CONSERVADORES vs. LIBERAIS
Os conservadores americanos sempre reclamaram que a imprensa apresenta os liberais de modo mais positivo. David Brady e Jonathan Ma publicaram artigo no Wall Street Journal (um jornal conservador, note-se), baseado em análise do New York Times e do Washington Post entre 1990 e 2002, no qual concluem que, de fato, os esquerdistas teriam representação mais favorável nesses diários.
Durante as sessões do Congresso decorridas no período, sempre se verificou que os direitistas recebiam mais comumente a identificação de "conservadores". E, segundo a dupla de autores do artigo, o Times costuma fazer comentários tendenciosos. Eles dão o exemplo do senador democrata Tom Harkin, chamado de "respeitado liberal do meio-oeste", em contraste com o tratamento dado ao senador Jesse Helms, identificado como "conservador inflexível". Em geral, parece que o diário quer dar a idéia de que os liberais estão defendendo bravamente a sua plataforma, enquanto os conservadores são legisladores briguentos que querem "empurrar suas propostas goela abaixo da América". Brady e Ma citam diversos exemplos de como isso é feito.
No Post o problema é semelhante. O jornal usa termos pejorativos para se referir à direita, enquanto descreve a esquerda como defensora de causas nobres. USA Today, San Diego Union-Tribune e Los Angeles Times também estão sendo analisados e os resultados preliminares estariam demonstrando ter parcialidade semelhante. A exceção a esse tipo de tendência seria o Wall Street Journal, que, ainda assim, rotula os conservadores quase duas vezes mais que os liberais.
Em meio às já velhas reclamações dos conservadores contra uma mídia supostamente favorável aos liberais, Brian Anderson escreveu artigo no New York Daily News [18/11/03], decretando o fim do "quase monopólio da esquerda no entretenimento e no jornalismo". Ele chama atenção para artigo anterior, publicado pela revista de política City Journal, em que o editor sênior Brian Anderson lança a idéia que esse "quase monopólio" está sendo contido. O comentarista liberal Tim Noah, da revista Slate, referindo-se a Anderson, também admitiu que os conservadores estão ganhando terreno. Após a CBS decidir não passar seu seriado sobre o ex-presidente Ronald Reagan, concluiu que a direita havia ganhado a guerra cultural.
Anderson aponta a crescente influência da voz direitista na cultura popular como um importante fator no avanço conservador na mídia americana. Humoristas como Dennis Miller e Colin Quinn são totalmente identificados com a direita. Uma geração de comentaristas de TV jovens e divertidos também contribui, embora a vantagem maior, ao que tudo indica, seja na internet. Blogs como o Instapundit, de Andrew Sullivan, Michael Kaus e Glenn Reynolds, têm detonado porta-vozes liberais como Paul Krugman, colunista do New York Times.
Na TV a cabo, a Fox News tem atingido um grande público jovem e, pelo menos metade dele é de liberais ou centristas – o que significa que o canal conservador não está falando a um "rebanho", mas expondo pessoas com visões distintas ao ideário direitista.
Afinal, qual é a posição política do novo colunista do New York Times, David Brooks? Desde setembro, ele ocupa o lugar de William Safire, que estava no diário desde 1973, na vaga de "colunista conservador". Ninguém questiona que ele seja conservador, mas algumas de suas opiniões, relatadas por George Gurley em matéria para The New York Observer [24/11/03] mostram que ele não é dos mais radicais. Brooks chega mesmo a admitir que estaria satisfeito se situado "numa esquerda centrista, como a do senador Joe Lieberman".
Contrário à pena de morte, favorável ao aborto (apenas primeiro trimestre de gestação, talvez no segundo) e à união entre homossexuais, Brooks tem divergências com a direita radical. Não gosta, por exemplo, do apresentador da Fox News Bill O?Reilly. Mas também não aceita o rótulo de neoconservador (que nos EUA muitas vezes é chamado de neocon). "Se a palavra neocon aparece em uma frase, há 90% de chance de que o resto dela seja falso", conclui.
Sobre a invasão no Iraque, ele é da opinião de que George W. Bush fez certa confusão, mas não se opõe à ação em si. Acredita que a esquerda fica reclamando do presidente sem prestar atenção no que está acontecendo no país em reconstrução. "Nem tocam no assunto de como os sunitas têm progredido, como vão os xiitas e os curdos. Só vêem o Bush", critica.
"Ele é o que os liberais enxergam como um conservador são e o que os conservadores entendem como sendo o que os liberais vêem como um conservador são. Não é um cuspidor de fogo", define Andrew Sullivan, colunista que tem alcançado grande repercussão com seu blog direitista. "É o conservador favorito de todo liberal", acrescenta o editor da revista Slate, Michael Kinsley, acrescentando que, se ele ainda não tem inimigos, é bom que os arrume em um par de anos, pois, do contrário, sua coluna no Times terá sido um fracasso.