ABERT
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"Comunitárias querem se unir a comerciais; já o inverso…", copyright Folha de S.Paulo, 27/3/02
"É a polêmica do momento. Rádios comunitárias estão querendo fazer parte da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), entidade que reúne FMs e AMs comerciais.
O assunto pegou fogo na última reunião entre a Abert e as associações estaduais, em Brasília.
Por que tanta confusão? Porque comunitárias se confundem com piratas, o maior horror para o setor, já que dão interferência no sinal das comerciais e entram na disputa com elas por anunciantes.
As rádios que estão procurando a Abert são pequenas emissoras que conseguiram autorização do governo para operar. São obrigadas a transmitir em baixa potência, cobrindo uma área restrita, e não podem ter fins lucrativos.
No Brasil, existem 1.172 rádios comunitárias autorizadas. Segundo o Ministério das Comunicações, 940 emissoras têm autorização provisória e 232 já possuem concessão. E ainda há cerca de 7.000 pedidos em tramitação.
Ao tentar fazer parte da Abert, a intenção das comunitárias é justamente deixar clara a diferença entre elas e as piratas. Além disso, querem aproveitar a força representativa que a entidade possui.
Mas não é um casamento simples. Há uma ala da Abert que acha a idéia um absurdo. Na reunião, frases como ?vamos nos unir aos bandidos?? davam o tom da opinião de alguns representantes da associações regionais.
A grave crise financeira no setor, com queda de faturamento e de participação no bolo publicitário em 2001, é uma das razões dessas reações indignadas.
Mas outros empresários acreditam que, como parece impossível evitar o crescimento desse tipo de emissora, é melhor tê-las por perto e usá-las contra as piratas.
Além disso, o próprio estatuto da Abert e os de muitas regionais obrigariam as associações a aceitar as comunitárias. Essas, se quiserem, podem tentar se afiliar na marra, entrando na Justiça.
Por isso, quem não quer conversa com as comunitárias já está tratando de fazer alterações às pressas em suas normas internas.
Mas ainda há a questão da coerência do discurso. A Abert publicou os ?12 mandamentos? sobre rádios piratas. O terceiro diz: ?Os radiodifusores devem agir em suas localidades sistematicamente evitando a instalação e proliferação das rádios clandestinas, bem como APOIANDO O RADIODIFUSOR COMUNITÁRIO idôneo e legalmente instalado?.
Vai ser uma briga boa. Tanto que a votação foi adiada e só deve ocorrer quando a Abert convocar assembléia geral. Alguém já foi a reunião de condomínio? Então pode imaginar o que será isso…"
ABERT DO B
"Bandeirantes, Record e SBT se associam contra a Abert", copyright Folha de S.Paulo, 27/3/02
"A União Nacional de Emissoras e Redes de Televisão, que reúne Bandeirantes, Record e SBT, foi criada oficialmente ontem. A entidade é uma dissidência da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), com a qual as três romperam publicamente há um mês, acusando a associação de só defender os interesses da Globo.
O estatuto da união foi assinado ontem por Johnny Saad, presidente da Bandeirantes, bispo Honorilton Gonçalves, da Record, e Luiz Sebastião Sandoval, que preside o Grupo Silvio Santos. O documento será registrado em cartório nos próximos dias.
A Globo, ontem, afirmou, por meio da Central Globo de Comunicação, que ?lamenta a desunião. Nenhuma cisão pode ser comemorada. A Globo até agora não entendeu o motivo que levou as três a saírem da Abert?.
O lançamento da nova entidade, que, a princípio seria um evento aberto, com ampla divulgação, acabou se transformando em um almoço reservado no hotel Renaissance, em São Paulo.
Além dos presidentes, também participaram os executivos responsáveis pelas questões institucionais das emissoras: Roberto Franco, vice-presidente da Record, Antonio Teles, da Bandeirantes, e Luiz Borgerth, consultor do SBT. Os três devem formar a futura diretoria da união, ainda não definida oficialmente.
