QUALIDADE NA TV
ASPAS
JUSTIÇA & TV
Ivan Angelo
"Justiça e tevê, uma relação delicada", copyright Jornal da Tarde, 3/05/01
"Uma notícia divulgada ontem atesta a força da tevê e do cinema nos Estados Unidos. Um homem acusado de um crime cometido em 1963, no Alabama, e que não fora a júri como cúmplice no assassinato de quatro meninas negras, foi condenado à prisão perpétua passados 38 anos. O homem, Robert Blanton, racista, membro da Ku Klux Klan, juntou-se a outros para colocar uma bomba numa igreja freqüentada por negros na cidade de Birmingham; na explosão, morreram quatro garotas, uma de 11 anos e três de 14. O caso foi reaberto pela justiça depois da exibição na tevê, em cinemas e no festival de cinema independente de Sundance, em 1998, do excelente documentário de Spike Lee sobre a tragédia das quatro meninas. O filme Quatro Meninas foi exibido algumas vezes no canal pago brasileiro GNT, no ano passado e começo deste.
Numa linguagem documental primorosa, Lee levantou o clima da época, fez um retrato de cada uma das meninas, conduziu os acontecimentos para o clímax da explosão, reconstruiu as investigações, ouviu as testemunhas, os parentes, os investigadores (locais e do FBI) e os acusados e no final chamou a atenção para a impunidade. Três anos depois do filme, o assassino foi julgado e condenado.
Temos aqui o Linha Direta, que completa dois anos no ar neste mês de maio.
Este programa funciona mais na linha policial, de caça aos foragidos e estímulo à denúncia popular, do que na processual jurídica. A diferença de qualidade entre um e outro, na parte documental, na social e na artística é enorme. Só se tocam num ponto: botaram mecanismos emperrados da Justiça em andamento. No caso do filme de Lee, emperrados por razões sociais profundas no estado do Alabama. No caso da Globo, por relaxamento policial, aquele ?deixa pra lá? tão brasileiro, e pela falta de aparelhamento técnico e tecnológico para apanhar foragidos.
O caso de Lee mostra a força da arte e da indignação. O caso de Linha Direta mostra a força do sensacionalismo.
Senado
Foi gozado o malho do Casseta & Planeta nos senadores Arruda e ACM. Aquela do Arruda como profissional do choro foi dez. Ontem de manhã, os telejornais disseram que a acareação no Senado não sai já e que os nobres senadores não querem acareação a três, porque alguns crêem que assim seriam tratados como iguais à fraudadora Regina. Acham que seria diferente se confrontados aos pares: ACM e ela, Arruda e ela, e depois os dois senadores. Querem transformar o jogo em melhor de três.
Rural
Na Globo e na Band, a manhã, antes da 7 h, é rural. São programas de baixa audiência, mas com muitas informações úteis para o público amplo. As matérias tratam as commodities mais como necessidades humanas do que como negócio. Falam de preços porque o pessoal do campo precisa vender, porém o enfoque não é estressante, como geralmente é o noticiário da grande indústria. Interessante é que até a previsão do tempo se adapta: bom tempo aqui é de chuva, e a previsão tenta alcançar cinco dias. O programa da Band, Diário Rural, precisa cuidar mais da parte técnica. Quarta-feira, o entrevistador Sidney Maschio ficava de perfil longamente, dirigindo um arrazoado a um entrevistado e este não aparecia na imagem.
Oba oba
Funciona assim: o telespectador de um programa da Rede TV! liga para um número do 0300 ou para um site da Internet e dá uma nota de 5 a 10 para a atração que está vendo. Claro que quem fica vendo um daqueles programas o escolheu entre os de outras emissoras e ele atende ao seu gosto.
Então, aqueles espectadores, que somam os 3 ou 4 pontos do Ibope da emissora, dão notas boas para o programa. Quase todos têm notas 9 ou 9,5. Se não achasse o programa bom, por que aquela pequena audiência o sintonizaria?
A emissora vem divulgando os resultados com certo orgulho. Como se dissesse: ok, poucos me amam, mas quem me ama me acha o máximo."
BONI: FIM DE CONTRATO
Sônia Apolinário
"Acaba contrato de Boni", copyright O Estado de S. Paulo, 7/05/01
"Terminou ontem o contrato de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho com a Globo. A partir de hoje, o ex-Vice-Presidente de Operações da emissora deixa de ser seu consultor, mas ainda lhe deve exclusividade. Pelos próximos dois anos, Boni ainda não poderá trabalhar em nenhuma outra televisão, como reza uma cláusula do antigo contrato. Exatamente por isso, as negociações para a renovação de seu passe continuam, sem muita pressa.
Até o final da semana passada, Boni analisava as propostas feitas pela Globo por intermédio da diretora-geral, Marluce Dias da Silva. A direção da emissora gostaria que ele desenvolvesse projetos na área de TV digital. Mais precisamente, que ele avalie meios de usar a interatividade que a nova tecnologia permite, abrindo uma série de possibilidades, inclusive no campo comercial. Para seduzir Boni, a Globo acenou com a alternativa de ele vir a fazer isso utilizando seu próprio canal de TV.
Boni ganhou a concessão de uma emissora em Taubaté, no interior de São Paulo. O Congresso Nacional ainda precisa ratificar essa decisão, o que deve ocorrer em, no máximo, três meses. Assim que for endossada a concessão, ele terá seis meses para colocar a emissora no ar. A Globo está disposta a ajudar Boni a realizar essa tarefa. Além disso, a nova TV fará parte, imediatamente, da rede de afiliadas da Globo.
Segundo Boni, no contrato que pode vir a assinar, a direção da casa propôs a inclusão de outra cláusula de exclusividade que o impede de trabalhar em TV aberta ou fechada, pública ou privada. Até a semana passada, ele continuava despachando de sua casa, na Barra da Tijuca, Rio, após ter se submetido a uma cirugia corretiva de pálpebras. As apostas, no campo das especulações, é de que o contrato será renovado."
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