DIPLOMA EM XEQUE
Márcio Sampaio de Castro (*)
Há alguns dias, uma juíza do Tribunal Federal Regional de São Paulo, cujo nome não menciono em sinal de protesto, cassou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A meritíssima justificou em sua sentença que estava garantindo o direito à liberdade de expressão, previsto na Constituição. Sofisma, puro sofisma.
Todos sabemos que nos jornais, grandes e pequenos, pululam notas, artigos e colunas inteiras assinadas por não-jornalistas que, desde que tenham os canais adequados, sempre garantirão espaço na mídia. Mas, e o profissional do "chão de fábrica", aquele que vai atrás da notícia, que vive da notícia e não tem nela um hobby, mas uma profissão?
Os donos dos grandes veículos argumentam que podem treinar seus profissionais em cursos especiais e, de quebra, moldá-los à sua visão de mundo, e é aí que reside o problema.
Migalhas ao vento
A faculdade de Jornalismo, por pior que seja, é um espaço democrático de troca. Ali o estudante conhece colegas e professores mais à direita ou à esquerda. Convive com os filhos da "boa" classe média e com colegas que não sabem se vão ter dinheiro para a próxima mensalidade ou para o ônibus de amanhã. Some-se a isso boa leitura e, após quatro anos observando e aprendendo, se ele ou ela for safo sairá dali com uma visão de mundo muito mais ampla do que ao entrar.
Para me socorrer neste argumento darei um exemplo próprio. No primeiro ano de faculdade li A Ilha, de Fernando Morais, e lembro-me muito bem de um diálogo travado entre o jornalista brasileiro e um colega cubano: "E a liberdade de imprensa aqui em Cuba?", perguntou Fernando, ao que contestou o cubano: "Liberdade de imprensa é um eufemismo burguês, os jornalistas escrevem o que os patrões dos jornais querem." Este trecho do livro marcaria profundamente minha visão sobre a profissão.
É por esta e outras razões que os jornalistas precisam constituir uma categoria profissional minimamente articulada, como são médicos, advogados e tantos outros. Infelizmente, nós, jornalistas e estudantes, ficamos olhando, esperando para ver o que os "doutores" do Supremo resolverão sobre o nosso diploma, se vamos jogá-lo no lixo ou não. Gostamos de invejar as experiências do Primeiro Mundo e citar o Libération (jornal feito e administrado por jornalistas) como um lindo exemplo, mas e daí? Onde está a nossa consciência de classe? Quando vamos entender que estes movimentos suspeitos não são a favor da liberdade de expressão mas, pelo contrário, são a favor dos interesses dos poderosos? "Informação é poder", disse Francis Bacon, e quem a controla o detém.
A imprensa só será o quarto poder quando os jornalistas deixarem de se comportar como ovelhas sedentas pelas migalhas jogadas ao vento (salários miseráveis) e se comportarem como pessoas com senso minimamente crítico, desenvolvido pelas experiências da profissão, da faculdade e do sangue de jornalista, que nem todos os mortais trazem nas veias.
(*) Jornalista