Um deles será provavelmente o presidente da entidade e terá mandato de um ano. O cargo deve ser ocupado cada vez pelo representante de uma das emissoras, em esquema de rodízio.
A decisão de tirar as luzes do encontro se deve a uma manobra da Globo, para trazer de volta as três redes à Abert. A bandeira branca foi erguida na semana passada, quando a emissora anunciou que Evandro Guimarães, seu vice-presidente, deixaria a vice-presidência da associação das TVs.
A idéia era fazer com que o setor se unisse novamente, para não enfraquecer seu lobby no Congresso justamente no momento em que está em tramitação a emenda constitucional que libera a entrada de capital estrangeiro para empresas de mídia.
A aprovação desse projeto é atualmente a principal empreitada política das emissoras. Por isso, Bandeirantes, SBT e Record preferiram não fazer estardalhaço com a nova entidade, para deixar mais aberta a possibilidade de uma reconciliação com a Globo.
Essa hipótese foi, inclusive, discutida durante o encontro de ontem. A criação da união não representa uma decisão definitiva das três dissidentes. ?Nada é eterno, tudo pode mudar com o tempo?, disse Johnny Saad à Folha, ao sair do almoço de ontem.
Mas ele afirmou também que as três devem estar juntas na questão da TV digital, um dos únicos pontos que foi consenso entre as redes -inclusive Globo- até julho do ano passado, quando a Band anunciou seu rompimento.
Essa também é uma das principais preocupações da Globo. A emissora defende a adoção do padrão japonês pelo Brasil (além desse, concorrem o europeu e o norte-americano) e teme que as ?rivais? se unam em torno do sistema dos EUA, responsável por um forte lobby com as TVs."
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"Globo tenta se unir a ?rivais?", copyright Folha de S.Paulo, 26/3/02
"Está marcado para hoje o anúncio oficial da criação da União Brasileira de Emissoras de Televisão, reunindo Bandeirantes, Record e SBT. Mas, mesmo antes de ser oficializada, a nova entidade já alcançou seu principal objetivo: mostrar à Globo que a ?guerra? com as concorrentes pode enfraquecê-la politicamente.
As três redes romperam oficialmente com a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) no dia 26 de fevereiro. O racha oficial (na prática o rompimento é bem mais antigo) se deu por meio de anúncio publicado em jornais.
Em clima de guerra declarada, executivos das TVs dissidentes passaram a acusar a associação de defender só os interesses da Globo. E, como se não bastasse esse tiroteio, houve, depois do rompimento, o anúncio de que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) faria um aporte de capital à Globo Cabo, empresa das Organizações Globo. Era o que faltava para reforçar os desentendimentos entre as redes.
A gota d?água para a saída oficial das três emissoras da Abert, segundo a Folha apurou, tem a ver com a votação da emenda constitucional que libera a entrada de capital estrangeiro em jornal, rádio e televisão. O projeto, que também possibilita a abertura dessas empresas ao investidor nacional, é visto como a solução para a crise financeira do setor.
O problema entre as emissoras se agravou quando o projeto estava em votação na Câmara dos Deputados (ele agora está no Senado e deve receber relatório favorável hoje na Comissão de Constituição e Justiça). O PT, que se mostrava contrário à idéia, aceitou votar a favor da emenda, ?impondo? como condição a implementação do Conselho de Comunicação Social. A criação do órgão, que fiscalizaria as empresas de mídia, está prevista desde a Constituição de 88, mas esbarra no lobby das TVs e ainda não saiu do papel.
Sua formação é de responsabilidade do Congresso e os membros podem ser indicados por entidades representativas, como a Abert, por exemplo. E foi isso que complicou a convivência entre a Globo e o bloco das três.
