Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornais no banco dos reservas

MÍDIA NA COPA

Alberto Dines

Penta!! Maravilha! A auto-estima disparou, angústias despencaram ? tal como as cotações, índices e rankings. Agora, rumo ao hexa. Jornais e revistas anunciaram edições extras, os departamentos de circulação prepararam planos especiais de distribuição. Nesta clima, tudo é lucro. Mas a vida continua, e os problemas também.

Na esteira desta Copa escancara-se e se confirma um grave problema que diz respeito à mídia impressa em geral e aos jornais, em particular. Estes estão sendo chutados para escanteio. Ou colocados no banco dos reservas.

O leitor está sendo treinado há pelo menos uma década para descobrir que só pode encontrar uma cobertura esportiva atualizada no rádio ou na TV. O jornal do dia seguinte tornou-se irrelevante porque grande parte das tiragens são impressas antes do término das partidas. Inclusive no sábado.

Com a Copa nos antípodas e a defasagem de 12 horas, o problema ganhou relevância. Ficou evidente que jornal não serve para o noticiário esportivo. E o noticiário esportivo tem sido há meio século o instrumento mais eficaz para estimular o hábito de leitura nos segmentos sociais menos favorecidos.

O mercado de jornais cresceu depois do plano Real graças ao lançamento de jornais populares mas, à medida que deles desaparece o noticiário "quente" do desporto, o público masculino tenderá a afastar-se migrando para os meios eletrônicos, sobretudo o rádio.

Com vespertinos o problema seria contornado, mas tanto empresários como executivos e profissionais dos diários não acreditam em jornais da tarde. Ou não querem quebrar suas rotinas trabalhando de madrugada. Só se interessam por matutinos de grandes tiragens, produzidos no horário normal. Esquecem que os vespertinos recém-lançados ? inclusive em Nova York ? só circulam no perímetro central das áreas metropolitanas em função das dificuldades do trânsito urbano. Conseguem o seu ponto de equilíbrio com muito mais facilidade porque as escalas são menores.

Num jornal que fecha às 8 da manhã (roda às 9h e ao meio-dia está nas bancas) podem ser incluídos todos os resultados e comentários dos jogos noturnos; pode-se desenvolver ou desmentir o noticiário político dos matutinos, completar as páginas de economia com as cotações e tendências do dia nos mercados internacionais e, sobretudo, levar o público leitor a reencontrar-se com jornais "quentes" ? do dia, não da véspera.

No tocante aos semanários, esta Copa mostrou o quanto se distanciaram do jornalismo de informação. Hoje são principalmente veículos de variedades, dirigidos ao público feminino, sustentados por grandes matérias de comportamento ou saúde a cada duas semanas e um núcleo de matérias políticas ou econômicas para garantir um contingente mínimo de homens.

IstoÉ mostrou nas duas últimas edições ? com fotos de capa sobre jogos ocorridos dois dias antes ? que o problema não é industrial. Revistas podem ser atuais, os novos equipamentos facilitam tudo. Só não substituem o talento ? no lugar de apenas um profissional para cobrir, comentar e antecipar os jogos de um campeonato desta importância

Neste panorama dramático entendem-se as brincadeiras experimentais da Zero Hora e do Correio Braziliense inconformados com a idéia de circular um dia depois de partidas decisivas da seleção brasileira. [Clique em PRÓXIMO TEXTO, no pé desta página, para ler o artigo de Ricardo Noblat; e veja abaixo remissões a comentários sobre o assunto publicados na edição passada do OI.] Precisam ser examinadas como indício de que alguns jornalistas e alguns jornais não estão dispostos a perder os leitores das páginas esportivas.

Conviria estudar a questão com um pouco mais de ousadia. Temos apenas quatro anos para a próxima Copa, na Alemanha, onde nesta época do ano a diferença do horário é de 4 horas. Se os jogos forem às 17h terminarão perto das 19h (se não houver prorrogação). No horário de Brasília serão 23h ? hora da turma da limpeza arrumar as redações.

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