ELEIÇÕES 2002
“Lula deixa estilo ‘light’ e critica imprensa”, copyright O Estado de S.Paulo, 28/5/02
“O pré-candidato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, abandonou o estilo light que vem marcando suas aparições em público nos últimos meses e atacou a imprensa, ontem à noite, em Sorocaba. Ao ser perguntado se concordava com a análise feita pelo deputado Aloízio Mercadante (SP) e publicada na edição de domingo do Estado de que o Brasil mudara para melhor, ele criticou o jornal.
Enquanto Mercadante, que estava ao seu lado, não negava suas próprias declarações, apenas reclamava de não ter sido publicado tudo o que dissera, Lula afirmava que as declarações do companheiro tinham sido distorcidas. ?É uma concepção política do jornal.? Mercadante confirmou que tinha defendido o Banco Central como instituição, como publicou o jornal, por entender que o BC não deveria ser atacado pelos candidatos ?especialmente nesse momento de fragilidade que o Brasil atravessa.? Lula preferiu seguir nas críticas, alegando que o jornal muda ?de forma premeditada? o texto escrito pelos jornalistas. ?Na semana passada, eu talvez tenha feito as mais duras críticas à política protecionista do Bush e alguém do Estado entendeu que eu estava elogiando o Bush?, afirmou. Ele acabou por generalizar as críticas a toda a imprensa.
?As pessoas às vezes entendem o que soa bem no ouvido delas.? Em seguida, recomendou: ?A imprensa deve ter responsabilidade no que escreve.?
As críticas ocorreram logo depois de o candidato ter confirmado que mudou seu estilo. ?A imprensa mudou, os partidos mudaram e eu mudei.? Ele disse que mudou a forma e o jeito de conversar com as pessoas, mas de uma forma natural.”
“Candidatos exploram vale-tudo do rádio”, copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02
“Sob apar&ececirc;ncia de jornalismo político, programas de rádio de grande audiência transformaram-se em um dos principais palanques para os pré-candidatos mesmo antes do início oficial da campanha, em julho.
Mais velado na televisão, o palanque costuma ser explícito em FMs e AMs, principalmente pela manhã, horário em que o rádio atrai mais público que a TV.
No comando do debate mais disputado por políticos em São Paulo, na Capital AM (1040 kHz), o líder de audiência Paulo Lopes (160 mil ouvintes por minuto) faz questão de deixar suas preferência claras para o ouvinte.
Costuma levantar a bola para os pré-candidatos discursarem. E não poupa elogio aos convidados. ?Garotinho, parece que você tem solução para tudo no Brasil. Penso: ?Se esse homem entra lá, estamos com todos os problemas resolvidos?. É um pouco isso ou é interpretação minha??, perguntou ao pré-candidato do PSB à Presidência da República.
O malufismo que Hebe Camargo manifesta em seu programa no SBT não é nada perto do que a apresentadora soltou, há duas semanas, na atração que comanda na Nativa FM (95,3 MHz), de SP.
Hebe acusou Marta Suplicy (PT-SP) de apresentar projeto de lei liberando a contratação de estrangeiros pela prefeitura apenas para dar emprego ao namorado, o franco-argentino Luís Favre. ?Administrar a cidade que é bom… Marta quer é festa. Êta beleza! E esse Luís Favre já atua faz muito tempo. Isso aí é um perigo, ainda mais mulher apaixonada…?
Praticamente sem fiscalização do Ministério Público e dos partidos -que não têm como controlar o que é dito nas mais de 3.000 estações de rádio espalhadas pelo país-, os programas abrem espaço para pré-candidatos e aliados dispararem ataques nos quais o outro lado quase nunca é ouvido. Acusações graves acabam ficando sem resposta no ar.
O presidente do PSDB, José Aníbal, assíduo frequentador dos debates eletrônicos, é um dos que aproveitam o rádio para fazer críticas em tom acima do que usa na TV e nos jornais. ?Duda Mendonça [marqueteiro de Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável do PT] é muito arrogante, é um mercenário mesmo?, disse, no ?Programa Paulo Barboza? -o segundo palanque de maior audiência, com 54 mil ouvintes por minuto, na Record AM (1000 kHz).
Além do ?bate-boca? sem limite, os políticos usam o rádio para promessas e já se apresentam como candidatos de fato, o que, antes de julho, pode ser considerado crime eleitoral, segundo especialistas consultados pela Folha.
