Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Lançamento arriscado

NEW YORK SUN

É preciso ser um apaixonado pela imprensa para lançar um jornal num mercado como Nova York. Saturada de publicações, a cidade mais liberal dos Estados Unidos não é exatamente um ambiente acolhedor para um diário que se pretende conservador como o New York Sun. E é preciso ser louco para dar apoio financeiro a tal iniciativa, em tempos de recessão no mercado publicitário, queda de circulação. Ainda mais quando dois dos três jornais da cidade amargam perdas milionárias: o popular Daily News e o New York Post, que dá perdas anuais de US$ 31 milhões a Rupert Murdoch (apenas o Times é lucrativo). É preciso ser maluco ? ou ser Conrad Black.

Depois de muitas tentativas fracassadas ? ofertas de compra do Daily News e do New York Observer, ? o magnata canadense injetou US$ 2 milhões no Sun para realizar o sonho mais ousado e masoquista do mundo jornalístico: entrar no mercado nova-iorquino. Tudo o que se sabe do projeto até agora é que terá entre 12 e 18 páginas, circulação modesta, de 60 mil exemplares em 4 mil bancas e, segundo Keith J. Kelly [New York Post, 7/4/02], já conta com 1.200 assinantes para entrega em domicílio.

"O leitor deles é o nova-iorquino conservador, o que não é exatamente o maior segmento da cidade ? alguém mais conservador que a página editorial do Times, mas com uma certa classe", diz Gabriel Snyder, colunista de mídia do Observer. Mais do que qualquer coisa, o veículo será uma plataforma para as idéias de Black sobre o Oriente Médio ? e ele não poderia encontrar um editor mais apropriado do que Seth Lipsky, conhecido "sharonista". Ira Stoll, vice-presidente e editor administrativo do novo jornal, há dois anos segue a mesma rotina de comprar o Times às 6 da manhã e publicar, três horas depois, no sítio SmarterTimes.com uma sinopse diária do que considera seus erros: reportagem preguiçosa, liberalismo complacente e preconceito contra Israel. O Sun daria espaço a vozes palestinas nas páginas de opinião? "Se pudéssemos achar palestinos dispostos a desafiar a liderança terrorista corrupta da OLP, certamente."

Mas, para Oliver Burkeman [The Guardian, 8/4/02], a motivação mais óbvia para lançar o diário ? a glória ? é mais convincente. "Você tem que entender que fazer jornais em Nova York não tem nada a ver com lógica econômica", diz o repórter de um diário rival. "Tem a ver com a disposição do proprietário de sangrar dinheiro. Apenas um jornal de Nova York gera dinheiro, mas temos três ? tudo a ver com ego. No Sun, os egos certamente são grandes. Só não sei se os bolsos o são o suficiente."

OPRAH

A África do Sul será o primeiro país fora dos Estados Unidos a ter versão da revista feminina O, da apresentadora de TV Oprah Winfrey. Nelson Mandela participará da festa para receber o primeiro número. Com circulação de 2,7 milhões de cópias mensais na terra natal, o projeto africano prevê edição bimestral de 110 mil cópias.

A aposta de Oprah é arriscada. Além da crise internacional de publicidade, que tem reduzido muito a verba das revistas, a África do Sul é um país com mercado tradicionalmente complicado. Por herança do apartheid, grande parte da população é pobre e analfabeta. As mulheres que poderiam comprar e ler uma revista como O estão divididas em 11(!) grupos lingüísticos. É isto que define, em grande medida, a estrutura do mercado de revistas no país. Ao contrário do que se poderia imaginar, a questão de as publicações serem para brancos ou negros não importa muito. E existe um nicho para publicações "trans-raciais" em que O pode se estabelecer. "Espero que a revista faça o mercado crescer, e não que apenas pegue uma fatia dele", diz a editora Taweni Gondwe.

Anna Bruning [The Times, 5/4/02] conta que, inicialmente, 70% do conteúdo, que tem caráter motivador ? algo na linha de auto-ajuda ?, será importado dos Estados Unidos, mas os textos nacionais devem evoluir para uma quantidade de 50% no futuro.

Livros fora do ar

O mercado editorial americano se agitou com a decisão de Oprah de suspender seu "Clube do Livro", quadro em que recomendava romances para o público. A aparição no programa podia render às editoras um adicional de vendas de 1,2 milhão de cópias. A presença na lista de best-sellers estava garantida.

Segundo a apresentadora, estava ficando difícil de encontrar um livro por mês que merecesse ser recomendado. O comentário desagradou aos editores, que acreditam publicar muitos bons títulos. "Por ano, de 55 mil a 60 mil são publicados. Se só 10% deles merecerem atenção, ainda assim não será difícil apresentar um por mês", calcula o crítico literário do The Nation, John Leonard. As editoras chamam atenção para o fato de que o público parece cansado das dicas de Oprah. Segundo o New York Times [6/4/02], embora ainda tenha poder enorme de alavancar vendas, a recomendação da apresentadora ultimamente fazia vender, com sorte, 600 mil cópias.

Oprah não ganhava dinheiro com o Clube, que foi criado com o propósito de possibilitar que os livros pudessem ser debatidos no talk-show. Sabendo com antecedência que determinado livro seria discutido, os telespectadores podiam inteirar-se do assunto. Isso contornava o principal problema que faz com que romances quase nunca sejam comentados em talk-shows.

Percebendo a brecha que Oprah está deixando, o programa jornalístico "Today", da rede NBC, lançará quadro similar ao Clube do Livro, informa o Washington Post [9/4/02].