CHILE
“?El Mercurio? atacou Allende com dinheiro da CIA”, copyright O Globo, 5/09/03
“Documentos secretos da CIA (agência central de inteligência) e da Casa Branca liberados recentemente pelo governo dos Estados Unidos mostram com detalhes que o jornal ?El Mercurio?, de Santiago, no Chile, foi a principal ferramenta de um projeto de propaganda daquela agência de espionagem contra o presidente Salvador Allende, no início dos anos 70.
Depois disso, com financiamento clandestino autorizado pelo presidente Richard Nixon, o diário serviu como um ferrenho defensor da ditadura do general Augusto Pinochet, cujas atrocidades não noticiava.
Os papéis registram que os EUA deram na época a Agustin Edwards, dono daquele jornal, um total de US$ 1,95 milhão – o que, segundo cálculos oficiais, seria hoje o equivalente a US$ 8,4 milhões. Além disso, a CIA incluiu alguns editores e repórteres do ?El Mercurio? em sua folha de pagamentos secreta.
Os pagamentos a Edwards foram autorizados por Nixon, depois que as operações foram aprovadas por Henry Kissinger, então chefe do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Parte do dinheiro era depositado em nome de Edwards, num banco na Suíça.
O governo dos EUA também usou seu poder para pressionar credores americanos do ?El Mercurio? – como o banco First NCB – para que esticassem os prazos de pagamentos de sua dívida ou simplesmente perdoassem parte dela. Além disso, o jornal também passou a receber ajuda financeira da ITT Corporation, a principal empresa colaboradora da CIA.
CIA tentou evitar a posse de Salvador Allende
Os documentos secretos, recentemente liberados, foram obtidos por Peter Kornbluh, diretor do Arquivo de Segurança Nacional, um departamento de pesquisas da Universidade George Washington, na capital americana. Com base em tais papéis, ele escreveu uma reportagem que ocupa seis páginas na edição de setembro-outubro da ?Columbia Journalism Review?, revista bimensal publicada pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, e que chega hoje às bancas.
Kornbluh, que acaba de lançar um livro sobre a ditadura chilena (?The Pinochet File: a Declassified Dossier on Atrocity and Accountability?) conta que Edwards chegou a procurar autoridades americanas para sugerir que apoiassem um golpe militar contra Allende, às vésperas de ele assumir o governo. Com base em informações passadas pelo dono do jornal, que chegou a ir a Washington para conversar, Nixon decidiu agir.
?Numa conversa de 15 minutos no Salão Oval, na tarde de 15 de setembro de 1971, Nixon emitiu sua agora famosa ordem para que (Richard) Helms (diretor da CIA) fomentasse uma ação militar no Chile para evitar que Allende assumisse o governo? – conta Kornbluh, registrando ainda que Nixon pôs US$ 10 milhões à disposição para isso, alertou que tinha de ser um ?trabalho de tempo integral? e recomendou que a CIA pusesse na operação ?os melhores homens?.
A idéia não vingou e Kissinger apresentou a Nixon um plano de desestabilização do governo Allende que tinha como elemento central o ?El Mercurio?- que, pouco depois, receberia uma primeira remessa de US$ 700 mil, ?sob a condição de lançar uma intensiva campanha pública de ataques ao governo Allende, para acabar com ele?.
Começou ali um império de mídia no Chile
A reportagem mostra que o dinheiro da CIA acabou salvando Edwards da bancarrota – seu jornal estava a ponto de falir quando Allende foi eleito – e serviu para que ele iniciasse um império de mídia que hoje, além do ?El Mercurio?, inclui o diário ?Ultimas Notícias?, o vespertino ?La Segunda? e vários jornais regionais no Chile.”
JORNALISTA PRESO
“Juiz tenta explicar prisão de jornalista”, copyright O Estado de S. Paulo, 6/09/03
“O juiz da 40.? Vara Cível do Rio, Alexandre Mesquita, disse ontem que ?não existe crime de opinião?, embora tenha afirmado que o jornalista Alvanir Ferreira Avelino, preso há oito dias, em Campos (norte fluminense), foi condenado por causa do teor de reportagens e editoriais escritos no jornal Dois Estados, de Miracema, no noroeste do Estado. ?A imprensa tem o direito de divulgar os fatos, mas não foi isso o que (Avelino) fez. Ele não criticou as minhas sentenças, apenas fez ofensas à minha pessoa?, disse o magistrado, acrescentando que os textos considerados ofensivos começaram a ser publicados em 1999, após ele ter condenado o jornalista por reportagens contra o prefeito de Miracema, Gutemberg Damasceno (PV).
Na ocasião, Mesquita era o único juiz da comarca de Miracema e proibiu Avelino de escrever textos contra o prefeito. Ontem, na Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro, no Centro, disse que não considerava a sentença dada em 1999 um cerceamento da profissão.
Desde o dia 29, Avelino cumpre pena de 10 meses e 15 dias de detenção, em regime semi-aberto. De acordo com o juiz, dos oito processos que moveu contra o jornalista, dois prescreveram, dois foram anulados e quatro resultaram em condenação.
SIP – O caso ganhou repercussão internacional. Em Miami, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) manifestou sua ?profunda preocupação? com a condenação de Avelino e a detenção do jornalista mexicano Francisco Barradas.
O mexicano, diretor da revista Bi, de Zacatecas, foi detido há algumas semanas por calúnia. Sua sentença ainda não foi determinada. A prisão se refere a uma nota de autoria de Barradas, publicada no diário Imagen, em 2002, em que acusa um funcionário público de roubo de água potável.
O presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Rafael Molina Morillo, considerou ?inaceitáveis acusações a jornalistas que denunciam funcionários públicos por supostas condutas questionáveis ou que eles sejam condenados por exercer a profissão?. ?Essas condenações motivam autocensura e inibem a imprensa no exercício do papel de vigilante do governo.? Ele ressaltou que a SIP defende a descriminalização dos delitos de opinião na América Latina. (com EFE)”