GUSTAVO KUERTEN
Márcio Fernandes (*)
A conquista, semana passada, do Torneio de São Petersburgo (Rússia) pelo tenista Gustavo Kuerten começou a revelar uma nova fase das relações entre os meios de comunicação e o atleta catarinense. Em especial, no caso da mídia impressa.
Distintamente de outras ocasiões, Kuerten não foi saudado como profeta ou herói nacional pelos jornais brasileiros, nem mesmo pelos diários de Santa Catarina, cujo fã-clubismo em vitórias anteriores do tenista beiraram o ridículo. Claro que o título mereceu chamadas e fotos de capa nas edições de segunda-feira, mas as reportagens acabaram, digamos, mais sóbrias, com menos adjetivos ? algo que, por si só, já é uma grande notícia em relação ao leitor, que precisa ser respeitado.
Esqueceram, contudo, os jornais de mencionar algo bastante relevante:
que, em São Petersburgo, Kuerten enfrentou somente adversários
medianos e fracos, enquanto que, no mesmo período, os tenistas
de primeiro time estavam se digladiando na Basiléia (Guillermo
Coria, David Nalbandian, Andy Roddick etc). Obviamente não
é possível considerar mais Alex Corretja, Yevgeny
Kafelnikov e Marat Safin como oponentes de peso, por estarem em
franca decadência ou em fim de carreira.
Não mencionando isso, os jornais deram-se por satisfeitos em, mais uma vez, reproduzir somente o discurso de Kuerten, de que o ano terminou bem, de que ele está recuperado, etc etc etc, sem que tivessem ao menos pontuado ao leitor comum o aspecto da Basiléia.
De quebra, a mídia impressa continua sem retomar um assunto propalado à opinião pública: a proposta de popularização do tênis em nível nacional, algo que, voluntariamente, está acontecendo na Argentina, país que cada vez mais coloca atletas no topo do ranking internacional.
Mas, enfim, há de se registrar que, aos poucos, a imprensa está deixando de colocar os pés pelas mãos, no caso Kuerten, passando a tratá-lo mais como um bom esportista que é (tanto quanto o corredor Claudinei Quirino e o piloto Rubens Barichello, por exemplo) do que um gênio ? epíteto que, no Brasil, deve ser reservada a poucos, como Pelé, Emerson Fittipaldi, Maria Esther Bueno e Adhemar Ferreira da Silva.
(*) Jornalista profissional e professor universitário no Paraná. E-mail: <marciofernandes@unipar.br>