Mesmo em São Paulo, onde os programas são mais fiscalizados e chegam a ser gravados pelos partidos, a irregularidade rola solta.
No ?Show do Paulo Lopes? (quatro horas de duração, de segunda a sexta) e no ?Programa Paulo Barboza? (três horas, nos mesmos dias), ouvem-se frases do tipo: ?Como presidente, vou criar o Ministério da Casa Própria? (Anthony Garotinho, pré-candidato do PSB à Presidência); ?Como deputado federal eu defendo a municipalização da polícia? (Celso Pitta, que deve concorrer à Câmara pelo PSL).
Esse ?vale-tudo eletrônico? traz resultados concretos nas pesquisas.
A liderança do pré-candidato do PPB, Paulo Maluf, na disputa pelo governo paulista é parcialmente atribuída por sua equipe à sistemática participação em atrações populares do rádio.
Neste ano, a estratégia de campanha de Maluf no dial foi definitivamente profissionalizada: ele contratou uma empresa para mapear as emissoras do interior e agendar entrevistas. Com essa assessoria, sabe que estações são simpáticas a que partido ou político e escolhe os programas ideais para suas aparições.
A empresa contratada por Maluf tem focalizado principalmente programas policiais, para que o pepebista fale de segurança pública, campo em que avalia estar o ponto fraco do governador Geraldo Alckmin (PSDB), até aqui seu principal adversário.
Se determinada cidade tem uma reivindicação não atendida pelo governo, assessores de Maluf agendam a participação numa atração de grande audiência da região. E pautam os locutores para perguntar a ele exatamente sobre aquelas demandas. Por semana, Maluf conversa com ao menos 40 rádios. Chega a falar com mais de dez cidades num dia.
Parece mirabolante, mas não está muito longe da estratégia da maior parte dos candidatos. A maioria costuma reservar pelo menos uma hora todas as manhãs para dar entrevistas, já desde o início do ano de eleição.
Conselho prático
?Aconselho meus candidatos a montar um sistema pelo qual, todo dia antes de sair de casa, falem por uma hora para quatro ou cinco emissoras. O resultado é surpreendente?, escreveu Duda Mendonça em seu livro ?Casos e Coisas?, sobre marketing político.
Para conseguir espaço em rádios é preciso ter um bom relacionamento com os locutores. Assessores de políticos ouvidos pela Folha afirmam que alguns cobram para entrevistar os candidatos, o que é negado por Paulo Barboza e Paulo Lopes.
Mas Lopes diz que a boa relação com o político é determinante e concorda com sua marca de malufista. ?Sou muito amigo do Maluf mesmo.? Mas, no ?coração? desse radialista, parece sempre caber mais um político. ?Sou muito amigo do [José] Serra [presidenciável do PSDB] também. Gosto do Garotinho, do [Aloizio] Mercadante… [que deve concorrer ao Senado pelo PT]?.
E Lopes faz questão de deixar suas ?amizades? claras para o público. ?Muitas pessoas me dão bronca porque fico chamando o Serra de amigo. Dizem que isso pode influenciar o meu ouvinte, que gosta de mim. Não vou negar. O Serra é meu amigo há muitos anos?, disse na semana retrasada, após entrevistar o tucano.
O deputado José Anibal, que também participava do debate nesse dia, brincou: ?Paulo, também sou seu amigo, heim!?.
Se em um programa o radialista levanta a bola para os ataques de Garotinho a Fernando Henrique Cardoso, em outro, aplaude o governo ao entrevistar Serra. Também pode ajudar o ex-prefeito Celso Pitta a atacar o PT e entrevistar Marta Suplicy no dia seguinte, elogiando um projeto seu. ?Sou apartidário?.
Não é só nas entrevistas e debates que políticos levam vantagem. Em 24 de abril, o radialista realizou enquete com o propósito anunciado de apurar a preferência dos ouvintes na eleição para o governo paulista. Os dez entrevistados por telefone escolheram Paulo Maluf.
A sondagem fez com que o PSDB entrasse com representação no Tribunal Regional Eleitoral, acusando Lopes e Maluf de fazer pesquisa eleitoral irregular e propaganda eleitoral antecipada.
Para o PSDB, as declarações dos entrevistados eram ?verdadeiros slogans?: ?Para dar um jeito neste país, só Maluf?, ?O único para resolver os problemas de segurança em São Paulo é Maluf? ou ?É o melhor, foi o melhor governador que tivemos?.
