ENTREVISTA / ANGELA RÍMOLI
“?A Voz do Brasil antecipa o JN?”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/08/02
“As vozes do Brasil têm vários acentos. Veja o exemplo de Angela Rímoli, gerente da sucursal da Radiobrás em São Paulo e personagem de hoje da seção ?Destaques da Mídia?, desta Link SP. Ela nasceu em Bebedouro, no interior paulista. Criada no Paraná, fez a vida em Goiás e está de volta ao ponto de partida. Na capital e em outro estágio.
Na redação informatizada da Radiobrás, não se sente mais aquele cheiro de papel da época em que o seu João tocava o jornal junto com o irmão dele, o seu Nilson Rímoli. João, o pai da Angela, foi o primeiro editor-chefe da Folha de Londrina, no início da década de 50. Anos depois, fez as malas e desembarcou em Goiás.
A voz da Angela é grave e firme. Lá em Goiânia o pessoal gostou. Faz mais de trinta anos. Angela, desembaraçada, cara-de-pau mesmo, foi lá e falou com a turma dos Diários e Emissoras Associados. Fez o teste e passou: no início foi locutora, e logo passou a apresentar os telejornais. Naquela época, tudo ao vivo.
Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Goiás, foi em frente, em suma: no trabalho, as coisas iam bem. Então… foi criar galinha. Isso mesmo. Foi para o mato por uns tempos. Cuidar da família, essas coisas. Teve cinco filhos em seis anos. Como se não bastasse o trabalho que isso dá, também criava os porcos, as vacas e as galinhas, lá na fazenda em Araguaçu, que hoje fica em Tocantins.
Estamos em 1977. Angela volta para Goiânia e fecha com a TV Bandeirantes. Lá apresenta telejornais e um programa de variedades, o ?Carrossel da Tarde?, e ancora a versão regional do ?Canal Livre?. Também foi chefe de reportagem. Só deixaria a emissora 17 anos depois, como diretora de Jornalismo. Nesse período, acumulou atividades em períodos alternados: repórter especial do Diário da Manhã, de Goiânia, correspondente do Estadão e redatora de Internacional do jornal Opção.
Com o pai, o seu João, abriu um jornal mensal de 20 páginas. O projeto era do tio Nilson. Sempre eles… O título: ?Espalhafato?. Publicava textos de cultura, variedades e política. ?Foi um resgate das origens do meu pai?, lembra Angela, com emoção. Nada dessa história de família boazinha… Seu João vivia a criticar os artigos do jornal. ?Escrevíamos um olhando para o outro, máquina com máquina. Um dia ele pegou um artigo meu e disse que era uma sopa de adjetivos?. O que fez a filhinha? ?Virei a máquina em cima dele?, diverte-se. ?Não faço mais esse jornal!?, dizia ela. Mas foram fazendo. O projeto durou pouco mais de um ano e meio. ?Não tivemos prejuízo. Fechamos porque não tinha quem vendesse na área comercial?.
1995. Angela sai da Bandeirantes. Vem para São Paulo e abre uma distribuidora nacional de CDs new age do músico Pacini. ?Eu pude conhecer o outro lado?, diz, sobre os meandros da divulgação. ?Pesquisei distribuidoras em Nova York, fiz demonstrações nas feiras, divulguei os cds por todo o Brasil?. Angela desfaz a sociedade e em 99 assume a gerência da Radiobrás em São Paulo, a convite da então diretora nacional de Notícias, Maria das Graças Cruvinel, hoje ouvidora da estatal.
O seu João morreu em 94, assim como o seu Nilson, velho irmão e companheiro. Deixaram uma família vitoriosa. Um dos irmãos de Angela também enveredou pelo jornalismo: Laerte Rímoli, assessor do ministro de Esportes e Turismo, Caio Carvalho, destacou-se na Veja e na Folha de S. Paulo, e, entre outras tantas, foi diretor regional da Rede Globo no Rio de Janeiro. Outros dois irmãos são publicitários: José Ricardo Rímoli, diretor de redação, e Tercio Rímoli, diretor de arte. Os dois trabalham em grandes agências de Salvador.
Angela herdou a fibra dos que sabem enfrentar os grandes desafios. Dirigir a Radiobrás é uma briga boa. Os detalhes da produção da emissora em São Paulo você vai conhecer aqui mesmo, nesta Link SP, em artigo vindouro para a seção ?Circuito das Redações?.
Por ora, limito-me a dizer que, além de encarar aqueles leões que nós, profissionais do jornalismo, somos obrigados a trucidar no dia-a-dia, Angela volta e meia ainda tem de explicar por que o País precisa ter um programa de veiculação obrigatória como a ?Voz do Brasil?.
