GUERRA & BIOTERRORISMO
"Nota oficial do NY Times sobre alarme de antraz no Rio", 22/10/01
"?Na sua conferência de imprensa sábado passado, o Dr. Buss mandou todo mundo perguntar ao New York Times como foi que chegamos a essa conclusão. Tudobem.
?Eis então a seqüência de eventos que levou desnecessariamente a um alarme falso:
?Na tarde do dia 16/10, nós recebemos um envelope que, segundo normas do jornal estabelecidos depois do desastre do 09/11, era suspeito porque, entre outras coisas, não levava o endereço do remetente. Avisado pela matriz do jornal para entrar em contato com as autoridades locais competentes, ligamos no dia 17/10 para o presidente da Fiocruz. Dissemos que gostaríamos que a carta fosse aberta num local seguro para saber o que continha dentro.
?O Dr. Buss concordou e pediu que nós colocássemos o envelope dentro de um saco plástico e levasse para a sede da Fiocruz. Avisou, porem, que estava a caminho do aeroporto, indicando sua assessora Cristina Tavares, como a pessoa responsável que ia cuidar do assunto. Mas ela imediatamente contrariou a orientação dele, dizendo que ia chamar a Policia Federal -esta informou que o caso não era da competência deles – e depois a Defesa Civil.
?Nossa intenção era a seguinte: saber o conteúdo do envelope assim que fosse aberto. Se tivéssemos sido informados do que continha o envelope, como foi combinado inicialmente com o Dr. Buss, o caso estaria encerrado, ninguém precisaria saber de nada, e não haveria necessidade nem de publicidade nem de espalhar o temor pela cidade e o país.
?Em vez disso, a Defesa Civil veio para o escritório do jornal no dia 18/10, despertando a curiosidade dos inquilinos e provocando as primeiras indagações da imprensa. Eles levaram a carta e entregaram a Fiocruz. A Fiocruz abriu o envelope, encontrou outro envelope dentro contendo um convite impresso sobre um assunto conhecido do jornal.
?Mesmo assim, não comunicou essa informação ao correspondente, contrariando mais uma vez o combinado previamente, e mandou o convite para análise.
?Na tarde dia 18/10, o Dr. Eduardo Hagge, Coordenador Geral de Vigilância Epidemiológica do Centro Nacional de Epidemiologia em Brasília, nos ligou, dizendo que ?a Fiocruz acaba de me informar que exames preliminares mostram esporos de um bacilo semelhante ao antraz.? Foi o Dr. Hagge que recomendou que todos os quatro funcionários do jornal, que tiveram contato com o envelope suspeito, se dirigissem ao Instituto Estadual de Infectologia São Sebastião para fazer a coleta nasal e começar com o tratamento anti-antraz com o Cipro.
?Com essa informação preocupante em mãos, o correspondente ligou para a matriz do jornal em Nova Iorque, avisando os resultados dos exames preliminares e a recomendação do Dr. Hagge. Mas, nessa altura, o assédio da imprensa se intensificou e o pânico se espalhava. Menos de 24 horas depois, no sábado, o presidente da Fiocruz anunciou que na realidade, não havia antraz, apenas um ?contaminante? que bem podia ser uma bactéria comum.
?Queremos deixar bem claro que em todos os momento seguíamos as instruções dos órgãos competentes do governo brasileiro. Não foi iniciativa nossa ir ao hospital para fazer exames de antraz, assim como não foi iniciativa nossa chamar peritos vestidos de astronauta para vasculhar nosso escritório e remover o envelope suspeito.
?Nosso prêmio foi passar talvez as 24 horas mais desagradáveis de nossas vidas, preocupados com a nossa saúde e no meio de um circo de mídia, um circo que facilmente podia ser evitado através de uma melhor coordenação e comunicação.?"
"Mídia é novo alvo da ação terrorista", copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 16/10/01
"Se a idéia foi atrair atenção, as pessoas que mandaram antraz para as salas de correspondência de duas companhias de mídia americanas não podiam ter feito melhor. Se a intenção foi aumentar a tremedeira numa população sofrida e nervosa, as pessoas que despacharam as cartas contendo antraz e as que enviaram as cartas assustadoras em que havia ao que parece só um pó branco e inócuo se saíram igualmente bem.