Fora do ar
Situações como essa já fizeram Paulo Barboza ficar por mais de um mês fora do ar, por determinação da Justiça, nas eleições de 1990. Ele foi acusado de fazer campanha irregular para Maluf.
?Fui mal interpretado?, diz. Na época, ele chegou a apresentar shows em comícios do então candidato ao governo de São Paulo. ?Mas era apenas um trabalho.?
Hoje, Barboza diz que não manifesta apoio a ninguém. Mesmo assim, como Lopes, dá a deixa para seus convidados se autopromoverem e atacarem adversários. Como há duas semanas, quando Garotinho, em amistosa conversa com Maluf, pôde falar sobre suas realizações no Rio e fazer promessas para a Presidência.
Ao comentar a redução dos sequestros no Estado em sua gestão, Barboza não perdeu a deixa. ?E por que SP tem mais sequestro que o Rio??, levantou a bola para Maluf, que cortou: ?É que os governadores eram diferentes. Lá tinha Garotinho; aqui tem tucano?.”
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“?O que faço é troca de favores?, diz o locutor Paulo Lopes”, copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02 “
“Paulo Lopes, dono do mais disputado palanque eleitoral no dial paulista, nega que cobre para dar espaço aos políticos em seu programa. Em dinheiro, pelo menos. ?O que faço é troca de favores. Usufruo da relação, é uma influência parda. Quantas pessoas eu internei por causa do Serra!?
Quando deixou a rádio Globo, em setembro de 2001, políticos se mobilizaram para convencer a Capital- outro reduto do ouvinte popular- a contratá-lo. Lopes não chegou a ficar dois meses fora do ar até ir para a Capital por um salário que gira em torno de R$ 100 mil -fora o merchandising-, segundo a Folha apurou.
Para lá, levou uma audiência fiel -160 mil ouvintes por minuto- com ouvintes que o acompanham há 15 anos, quando começou o debate com políticos.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha. (LM E CC)
Folha – Como o sr. seleciona os políticos para seu programa?
Paulo Lopes – Convidamos uma vez. Se não fala bem, não dá mais para trazer. Tem cara que é bom. Às vezes nem é tão bom político, mas é bom de microfone. Evidentemente entram pessoas que a gente gosta mais do que de outras, e às vezes pensamos: ?Precisamos trazer mais gente do PT, tá vindo muita gente do PSDB, do PTB…?
Folha – Há os prediletos?
Lopes -Há políticos solícitos. Maluf é um deles. Você liga e ele atende a qualquer hora. O Garotinho, então! Já me atendeu no metrô, no carro. Garotinho, Serra e Maluf são ótimos. E há os mais difíceis, como o Lula. O Ciro então, nem se fala! Com ele, a gente não consegue falar de jeito nenhum.
Folha – Costuma-se dizer que o sr. é malufista, e o Maluf frequenta muito seus debates. São amigos?
Lopes – Sou amigo do Maluf faz tempo. Ele foi ao meu debate por um ano e meio, quando concorreu à prefeitura pela primeira vez. Sabe quem participava com ele? Serra e Covas. Por que não acham que sou covista ou serrista?
Folha – Por quê?
Lopes – Não sei. Eu fui processado umas duas vezes pelo PT e umas três pelo PSDB porque eles diziam que eu era malufista, mas eles esqueciam que participavam do meu programa da mesma maneira. O PT um pouco menos.
Folha – O sr. segue regras?
Lopes – A ética que eu tenho é: se puder ter os dois lados, muito bom. Mas não é porque não tenho um lado que eu não vou pôr o outro. Nunca subi em palanque. E me critico: por que não?
Folha – Em qual subiria?
Lopes – Gosto muito do Serra. [Gosto] Do Garotinho, por ser radialista, por ter dirigido um Estado politizado. No palanque dos dois eu subiria. Em São Paulo, subiria no palanque do Maluf.
Folha – Há políticos que dizem pagar para participar do programa.