José Paulo Lanyi – Ainda há preconceito contra a Radiobrás?
Angela Rímoli – Nos tempos de hoje já diminuiu. Com a globalização, todo mundo sabe como todo mundo faz as coisas. Então também acabou um pouco daquele romantismo do jornalista achar que pudesse combater, ou ser panfletário por não estar no Estado ou no governo. Se ele não responde ao Estado e ao governo, responde ao empresário dono do veículo. As liberdades do jornalismo foram colocadas num trilho. Hoje em dia se sonha menos mas se pratica com mais isenção. Eu sou jornalista da Radiobrás, e o jornalista de uma mídia comercial me respeita porque sabe que lá ele também tem a quem responder, tem restrições, tem o que pode e o que não pode ser dito. Fica sendo ?dar a César o que é de César?. Se eu estou na Radiobrás, eu trabalho como a Radiobrás necessita, e o jornalista de uma mídia comercial também responde ao César dele.
JPL – Hoje muitos jornalistas acumulam funções tradicionais com a de assessoria de imprensa…
AR – Exato… Eu estou falando para uma geração, não sei como pensa o jornalista recém-saído da faculdade, mas acredito que essa é uma realidade já compreendida por todo mundo. O preconceito diminuiu muito, muito mesmo.
JPL – O grande embate do qual a Radiobrás participa, com relação a esse preconceito e à resistência, é a ?Voz do Brasil?…
AR – A ?Voz do Brasil? antecipa o Jornal Nacional, em matéria de notícias da esfera federal, e aquelas coisas que as pessoas realmente acham chatas são uma prerrogativa da Câmara e do Senado. Nos 25 minutos noticiosos, nós não ficamos diferentes de nenhum noticioso de rádio. Porque tem toda aquela imponência, aquela música, aquela tradição… Mas assim como tem uma parte que combate, tem uma parte que não abre mão. O interior do País ainda hoje é servido pela ?Voz do Brasil?. Ainda existe tradição de se ouvir, de se ter a notícia através da ?Voz do Brasil?.
JPL – Mas o formato não é chato?
AR – Não, é como o formato de qualquer jornal. O que o ouvinte mistura é aquela história da Câmara e do Senado depois, porque o formato do noticioso é impecável do ponto de vista jornalístico. Tem parâmetro jornalístico, entrevistas, depoimentos de repórter ao vivo, entrevistas por telefone, às vezes a ?Voz do Brasil? está no ar quando a gente está entrando com uma notícia… Não é diferente de um noticioso de uma boa rádio. O que é diferente – e as pessoas não são esclarecidas a esse respeito – é que, passados 25 minutos, entra a parte da Câmara e do Senado, que nem sempre é interessante para o ouvinte. As pessoas nos carros, as pessoas no interior dos estados ainda apreciam bastante a ?Voz do Brasil?, e é uma tradição, é uma fonte considerável de notícias.
JPL – E a interpretação das notícias pela ?Voz do Brasil?, a opinião…?
AR – Não, não, isenção total, um jornalismo como outro qualquer. Se há uma opinião a ser emitida vai para a boca do entrevistado, sempre assinada por aquele que está ali falando. Naturalmente você tem um foco positivo para as atividades do governo, mas sempre respeitando a notícia.
JPL – Aqui em São Paulo a Eldorado liderou um movimento para calar a ?Voz do Brasil?, vamos dizer assim…
AR – E conseguiu, de uma certa forma, um esquema que algumas outras rádios copiaram… Eu até já participei de debate na TV Assembléia, por exemplo, com o pessoal da Eldorado, com deputados, e, instruída até pelo presidente da Radiobrás, eu disse exatamente isto: se existe uma contrariedade com a ?Voz do Brasil?, o movimento não precisa ser contra a Radiobrás, tem que ser contra a lei, contra a Câmara e o Senado, de onde as leis são emitidas, e é por força de lei que a ?Voz do Brasil? existe. Para a ?Voz do Brasil? deixar de existir, tem de deixar de existir uma legislação a esse respeito. A força que não quer a ?Voz do Brasil? parece que empata com a força que quer.
JPL – Você sente esse respaldo? Como se mede isso?
AR – Pela própria avaliação profissional que existe dentro da Radiobrás. A sede em Brasília tem toda uma pesquisa, toda uma resposta. Até através do nosso portal, temos uma seção ?Fale conosco?… Para a Amazônia, então, é impressionante a comunicação que a rádio tem. Como o produto mais conhecido é a ?Voz do Brasil?, a gente tem esse retorno por essa avaliação feita para as rádios.
