Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalismo na real

DIPLOMA OU EMPREGO?

Vladimir Braga (*)

Concordo quando o que está posto é a discussão: devemos ou não ter diploma de jornalista para atuar em jornalismo? Não acredito que seja necessário dispor do tal canudo. Só que, posto o problema, vejo-me em situação inusitada: gastei – no mínimo – R$ 25 mil para obter o registro de jornalista profissional diplomado – pedante, não? Poderia ter feito uma faculdade de Direito – na verdade era o que eu queria fazer, mas para atuar no jornalismo. Só que a necessidade à época ? formei-me em 1999 ? colocou-me num banco de universidade particular para obter o referido diploma. Caso tivesse optado por Direito, teria duas profissões. Hoje, o que tenho mesmo é nenhuma.

Porém, o me que assusta é bater às portas (telefonar, ou enviar mensagens eletrônicas) dos impérios jornalísticos, ou até mesmo dos pequenos veículos, e não obter resposta quando peço, vejam só, um emprego! É impressionante acompanhar as discussões sobre o mercado da imprensa, sim, como qualquer outro, não digam que me equivoco porque o preço do papel subiu, empresas quebraram e há, como conseqüência, muitos jornalistas sem trabalho. Uso "muitos" porque não há um número exato dos profissionais parados, embora alguns sítios de comunicação tenham informado nos últimos meses que cerca de 700 profissionais foram sumariamente dispensados.

Outro problema: quem tem conhecimento (leia-se Q.I., mesmo) arruma outra vaga. Mas a turma da batalha, aqueles que não conhecem ninguém, ficam a esperar que uma alma bondosa resolva lhe dar uma chance de trabalho. por que as empresas de informação não colocam anúncios, como "precisa- se de repórter para atuar na editoria de Cidades, cujas características são tais, tais e tais". O único exemplo que conheço, embora não acredite que funcione realmente, é o da Folha de S.Paulo. O resto são bons contatos mesmo, senão você está fora.

Portanto, na real do jornalismo, não importa se a pessoa tem diploma ou não e, sim, se ela vai poder trabalhar. Poderia estender este assunto a outras profissões, mas como o que me cabe questionar é o jornalismo deixo o mote para outras discussões.

(*) Jornalista, São Paulo