Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

José Paulo Lanyi

RÁDIO & MERCADO

"O Rádio precisa de dinheiro?", copyright Comunique-se, 8/5/02

"E quem não precisa…?- deve responder a humanidade, do favelado ao mais empedernido dos oligarcas. Pois bem: a possibilidade de o Brasil abrir suas empresas de comunicação ao capital estrangeiro enseja uma reflexão: a dinheirama que entraria nos cofres das emissoras seria suficiente para resgatar o rádio de sua persistente crise de credibilidade?

Penso que não.

O projeto da ?legião estrangeira? determina que as empresas de fora devem ter até 30% de participação nas emissoras locais. Capital aberto. Em outras palavras, parceria com base na emissão de ações. Hoje as companhias só podem ter pessoas físicas como sócios, e isso prejudica a expansão, é mais difícil fazer empréstimos e emitir ações.

Analistas políticos dizem que o projeto deve ser votado só no ano que vem. Como é uma emenda constitucional, precisa de dois terços dos votos para ser aprovada. Apesar do lobby das emissoras, é improvável a votação neste ano eleitoral. Sobretudo depois das briguinhas entre o Governo e o PFL, aquele casamento que não acaba mas dá muita dor de cabeça aos cônjuges na hora de fazer amor. Quer um exemplo? O PFL faz corpo mole e ameaça votar contra o projeto em questão. São, ainda, os efeitos Roseana-foi-pra-roça…

De qualquer modo, se a idéia vingar não vai garantir às emissoras uma enxurrada verde, não. Os grandes grupos da mídia internacional torcem o nariz para a participação máxima de 30%. Como sempre, eles querem mais: chegar por aqui como sócios minoritários tira o apetite dos gigantes estrangeiros, que, como o PFL, não aceitam – sem trocadilho – ficar por baixo no casamento.

As empresas de rádio o desejam ardentemente, e pressionam em Brasília para conquistar o pai da noiva. Não seria nada ruim para um meio que, entra ano, sai ano, amarga uma participação irrisória, para o seu potencial, no bolo do mercado publicitário. As empresas argumentam que agora sim, o rádio decola depois de décadas de estagnação.

Resta saber se o investimento estrangeiro será suficiente para a redescoberta do meio.

Acho difícil. A menos que as novas parcerias dêem conta da modernização. Não me refiro apenas equipamentos, mas, sobretudo, à mentalidade provinciana que impera no veículo.

Trata-se de um meio que, a bem da verdade, tem buscado saídas para a letargia – a proliferação de emissoras e programas na Internet é um bom exemplo. Mas o rádio ainda esbarra em práticas que cheiram a amadorismo, para dizer o mínimo.

Um dos óbices – até mesmo para a sociedade com os gringos- é a dificuldade do controle publicitário da veiculação dos anúncios. Muitas emissoras simplesmente não põem os anúncios no ar. Recebem por ?X? e veiculam ?X? menos ?Y?. Isso tem vários nomes. Um deles é picaretagem. Os publicitários sabem o que eu digo.

É verdade que uma minoria tem se esforçado para dar garantias às agências e aos anunciantes. Já há alguns anos é possível até mesmo fazer o controle eletrônico das inserções. Mas são poucas as emissoras que compram esse serviço.

Nas cidades pequenas, então, nem se fala…. (literalmente)

Outra coisa: o investimento em bons profissionais é risível. Enquanto uma meia dúzia ganha mares de dinheiro – principalmente quando vai atrás de patrocínio para a empresa-, uma multidão trabalha no improviso com equipamentos do tempo do Landell de Moura – aquele padre brasileiro que, na história, disputa com Marconi a paternidade do rádio.

As grandes emissoras contam com tecnologia de ponta, digital, etc, etc., mas pagam muito mal aos seus profissionais – fui generoso quando usei ?pagar? no lugar de ?dar esmola?.

O rádio, em geral, é imediatista, garimpa o lucro rápido que vai para dois ou três bolsos fugidios. Reinvestimento? Bobagem, vamos gastar nas fazendas do tio Barbosa…

E a qualidade dos programas? A maioria deles é uma encheção de lingüiça popularesca, apelativa e medíocre

– isso se aplica à esmagadora maioria dos programas populares das AMs e dos ?jovens? das FMs.

