LAN NO GLOBO
"A volta ao lar do traço do Rio", copyright O Globo, 9/02/02
"Completando bodas de ouro com o Rio, para onde se mudou em 1952, o caricaturista Lan, um italiano de nascimento mas de alma carioquíssima, passará a mostrar no GLOBO, a partir de terça-feira, cenas do cotidiano da cidade. A estréia será no caderno Carnaval, onde aparecerão o que ele gosta de chamar de ?cariocaturas? – caricaturas que têm o Rio como cenário mas que exibem em primeiro plano as mulheres curvilíneas da cidade maravilhosa. Ao lado delas está sempre presente um personagem baixinho, de bem com a vida, que Lan admite ser seu alter ego.
– É torcedor do Flamengo e portelense como eu. Sempre me perguntam por que ele é baixinho em relação ao tamanho das mulheres. Eu respondo que a baixa estatura representa as limitações da terceira idade – explica Lan, com seu costumeiro bom humor.
Apesar do ar de estréia, na verdade, o caricaturista está de volta ao GLOBO, onde trabalhou entre 55 e 57. Ele passou os últimos 39 anos no ?Jornal do Brasil?.
– Meu relacionamento com o GLOBO sempre foi de muito carinho, mesmo quando já não trabalhava na casa. Estou feliz em voltar para o lugar que nunca quis deixar. Adoro desafios e chegar a esta idade com mais este desafio, através das páginas do GLOBO, dá-me uma garra enorme – afirma este aquariano, que completará 77 anos, no próximo dia 18 – 57 deles dedicados à caricatura.
Coisas importantes da vida de Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortelini Rossi Rossini, nascido na cidade de Monte Varchi, próximo a Florença, parecem ter acontecido por acaso. No Uruguai (onde morava com a família), aos 16 anos, descobriu o talento para a caricatura ainda no colégio, durante uma aula de química. Ele detestava o professor, assim como todos os colegas. Não teve dúvidas: fez um desenho à altura do ?homenageado?. A turma adorou e pediu que fizesse mais caricaturas de outras pessoas do colégio.
– Ele era horrível. Vivia nos dizendo: ?quanto mais burros vocês forem, mais engraxates existirão no futuro? – conta, justificando a vingança adolescente.
Ele considera a famosa caricatura de Carlos Lacerda ?uma porcaria?
A paixão avassaladora de Lan pelo Rio também começou por acaso. Já um rapaz, ele vivia em Buenos Aires, onde trabalhava para cinco revistas e dois jornais, desenhando vedetes e jogadores de futebol. Por indicação de um amigo, em 52, decidiu viajar de férias ao Brasil, num momento em que precisava de descanso. No Rio, aconteceu o caso de amor definitivo:
– Simplesmente, fiquei maluco pela beleza da cidade e das mulheres.
As mulheres cariocas, no caso, eram as mulatas, cujas curvas fizeram Lan derrapar. Convidado para trabalhar no jornal ?Última Hora?, começou a fazer charges políticas. De novo, o acaso, em 1954: quando se preparava para sair da redação para encontrar uma mulata ?espetacular?, recebeu da chefia a incumbência de fazer uma charge de Carlos Lacerda. Com pressa, fez um desenho, em cinco minutos, inspirado na figura de um corvo. Para surpresa de Lan, o traço criado às pressas fez grande sucesso. A comparação deu a Lacerda o apelido de corvo.
– É a minha caricatura mais conhecida até hoje, mas não é a minha preferida porque sempre a considerei uma porcaria – confessa.
A paixão pelas mulatas nunca esfriou. Era tanta, aliás, que acabou se casando com uma, com quem vive há 42 anos. Escolheu Olívia, uma das três famosas bailarinas do grupo As Irmãs Marinho, que faziam sucesso nos desfiles do Salgueiro. Também o desejo de se dedicar às ?crônicas desenhadas? continuava forte.
Talvez por isso e por achar que as charges políticas se tornam repetitivas – ?os políticos não se renovam e continuam fazendo as mesmas besteiras?, analisa – Lan anunciou, em 92, sua decisão de abandonar o tema.
– Pouca gente conhece esta cidade e seus tipos como eu. Associam-me às mulatas porque elas têm curvas e meu traço tem fixação por curvas. Detesto as linhas retas.
E é com seus personagens do cotidiano, com o Rio como pano de fundo, que ele retorna ao GLOBO, para alegria do amigo chargista Chico Caruso.
– Nunca tínhamos nos falado, quando, em 78, me chamou para trabalhar com ele no JB. Seu traço é fantástico, um artista maravilhoso. Com um trabalho similar, existe Al Hirschfeld, caricaturista do ?The New York Times?, que aos 100 anos, ainda trabalha. Isso significa que a caricatura faz bem à saúde – brinca Chico.
Para o também amigo Aldir Blanc, o traço de Lan é inesquecível:
– Ele foi várias vezes injustiçado porque os politicamente patetas não entenderam seu amor por nossas tradições, festas e mulatas.