JPL – Existe aquela informação, da qual a Radiobrás sempre se utiliza, de que em determinadas regiões do País não chega o sinal de outras emissoras…
AR – Não chega, e existe também uma parcela da população que ouve a ?Voz do Brasil? por tradição, tem o hábito de ouvir a ?Voz do Brasil? antes de ir para o Jornal Nacional, antes de outras mídias. E por essa credibilidade que a ?Voz do Brasil? tem. Em que pese trabalhar prestando serviço para o governo, ela tem formato jornalístico, se baseia em todos os parâmetros jornalísticos: formato, apresentação, checagem…
JPL – Pelo que você tem conversado com as pessoas em Brasília, a ?Voz do Brasil? está em que grau de estabilidade? Você acha que a ?Voz do Brasil? vai continuar mesmo?
AR – Acho, porque é sólida essa resposta. As pessoas que reclamam da ?Voz do Brasil? talvez devessem ouvi-la com um pouquinho de isenção. Ouvir a ?Voz do Brasil? tirando o preconceito, isentando essa confusão com aquela parte onde os deputados e senadores apresentam os projetos que muitas vezes são específicos de uma região, por isso não interessam a todo mundo…
JPL – A crítica que se faz também é de que a Radiobrás, veiculando a ?Voz do Brasil?, acaba sendo um instrumento de uma ação muito comum nos governos autoritários, de se ter obrigatoriamente veiculação de um programa estatal, que trate dos assuntos do governo…
AR – Isso daí é uma corrente de pensamento considerável. Mas isso não é uma função da Radiobrás. Por força de lei ela tem que cumprir essa missão, e cumpre melhorando, formatando mais modernamente. Aí já seria uma questão de opinião pessoal do ouvinte, ou de quem quer que fosse. Eu tenho trinta e poucos anos de jornalismo, já trabalhei para governos estaduais, então eu sei dizer quando um produto é bom, quando ele é isento, quando ele é elaborado por força de uma determinação legal… A própria tradição, os nomes do jornalismo brasileiro que já passaram pela Radiobrás, os nomes que fazem a ?Voz do Brasil?. Tudo bem, ela é convencional, ela é sisuda, mas é só o que ela é…
JPL – Quais são os instrumentos de pressão dos veículos que não querem a ?Voz do Brasil??
AR – A gente já tem um encaminhamento natural. Quando alguma rádio se manifesta, remete essa rádio para o departamento jurídico da Radiobrás. Lá não existe nenhum empecílio, desde que a lei continue sendo cumprida. Nós não estamos na arena por essa questão, porque somos absolutamente resguardados pela lei. E a gente faz esse produto com o máximo de qualidade jornalística. E ética.
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En Passant
A selva maluca do Leão – Estréia no dia 24 o programa de Gilberto Barros na TV Bandeirantes. A emissora esconde o nome. Sabe-se, contudo, que será ao vivo, de uma às seis da tarde. O programa do ?Leão? fará a linha do tripé entretenimento-informação-interatividade. Pelo jeito vai ser uma rebordosa: música, show de calouros, games com artistas e fãs, quadros iguais aos do Bolinha e do Chacrinha, em homenagem aos dois apresentadores. O jornalismo também vai dar o ar da graça, com a participação de Roberto Cabrini, entradas ao vivo do helicóptero e até mesmo reportagens investigativas feitas pelo próprio Gilberto Barros.
Crise na Gazeta Mercantil – As coisas parecem ir de mal a pior na Gazeta Mercantil, onde os salários estão atrasados há mais de quinze dias. Nos corredores, pessimismo. Um comentário alarmante, feito por uma jornalista da casa: ?O jornal só tem dinheiro em caixa até setembro. Depois, ninguém sabe de onde vai tirar?. Assim mesmo, o dinheiro seria apenas para tocar o dia-a-dia, e os salários podem atrasar ainda mais. O jornal não se manifestou, apesar das tentativas persistentes desta coluna.
O clone – Ciro Gomes concorreu consigo mesmo na segunda-feira. Quem será que ganhou? O próprio Ciro. Ele esteve em dois telejornais ao mesmo tempo: no Jornal do SBT (ao vivo) e no Jornal da Noite, da TV Bandeirantes. Os dois vão ao ar por volta da meia-noite. No SBT, Ciro conseguiu 4 pontos de audiência e ?ficou em terceiro lugar no Ibope?, atrás da Globo e da Rede TV!. Na Bandeirantes, conquistou dois pontos no Ibope. As duas emissoras atingiram o dobro de sua audiência média no horário. Cada ponto no Ibope equivale a 47 mil domicílios na Grande São Paulo.