O jornalismo se faz sem investigação. Tudo na base do ?gilette-press?, da cópia e da leitura dos artigos dos jornais. E haja repetição, sem checar a notícia, sem ouvir as versões, sem o mínimo cuidado com as reputações.

E por aí vai, dá pra escrever uma bíblia…

É claro que existem ilhas de profissionalismo no rádio brasileiro. Mas convenhamos: ainda é muito pouco.

Por ora, vai uma dica para os donos do rádio deste país: busquem, sim, parcerias, com nativos, estrangeiros e marcianos. Mas não se esqueçam de investir. Sim, investir, não fingir que investem, não brincar de fazer rádio. É preciso mais do que interjeições vazias para convencer os estrangeiros a abrir a carteira. (Jornalista e escritor, editor da CNT e da AllTV em São Paulo e diretor da APCA-Associação Paulista de Críticos de Artes. Lanyi colabora com Comunique-se durante as férias de Eduardo Ribeiro)"

 

"Manchete AM demite com quatro meses de vida", copyright Comunique-se, 8/05/02

"Desde a última segunda-feira (6/5), a Nova Rádio Manchete AM, que estreou no final de janeiro deste ano, vem funcionando com menos de 80% de sua formação original. A direção da rádio realizou uma demissão em massa por não ter mais como pagar seus funcionários. Motivo: o departamento comercial não conseguiu vender uma cota de anúncio sequer. A receita inicial desejada era de R$ 100 mil, já que a rádio tinha custos fixos mensais em torno de R$ 80 mil.

Fonte na rádio disse que, desde 12/4, a direção contava com uma salvação: o patrocínio de um candidato ao governo do Estado do Rio, possivelmente ligado ao PDT. No entanto, o acordo não se consumou e a emissora foi obrigada a cortar pessoal em todos os setores.

Para se ter uma idéia da crise, os comunicadores, como Cidinha Campos, Sérgio Ricardo e Wagner Montes, terão que procurar anunciantes se quiserem receber seus salários no fim do mês. Cada um terá que ir atrás de patrocínio para os seus programas.

Foram demitidos os repórteres Caio Alex, Georgia Cristine e Bruno Neves, o editor Ivan Bogg, os apresentadores Sérgio Noronha e Francisco de Assis, a produtora Mônica Bloch, a comunicadora Maria Joana, além de funcionários dos setores administrativo e operacional. Todo o departamento comercial – que trabalha com outras rádios do Grupo Jovem Pan, empresa proprietária da Manchete – foi cortado.

Segundo um ex-funcionário da rádio, o erro do departamento comercial foi achar que os possíveis anunciantes da Manchete tinham o mesmo perfil daqueles que fecharam com a Jovem Pan."

 

RÁDIO & ELEIÇÕES 2002

"Piratas viram caminhão de som nas eleições", copyright Folha de S. Paulo, 8/5/02

"Que o rádio é um dos mais importantes palanques nas eleições não é nenhuma novidade. O que supera toda e qualquer expectativa são os esquemas mirabolantes criados por políticos para o uso eleitoreiro do dial.

Acompanhe um dos ?truques?: um candidato a deputado reúne um grupo interessado em montar uma emissora (gente para isso é o que não falta, como estudantes e membros de associações de bairro). Chega com o velho discurso de que todo mundo tem direito a uma estação, de que é preciso democratizar a comunicação.

Gasta algo entre R$ 3.000 e R$ 5.000 com equipamentos e monta uma rádio no fundo do quintal do grupo por ele ?presenteado?. Diz que, eleito, apresentará projetos para estações comunitárias e tentará legalizar a do bairro.

Mas já apresenta a fatura: ?solicita? que a pirata coloque no ar algumas vezes por dia uma fita com seu discurso. Correligionários circulam com o rádio do carro sintonizado na emissora (às vezes ligado a alto-falante). Mesmo com potência baixa, a transmissão pode chegar a um raio de dois quilômetros. Está montada uma ?rede? clandestina de campanha. Mais barata e eficiente do que um caminhão de som (fora o veículo e o combustível, o custo do equipamento pode chegar a R$ 10 mil).

