uma certa maleabilidade ao seu senso crítico e ver o lado bom até de programas ruins.
Enquanto Luciana Gimenez soltavas os seus ?que loucura !? na Rede TV!, ancorar na sala de visitas de Clodovil, na TV Gazeta, foi como alcançar o paraíso.
Pedante como lhe convém o figurino, Clodovil fazia o maior tricô com a socialite Marina de Sabrit. O par, chiquérrimo, conversava sobre a arte de bem comer em Paris com toda a afetação que o assunto merece. ?Qual mesa que você se sentou no restaurante (um bem caro, pelo jeito) com o prefeito Celso Pitta??, quis saber o apresentador. ?A mesa perto da janela?, informou Marina para a surpresa de Clodovil: ?A melhor mesa, ele deve ter pago com dinheiro do Maluf.?
O bom de Clodovil é que, com essa conversa de comadre, ele vai fundo. Como se tivesse falando do tempo, pergunta sobre o suposto affair da socialite com o ex-prefeito e o ciúme do marido. Como em conversa no salão de cabeleireiro, o papo flui sem constrangimentos. E quando Marina diz que Pitta é um homem educado, ele diz que ela é esperta e insinua que, quando as mulheres vêm com essa história de homem educado, é porque tem coisa.
O mais engraçado é quando ele atesta que o marido de Marina, lindo quando se casou, envelheceu pior que ela. ?Você viu o Thierry ultimamente??, pergunta, singela. ?Ele está muito bem.?
A graça de Clodovil é justamente essa. Ele é uma Hebe mais apimentada, sem auto-censura, que diz tudo o que lhe vem à cabeça. Trata bem, mas não bajula e, como quem não quer nada além de tricotar, faz as perguntas que o público gostaria de fazer.”
“Osbournes, versão local”, copyright O Estado de S. Paulo, 29/7/02
“Bem dentro da linha Os Osbournes, maior sucesso produzido pela MTV americana este ano, a MTV brasileira baixou sexta-feira na casa dos Camargo, não a Hebe, mas sim Zezé, Zilu e Wanessa. A ordem era gravar esquetes para a festa do Video Music Brasil (VMB), que este ano será em 22 de agosto. Durante o expediente, a família simulou cenas de sua rotina durante a madrugada, quando pai e filha chegam de seus respectivos shows e os outros filhos tentam dormir.
Wanessa, aliás, foi convidada a integrar o time de celebridades que subirá ao palco para entregar troféus no dia do VMB. Do time de herdeiros de sertanejos, o evento contará também com Pedro e Thiago, filhos de Leandro e Leonardo.
Preterida por Marcos Mion no ano passado, Fernanda Lima ganha a vez este ano como âncora do evento, que acontecerá no Credicard Hall.”