Lopes – Não. O que usufruo deles? A relação. Chamo isso de influência parda. [Se há] Um fiscal perseguindo um comerciante, um anunciante meu com um produto para ser regularizado em Brasília… Uso como lobby. ?Pô fulano, você está aqui no meu programa, dá um jeito. Vê se o fiscal está perseguindo esse cara?. Ou usufruo da amizade com um vereador para mudar uma ponte, trocar um delegado. Quantas pessoas não internei por causa do Serra! Não tinha vaga [nos hospitais], a gente ligava para o Serra. O assessor dele ligava para lá e operavam, davam vaga. ?Minha empregada tem câncer e não há onde internar?. ?Deixa comigo que eu vou ligar para o Serra?. Essa influência é benéfica. Por que nunca fui candidato? Seria bem votado, mas prefiro ser amigo do rei.
Folha – O sr. acha natural pedir que um político libere em Brasília o produto de um anunciante?
Lopes – Acho natural. Porque o cara está toda semana com você, tem um interesse com você. Porque na vida tudo tem interesse. Quando você chega com um colar em casa para a esposa, imagina que a noite vai ser agradável. É um jogo de sedução. Tudo é. É simplesmente troca de favores.
Folha – Vamos supor que o Serra não tivesse tido boa vontade em atender um pedido do sr. Ele não iria mais ao programa?
Lopes -Diria: ?Que sacanagem?. Penso: ?Está na marca do pênalti?. Quando ele disser: ?Queria ir aí na quarta-feira?, digo: ?Quarta está lotado o programa?. Porque essa é a realidade da vida em tudo.”
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“Veículo é ideal para acusações sem ?outro lado?”, copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02
“O rádio, sem a imagem do candidato ou registro por escrito, é o veículo ideal para os ataques mais contundentes aos adversários, segundo marqueteiros consultados pela Folha.
Na TV ou em jornais e revistas, as críticas têm um peso maior, são menos efêmeras e mais diretamente associadas à imagem de quem as faz, o que nem sempre é positivo.
?Uma coisa é ver alguém falando, outra é ouvir. O rádio admite um tom mais irônico, uma postura mais crítica?, diz Nelson Biondi, um dos marqueteiros da campanha de José Serra, presidenciável do PSDB.
Para Augusto Fonseca, que coordenou o marketing da campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo, o rádio tem ainda mais importância nas cidades pequenas.
?Há cidades em que não há emissoras de TV, e o rádio acaba sendo o único veículo para os políticos. E ele dá a oportunidade de uma conversa mais íntima com o eleitor. O candidato se dirige individualmente ao ouvinte?, diz Fonseca.
Segundo o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, outro fator favorável aos programas populares do rádio é que cerca de dois terços de sua audiência estão nas classes C, D e E, que contêm aproximadamente 89% do eleitorado brasileiro. ?Os programas falam para quem decide a eleição?, diz Paulino. (LM E CC)”
“Garotinho usa rádio para conquistar votos” , copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02
“Desde que assumiu publicamente a pré-candidatura à Presidência, em dezembro, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB) mantém um hábito diário: falar para rádios do Brasil inteiro. Seja onde estiver, a partir das 7h, já está no ar. Em média, concede dez entrevistas por dia.
Radialista desde os 16 anos, Garotinho sabe da importância do veículo em sua corrida ao Planalto. Graças, em boa parte, ao rádio, foi eleito deputado estadual, foi duas vezes prefeito de Campos (RJ), sua terra natal, e em 98 chegou ao governo do Rio.
?O rádio supre a nossa deficiência de tempo na televisão?, diz Elysio Pires, responsável pelo marketing político de Garotinho.
Depois do programa nacional do PSB na TV, em 16 de maio, o partido só contará com algumas inserções em São Paulo e no Maranhão antes do início do horário eleitoral gratuito, em agosto.
Hoje, além das entrevistas a rádios do país inteiro, Garotinho comanda um programa diário de dez minutos na FM Melodia, do Rio, que é retransmitido para seis capitais. A emissora, de linha evangélica, é a líder entre as FMs cariocas. São 200 mil ouvintes por minuto, segundo o Ibope.
Aos sábados, desde que deixou o governo, em abril, comanda ainda o ?Show do Garotinho?, com duas horas de duração na Tupi AM, também no Rio. A rádio está em segundo lugar entre as emissoras AM da capital, com 400 mil ouvintes por minuto.
As duas emissoras atingem um público específico: o das classes C, D e E, que se concentra nas regiões metropolitanas das grandes cidades, segmento em que Garotinho tem o melhor desempenho em pesquisas de intenção de voto.
