PROFISSÃO PERIGO
Ulf Stroemberg, câmera da TV sueca TV4, foi assassinado na manhã do dia 27 de novembro por homens armados que assaltaram a casa em que se hospedava no norte do Afeganistão. Conta a Associated Press (27/11/01) que dois homens mascarados e armados com rifles russos Kalashnikov invadiram a casa em Taloqan em que um grupo de jornalistas suecos do jornal Aftonbladet se hospedava. Levaram câmeras, computadores, um telefone de satélite e dinheiro.
Rolf Porseyd, repórter que dividia o quarto com Stroemberg, contou à AP que os assaltantes bateram na porta e, quando Stroemberg abriu, ouviu-se apenas o tiro. "Ulf caiu em cima de mim gritando ?Fui atingido, levei um tiro?", disse Porseyd. Ao chegar ao hospital, o cinegrafista já estava morto.
Stroemberg, que tinha 42 anos e trabalhava no Aftonbladet desde 1998, foi o oitavo jornalista morto no Afeganistão desde o início da guerra, em 7 de outubro. Em Estocolmo, o diretor de programação da TV4, Jan Scherman, disse que a emissora retiraria seu pessoal do Afeganistão "o mais rápido possível".
Quatro jornalistas ? dois da Reuters, um do diário italiano Corriere della Sera e outro do jornal espanhol El Mundo ? morreram em emboscada talibã na estrada entre Jalalabad e Cabul. No começo de novembro, três correspondentes ? dois radialistas franceses e um repórter de uma revista alemã ? morreram no norte do Afeganistão. Goran Persson, primeiro-ministro da Suécia, que conhecia Stroemberg pessoalmente, disse que se trata de "uma tragédia que mostra o quanto a profissão de jornalista é perigosa."
Recuo da mídia
Parte da mídia afastou seu pessoal do Afeganistão após a morte de Stroemberg. A BBC tirou o time de campo, assim com as principais emissoras de TV americanas. Repórteres da Reuters já saíram do local. AP e Washington Post planejam sair. ABC e NBC afirmaram que vão retirar suas equipes. A NBC disse que seus correspondentes vão para outra região do país por "razões logísticas". Profissionais da CNN e da National Public Radio permanecem na região de Taloqan-Kunduz.
Para David Filipov e Mark Jurkowitz [The Boston Globe, 28/11/01], o assassinato do sueco suscitou novos temores de que, após a queda do regime talibã, o Afeganistão vire terra sem lei, como ocorreu em 1996, depois da guerra contra a ex-URSS.
Byron Pitts, correspondente da CBS em Dushanbe, disse, em 27 de novembro: "Nos últimos dias, vê-se que o clima mudou na cidade." Segundo ele, "há mais pedintes nas ruas e jovens mais agressivos quando passam pelas pessoas." Sentindo a hostilidade da região, Pitt e a equipe da CBS decidiram partir. "A reportagem principal aqui, a queda de Kunduz, já passou. Todos amamos uma ótima reportagem, mas também amamos nossas esposas."
Canadense desaparecido
Dois diplomatas canadenses viajaram a Spinboldak, cidade fronteiriça no extremo sul do Afeganistão, para investigar o destino de um jornalista free-lance capturado pelo Talibã. Detido em 27 de novembro, Ken Hechtman, 33 anos, foi solto na manhã do dia seguinte, e desde então seu paradeiro é desconhecido. Em 30 de novembro, o regime talibã ofereceu ajuda na busca do jornalista, pois desconfia que Hechtman tenha sido seqüestrado, segundo Christopher Torchia [The Associated Press, 30/11/01].
Konrad Sigurdson, representante paquistanês, no entanto, acredita que a milícia talibã ainda retenha Hechtman. Maulana Ameenullah, funcionário talibã em Chaman, disse querer ajudar a localizar o jornalista, que escreve para o semanário Montreal Mirror. "Juramos que ele não está sob nossa custódia. Para cooperar, tentaremos encontrá-lo."
Em nome do regime talibã, o mulá Mohamed Omar ofereceu US$ 50 mil por cabeça de jornalista ocidental morto, afirma Ian Traynor [The Guardian, 30/11/01]. O inacreditável incentivo, dadas as condições de penúria dos talibãs, veio a público logo após a morte de jornalistas europeus, inclusive a do cinegrafista sueco Ulf Stroemberg, e o seqüestro acompanhado de tortura de outro correspondente.
A oferta de Omar, de acordo com Traynor, teria como objetivo incentivar as tropas talibãs a continuarem lutando contra os americanos, cujo poder de fogo numa base aérea fora de Kandahar aumentou.
Preocupado porque 53 jornalistas foram assassinados em 2001, o Instituto Internacional de Imprensa (IPI) defendeu em 30 de novembro que os governos precisam se empenhar mais para fazer justiça aos que exterminam jornalistas mundo afora.
Até agora, segundo o IPI, "cão de guarda" da mídia sediado em Viena, 10 jornalistas foram mortos na Colômbia, oito no Afeganistão, três em áreas sob domínio palestino e três nas Filipinas. Mais jornalistas foram mortos em 23 outros países. O número, informa William J. Kole [The Associated Press, 30/11/01], avança rapidamente para a marca atingida no ano passado, de 56 assassinatos.