Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Julio Hungria

VALOR ONLINE

“Valor Online vendido para SC”, copyright Blue Bus, 6/10/03

“O Valor Online, versao na Internet do jornal impresso, foi vendido na semana passada para um grupo de Florianopolis, SC. Nao sao citados valores da operaçao.”

 

GZM MUDA

“Redaçao da Gazeta mudou de endereço”, copyright Blue Bus, 6/10/03

“A redaçao da Gazeta Mercantil começou hoje a trabalhar em novo endereço, na Vila Olimpia, no mesmo predio onde já estava operando a area comercial, anterior aqui. Nas novas instalaçoes, os jornalistas estao divididos em mais de um andar. A mudança da sede em Santo Amaro aconteceu durante o fim de semana.”

 

ELEIÇÕES 2004

“Mais uma eleição”, copyright Folha de S. Paulo, 4/10/03

“Mais uma eleição se avizinha, e os atores sociais envolvidos nesse processo começam a ocupar o espaço.

No horário de propaganda gratuita na TV, as estrelas de cada partido político se posicionam e tentam atingir a imagem de seus adversários; os candidatos tentam congregar simpatizantes em torno de causas e eventos; os publicitários se aproximam dos partidos; tribunais eleitorais discutem as melhores cláusulas e a legislação referente ao pleito; institutos e assessores de pesquisa tentam ampliar sua visibilidade, divulgando pesquisas e contatando clientes potenciais.

A pesquisa eleitoral (principalmente a de intenção de voto) é apenas a face mais visível da pesquisa de mercado, opinião e mídia, que tem muitas outras aplicações.

Serviços e gestões são avaliados a partir de pesquisas de opinião pública, que fornecem subsídios para sua manutenção, adequação ou modificação. Governantes pautam sua atitude com base em pesquisas de opinião pública, identificam novas oportunidades de negócios, investigam a proporção de crimes cometidos contra a população e não relatados em boletins de ocorrência. Fabricantes e anunciantes usam-nas para tomar decisões ou desenvolver novos produtos e campanhas. A mídia toma conhecimento de sua audiência, os autores modificam personagens e tramas de programas baseados em resultados de pesquisas. Conhecer a opinião pública significa ter dados e informações que permitam entendê-la e respeitá-la, ou manipulá-la.

Como em todas as profissões, temos bons e maus profissionais na área de pesquisa. Entretanto, em época de eleição, há pessoas estranhas à categoria, que vislumbram uma possibilidade de ganhos fáceis, sem se aperceberem ou darem importância às dificuldades e responsabilidades aí envolvidas. E se aventuram, adotando procedimentos frequentemente inadequados, encontrando resultados que mais refletem os interesses de seus clientes do que a realidade -resultados esses divulgados com estardalhaço e sustentados até a hora da verdade, quando as urnas revelam seu erro.

Não conhecem a metodologia adequada e utilizada internacionalmente, não são signatários de nenhum código de ética, não são filiados a nenhuma entidade de classe e somem tão misteriosamente como surgiram.

Mas há também bons institutos de pesquisa e que não são necessariamente os grandes, ou os que divulgam suas pesquisas na mídia. Há os que trabalham para fornecer subsídios às campanhas; alguns desses eventualmente publicam o resultado de suas pesquisas. E há, finalmente, os que, como o Datafolha, trabalham, nas eleições, exclusivamente para um órgão de imprensa.

A busca de notícias por parte dos órgãos de imprensa muitas vezes os leva inadvertidamente a enfatizar a novidade, mesmo que ela não tenha significância estatística. É o caso das manchetes que apregoam: ?Fulano disparou 2 pontos nas pesquisas. Sicrano despencou 3? -mesmo que o resultado relatado tenha sido extraído de pesquisas cuja margem de erro é de 3%.

A grande imprensa já começa a incorporar, no corpo das matérias, ficha técnica em que constam a data da coleta dos dados, a metodologia, procedimento, amostra, margem de erro e intervalo de confiança. Veículos menores, de outras localidades, frequentemente reproduzem as manchetes, omitindo esses dados e aumentando a inadequação das interpretações exageradas.

Outros usos dos resultados das pesquisas eleitorais marcaram o cenário do ano passado. O uso feito da informação privilegiada das pesquisas por parte de instituições financeiras provocou a instabilidade do câmbio, a oscilação do risco Brasil, com todas as suas consequências, ao sabor das subidas e quedas de intenção de voto nos candidatos à Presidência.

Finalmente, os candidatos, a quem a lei garante o direito de publicidade, recortam as manchetes e dados de pesquisa que os favoreçam, fazem gráficos exagerando sua vantagem e divulgam-nos de forma atemporal, enfatizando apenas os seus ganhos, comparando pesquisas de datas e fontes distintas.

Quem perde com isso?

Perdem os pesquisadores -a credibilidade é essencial ao nosso trabalho. E perdem os eleitores o que de melhor lhes oferecemos, a democratização da informação verdadeira e simultaneamente dada a todos.

A Justiça Eleitoral e alguns parlamentares têm se preocupado com essa questão. Porém nem sempre as regras e projetos apresentados têm alcançado seu objetivo, já que os aspectos técnicos que nos permitem saber se uma amostra foi bem construída, um questionário não induziu ao viés, a verificação do campo foi suficiente, o número e a distribuição dos grupos foram adequados para captar um perfil qualitativo do eleitor não são de domínio geral.

A SBPM (Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Mercado) começa, no dia 13 de outubro, a credenciar os pesquisadores de experiência e formação comprovadas. E está empenhada na criação do Conselho Federal de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia, como autarquia de personalidade jurídica vinculada ao Ministério do Trabalho.

Caberia a esse conselho disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão tanto das pessoas físicas, como das jurídicas -instituindo a obrigatoriedade de sua inscrição, para inibir o surgimento dos institutos fantasmas, submetendo todos aos mesmos direitos, deveres e responsabilidades e fiscalizando a sua atividade de forma eficaz, técnica, isenta e objetiva. Mas a tramitação dos projetos no Legislativo é lenta e o calendário avança.

Passaremos mais uma eleição sem esse instrumento legal? Rachel Moreno, 57, psicóloga social e pesquisadora, é a presidente da SBPM.”