ESOTERISMO TRANSCENDENTAL
** O semanário IstoÉ vem se destacando como o único veículo de circulação nacional disposto a enfrentar a ira e o poder de ACM. Os seus leitores certamente já o perceberam; mas, por outro lado, devem estar completamente desnorteados com as mensagens contraditórias das últimas capas. Na edição 1633 (17/1/01), o assunto dominante era o tamanho do pênis dos brasileiros. Duas edições depois (1635, de 31/1/01) a revista voltou a enfronhar-se em questões transcendentais: a virginidade. Se a empresa quer envolver a revista com uma aura de independência não pode torná-la dependente das apelações à vulgaridade.
** O Jornal do Brasil perdeu as estribeiras: na edição de domingo (4/2/01) sapecou uma manchete astrológica, caso inédito num quality paper: "O verão do inferno astral". E para aumentar a depressão dos leitores, foi fundo no subtítulo: "Netuno em conjugação com Marte torna turbulento o começo do milênio no Rio de Janeiro". Não se conhecem as estatísticas sobre o consumo de anti-depressivos nos dias seguintes – tanto entre os leitores como no Departamento de Circulação.
PESQUISA ÀS MOSCAS
Todas as grandes empresas jornalísticas têm seus departamentos de pesquisa e documentação. Supõe-se que editores, redatores e repórteres – preocupados com a qualidade das informações que produzem e veiculam – sejam seus assíduos freqüentadores. Sobretudo porque a idade média nas redações é cada vez mais baixa e jovens, teoricamente menos vividos e menos informados, deveriam ser os mais decididos buscadores de referências e material de apoio.
** Cinco dias depois de cair de pára-quedas no evento anti-Davos, a nossa mídia lembrou-se de fuçar informações sobre o líder "camponês" José Bové. Antes disso, por força do seu bigode de revolucionário, o próspero produtor de queijo chèvre era apresentado como campeão das causas progressistas.
** O ex-presidente José Sarney transitou nas últimas semanas pelas páginas políticas como um dos candidatos à presidência do Senado e, sendo do PMDB, apareceu invariavelmente com o anti-Jader Barbalho. Pode ser que não tenha os mesmos atributos do "senador dos 30 milhões", mas conviria examinar as coleções de jornais do período em que exerceu a presidência da República. Ou os jornais da época eram irresponsáveis ou os editores políticos de agora são levianos.
** O mesmo deu-se com o neo-oposicionista Inocêncio de Oliveira, magicamente convertido em impoluto defensor da probidade. Ninguém se lembra mais das sondas de perfuração da Sudene encontradas em sua modesta fazendola em Serra Talhada (PE), e que ocuparam a imprensa e o Congresso durante tantos dias.
Tudo isso para levantar a seguinte questão: a imprensa deve contentar-se apenas com a função de auxiliar das futuras gerações de historiadores ou deve servir de memória das atuais gerações de cidadãos?
Circo da Notícia – próximo texto