A emissora, sem assessoria técnica, acaba interferindo no sinal das comerciais. Para encerrar o ?conto de fadas?, o deputado costuma desaparecer depois das eleições, principalmente quando a rádio é fechada pela polícia.

E o uso político das emissoras de baixa potência não pára por aí. Além de criar sua própria rádio porta-voz, candidatos usam e abusam das cerca de 500 estações clandestinas da Grande SP. Juntas, representam o 4? lugar de audiência na região, segundo Chico Lobo, especialista em radiodifusão ligado a movimentos de rádios comunitárias. Ele estima que, a cada minuto, as piratas são sintonizadas por 900 mil pessoas, digo, eleitores (um dado: em 98, o deputado federal mais votado no Brasil teve 306.988 votos). É ou não é um palanque e tanto?

Esta semana, a Eldorado passou a transmitir na FM (92,9 MHz) o jornal matutino da AM (700 kHz). Na mudança, é clara a intenção de cortar custos, diante da crise do setor. O que os empresários esperam é que seja votada e aprovada hoje no Senado a emenda constitucional que libera participação de investidores nacionais e internacionais na mídia. E o rádio, desprestigiado no mercado brasileiro, já está na mira dos gringos."

 

TV DIGITAL

"Emissoras ?passam sacolinha? por TV digital", copyright Folha de S. Paulo, 8/05/02

"Ainda divididas, as quatro principais emissoras de TV participam hoje em São Paulo do lançamento da ?idéia? de criação de uma estação de TV digital que irá operar na cidade durante dois anos, a partir do final de 2002.

Com custo estimado em R$ 10 milhões, o projeto, intitulado ?Piloto Brasil de TV Digital?, irá funcionar como um laboratório de testes de transmissões, recepções e de aplicações, como interatividade entre telespectador e emissora e formatos de publicidade.

Para bancar parte do projeto, as emissoras contam com a adesão de fabricantes de equipamentos, de agências publicitárias e de universidades. Esperam, por exemplo, a doação de equipamentos por fabricantes, reduzindo os custos de manutenção e operação. Será criada uma empresa sem fins lucrativos com sócios-cotistas. Os sócios poderão fazer transmissões e testar recepção e novos produtos. O público deverá ter acesso à nova tecnologia em receptores em shoppings.

Os engenheiros de todas as TVs defendem as transmissões pelo padrão japonês, mas isso não é consenso nas cúpulas. SBT e Band, por exemplo, acenam com simpatia ao padrão dos EUA, que oferece vantagens econômicas. Por isso, ainda há dúvida se a estação digital irá operar nos três padrões (europeu, norte-americano e japonês) ou só no que o governo escolher _isso se a decisão, prevista para julho, não for adiada.

OUTRO CANAL

Rolo 1

O departamento jurídico da Globo nega informação transmitida anteriormente pela assessoria de imprensa da emissora de que bares, restaurantes e hotéis não poderão gravar em vídeo jogos da Copa do Mundo e exibi-los durante o dia a seus clientes.

Rolo 2

Segundo o jurídico, a Globo irá abrir mão ?dos direitos autorais?, desde que as exibições sejam na íntegra. Comunicado sobre o assunto, publicado na segunda, é confuso. Um sindicato enviou nota a afiliados dizendo que é proibido exibir videoteipes.

Rolo 3

Detalhe: o comunicado é assinado por Globo e Globosat. O mesmo texto tem duas interpretações: para a Globo, que não fará fiscalização, a proibição não vale; para a Globosat, continua valendo.

Babado

A Globo está reeditando o ?Caldeirão do Huck? do próximo sábado. Entra um musical já gravado de Claudio Zoli no lugar do pagodeiro Belo, que teria recebido em sua casa ligações de traficante.

Sobe

O capítulo de anteontem de ?O Clone? bateu todos os recordes: 58 pontos de média, 64 de pico e 74% de ?share?.

Na mesma

A estréia de José Luiz Datena na Rede TV! levantou o ibope da emissora de 5 para 7 pontos. O ?Cidade Alerta?, com Ney Gonçalves Dias, se manteve em 9. Sonia Abrão (8 pontos) e Marília Gabriela (2), no SBT, também ficaram na média anterior."