EUA EM GUERRA
"Talibãs julgarão repórter britânica", copyright Jornal do Brasil, 5/10/01
"Os talibãs pretendem processar a jornalista britânica Yvonne Ridley – detida há uma semana depois de ter entrado ilegalmente no Afeganistão – por violar as leis do país, informou ontem a Afghan Islamic Press, agência de notícias do regime de Cabul. O vice-ministro das Relações Exteriores talibã, mulá Abdul Rehman Zahed, disse que a Justiça deve determinar ainda se Yvonne, enviada pelo jornal inglês Sunday Express para cobrir a ofensiva Ocidental contra o país, é realmente uma jornalista ou se ?tinha outros objetivos?.
Os talibãs afirmaram logo após a prisão de Yvonne que examinam seriamente a possibilidade de processá-la por espionagem. A jornalista entrou em território afegão sem qualquer documento, escondida sob uma burka, vestimenta que cobre as mulheres afegãs da cabeça aos pés sem mostrar sequer os olhos. ?O inquérito continua e ela comparecerá ante um tribunal assim que as investigações terminarem. Yvonne Ridley violou as leis deste país e será processada?, disse Zahed. Ele afirmou ainda que o processo continuará mesmo se o governo constatar que a britânica é apenas uma jornalista: ?Ela será processada de qualquer maneira.?
O editor-chefe do grupo Express, Paul Ashford, saiu ontem de Londres com destino a Islamabad, acompanhado por um advogado fluente em urdu, uma das línguas faladas no Afeganistão, para tentar garantir o direito de defesa da repórter frente a um tribunal islâmico.
O destino de outros oito estrangeiros detidos no começo de agosto e acusados de pregar o cristianismo no país pode ser decidido no próximo domingo. O advogado do grupo, o paquistanês Atif Ali Khan, afirmou que eles devem receber penas leves, mas a decisão depende em grande parte do juiz escolhido. O proselitismo religioso pode ser punido com a morte no Afeganistão. ?A compaixão terá uma papel importante no caso?, disse Khan. Há semanas não há notícias dos 16 colegas afegãos do grupo, acusados do mesmo crime."
"Guerra vídeo-Game", copyright Globonews, 5/10/01
"A guerra anti terrorismo/talibã/Bin Laden está para começar – se já não tiver estreado clandestinamente e ninguém avisou. Os militares no comando se preparam – como de hábito – para tentar controlar as informações divulgadas ao público. Os jornalistas se mobilizam – como de hábito – para tentar furar o bloqueio político-militar e noticiar o que se passa de fato. Em casa, telespectadores armazenam pipocas para assistir ao grande vídeo-game bélico que promete atrair multidões.
Será ao vivo?
A pergunta tem implicações que vão além do aspecto de show que um conflito desses costuma gerar. Transmissão de notícia ao vivo provoca um impacto mais forte porque elimina a filtragem que editores habitualmente realizam na redação antes de levar a informação ao público. Não filtram como censura, mas porque a essência da edição é estabelecer prioridades, jogar fora o supérfluo e ajudar o telespectador/leitor a entender melhor o peso de cada notícia. Ao mesmo tempo, edição responsável evita que imagens chocantes e ofensivas entrem no ar gratuitamente. Ao vivo, esse controle é mais difícil.
Em áreas de conflito, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas vêem cenas de horror que não costumam chegar graficamente ao público. Editor cuidadoso não divulga, por exemplo, imagens de corpos mutilados. Mas em transmissão ao vivo de uma guerra, elas podem surgir de repente na tela, surpreendendo editores e telespectadores em casa. Como controlar?
Pesquisas feitas após os incidentes de 11 de setembro em Nova York revelam que uma das imagens que mais assustaram crianças e adultos foi a de vítimas se jogando pelas janelas do World Trade Center, em desespero (aparentemente provocado pela queimadura de querosene fervente do combustível de avião). Cenas desse tipo, em que podemos enxergar as vítimas, chocam mais do que prédios em chama ou implodindo – certamente com muito mais vítimas no interior, mas elas não aparecem.
