CRISE NO SENADO
Fabiano Lana
“Jornal de Jader levou dinheiro do Banpará”, copyright Jornal do Brasil, 23/08/01
“Um documento produzido esta semana pelos técnicos do Banco Central que analisam o desvio do Banpará convenceu ontem os senadores mais resistentes do envolvimento do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) no rombo. Rastreamento dos cheques administrativos do Banco do Estado do Pará (Banpará) apontam que parte do dinheiro foi depositado na conta corrente 96.650-4, da agência 0532, Jardim Botânico-RJ, de Jader Fontenelle Barbalho.
Ontem, os técnicos se reuniram com alguns senadores para explicar como ocorreram os desvios. Os papéis do BC, que somam seis páginas, transformaram-se no principal motivo que acabou obrigando o presidente licenciado do Congresso a marcar para próxima quarta-feira seu depoimento na subcomissão do Conselho de Ética. Jader Barbalho, de acordo com o Ministério Público, recebeu R$ 3 milhões dos recursos desviados.
O Diário do Pará aparece como beneficiário de quatro resgates, cada um de Cr$ 50 milhões (R$ 36 mil em valores de hoje), depositados na conta do Banespa número 13-1523-0, agência 0128, de Belém, dia 28 de junho de 1985. Outro beneficiário é o ex-secretário particular de Jader Fernando de Castro Ribeiro, que recebeu Cr$ 250 milhões (R$ 180 mil atuais), na conta 92-02831-6, também do Banespa.
Complementações- Os técnicos do BC fizeram um levantamento de todos os cheques de Jader, todos de pequenos valores, que complementaram aplicações feitas com dinheiro desviado do Banpará na Agência Itaú do Jardim Botânico, do Rio de Janeiro. Com as complementações, Jader acabou se envolvendo com dinheiro considerado sujo pelo BC. Resgates parciais dos documentos mostram que o Diário do Pará, de propriedade do senador, também recebeu grande parte dos recursos ilegais.
?Os técnicos mostraram que o senador aparece complementando e recebendo os resíduos. Em um dos casos, quando Jader era governador do Pará, suas empresas são beneficiadas?, afirmou o senador Jefferson Péres (PDT-AM), integrante da subcomissão que irá investigar o presidente licenciado do Congresso. Ao todo, são contabilizados dez cheques que complicam a vida de Jader. Outros sete cheques incriminam ex-diretor administrativo do Banpará, Hamilton Guedes, considerado pela Polícia Federal um suposto ?laranja? de Jader.”
“Corregedoria começa a apurar fraude em fita”, copyright Jornal do Brasil, 21/8/01
“A Corregedoria da Câmara dos Deputados deu ontem o primeiro passo para tentar desvendar o mistério que envolve a participação do deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) na montagem da conversa telefônica que incriminaria o deputado estadual Mário Frota (PFL-AM) e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA).
Pauderney é acusado de ser o mentor da falsificação da conversa entre uma voz que pretende ser de a Mário Frota e um empresário amazonense. O diálogo entre é sobre um esquema de propina para a liberação de projetos da Sudam que chegaria aos R$ 5 milhões.
A pedido da deputada Vanessa Graziottin (PCdoB-AM), que formalizou a solicitação da investigações ontem, a Corregedoria tentará obter no Conselho de Ética do Senado documentos que, eventualmente, liguem Pauderney à montagem da fita. Segundo laudo pericial, a voz pode ser do ex-assessor de Frota, Nivaldo Marinho.
A representação que solicita o início das investigações está nas mãos da assessoria jurídica da Corregedoria. O termo cassação não aparece, pelo menos explicitamente. No texto, a deputada Vanessa Graziottin apenas ressalta que Pauderney mentiu ao afirmar que não conhecia Nivaldo Marinho e depois voltou atrás. ?Tudo é muito grotesco, quase primário, pois o Pauderney até já confirmou que houve um encontro?. Para a deputada, o Congresso não precisa mais do que isso para punir o parlamentar do Amazonas. ?Na minha opinião, isso é cabível de cassação?, afirma Vanessa.
Plenário – As principais lideranças na Câmara estão mobilizadas em torno de mais esta crise política. Ainda sim, o corregedor Barbosa Neto (PMDB-GO) já avisou que o assunto será tratado no âmbito da Corregedoria, foro, segundo ele, mais adequado para questões como essa. ?É certo que se criou um clima de incerteza muito grande, tanto que é fundamental irmos até o fim, mas não acho que seja motivo para ser foco de uma reunião de líderes?, diz.
Barbosa Neto irá pessoalmente ao Conselho de Ética do Senado pedir os documentos necessários para a investigação. Um encontro com Romeu Tuma (PFL-SP), porém, não foi sequer agendado. ?Quero inclusive o laudo da fita?, completa. A entrega de todo o material deve acontecer em até dois dias. A partir daí, a Corregedoria incia efetivamente os trabalhos de apuração.”