Ninguém confirma oficialmente, mas o fato é que Band, Record e SBT acreditam que Evandro Guimarães, vice-presidente da Globo que ocupava a vice-presidência da Abert, teria sugerido a políticos o seu próprio nome para integrar o conselho de comunicação. Estaria, na avaliação das três, usando a Abert para dar mais força à Globo. Guimarães nega essa versão: ?Eu jamais solicitei nenhum tipo de vaga para a Globo?.
Mas foi a partir dessa suspeita que as concorrentes decidiram deixar claro para os políticos que a associação não mais as representava. Para isso, articularam a criação da nova entidade, já apelidada nos bastidores de Abert do B. Apesar dos holofotes que chamaram para essa associação, Band, Record e SBT não avaliam o rompimento como algo positivo. Sabem, assim como a Globo, que o lobby da televisão perderá força.
Às vésperas da votação da emenda do capital estrangeiro, não têm dúvida de que escolheram o pior momento para levar a discórdia para a frente das câmeras. A Globo, mesmo sabendo que tem influência no Congresso, preocupa-se com a criação da nova entidade e o consequente enfraquecimento da Abert.
A associação é relevante principalmente porque ainda congrega entidades regionais por todo o país que representam, principalmente, as emissoras de rádio.
A Globo avalia que essa base é importante para se ter ainda mais respaldo no Legislativo, já que as FMs e AMs das pequenas cidades do país são instrumentos essenciais de apoio a deputados e senadores. Há cerca de dez dias, João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, teve uma conversa com Silvio Santos. Foi uma tentativa de reverter o rompimento.
A emissora deu também, na avaliação do mercado, uma pública demonstração de que está disposta a ?fazer as pazes? com as dissidentes. Na última terça, véspera da audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado sobre a emenda do capital estrangeiro, a Globo anunciou que Evandro Guimarães deixaria a vice-presidência da Abert. Ele, que havia sido convidado pelo senador Osmar Dias (que está presidindo a CCJ) para a mesa da audiência, foi substituído na última hora por Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente da associação.
A Globo aceitava pagar o preço de não ter alguém na audiência para defendê-la de duras críticas feitas por políticos e membros da mesa. Guimarães assistiu ao debate da platéia, assim como Roberto Franco, vice-presidente da Record e um dos líderes da Abert do B. Era um indício de que a Globo queria se colocar, pelo menos institucionalmente, em situação de igualdade.
Foi um gesto que agradou as concorrentes. Foi também a chave de abertura para a discussão a que todos queriam chegar: será que não vale a pena voltar à Abert, ainda mais deixando a impressão de que houve recuo da Globo? Ninguém sustenta a tese oficialmente, mas a partir da saída de Guimarães, o tom das declarações tornou-se mais ameno: ?É claro que a desunião é péssima. Com certeza, o ideal seria que estivéssemos juntos, principalmente agora?, diz Antonio Teles, vice-presidente da Band e o principal porta-voz das críticas das três à Globo.
?A união seria muito importante para o setor. O rompimento não é bom para nenhum dos lados. Estamos abertos, como sempre estivemos, a receber em nossa diretoria membros da Record, da Bandeirantes e do SBT?, afirma Paulo Machado de Carvalho Neto, presidente da Abert.
A reconciliação pode ocorrer, acreditam envolvidos na disputa. Mas, no ponto em que chegou o desentendimento, a negociação teria de ser diretamente entre os proprietários das TVs. A avaliação é que a votação da emenda do capital estrangeiro reforça essa possibilidade. E quem defende a reconciliação anda fazendo piada: ?Como diria minha vó, antes mal acompanhado do que só?."
"Emissoras já têm sua associação independente", copyright Estado de S.Paulo, 27/3/02
"A União Nacional das Emissoras e Redes de Televisão (Unert), formada por Bandeirantes, Record e SBT, foi criada oficialmente ontem. Os presidentes dessas redes reuniram-se em São Paulo para assinar a ata de fundação da nova entidade, que pretende ser a ?Abert do B? no setor televisivo. Elas já haviam rompido publicamente com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) desde o dia 23 de fevereiro por considerar que ela não as representava mais.