Mas, seja qual for o objetivo e quaisquer que sejam os culpados, os ataques indiscriminados a companhias noticiosas nacionais e regionais foram uma tática invulgar. Até grupos que nutrem ódio à mídia usam-na para ficar em evidência. Repórteres já foram atacados e até mortos por organizações criminosas na Colômbia, por radicais islâmicos na Argélia ou por rebeldes em Serra Leona. Mas matrizes de empresas noticiosas, nos Estados Unidos e no resto do mundo, estão acostumadas a ataques verbais, não físicos.
Tudo mudou. Da mesma forma que um grupo de terroristas assassinou em massa no território dos EUA, transformando repórteres locais em correspondentes de guerra, esse ou outros grupos ou pessoas transformaram as redações em campos de guerra biológica ou psicológica.
Robert Stevens, editor de fotografia de The Sun, tablóide pertencente à American Media Inc., morreu contaminado por inalar antraz, na Flórida, e pelo menos uma funcionária da NBC News, uma assistente de Tom Brokaw, o âncora do telejornal Nightly News, apresenta, segundo diagnóstico, uma forma da doença contraída através da pele.
?Isso não havia acontecido nos EUA?, disse Ann K. Cooper, diretora-executiva do Comitê de Proteção a Jornalistas, entidade de defesa da liberdade de imprensa cujo escritório foi inundado sexta-feira por telefonemas de repórteres que procuravam entender o que estava acontecendo.
A escolha de órgãos de comunicação como alvo garante o máximo de impacto para quem espalha o medo.
?É brilhante?, disse Jessica Eve Stern, que dá aulas sobre terrorismo na Escola Kennedy de Governo em Harvard. ?Que melhor meio de chamar a atenção do que atacar diretamente a mídia??
À parte os casos confirmados de antraz na NBC e na American Media, houve episódios destinados a assustar em pelo menos outras quatro empresas de notícias.
No início da semana passada, um colunista de The St. Petersburg Times, na Flórida, abriu um envelope, postado em St. Petersburg, contendo uma substância granulosa clara, que exames comprovaram ser inócua. A carta que havia no envelope ameaçava uma ponte local.
A NBC, que recebeu uma carta postada em Trenton, New Jersey, em 17 de setembro, ao que parece contendo antraz, depois recebeu uma segunda carta, com carimbo de St. Petersburg, que continha um pó inofensivo, segundo os exames mostraram.
Na sexta-feira, uma especialista em bioterrorismo, a repórter Judith Miller, de The New York Times, recebeu carta com carimbo de St. Petersburg contendo um pó branco e um texto com ameaças à Torre Sears, em Chicago. A exemplo das outras cartas procedentes de St. Petersburg, esta continha um pó que os exames iniciais identificaram como não tóxico.
Na semana passada, a Fox News também recebeu uma carta de ameaças que continha pó branco, inócuo, segundo os exames. Um envelope com cartão alusivo ao Dia das Bruxas que chegou à redação de The Columbus Dispatch, em Ohio, na sexta-feira também continha um pó branco, não tóxico. No sábado, a sucursal da CBS News em Washington recebeu uma carta contendo pó branco. Os exames não revelaram a presença de substância tóxica.
Cooper, do Comitê de Proteção a Jornalistas, disse domingo: ?É possível que estejamos observando episódios em muitos jornais diferentes porque alguns desses episódios são imitações de outros, mas não sabemos quem eles estão imitando.?
Quem fez isso? O momento das ocorrências e as constantes ameaças que partem da rede de Osama bin Laden, Al-Qaeda, transformam seu grupo em suspeito fácil. Ao comparecer sexta-feira no programa da rede pública de TV PBS The News Hour with Jim Leherer, o vice-presidente Dick Cheney comentou que o grupo de Bin Laden treinou seus partidários no uso de armas químicas e biológicas.
Deixando implícita uma ligação entre Bin Laden e os episódios com antraz, ele disse: ?Ainda não terminamos a investigação e talvez seja coincidência, mas devo dizer que tenho minhas dúvidas.?
Juliette N. Kayyem, diretora-executiva do programa de prontidão nacional na Escola Kennedy, foi mais cautelosa. Ela disse que até agora pouco se sabe.