Pela lei eleitoral, Garotinho poderá conduzir programas de rádio até o dia 30 de junho.
Para Elysio Pires, a grande vantagem do rádio é o seu poder de convencimento, por causa da aproximação entre o ouvinte e o candidato. ?Neste momento, há muito pouco voto consolidado e, no rádio, a tendência do Garotinho de convencer o ouvinte é muito forte, justamente porque ele conhece e sabe usar o veículo como ninguém?, afirma Pires.
O marqueteiro explica que, nas entrevistas que dá pelo Brasil afora, o presidenciável faz questão de saber previamente a área de cobertura da rádio, porque assim pode falar com o ouvinte fazendo referência à região onde mora. ?Isso estabelece uma relação muito íntima do comunicador com o público ouvinte?, diz Pires.
Como a maioria dos políticos, ele também aproveita as atrações populares do rádio para dar um tom mais agressivo às críticas a adversários. No começo do mês, em um programa de rádio de Teresina (PI), chegou a acusar Serra de estar usando dinheiro das privatizações em sua campanha e de estar ?comprando gente? com sua ?candidatura milionária?.
Além disso, costuma fazer promessas já se apresentando como candidato -o que, antes de julho, pode ser considerado crime eleitoral. Duas semanas atrás, por exemplo, o ex-governador afirmou, na rádio Capital AM (SP): ?No meu governo, o jovem vai ter o crédito educativo garantido.?
Desde sua primeira eleição, a deputado estadual pelo PDT, em 1986, Garotinho nunca ficou longe do rádio. Na época, tinha um programa em uma emissora de Campos e, dos seus 35 mil votos, 80% vieram dos campistas.
?A oligarquia da cana-de-açúcar, que dominava Campos há décadas, nunca teve propostas para a área social e Garotinho, no rádio, supriu a deficiência. Por exemplo, a prefeitura não dava auxílio funeral para seus servidores. Quem é que fazia o enterro? Era o programa dele. Garotinho passou a ser para a população mais humilde aquele que desenvolvia uma política social na cidade?, diz o economista Ranulfo Vidigal, que acompanha o ex-governador desde a juventude.
Com o amigo Vidigal e o auxílio do PDT, Garotinho montou, em 1987, um instituto de pesquisa. Os dois tabulavam sondagens de opinião, que orientavam o programa de rádio. A estratégia levou o então deputado a se eleger prefeito de Campos, em 1988.
Em 1996, Garotinho foi novamente eleito prefeito de Campos, com 70% dos votos. Dois anos antes, fora derrotado pelo tucano Marcello Alencar na eleição para o governo do Estado.
Em 1998, com a ajuda do rádio e do eleitorado do PT, que indicou a então senadora Benedita da Silva para a vaga de vice de sua chapa, Garotinho ganhou a eleição de governador contra o atual prefeito da cidade do Rio, Cesar Maia, então no PTB.”
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“Clientelismo é comum, dizem estudiosos”, copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02
“Personalistas, conservadores, clientelistas e pouco afáveis a compromissos partidários. Essas são as principais características dos radialistas que se tornam políticos, segundo o cientista político Maurício Ferreira da Silva, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos e da PUC-SP.
?Eles se colocam à parte da relação partidária. O partido cumpre uma exigência institucional e se submete aos interesses dos comunicadores, que exibem como trunfo eleitoral a popularidade entre seus ouvintes?, diz Silva, autor do livro ?Quem me Elegeu Foi o Rádio?, que faz um perfil dos radialistas paulistas eleitos deputados estaduais entre 1986 e 1994.
Segundo ele, só existe fidelidade partidária entre os chamados radialistas-políticos quando a trajetória no rádio coincide com uma história partidária. É o caso de Garotinho, que sempre esteve ligado a partidos de oposição -começou no PT, passou pelo PDT e, agora, está no PSB.
A cientista política Márcia Vidal, professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) afirma que grande parte dos candidatos radialistas se utiliza de práticas assistencialistas.
?É o chamado coronelismo eletrônico. Eles doam uma cadeira de rodas para um ouvinte, sorteiam uma casa para outro. Fazem uso no ar de antigas práticas clientelistas que sempre existiram nas regiões mais pobres do país?, diz Márcia, autora do livro ?Rádio e Política: do Microfone ao Palanque -Os Radialistas Políticos em Fortaleza (1981-1996)?. (MFM)”
“Programa popular vira palanque na Bahia”, copyright Folha de S.Paulo, 26/5/02
“Ex-prefeito de Salvador e locutor oficial do campanha nacional de rádio do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mário Kertész, 58, transformou as suas cinco horas diárias de programas na rádio Metrópole FM em um ?palanque eletrônico?.
