TV UNIVERSITÁRIA
Resposta de Antonio Brasil ao professor Mozahir Salomão
Antonio Brasil (*)
Antes de tudo, grato pela oportunidade de finalmente discutirmos o jornalismo nas TVs universitárias. Sempre pensei que simplesmente não existia ou era completamente ignorado pelo público.
Li diversas vezes o artigo em questão com a maior atenção e confesso que talvez não tenha entendido muito bem. Prometo reler. Não sei se a intenção é responder às minhas críticas ou descrever um projeto isolado de telejornal de uma TV universitária. Creio que o interesse era mostrar um jornalismo de estilo único, quase religioso, ou indicar parâmetros para um novo jornalismo, diferente e distante de tudo que conhecemos. Como disse, não entendi bem. São tantos adjetivos e conceitos ligados à palavra "jornalismo" (cívico, esclarecido, de mediação… e outros tantos) que fiquei um pouco confuso.
No entanto, o pouco que entendi me fez lembrar uma passagem significativa na vida de um grande brasileiro, o falecido jurista Sobral Pinto. Ele também se preocupava muito com a utilização imprópria de adjetivos a uma outra palavra igualmente importante: democracia. Ao ser preso por militares durante a ditadura, o velho Sobral, em rigoroso interrogatório, foi advertido sobre suas idéias intransigentes sobre a democracia: "O senhor tem que entender, doutor Sobral, que nós aqui no Brasil estamos criando uma nova democracia, uma democracia à brasileira."
A resposta veio de forma tão imediata quanto insolente, bem no estilo do velho Sobral: "Meu filho, à brasileira só existe o peru. Democracia ou é democracia ou não é!"
Sinto muito. Jornalismo é jornalismo ou não é. Talvez na TV da PUC de Minas Gerais seja diferente. Jornalismo pode ser universitário, católico, cívico, esclarecido ou até iluminado! (sic). Requer, sim, liberdade. Liberdade para pensar diferente com a possibilidade de criticar, ousar e até mesmo errar. Dispensa tantos conceitos ou preceitos que dizem como deveria ser, mas muitas vezes não é. Eles engessam a ousadia, o experimentalismo e a criatividade que deveriam ser prioridades do ambiente universitário. Estabelecem modelos dogmáticos que devem ser seguidos sempre por todos. Nem tudo pode. Mas quem decide o que pode? Creio que os estudantes de Jornalismo também deveriam ter o direito de dizer qual é jornalismo que eles, repito, "eles" consideram relevante para a sua formação, e não terem que seguir somente aqueles determinados pelos interesses isolados de alguns professores ou de reitorias. Televisão universitária deveria ser uma televisão tão diversa e diferente quanto seus alunos e professores.
Quanto às restrições à cobertura de matérias, se o fato é importante, seja cruel ou não, o jornalista ou o estudante deveria estar lá e fazer seu trabalho. Pronto. Simples como o bom jornalismo. A prioridade de uma TV universitária a que ninguém assiste mesmo deveria ser ensinar a fazer jornalismo e experimentar novas linguagens, não agradar sempre ao público e às reitorias.
Ao reler os conceitos e as teorias sobre as novas formas de jornalismo universitário único, religioso ou mais provavelmente "divino" apresentados pelo sábio professor Mozahir, sinceramente, não consegui ver nada de diferente. Na teoria, todo jornalismo diz a mesmíssima coisa. Na prática dos interesses diários do patrão ou do reitor, bem sabemos, tudo muda.
Quantos aos custos e salários? Jornalismo na TV ou em qualquer outro meio não necessita de tantos recursos, mas oferece bons salários em tempos de crise no mercado. Mas não ter recursos é sempre uma boa e velha desculpa para justificar que algumas universidades simplesmente não façam jornalismo. Nem mesmo chapa-branca. Ele pode incomodar certos interesses sempre tão incertos e volúveis no mundo universitário. Fico feliz em saber que em Minas é diferente. Parabéns! Talvez a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais seja a exceção num novo jornalismo de TV totalmente diferente de tudo que conhecemos até hoje.
Para mim, prefiro continuar pensando que jornalismo ainda é algo muito simples. É aquilo que alguém, em algum lugar, quer esconder. Seja na sua universidade, cidade, país ou mesmo no mundo. Requer ousadia, coragem e independência. Qualquer outra coisa é publicidade ou telejornalismo de TV universitária. Grande abraço.
(*) Jornalista, coordenador do Laboratório de TV, professor de Telejornalismo da Uerj e doutorando em Ciência da Informação pelo convênio IBICT/UFRJ
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