Desde os anos 60, a Abert era a porta-voz dos interesses do empresariado das redes de televisão junto ao governo, mas há alguns anos vinha sendo alvo de críticas das três emissoras que viam nela uma representante da Rede Globo.
Com a criação da Unert, Band, Record e SBT esperam ter mais espaço em negociações como a da TV digital ou a forma como será o ingresso do capital estrangeiro nos meios de comunicação, se for aprovada a proposta de emenda constitucional em tramitação no Senado.
A sede da nova entidade deve ser em São Paulo. Os dirigentes das três redes, João Carlos Saad (Band), Luiz Sebastião Sandoval (SBT) e o bispo Honorilton Gonçalves (Record), terão encontros mensais para definir uma agenda própria.
Paralelamente, devem pressionar alguns vice-presidentes da Abert a abdicarem de seus postos, uma vez que eles são empresários de TVs afiliadas da Band, da Record ou do SBT. ?Não haverá necessidade de pedir. A Abert vai se concretizar como uma representante individual da Globo. É uma questão de coerência?, afirmou Antonio Teles, vice-presidente executivo da Rede Bandeirantes.
Pressão ? ?O que muda é que há uma vertente nova do poder dos meios de comunicação para se relacionar com a sociedade?, disse Teles. Segundo Sandoval, a Unert não deve gerar um ?problema político? já que agora existem duas entidades representativas do setor.
Os dirigentes da Unert descartam a inclusão de novas emissoras na nova entidade, neste primeiro momento. Mas acreditam que ainda assim terão poder de barganha suficiente, respaldado pela soma das audiências das três redes, do número de afiliadas e pela penetração que os canais têm nas classes C, D e E. ?A união prevê o combate a toda e qualquer forma de discriminação, prega o repúdio à subserviência dos meios de comunicação às pessoas que exercem o poder e considera a independência do setor um pressuposto irretorquível?, afirma o comunicado oficial."
"Band, Record e SBT lançam hoje nova entidade", copyright O Estado de S. Paulo, 26/3/02
Os presidentes das r"edes de televisão SBT, Bandeirantes e Record devem se reunir hoje em São Paulo para lançar oficialmente a União Nacional de Emissoras e Redes de Televisão. A nova entidade cimenta o rompimento dessas redes com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que desde os anos 60 representa os interesses do empresariado junto aos órgãos do governo. A Rede Globo, a maior do País, continua filiada à Abert.
No encontro de hoje, Luiz Sebastião Sandoval, presidente do grupo Silvio Santos (SBT), João Carlos Saad, da Bandeirantes, e o bispo Honorilton Gonçalves, da Record, definirão o estatuto da união, que depois será registrado em cartório, e uma carta de princípios.
Uma das principais características da carta deverá ser a crítica à ingerência do Estado nos negócios das emissoras. Segundo explicações de Antonio Telles, vice-presidente executivo da Bandeirantes que ajudou a preparar o texto, o Estado ?não deve agir como tutor?. Ele também criticou as tentativas de controle da programação. ?Trata-se de invasão num negócio que tem a liberdade de ação garantida pela Constituição.?
Em outra parte o documento critica a tendência à monopolização do setor ? ?um movimento indesejável, mas que vem se acentuando?, segundo Telles.
O documento não faz referência à Globo, mas sabe-se que a crítica é dirigida àquela rede. O que está por trás do rompimento com a Abert é a disputa das redes menores com a maior do País, cujos interesses estariam sendo privilegiados pela antiga entidade de representação.
Embora tenham crescido em anos recentes, a fatia das três no mercado ainda é pequena, comparada à da Globo. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas em Comunicação de Porto Alegre, a Globo reúne 204 veículos afiliados, 89 TVs VHF, 8 TVs UHF, 34 rádios AM, 53 rádios FM. No conjunto, detém uma audiência de 53%, contra 23% do SBT, concorrente mais próximo.
