ENTREVISTA / LOBÃO
“Lobão: ?Brasil vive ditadura de informação?”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 27/09/02
“O cantor e compositor Lobão esteve em São Paulo para uma série de entrevistas sobre sua arte e, mais amplamente, para afirmar sua militância contra o que classifica de ditadura dos meios de comunicação do Brasil.
Lobão pode parecer quixotesco. Não por ser incongruente: seu discurso é claro, coerente e tem a incisão que, a um só tempo, assusta os empresários da mídia e agrada os simpatizantes de uma revolução nos meios.
Mas é uma voz que – por altissonante que seja- obriga-se a reproduzir-se exaustivamente, como quem reencontra a si mesmo, aqui e acolá, como um eco que se faz dos próprios gritos.
No entanto, o músico e, sobretudo, o cidadão dá seus passos em meio às pedras.
Essa pertinácia corajosa alcançou o beneplácito da crítica. Há dois anos, Lobão foi ao Teatro Municipal de São Paulo, abraçou os aplausos e levou para casa o Troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), como a personalidade de 1999 na música popular brasileira.
Na entrevista ao Comunique-se, concedida nos bastidores da allTV, Lobão falou do universo nebuloso dos direitos autorais, comentou a politicagem nas concessões de emissoras de rádio e televisão e criticou o poder irrefreável das grandes corporações midiáticas do País.
José Paulo Lanyi – Como está a sua cruzada pelos direitos autorais ?
Lobão – Nós estamos organizando isso de uma maneira muito objetiva [Lobão refere-se a um grupo de artistas liderado por ele e Beth Carvalho]. A numeração vai sair, pelo menos no CD, porque nós não estamos na seara do livro. (…) O meu trabalho eu já numero, eu sou pioneiro em numerar e só estou numerando por uma questão política. Se eu sou o meu próprio patrão, sou o empresário e sou o artista, pressupõe que não vou ter desconfiança do meu próprio trabalho.
Se você não numera, não sabe quanto a gravadora fabrica, não sabe quanto vai pra loja e quanto se vende, (…) impossibilitando inclusive a própria auditoria (…) O que a gente vai fazer é acompanhar a fonte da numeração, desde a fabricação. Quando ela sai da fábrica, o artista assina um lote. (…) Por exemplo: cinqüenta mil cópias vão sair da fábrica. O artista assina (…) e eles têm de prestar auditoria sobre cinqüenta mil cópias. As cópias vão ser numeradas a laser, são cópias irreplicáveis e você vai ter o escrutínio bastante controlado (…) Vai ser incluído eletronicamente um dado chamado ISRC, fornecido pela ISO e desenvolvido no portal Latino, que é um portal de compositores de língua hispânica que fica na Espanha. É um DNA de cada música.
JPL – É um código eletrônico?
Lobão – É um código eletrônico e um número propriamente dito. Alguns números a indústria já está colocando. E isso é bom para a indústria fonográfica porque vai acabar com a impossibilidade de não saber quantas vezes você tocou no rádio, na televisão ou no motel, em qualquer lugar. E isso vai ser centralizado pelo nosso sindicato. Aquele fonograma, aquela música, mesmo se desmembrada do disco de origem… por exemplo, se ela foi baixada em MP3, você vai saber se ela foi baixada ou não. Se ela foi executada na rádio, quantas vezes ela foi.
E vocês sabem que os maiores sonegadores de direitos autorais no Brasil s&atiatilde;o o rádio e a televisão. Isso é um drama, é uma coisa que não consegue se efetivar, porque eles ficam inadimplindo, inadimplindo … Teve uma emissora que eu não vou dizer o nome que estava devendo R$ 180 milhões. Aí fica todo mundo pela hora da morte, eles dão cinco milhões e são anistiados nos 175 restantes. Isso não pode acontecer.
JPL – Você acha que a mídia tem participado dessa discussão da maneira como você gostaria ou a mídia tem se omitido justamente porque tem seus interesses em relação a isso?