Apesar do amor pelo Rio, pelas mulatas e pela boemia, Lan vive, desde 1974, num sítio, em Pedro do Rio, com Olívia. Além do retorno ao GLOBO, os próximos dias lhe reservam mais expectativa: na segunda-feira, ele desfila, ao lado de Paulinho da Viola, na Portela.
A bem da verdade, não é a primeira vez que desfila com a escola, mas está animado como nunca. Só um fato o tirou do sério recentemente. Aconteceu quando entrou num táxi, na quinta-feira. Antes que dissesse qualquer palavra, foi surpreendido pelo motorista, que queria saber se era um turista estrangeiro.
– Ainda arriscou um palpite, perguntando se eu era suíço. Pode? – reclama.
Não pode. Lan é da mais fina estirpe dos cariocas da gema."
JANIO DE FREITAS vs. HENRY SOBEL
"Henry Sobel", copyright Folha de S. Paulo, 8/02/02
"?Gostaria de manifestar minha indignação com a intolerância do jornalista Janio de Freitas em relação ao rabino Henry Sobel no artigo ?Perseguição e crime? (Brasil, pág. A5, 24/1). Como ele pode contestar a inegável liderança do rabino Sobel -que extrapola os limites da religião? Ele representa não só o judaísmo mas os judeus brasileiros em todas as circunstâncias nacionais e internacionais e em eventos políticos e religiosos. Há pouco, o rabino Sobel voltou de Roma, onde esteve a convite do papa como o único representante do judaísmo latino-americano. Como pode o jornalista ignorar a nada ?discutível? (termo dele) liderança do único judeu do Brasil que foi recebido em Gaza a convite do líder palestino Iasser Arafat? O encontro em Gaza só foi possível por causa da tolerância do rabino Sobel, e Janio de Freitas acusa-o de ser intolerante! Janio de Freitas agrediu a comunidade judaica com essas declarações, pois a comunidade se sente representada, sim, por seu líder maior e incontestável.? Délia Guelman (São Paulo, SP)
Resposta do jornalista Janio de Freitas – A palavra ?discutível? não foi gratuita, mas proveniente do desejo manifesto de parte da comunidade judaica de São Paulo, no ano passado, de destituir o rabino Sobel, posto sob imputações sérias."
PROCESSOS
"Ministério Público do Amapá pede indenização em processo contra jornal de MG", copyright Folha de S. Paulo, 8/02/02
"O Ministério Público do Amapá entrou com ação civil contra o jornal mineiro ?Hoje em Dia? pela publicação de artigo considerado ?ofensivo à honra e ao patrimônio cultural do povo amapaense?. O pedido de indenização é de R$ 50 milhões.
O texto, de autoria do colunista Eduardo Almeida Reis, foi publicado em 24 de dezembro. Reis escreveu que o Amapá é ?inviável? e que o Brasil deveria estudar sua venda para o ?estabelecimento de um Estado palestino?. ?Com o valor da venda, talvez possamos pagar nossa dívida externa?, diz o texto.
Reis acrescentou ainda que somente após o assassinato do velejador Peter Blake, morto durante um assalto em Macapá, ?o mundo comprovou que o amapaense existe?.
O jornal e o colunista ainda não foram citados oficialmente. O departamento jurídico da empresa não recebeu até agora informações sobre o processo.
Segundo a direção de ?Hoje em Dia?, o jornal chegou a publicar cartas de leitores reclamando do artigo. O jornal disse que não exerce nenhuma censura nos textos de opinião e que os artigos são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
Reis afirmou que só se pronunciará sobre o caso depois de conhecer o teor da ação. ?O humor dele é sutil e, por isso, às vezes suas colunas são mal interpretadas?, disse Rogério Peres, chefe de redação.
?Apesar do bom humor do jornalista, ele ofendeu uma população inteira?, afirmou Éder Geraldo Abreu, promotor de Cidadania e Direitos Constitucionais do Amapá.
Segundo o Ministério Público, a indenização de R$ 50 milhões seria repassada ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, administrado pelo Ministério da Justiça.
ANJ diz repudiar agressões a repórteres de SP
A ANJ (Associação Nacional de Jornais) manifestou, por meio de uma nota, repúdio contra supostas agressões sofridas pelos repórteres fotográficos Daniel Barreto e Mastrangelo de Paula Reino, do jornal ?Tribuna Impressa?, de Araraquara (273 km de SP). Os dois acusam de agressão verbal e física um consultor da Prefeitura de Araraquara e um segurança de uma empresa participante da licitação de coleta de lixo da cidade. O caso está sendo apurado pelo 4? DP (Distrito Policial) da cidade. A Prefeitura de Araraquara negou ter havido um jantar com membros da empresa no restaurante em que teria ocorrido o incidente e informou ter enviado pedido de retratação à ANJ. A Limp Leão, vencedora da licitação, disse que nenhum de seus representantes esteve no restaurante no dia incidente."