Telepresidentes – Olho na agenda dos candidatos nos telejornais noturnos:
Jornal da Noite, da Bandeirantes- Só falta o Serra, que não está confirmado: primeiro foi o Ciro (12/8); nesta quinta (15/8), Garotinho; na segunda (19/8) é a vez do Lula.
Jornal do SBT- Depois do Ciro (12/8), os próximos ?comentaristas? do jornal são:
Serra (19/8), Garotinho (26/8) e Lula (2/9), sempre às segundas-feiras.
Televices – Os vices dos candidatos que lideram as pesquisas confirmaram participação no dabate da TV Bandeirantes, segunda (18/8), às 21h30. Lá estarão: Rita Camata (vice de Serra), Paulo Pereira da Silva (vice de Ciro), José Alencar (vice de Lula) e José Antonio de Almeida (vice de Garotinho). Considerando-se a história recente deste País, é de bom alvitre dar uma olhada.
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Lapidares…
?Eu dizia a ele que não era possível trocar a roupa dos personagens, pois o público no cinema perceberia?.
Ewerton de Castro, ator, sobre os problemas de continuidade nas produções de Mazzaropi. O Estado de S. Paulo (13/08)
?O Ibovespa hoje é um perigo enorme?.
Emanuel Pereira da Silva, executivo, sobre o grau de confiabilidade de empresas que integram o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Valor Econômico (13/08)
?É difícil justificar o tom arrogante, tangendo a grosseria, adotado pelos âncoras da TV Globo nos inquéritos, digo, entrevistas perpetradas junto aos candidatos à Presidência da República?.
Paulo Lima, jornalista. Jornal da Tarde (13/08)
?Sem a intenção de fazer campanha para ninguém, compete a esta Opinião alertar aos eleitores que pensem bem antes de votar nos que defendem uma arma na cintura ou no porta-luvas?.
Editorial do Diário de S. Paulo (14/08), comentando o assassinato de uma menina de 5 anos durante uma briga de trânsito em São Paulo.
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… e Tumulares
?Confira no Super News as imagens do local onde a menina Tainá Alves de Mendonça, de 5 anos, foi morta com um tiro durante briga de trânsito?.
Super Ig / Super News (13/08)
Definitivamente, o tom é impróprio, considerando-se a natureza do que se quer anunciar.
?Briguinha chama você. Foi um enfrentamento de forte conteúdo republicano?.
Ciro Gomes ao jornalista Gilberto Dimenstein, na ?sabatina? da Folha de S. Paulo, em resposta à afirmação de que ACM deixara o governo por causa de uma ?briguinha? com Jader Barbalho. Folha de S. Paulo (14/08).
Quero a monarquia de volta.
?Vocês (mães) que dirigem: são três turnos de trabalho, chega a R$ 4 mil por mês, o que dá para pagar a prestação da perua e é uma coisa tranqüila trabalhar com crianças?.
Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, em apelo para que mães de alunos se inscrevam em um programa de transporte gratuito de crianças de baixa renda. Diário de S. Paulo (14/08).
O salário é bom. Depois, a prefeita tem razão: dirigir no trânsito de São Paulo é coisa tranqüilíssima. Bucólica até… Marta é mesmo generosa. Ela e todas as outras mães sabem como é fácil lidar com criancinhas em idade escolar… E o novo emprego nem requer tanta responsabilidade, quase não acontecem imprevistos numa cidade tão pacífica e ordeira como São Paulo…
?Daniele ainda não sabe. Mas deve deixar o Flamengo?.
Jornal do Tarô, digo, Jornal da Tarde (04/08), sobre uma possível transferência da ginasta Daniele Hypólito para o Centro de Referência de Ginástica Olímpica de Curitiba.
Metafísico.”
RADIOJORNALISMO
“Os desafios do radiojornalismo”, copyright Correio da Cidadania, 19/08/02
“Nos anos 30 e 40, as famílias brasileiras reuniam-se em torno do rádio para saber o que estava acontecendo no mundo. O Brasil parava para ouvir o ?Repórter Esso?. A plástica do informativo e a voz dos noticiaristas eram conduzidas pela Ditadura Vargas, que foi implacável com a liberdade de expressão.
Nos anos 50 e parte dos anos 60, vivemos bons momentos de liberdade. O radiojornalismo prosperou. A Bandeirantes sobressaiu graças ao seu espírito inovador. Nessa época, já despontou a Rádio Eldorado, já então com marcante personalidade. A Rádio Panamericana, ?a emissora dos esportes?, saiu de cena, entrando em seu lugar a Jovem Pan, embalada pela TV Record, dos festivais da música popular brasileira. A Jovem Pan tornou-se uma marca jornalística poderosa.
