Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Jornalista morre diante da câmera

DANIEL PEARL (1963-2002)

Antônio Brasil

Todos os jornalistas do mundo deveriam estar de luto. Daniel Pearl, jornalista americano de 38 anos, que trabalhava para o Wall Street Journal e estava seqüestrado no Paquistão desde 23 de janeiro, foi finalmente declarado morto. O bizarro desta "morte anunciada" fica por conta da forma como a embaixada americana em Karachi constatou o desfecho dessa longa e triste história. Apesar de os americanos até agora [25/2/02 ? 20h04] não terem encontrado o corpo do jornalista, a prova definitiva ficou por conta de uma fita de vídeo que mostra de forma incontestável a sua morte. Como seria este vídeo? Por que razão os assassinos fizeram questão de perpetuar esse momento de violência?

Em verdade, estamos testemunhando um novo tipo de guerra. Trata-se de uma guerra de imagens. Da destruição das torres do World Trade Center em Nova York, ao vivo e em cores, seguido de bombardeios espetaculares no Afeganistão até as cenas da vitória final em Cabul, passamos a momentos de terror na prisão de centenas de combatentes em Guantánamo, Cuba. Tudo parece cinema e os fatos se voltam para as câmeras.

Nas últimas semanas vimos perplexos as últimas fotos de um jovem jornalista amedrontado, preso numa armadilha de interesses políticos e religiosos. Em mais um capítulo dessa nova forma de guerra Daniel Pearl acabou se transformando em "pura imagem". O vídeo da sua morte virou objeto de desejo de centenas de produtores de televisão do mundo inteiro. Deve estar sendo ferozmente disputado. A dúvida que se apresenta não é mais comprar ou não comprar, mas ver ou não ver ? eis a questão! Diga lá, quem se habilita a assistir a essas imagens?