?Não devemos entrar nisto com viseira, tentando ligar (essas cartas) ao 11 de setembro (dia em que as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York e a sede do Pentágono em Washington foram atacadas).? Kayyem acrescentou que a mídia ?não tem sido alvo específico de grupos fundamentalistas islâmicos ou de grupos que associamos ao 11 de setembro. Ela é alvo de grupos direitistas nos EUA.? A única coisa que radicais islâmicos e radicais americanos de direita têm em comum, opinou Kayyem, é a convicção paranóica de que meios de comunicação nos Estados Unidos são peões numa conspiração judaica mundial. E uma das cartas que estão sendo investigadas para detecção de antraz na Flórida continha uma estrela-de-davi, símbolo do judaísmo. Mas ainda não está claro se esta foi a portadora do antraz que matou Stevens. Um funcionário de The Sun na Flórida disse que a carta – endereçada à cantora e atriz Jennifer Lopez aos cuidados do jornal – acabou circulando na redação, e Stevens a segurou diante do rosto. Mas, em entrevistas, funcionários federais não atribuíram importância a essa carta."
"Via CNN, porta-voz do terror faz novas ameaças", copyright O Estado de S. Paulo, 16/10/01
"Um representante da Al- Qaeda (rede terrorista do milionário saudita Osama bin Laden) dirigiu ontem ?novas e sérias ameaças? aos Estados Unidos e seus aliados, segundo o correspondente da CNN no Afeganistão, Nic Robertson. ?O representante da Al-Qaeda disse que haverá ?sérias conseqüências? (para o Ocidente) se lares afegãos continuarem a ser destruídos pelos bombardeios aéreos liderados pelos Estados Unidos?, informou Robertson, que manteve um encontro com o representante da rede terrorista na cidade afegã de Jalalabad. A CNN não identificou o porta-voz da Al-Qaeda, que definiu sua entrevista ao correspondente da emissora como ?uma mensagem especial?.
Segundo Robertson, o porta-voz disse que Bin Laden ?está muito bem e certo de que ganhará a guerra?. O correspondente da CNN acrescentou que o dirigente da Al-Qaeda não se referiu a nenhum tipo específico de represália que a organização possa vir a adotar. ?Mas ele deixou claro que as conseqüências serão muito graves se casas de civis afegãos continuarem a ser bombardeas e destruídas?, insistiu o repórter.
Robertson não revelou o local exato da entrevista, limitando-se a dizer que ela ocorreu num vilarejo próximo a Jalalabad, cujas casas foram destruídas ou seriamente danificadas por bombas e mísseis americanos.
Um porta-voz da Casa Branca reiterou que os bombardeios são dirigidos a alvos exclusivamente militares e campos de treinamento de terroristas da Al-Qaeda, mas admitiu que alguns erros podem ter sido cometidos. Ele voltou a exigir do Taleban a entrega de Bin Laden e seu pessoal.
Máfia russa – Outra rede de televisão, a estatal alemã ZDF, apresenta hoje em seu programa Report um documentário revelando vínculos entre Bin Laden e a Al-Qaeda com a máfia russa que opera no Lesteu Europeu. A finalidade desses contatos era comprar material bélico nuclear.
Segundo Report, os serviços secretos americanos e europeus ocidentais ?monitoram? há vários anos as atividades de Mamdouh Mahmud Salim, ?tesoureiro? da Al-Qaeda detido na cidade de Munique em 1998, e presumíveis intermediários russos. As suspeitas foram confirmadas no início do ano por confissão feita à Justiça americana por Jamal Ahmedal-Fadl, que disse ter intermediado contatos entre a máfia russa e Bin Laden.
Os mafiosos russos aproveitam-se do mau estado das instalações militares e dos baixíssimos soldos pagos aos soldados e oficiais russos e de outros países da antiga União Soviética para contrabandear armas e munições. Os governos da região têm reiterado em várias ocasiões que seus arsenais e instalações nucleares são absolutamente seguros.
O documentário alemão centraliza-se em Fadl, o contato de Bin Laden com a máfia, que não teria dito às autoridades americanas se as negociações para compra de armas nucleares chegaram a se concretizar. Sabe-se, no entanto, que os contatos ocorreram na Bielo-Rússia, República Checa, Rússia e Alemanha. Os serviços secretos ocidentais detectaram em 1999 pelo menos ?seis ofertas? no mercado negro de material nuclear.
Lista negra – Ainda na Alemanha, o Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) encontrou uma lista negra do Taleban, com 106 nomes de inimigos do regime afegão, dos quais 4 vivem em território alemão. A lista é firmada pelo líder espiritual do Taleban, Mohamad Omar. Algumas das pessoas contidas na lista já estão mortas. Foram vítimas de atentados."