Conselho ? Na semana passada, enviados das três redes reuniram-se com o presidente do Congresso, Ramez Tebet (PMDB-MS).
Foram apresentar-se como novos interlocutores na área de comunicação.
O primeiro resultado do encontro é o fato de terem sido convidados para participar dos debates sobre o Conselho de Comunicação Social (CCS), que será criado nos próximos meses. A Abert também participa do debate e reivindica uma cadeira no futuro órgão.
Temor ? Ontem a Abert divulgou uma nota apoiando discretamente a liminar concedida na semana passada pelo juiz Jirair Aram Megueria, do Tribunal Federal da 1.? Região, ao grupo SBT, que deseja mudar o regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), proposto no ano passado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo explicações do advogado do SBT, o artigo 67 do regulamento, que trata da transmissão de imagens, é dúbio. Teme-se que abra brechas para empresas de telefonia transmitirem programas, competindo com redes abertas e de TV a cabo.
Até agora, segundo Luiz Eduardo Borghert, consultor do SBT, a Abert tinha se mantido em silêncio sobre o assunto. ?Isso atesta falta de interesse pelos nossos problemas?, disse.
A Anatel vai tentar derrubar a liminar. Mas o artigo 67 ficará suspenso até que o Judiciário se pronuncie. Segundo o vice-presidente da agência, Antonio Carlos Valente, a suspensão não invalida os dez pedidos de serviço já autorizados, nem interrompe o encaminhamento dos novos pedidos."
QUÉRCIA, O RETORNO
"Quércia prepara relançamento do Shopping News e da Visão", copyright Comunique-se, 27/3/03
"Sem alarde e sem pressa, mas com determinação e o bom dinheiro ganho das Organizações Globo com a venda do Diário Popular (pegou, nas duas últimas parcelas do acordo, a virada do dólar), o ex-governador Orestes Quércia prepara-se para ser novamente um dos players da imprensa paulista, apostando numa estratégia praticamente inédita: ressuscitar títulos que estavam praticamente mortos e sepultados. Depois do DCI, que já começa a ganhar visibilidade no mercado editorial e publicitário, ele prepara o relançamento de dois outros títulos que naufragaram junto com a Empresa Jornalística Comércio & Indústria, o Shopping News e a Visão, ambos de muita tradição nos segmentos e regiões em que circulavam.
O Shopping News fez história na cidade de São Paulo, fazendo parte da vida de milhares de paulistanos por três ou quatro décadas. Foi o mais importante jornal de bairro (na verdade de bairros, por circulava por dezenas deles) do País, com circulação gratuita aos domingos. Era um Estadão, tal o volume de classificados e anúncios que trazia, junto com uma receita editorial única, com muitas matérias e reportagens sobre comportamento, cidade, política, cultura etc, além de prestação de serviços. E sua tiragem superava, de longe, os cem mil exemplares, no auge. Por suas páginas passaram nomes de profissionais consagrados como Aloysio Biondi, Reginaldo Leme, Maria Aparecida Saad, e também colegas que ali iniciaram-se na profissão para ganhar altitude em outros veículos, caso de Cida Taiar, Beth Caló, Rose Delfino..
No seu rastro, surgiram em São Paulo dezenas, centenas de outros jornais de bairros, mas nenhum chegou sequer perto do poderio do Shopping, mesmo após sua notória decadência, iniciada na segunda metade dos anos 80. Mesmo a Rede A, que desmilinguiu-se neste final de 2001, que teve um bom momento de mercado, nunca teve a visibilidade e a importância do pioneiro.
Seu relançamento, retomando a fórmula original, com investimentos na equipe editorial, circulação nas áreas nobres da cidade, um setor de classificados fortes, será, sem sombra de dúvidas, comemorado pela população, e também pelos próprios jornalistas, que ganham um novo (embora se saiba que não envolverá muita gente) mercado de trabalho.
