POLÊMICA NA CBS
A série que a CBS americana está produzindo sobre a juventude de Adolph Hitler suscita críticas por não mostrar barbaridades por ele praticadas depois que assumiu o poder na Alemanha, em 1933. O seriado, de quatro horas, do qual os estúdios canadenses Alliance Atlantis são co-produtores, é baseado no livro Hitler, 1889-936: Hubris, primeiro volume da aclamada biografia de Ian Kershaw.
Nancy Tellem, presidente da CBS Entertainment, explica o intuito da produção: “Acho que todos estão concentrados demais no envolvimento de Hitler na Segunda Guerra e com os campos de concentração. O foco de Hitler, a minissérie, é quando ele tinha de 17 a 34 anos, sua ascensão ao poder, a sociedade que permitiu que isso acontecesse e como Hitler virou Hitler.”
O medo dos críticos ao projeto é que, não sendo exposta toda a vilania do ditador, o público possa desenvolver simpatia por sua figura. “Estão contando somente a metade de uma história terrível”, reclama Rabbi Marvin Hier, decano do Centro Simon Wiesenthal, de Nova York. “Os jovens podem assistir ao jovem Hitler e achar que ele só precisaria de mais orientação e atenção. Isso cria um tipo de simpatia e uma nova atitude frente a ele”. O repórter do New York Times [20/8/02] Bernard Weinraub nota que, por exemplo, a cativante atuação de Anthony Hopkins em O silêncio do inocentes, mesmo no papel de um assassino canibal, gerou, além de revolta, simpatia no público. “Por que a necessidade ou desejo de tornar humano este monstro? O julgamento da história é que ele foi mau, que ele foi responsável por milhões de mortes. Por que tornar trivial esse julgamento enfocando sua infância e adolescência?”, questiona Abraham Foxman, diretor da Liga Anti-Difamação.
A série, cujas filmagens devem começar nos próximos meses em Praga e Munique, vai mostrar que a relação do jovem Hitler com judeus era amigável. O ditador teria sido um adolescente mal-humorado e triste, que amava a mãe e odiava o pai. A derrota da Alemanha na Primeira Guerra e a crise subseqüente levaram-no a discursar publicamente contra comunistas, judeus e social-democratas. O fato de seus ataques aos judeus arrancarem mais aplausos da platéia acelerou seu anti-semitismo.
ÍNDIA
A comissão de censura da Índia exigiu que o veterano documentarista Anand Patwardhan cortasse 21 trechos de War and Peace (guerra e paz), apesar de o filme ter sido premiado no Festival Internacional de Cinema de Bombaim, promovido pelo governo em fevereiro. A alegação é de que foram escolhidas as partes que “possam ter efeito de dessensibilizar ou desumanizar as pessoas”. War and Peace fala sobre as celebrações decorrentes dos testes com bombas nucleares na Índia em maio de 1998. Toca ainda nas conseqüências das bombas atômicas e no poder dos fundamentalistas hindus que comandam o partido do primeiro-ministro Atal Bihari Vajpayee, o Bharatiya Janata.
Entre os cortes estão cenas de Mohandas Gandhi pouco antes de ser assassinado por hindu nacionalista em 1948 e imagens de hindus cortando as mãos para assinarem com sangue mensagens de congratulação a Vajpayee pelos bem sucedidos testes nucleares. Também foram banidos todos trechos que mostram Vajpayee e outros líderes políticos e uma seqüência em que líderes da casta Dalit – a mais baixa, conhecida como dos “intocáveis” ? lamentam que as explosões aconteceram no dia do aniversário de Buda. Patwardhan recorreu ao Tribunal de Apelações de Nova Délhi, pois acredita que a censura arruinará seu filme. Ele ganhou em todas as outras vezes que recorreu a esse júri por ter tido seus documentários políticos e sociais censurados.
Segundo o diretor, a mensagem do filme é que, ao contrário do que dizem governos de países que têm armas atômicas, elas não inibem a guerra. A cena final do filme mostra os aviões se chocando contra as torres do World Trade Center, com a citação de Ghandi: “Se restar um vencedor, a vitória será uma morte-viva para a nação que emergir vitoriosa. Não há escapatória à iminente destruição, salvo pela corajosa e incondicional aceitação do método não-violento e todas suas implicações gloriosas.”
Segundo Beth Duff-Brown [AP, 18/8/02], tem-se argumentado que, não fosse pelo arsenal atômico de Índia e Paquistão, os dois vizinhos rivais já teriam entrado em guerra. Os indianos acusam a agência de informações paquistanesa por ataques ao parlamento e a uma base militar. Islamabad avisou que, se soubesse que os indianos usariam bombas nucleares, faria o mesmo.