Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalista faz jornalismo

PESQUISAS

Victor Gentilli

Antes de tudo, iniciemos pela precisão terminológica. Isso que os jornais apresentam aos leitores/telespectadores não é pesquisa. É enquete, inquérito, levantamento, sondagem. Veja que não faltam nomes que dêem precisão a uma coleta de dados sobre tendências da opinião pública.

Não é pesquisa e também não é jornalismo. Uma enquete pode servir de base para uma pesquisa, da mesma forma que pode ser útil ao jornalismo.

Uma sondagem de opinião pública tem sempre questões metodológicas de fundo que interferem no resultado. A pergunta do questionário, a forma de apresentar o questionário, a maneira de escolher o universo pesquisado, a metodologia de coleta de dados, tudo isso pode levar a resultados variados.

Os levantamentos de opinião pública eleitorais divulgados pela imprensa costumam ter uma questão clássica:

"Se a eleições fossem hoje, em quem você votaria?"

Esta pergunta é feita duas vezes; uma diretamente, outra apresentando uma lista dos candidatos. O resultado desta sondagem é chamado de intenção de voto. No primeiro caso, temos a intenção de voto espontânea, no segundo, a intenção de voto estimulada.

Entendo que não deve haver nenhuma limitação à divulgação de resultados de sondagens eleitorais desde que a edição satisfaça todos os princípios básicos, como a metodologia da pesquisa, o universo pesquisado, a margem de erro, enfim todos os dados metodológicos devem ser claramente explicitados e definidores da edição.

Assim, se uma pesquisa tem margem de erro de 2% uma mudança de 4% entre dois candidatos não pode ser apresentada como alteração de tendência. Em hipótese alguma.

Mesmo assim, as sondagens de opinião pública só têm sentido nos momentos eleitorais ou em outros momentos assemelhados em que a sociedade será chamada a manifestar-se.

Ora, algumas pessoas têm forte opinião sobre algum assunto; outras podem não ter opinião alguma. Ao se fazer uma enquete sobre os direitos de casamento dos padres católicos a opinião de cada um não tem e não pode ter o mesmo valor. Numa eleição democrática, cada voto vale um, de forma que a opinião de cada um tem o seu valor igual. Está dito aqui que as eleições americanas são menos democráticas que outras. Ponto.

Fora dos períodos eleitorais, não é sem sentido apurar-se, por sondagem de opinião pública, a opinião da sociedade sobre os governos. Trata-se de um tipo de enquete já comum nas sociedades contemporâneas, mas cuja capacidade de manipulação é bem maior. Se na sondagem eleitoral a pergunta é clara (se a eleição fosse hoje em quem você votaria?), numa sondagem sobre a popularidade do governo a própria formulação da pergunta já não é ponto pacífico entre as instituições que realizam sondagens.

Mas tudo isso é secundário. O fundamental é que cientistas sociais e políticos saibam fazer pesquisa a partir das sondagens e os jornalistas saibam fazer jornalismo a partir delas.

Tomá-las como um fim em si é um grande erro.

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