CNN
Eve Burton, consultora-chefe da CNN, deixou repentinamente a emissora há poucos dias. Até aí, nada novo, não fosse a reação de funcionários ao que parece ter sido a gota d?água para iniciar movimentos de protesto contra demissões e remanejamento de cargos, que se tornaram recorrentes nos últimos meses. Dezoito jornalistas, todas mulheres, que ocupam altos cargos na emissora, enviaram carta a Walter Isaacson, novo diretor da CNN, e aos executivos mais importantes da Turner Broadcasting System, dona da rede, com a AOL Time Warner. Entre as signatárias, que exigem a volta de Eve, a âncora Judy Woodruff, a correspondente internacional Christiane Amanpour e a analista de assuntos jurídicos Greta Van Susteren.
Segundo Felicity Barringer [The New York Times, 27/7/01], Eve era considerada uma defensora dos direitos constitucionais da imprensa, e tais direitos colidiram frontalmente com outros interesses corporativos. "Eve é uma campeã incorruptível do jornalismo e a CNN não deveria esperar menos", escreveram. "Ela é elemento-chave para ajudar a CNN a manter seu alto nível de credibilidade."
O verdadeiro motivo da demissão de Eve evidencia-se cada vez mais como o velho conhecido conflito entre interesses corporativos e jornalismo isento. Eve teve relações tensas com outros advogados da Turner Broadcasting. A tensão ficou insuportável quando a CNN teve de decidir se deveria ou não apoiar o movimento contra a publicação de The wind done gone, considerada por muitos plágio de E o vento levou. Os vários braços da AOL Time Warner tiveram diferentes posições quanto ao caso: a Warner Books tem o copyright de Scarlett, uma seqüência não-autorizada da obra de Margaret Mitchell, e Turner Entertainment, os direitos de E o vento levou.
The wind done gone, de Houghton Mifflin, enfureceu os herdeiros de Margaret Mitchell, que detêm os direitos da obra-prima da autora e entraram na Justiça para impedir o que consideram plágio. Advogados da CNN pediram aos jornalistas que se contivessem ao tratar do assunto, o que Eve teria considerado uma exigência descabida. "Nosso compromisso com a Primeira Emenda é absolutamente forte e reside comigo e com os outros jornalistas da CNN", afirmou.
A direção da CNN disse que a saída da jornalista era uma questão pessoal e que não a discutiria.
UNIÃO GAY
Em 18 de março de 2000, a página de opinião e editoriais do New York Times celebrou a aprovação de uma lei no estado de Vermont que dá a gays e lésbicas o direito de formar uniões legalmente reconhecidas com "quase todos os benefícios e responsabilidades do casamento civil". Mas, como descobriu Joseph Quenqua, vice-presidene de uma empresa de relações públicas, tais benefícios não incluem cobertura do jornalão na seção de casamentos publicada aos domingos.
Em 30 de agosto, Quenqua e seu parceiro, o roteirista Art Smith, planejam fazer da relação de sete anos uma união civil oficial, com cerimônia em Lake Champlain, Vermont. Voltando a março do ano passado, Quenqua leu as instruções publicadas na seção de casamentos do Times e tentou enviar um anúncio de sua união. Primeiro, fez três ligações ao número indicado no jornal. Sem resposta, mandou e-mail. Depois, seguindo conselho de um amigo que trabalha no jornal, escreveu a Robert Woletz, editor de notícias da sociedade do Times.
Ainda assim, segundo Frank DiGiacomo [The New York Observer, 30/7/01], não houve resposta. Então, em carta datada de 19 de abril, Quenqua escreveu a um colega, o diretor de Criação do Times, Tom Kulaga, e contou sua experiência. "Desde então, amigos dizem que o jornal tem política contrária à divulgação de uniões de parceiros do mesmo sexo na página de casamentos", escreveu Quenqua. "Por que não recebi uma carta-padrão dos responsáveis? Não acredito que somos os primeiros a pedir uma inclusão de casamento gay na seção."
Quenqua acha que essa política deveria ser revista à luz da nova legislação de Vermont. "Para um jornal nacional que lutou arduamente para incluir gays e lésbicas em todas as editorias, essa política cheira a hipocrisia." Desta vez, Quenqua recebeu resposta do editor de notícias William Borders. Ele pediu desculpas pela falta de retorno e deu explicações: "Estamos pensando muito nessa questão, especialmente por causa de nosso apoio incondicional a uniões do mesmo sexo", escreveu Borders. "No entanto, editores concluíram que uniões civis em Vermont não são exatamente casamentos, e nossa página de casamentos ainda está restrita a casamentos."
Finalmente, Borders falou o essencial ? que já era óbvio: "Não podemos abrir tais páginas a uniões civis porque isso nos levaria a tomar uma posição editorial nas colunas noticiosas sobre um assunto que ainda divide muito a sociedade."