Mas não é só o Shopping News que mexe com o imaginário de Quércia. Sabe-se que ele tem firme intenção de lançar pelo menos duas revistas, uma delas, pelo menos, este ano: a Visão. Título também com décadas de mercado, a revista teve seu momento maior sob gestão de Henry Maksoud, que imprimia à linha editorial uma visão exageradamente neo-liberalista e que as esquerdas consideravam a representação da direita mais reacionária do país. Quando Maksoud, já enfrentando dificuldades com alguns de seus negócios, entre eles a editora que reunia as revistas Visão e Dirigentes, entre outras, a comercializou com o Grupo DCI, foi o início do fim do título (ou dos títulos). A negociação foi feita com Hamilton Lucas de Oliveira, empresário que era dono da IBF e um dos integrantes do esquema PC-Collor. A revista já não vinha bem e nas mãos de Lucas durou pouco, como ocorreu com o próprio DCI. Logo após desmoronar o esquema PC-Collor, com o impeachment do ex-presidente, ruiu também o império empresarial de Hamilton Lucas de Oliveira (o mesmo, obviamente, não podendo se dizer de seu patrimônio financeiro), numa das mais tristes e vergonhosas histórias da imprensa brasileira (semelhante às vividas pelos Diários e pela Bloch). Até hoje, há centenas de colegas com pendências judiciais em ações trabalhistas. São pelo menos ?três gerações? de colegas, que perderam partes consideráveis de suas vidas na empresa, amargando um prejuízo da qual já não esperam ressarcir-se.
De qualquer modo, a Visão fez história e Quércia não é um homem com história na direita, embora seja um dos mais questionados e polêmicos políticos do país. Se realmente levar à frente o projeto, certamente dará a ele um cunho de mercado, despojado de alinhamento com correntes políticas atrasadas, até pelo bem do próprio negócio. E rasgar dinheiro, como se sabe, ele não faz."
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"RBS lançará novo diário", copyright Comunique-se, 27/3/03
"O Grupo RBS, império de comunicação no Sul do Brasil, vai lançar nos próximos meses um novo diário em Santa Maria, num projeto que prevê a contratação de 25 jornalistas. Para comandá-lo, a direção do grupo foi buscar em São Paulo o atual editor da Veja On-line, Nilson Vargas, que será o editor-chefe do novo jornal. Nilson é natural da cidade e formado pela Universidade Federal local. Volta com a rara oportunidade de acompanhar um jornal nascendo do zero, podendo opinar até no nome, que ainda não foi definido. O processo de seleção já começou, com provas de conhecimento geral, ética, redação e português. Depois, haverá entrevistas e começará o treinamento. Mais de 100 profissionais já se inscreveram para as provas até agora. O gerente-geral será Neimar Beschoren, gerente da RBS TV em Santa Maria, que assume a coordenação do jornal também. A formatação editorial será coordenada por Marcelo Rech, como diretor de Redação dos jornais da RBS, e supervisionada por Rosane Tremea, editora de Interior do Zero Hora.
A chegada de um novo jornal diário é sempre um alento, sobretudo nos tempos bicudos vividos pela mídia nos últimos meses.
Mas não é só no novo diário que o Grupo RBS investe. Também o principal jornal da organização e mais importante jornal do Sul do País, o Zero Hora, tem feito importantes investimentos. Por exemplo: o caderno mensal Eureka, dedicado à ciência e patrocinado pela Unisinos, ganha periodicidade semanal a partir de 1?/4. Outra novidade será o lançamento, também em abril, do ZH Comunidade (mensal, circulação às 2?s.feiras), dedicado ao Terceiro Setor, com patrocínio do Instituto Souza Cruz e da Fiergs. Sem contar o recém lançado ZH Escola (outro dos cadernos programados para as 2?s.feiras), voltado para a cobertura da sala de aula, em substituição ao Zerou, que era dedicado aos adolescentes.
Como se vê, são bons os ventos que sopram do Sul. E o que se espera é que essa brisa venha a bafejar todas as regiões e o mercado editorial."