Uma guerra se aproxima, com todos os recursos da tecnologia moderna, não só em mãos dos militares, mas também das emissoras de televisão, cada vez mais capazes de transmitir ao vivo. Do ponto de vista técnico, é até possível ter uma câmera a bordo de um míssil, transmitindo imagens em tempo real enquanto a arma voa para o alvo. Se errar a pontaria e atingir, digamos, uma escola, vamos assistir ao vivo crianças explodindo, enquanto jantamos com a família? Fica aberta a discussão."
"Rede de TV mostra o que governos escondem e preocupa EUA", copyright Folha de S. Paulo, 6/10/01
"A rede de TV Al Jazeera, que desbancou a CNN nos países árabes produzindo um artigo de primeira necessidade na região -liberdade de expressão-, preocupa os EUA devido à influência que exerce sobre muçulmanos ao mostrar cenas do Afeganistão.
O governo norte-americano chegou a pedir que autoridades qatarianas ?influenciassem? a estação para que ela não transmitisse imagens que prejudicassem o governo de George W. Bush. Em visita a Washington, o xeque Hamad bin Khalifa al Thani, do Qatar (sede da Al Jazeera), confirmou a solicitação e explicou que não pretende interferir na cobertura. ?Explicamos a nossos amigos, norte-americanos e outros, que estamos adotando um modelo parlamentar. A questão está encerrada, pois a vida parlamentar exige que tenhamos uma mídia livre e confiável. É isso que estamos tentando fazer?, afirmou.
?Temos correspondentes nos EUA [três? e temos correspondentes em Cabul e Candahar. Damos cobertura igual para ambos os lados, e esse é nosso papel. Apresentamos ambos os lados?, afirmou o diretor da Al Jazeera, Muhammad Jassem al Ali.
A rede árabe tem dois correspondentes no Afeganistão -Tayssir Alwani, em Cabul, e Muhammad Khayr al Bourini, em Candahar. ?Há coisas que não podemos dizer diante do Taleban?, explica Al Bourini. ?O grupo costuma nos proibir até de filmar.?
A Al Jazeera é o canal árabe mais visto no Oriente Médio por seu grande alcance e sua política editorial independente e agressiva. A rede se baseia nos relatos de seus correspondentes mais do que nas declarações oficiais dos países onde atua, ao contrário de muitos canais da região.
Em programas como ?Sem Fronteiras? e ?A Opinião do Outro?, Al Jazeera dá espaço a debates sobre temas sensíveis à sociedade árabe, incluindo relações com Israel. Dos 22 membros da Liga Árabe, apenas o Líbano não protestou contra a programação ou funcionários da Al Jazeera. Na Arábia Saudita, em diversas ocasiões, acabou a energia quando programas considerados ofensivos ao regime eram transmitidos.
Dia de glória
Nos últimos dias e em particular ontem, após a saída dos jornalistas ocidentais de Cabul, a rede de TV CNN dependeu desse canal árabe para mostrar imagens do Afeganistão e as reações do grupo extremista islâmico Taleban.
O correspondente da Al Jazeera em Cabul, que dispõe de uma estação de transmissão por satélite, mostrou cenas do bombardeio. De Candahar, por outro lado, o jornalista se comunica apenas por videofone. Ambos falam com frequência sobre a catástrofe humana que se agrava no Afeganistão.
Osama bin Laden costuma se comunicar com o exterior por meio da Al Jazeera, como fez ontem. Em entrevista levada ao ar em dezembro de 1998, Bin Laden convocou os muçulmanos a lutar contra os ?infiéis? dos Estados Unidos. A rede de televisão justificou a transmissão como uma forma de permitir que a audiência tivesse uma visão mais clara da ideologia do milionário saudita, apontado pelos EUA como o principal suspeito dos atentados do dia 11."