Pelo menos três vezes por semana, Kertész tem entrevistado candidatos à sucessão presidencial, aos governos estaduais, ao Senado, ministros e governadores.
?Quem melhor utiliza a comunicação no rádio é o Anthony Garotinho [candidato do PPS à Presidência]?, reconhece Kertész, que foi prefeito de Salvador entre 1979 e 1981, pela Arena (Aliança Renovadora Nacional) e entre 1986 e 1989 pelo PMDB.
Em uma época em que os grandes comícios praticamente desapareceram, a utilização do horário por parte dos políticos nos programas comandados por Kertész tem um efeito multiplicador.
Das 8 às 10h, o programa é retransmitido por uma cadeia de 19 emissoras de todas as regiões do Estado. Juntas, as emissoras abrangem cerca de 350 dos 417 municípios da Bahia.
Dos quatro candidatos à Presidência, apenas o tucano José Serra foi entrevistado somente uma vez neste ano por Kertész.
Por sua amizade com Lula e com o marqueteiro Duda Mendonça, o radialista tem mais aproximação com o pré-candidato petista. Os presidenciáveis Garotinho e Ciro Gomes (PPS) também utilizam com frequência os programas de Kertész.”
“TV pública vai pressionar candidato por verba”, copyright Folha de S.Paulo, 20/5/02
“Ameaçadas de virar sucata com a adoção da TV digital, por não terem dinheiro para comprar novos equipamentos, as TVs públicas vão tentar colocar o problema nos programas de governo dos candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais.
Em encontro na semana passada, 23 das 25 TVs públicas do país decidiram exigir dos candidatos um compromisso público de defesa desse tipo de emissora, que depende de verbas oficiais.
Em uma primeira etapa, as emissoras irão encaminhar aos candidatos um ofício pedindo deles um documento sobre suas posições sobre o assunto. Depois, irão convidá-los a participarem de programas de TV em que discutirão políticas de comunicação.
Os presidenciáveis terão espaço no ?Opinião Nacional?, gerado pela TV Cultura, de São Paulo, e exibido em rede nacional. Os candidatos a governadores participarão de programas locais.
Da esfera federal, essas emissoras temem projetos de lei que, por exemplo, as impeçam de exibir publicidade. Dos Estados, temem o esgotamento das verbas.
Já nesta semana, as TVs públicas irão travar outra batalha. Vão ao Congresso pedir uma vaga no Conselho de Comunicação Social, órgão consultivo em fase de composição. O conselho, de acordo com proposta feita pelo Senado, na semana passada, terá sete funcionários do Congresso como representantes da sociedade civil.
Outro canal
Lobby 1? Partiu da TV Globo, e não do governo federal, a idéia de uma portaria obrigando a emissora a transmitir a Copa do Mundo em sinal aberto para antenas parabólicas. A medida serviria para a Globo se justificar com a Fifa, que a impede, por contrato, de transmitir a Copa em sinal aberto via satélite.
Lobby 2 ? Procurado pela Globo para resolver o assunto, o Ministério das Comunicações devolveu a bola para a emissora. O órgão avalia não ter instrumentos legais para impor uma medida dessas, uma vez que o sinal captado pelas parabólicas é, em princípio, um canal de comunicação privado, entre a emissora e suas afiliadas.
Aquecimento ? A Globo vai reprisar a minissérie ?Dona Flor? de 4 a 21 de junho, entre o ?Programa do Jô? e os jogos da Copa da Mundo.
Charlie Brown ? Os saudosos do ?Cassino do Chacrinha? e do ?Globo de Ouro? vão adorar. Benito di Paula aparece no capítulo de hoje de ?O Clone? dando show no Bar da Jura. Alcione, Fundo de Quintal e um bombeiro que canta e assovia serão os próximos. Ainda dá tempo de convidar Perla, Sidney Magal, Biafra…
Nove ? A produção do ?Falando Francamente?, de Sônia Abrão, no SBT, está preocupada. Na sexta-feira, o programa começou com 13 pontos no Ibope e terminou com 4. Desse jeito, terá vida curta.”