Lobão – Algumas partes têm discutido calorosamente. Não o suficiente, evidente, porque tem entidades que são filiadas. Tem gravadora, tem o jornal, tem uma televisão, tem uma rádio, como eles vão discutir sobre as coisas que eles mesmos fazem? [Os veículos] se pertencem, né. Nós temos isso majoritariamente no País, nós temos uma legislação que permite isso, que acirra a selvageria do capitalismo, eu acho que eticamente seria inviável. Nem nos Estados Unidos tem isso, a ABC não pode ter um jornal, a televisão não pode ter uma rádio…
JPL – É uma promiscuidade, na sua opinião…
Lobão – Isso é uma ditadura de informação. Como é que você pode ter imparcialidade com toda uma rede construída nesse sentido? É muito difícil. Esse cerne já está errado. A distribuição de concessão pública já está errada porque é uma moeda corrente. Teria de se rever. Na época do Sarney, foram mais de 750 concessões dadas entre televisões e rádios. O eixo do jabá gerou redes nacionais. Se você não paga jabá você é um cara exilado.
Para piorar a situação, essas redes que já são poderosíssimas ficam demonizando as rádios comunitárias, que seriam a única via de acesso ainda – por mais caótica que seja, mas emergente – de a gente poder botar nossa música para tocar sem ainda se confrontar com a humilhação. Ou você corrompe o cara e o cara só funciona na base da corrupção, ou você está fora. E isso não tem exceção, infelizmente. Não tem essa de ?ah, mas aquela rádio…?. Por enquanto eu não conheço, eu rodo o Brasil inteiro, não conheço nenhuma rádio que não funcione assim.
JPL – Você continua boicotado pelas rádios?
Lobão – Eu não toco em rádio há doze anos. Há pessoas que podem aventar: ?mas eu ouvi a sua música na rádio?. E eu vou dizer: ?Mas deve ser de 1810?. Você já viu uma música minha nova, qualquer produção minha de 89 pra cá tocar no rádio? Eu acho muito difícil.
JPL – Só as antigas…
Lobão – Só de 87, 85, 86, e é a pior perversão, que é uma forma de exilar você com o seu sucesso pretérito, e é uma forma de desfazer o flagrante, de que está tocando o cara que diz que não está sendo tocado. Mas não estão te atualizando, eles estão te colocando no limbo do teu próprio sucesso e confundindo a opinião pública, dizendo ?mas ele não faz mais nada…?. Enquanto o que é mais irônico é que, além disso tudo, eu verifiquei numericamente: sou o artista que mais produziu CDs inéditos na década de 90. Só pra você entender o nível de composição. Eu já compus, desde os doze anos que eu estou exilado, uma quantidade maior do que toda a minha vida passada.
JPL – Pode-se dizer que você está exilado pelo rádio?
Lobão – Totalmente. Sem sombra de dúvida.”
INTERNET
“Jornais e revistas perdem espaço para internet”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 27/09/02
“Pesquisa do QualiBest, realizada com internautas entre 22/08 e 18/09, concluiu que usuários da grande rede estão deixando de lado os jornais. A leitura foi o que mais diminuiu desde o advento da internet. TVs abertas e por assinaturas, além de rádios e revistas, também perderam público.
Trinta e três por cento dos entrevistados disseram que a internet diminuiu o uso que eles faziam dos jornais impressos. Dezessete por cento contam que lêem menos revistas.
Treze por cento afirmam que escutam menos rádio, enquanto três por cento vêem menos TV a cabo.
O QualiBest resolveu analisar também os efeitos da web nas diferentes faixas etárias. Vinte e seis por cento dos internautas com menos de 20 anos deixaram de lado a leitura de jornais e também a TV aberta. Quinze por cento passaram a ouvir menos rádio, enquanto 4% estão assistindo menos à TV paga. Sete por cento deles estão lendo menos revistas.
Entre 21 a 30 anos, os números são maiores. Entre os que passaram a ler menos jornais impressos estão 31%. Dezesseis por cento estão perdendo o interesse pela leitura de revistas e assistindo menos à TV aberta. Quinze por cento ouvem menos rádio. A TV paga despertou menos interesse em 2% dos entrevistados.
A maioria dos usuários cujas idades variam entre 31 e 40 anos perderam a vontade de ler jornais: são 38%. Vinte e três por cento estão deixando de lado a leitura de revistas, 15% assistem menos à TV aberta e 13% menos à TV por assinatura. Quanto ao rádio, 11% estão deixando de ouvi-lo.
Aqueles com mais de 40 anos também apresentam números que assustam. Trinta e seis por cento dos entrevistados com essa faixa etária lêem menos jornais, enquanto 29%, menos revistas. Oito por cento deles assistem menos à TV por assinatura e 4% ouvem menos rádio.”