AMAZÔNIA
Hidrelétricas na Amazônia: predestinação, fatalidade ou engodo?, de Lúcio Flávio Pinto, 124 pp., Edição Jornal Pessoal, Belém, 2002; preço: R$ 20. Contatos: jornal@amazon.com.br
Ao fazer um competente registro do que acontece no dia-a-dia, o jornalismo prepara o cotidiano para se transformar em história e o cidadão para escrevê-la. Esse papel é ainda mais importante numa região de fronteira como a Amazônia, tão carente de informações sobre o que acontece em seu próprio território. O jornalismo, bem posicionado nas barricadas, pode dar o primeiro combate dos fatos. Às vezes, infelizmente, o único. Não pode se omitir. Tem que se arriscar a cumprir sua mais nobre tarefa: ajustar a agenda diária dos cidadãos à agenda do tempo; isto é: à história.
Este é um livro de jornalismo sobre um tema de alta relevância histórica: a construção de mastodontes de ferro e concreto no leito dos rios da Amazônia, as hidrelétricas. Essa era começou para valer na metade da década de 70, com a usina de Tucuruí, no rio Tocantins, no Pará. A incompatibilidade entre a obra e o conhecimento acumulado sobre como aproveitar inteligentemente grandes cursos d?água numa região dominada por floresta tropical interrompeu a sucessão de grandes barragens idealizadas para a região. Essa rotina ameaça ser retomada com um projeto ainda mais grandioso, o de Belo Monte, no Xingu.
Ao longo dos últimos três anos escrevi seguidos artigos sobre esse tema. Aqui os reúno, ampliados e refundidos, para dar uma visão de conjunto, no calor da hora. Mantive a característica seqüenciada, que documenta a evolução conjuntural do assunto, com um propósito: mostrar que o jornalismo tem seu lugar garantido, se não foge de suas responsabilidades e desafios. É enfrentando as armadilhas de questões novas que o jornalismo se torna também história. Penetrando em qualquer terreno, mesmo o desconhecido, para dele extrair as informações que irão orientar a opinião pública, sobretudo quando suas outras fontes de referência permanecem mudas. Ativar a controvérsia contra o pano de fundo estático do silêncio conveniente.
Espero que este livro se torne uma arma, mesmo que na forma de uma simplória funda, para que os Davis comuns, de carne e osso, possam enfrentar gigantes que levam o nome não de Golias, mas de hidrelétricas. E se trave o bom combate. [Lúcio Flávio Pinto, da apresentação do livro]