O radiojornalismo não avançou nos anos 60 e 70, apesar do talento de seus profissionais. Ele foi barrado pela Ditadura Militar, que lhe impôs forte censura. Em 1973, a Rádio 9 de Julho, da Arquidiocese de São Paulo, foi cassada pelo governo Médici. Ela mostrava os porões da tortura e denunciava a mentira oficial.
Felizmente, os anos 80 trouxeram esperanças. A Rádio Excelsior deixou de ser uma emissora musical, para se tornar jornalística, a ponto de se fazer conhecida como ?a emissora da abertura?. Foi a única rádio a cobrir em 82, na íntegra, a convenção do PT. Fato histórico, em se tratando de um momento difícil de transição e de um partido político novo da classe operária, que reunia também alguns artistas, religiosos, jornalistas e intelectuais. Há 10 anos a Excelsior tornou-se CBN, a primeira rádio all-news e a primeira rádio jornalística a operar simultaneamente em duas freqüências (AM e FM).
Quis a história que o primeiro presidente civil, depois de 21 anos de governo militar, não tomasse posse. Tancredo Neves morreu na noite de 21 de abril de 1985. Sarney tomou posse. E a Nova República manteve a radiodifusão submissa ao governo central. Foi com a Constituição de 1988 que desapareceu a concentração de poderes discricionários na esfera exclusiva do Executivo, em relação à radiodifusão brasileira. Hoje, ela é livre e capaz de ser realmente um serviço público. Não obstante, falta democratizar a outorga de concessões. Caso contrário, a ?ditadura? da informação e de opinião se instalará no Brasil.
Reestabelecida a vida democrática, o radiojornalismo deve continuar tendo cuidado e responsabilidade no exercício de suas atribuições. ?Com o mesmo direito que ele tem de não sofrer pressões, por causa da sua justa e responsável liberdade de expressão, assim também o público exige respeito à dignidade humana? (João Paulo II).
As rádios jornalísticas, imbuídas desse respeito à dignidade humana, enfrentam novos desafios decorrentes da imensa mudança que acontece no campo da comunicação. Os radiodifusores do segmento jornalístico observam a migração de ouvintes do AM para o FM (80% da audiência do meio rádio). Por isso, algumas rádio transmitem simultaneamente parte e outras a totalidade de suas programações nas duas freqüências.
Os ouvintes e as ouvintes das emissoras jornalísticas AM são pessoas com mais de 40 anos de idade (80%, segundo o IBOPE). Eles fazem parte de uma elite poderosa, onde encontramos formadores de opinião e consumidores de alto poder aquisitivo (70% são da classe AB, segundo o IBOPE). Razão do sucesso comercial das rádio jornalísticas.
Se não lhes bastasse a boa situação que desfrutam, abre-se para essas rádios mais uma fatia rica do mercado radiofônico. Com o surgimento da nova cultura – de mercado, capitalista, globalizada e individualista – emergiu uma nova classe de pessoas, de ambos os sexos, entre 18 e 40 anos. Na Grande São Paulo são aproximadamente 2 milhões de pessoas. Muitas delas cresceram ouvindo músicas nas FMs e têm no computador seu companheiro inseparável. São os ?internautas?, com linguajar, costumes e opiniões que se diferenciam dos outros grupos. Boa parte dessa gente moça não se liga ao radiojornalismo tradicional.
A propósito, não podemos esquecer que existe a fatia pobre do mercado radiofônico. Ela é muita grande e importante, porém não tem força comercial. Ela é decisiva para a consolidação da democracia no Brasil. Por isso, entendo que chegou a hora de democratizar a outorga de concessões. Oportunidade em que as associações sem fins lucrativos e as fundações públicas ou privadas terão de possuir suas emissoras e de fazer um jornalismo popular sério que promova a vida e o ser humano e preste um grande serviço à camada mais pobre da sociedade, exigindo justiça social. A democracia ainda não chegou aos pobres. Vale alertar que a nossa população faminta, sofrida, desprezada, vivendo à margem do mercado, poderá a médio e a longo prazo interromper a construção da democracia brasileira.
É sempre bom lembrar que a liberdade é o oxigênio do jornalismo. Jornalismo pressupõe liberdade. Liberdade de noticiar, de opinar, de denunciar, de condenar, de protestar. Sem liberdade o radiojornalismo será um instrumento de propaganda de qualquer regime autoritário.”