Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Laura Mattos

CAPITAL EXTERNO

"Será que os gringos vão levar nossas rádios?", copyright Folha de S. Paulo, 5/06/02

"Beleza. O Congresso aprovou a entrada de capital estrangeiro nas empresas de mídia. Com o dinheiro dos gringos, será o fim das rádios sucateadas, dos salários ridículos para radialistas. Antenas potentes virão, e você, ao parar o carro no farol, nunca mais terá de andar um pouquinho para a frente para fugir do chiado que invadiu sua estação predileta.

Parece um sonho. E por enquanto é mesmo. Bem distante da realidade, aliás. Desorganizado, lanterninha das verbas publicitárias, tomado pela bagunça da pirataria, das concessões a políticos e igrejas, o mercado de rádios ainda deixa o investidor estrangeiro completamente apavorado.

Mas é claro que um belo banho de shopping transformaria o setor num dos mais atraentes do país. E essa operação já começou. Em São Paulo, há pelo menos quatro empresas traçando planos mirabolantes para comprar rádios, empacotá-las e vendê-las ao capital externo. A idéia é concentrar pequenas estações em grandes grupos, já que nenhum estrangeiro vai querer comprar um estúdio com meia dúzia de CDs.

As negociações são para lá de complicadas. A primeira -e básica- questão é: quanto custa uma rádio? Essas empresas querem pagar preço de banana porque só consideram o (pequeno) faturamento publicitário. Mas isso não cola para os donos das AMs e FMs. Eles querem que o valor inclua o potencial futuro de mercado e a demanda, fortalecida pelo interesse de igrejas e políticos no setor. Aí o preço vai lá para cima. Assim, os primeiros negócios só devem ser fechados em pelo menos um ano, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.

E o que será da programação? Há quem diga que o ouvinte sempre dará a palavra final, porque ninguém toca o que não dá ibope. Faz sentido, mas não é uma verdade absoluta. Não é segredo que a programação também passa pela caixinha paga por gravadoras. Quando (e se) vierem os sócios estrangeiros, na bagagem devem chegar os jabás gringos…

Confusão na Copa pelo rádio. Em SP, só Bandeirantes, Globo e Transamérica iriam transmitir as partidas. Eis que a América (AM, 1.410 kHz) coloca no ar o jogo do Brasil. Repetia o sinal da rádio Anhanguera, de Goiânia, que comprou os direitos da Globo. Segundo Gilson de Almeida, dono da emissora de Goiás, o contrato previa a repetição pela América. A Globo diz que só duas Américas estavam autorizadas a transmitir a Copa: uma de Boituva e outra de Campinas. Lance para cartão? O ?juiz? da Globo já está avaliando."


***

"Sem decisões, ?estréia? de ministro desagrada a executivos de TVs", copyright Folha de S. Paulo, 7/06/02

"Executivos de televisão ficaram decepcionados com o primeiro encontro oficial com o ministro das Comunicações, Juarez Quadros, depois da aprovação da lei que libera o capital estrangeiro nas empresas de mídia.

Em debate realizado no 3? Fórum Brasil de Programação e Produção, anteontem, em SP, as TVs ficaram sem respostas a algumas das principais dúvidas do setor.

Não sabem, por exemplo, que tratamento será dado pelo governo às empresas de internet. A emenda constitucional que libera a entrada de capital estrangeiro na mídia não deixa claro se a rede deve seguir as mesmas regras das emissoras de rádio e televisão. Uma das principais exigências da lei é a preservação do conteúdo nacional na programação.

Em seu pronunciamento, o ministro afirmou que, a princípio, a internet não deve ser considerada um serviço de telecomunicações e, portanto, estaria fora das exigências da emenda. ?Mas e o serviço de TV por internet??, foi uma das perguntas da platéia. ?Nesse caso, deveremos avaliar. Talvez seja configurado radiodifusão e aí seria preciso concessão do governo?, respondeu o ministro.

Representantes das TVs pagas também demonstraram preocupação em relação à interpretação da lei. Se a internet, um serviço pago, não deve seguir as normas da TV aberta, a televisão por assinatura -um contrato entre cliente e fornecedor- também não deveria, na avaliação do setor. Quadros também deixou essa questão aberta e afirmou que quer ouvir a opinião da sociedade antes de tomar decisões.

TV digital

Como o debate sobre o capital estrangeiro não avançava, executivos das TVs decidiram pressionar o ministro para que seja acelerada a decisão do padrão de TV digital a ser adotado no Brasil.

Quadros afirmou que não poderia haver pressa para a decisão, já que um erro seria drástico para o país. Em sua defesa, falou Ara Apkar Minassian, que coordena os trabalho de TV digital na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Ele detalhou os passos que a agência está seguindo para que seja apontado o padrão para o Brasil (concorrem o japonês, o europeu e o americano).

Segundo ele, a Anatel está fazendo um levantamento de toda a implementação de TV digital em 12 países para ver acertos e erros. Também está estudando negociações de contrapartidas (o que cada governo daria em troca se o Brasil adotasse o seu sistema).

Após os debates, os executivos das emissoras de televisão avaliavam que nem a regulamentação da entrada do capital estrangeiro nem a decisão sobre TV digital devem sair ainda neste ano.

Eleições

O que se dizia nos bastidores é que essas decisões devem estar atreladas ao processo eleitoral.

São mudanças cruciais para as empresas de comunicação e, para as TVs, o governo avalia que qualquer erro no segundo semestre poderia trazer consequências indesejadas nos rumos das eleições."

 

"Conselho de Comunicação Social é eleito", copyright O Estado de S. Paulo, 6/06/02

"O Congresso elegeu ontem os 13 membros titulares e os 13 suplentes do Conselho de Comunicação Social. Criado pela Constituição de 1988, o conselho vai funcionar como órgão consultivo do Poder Legislativo para o setor de comunicação. Os integrantes foram escolhidos com o voto favorável de 49 senadores e 217 deputados.

Embora tenha sido criado há mais de uma década, o Conselho de Comunicação Social nunca saiu do papel. No entanto, a eleição de seus integrantes tornou-se possível agora devido a um acordo da base governista com a bancada de oposição para permitir a aprovação da emenda constitucional que permitiu a participação do capital estrangeiro em empresas de comunicação. Para apoiar a emenda, os oposicionistas exigiram a instalação do conselho.

Lista – A relação dos 13 representantes titulares eleitos é a seguinte: Paulo Machado de Carvalho Neto (rádio); Roberto Wagner Monteiro (TV); Paulo Cabral de Araújo (imprensa); Fernando Bitencourt (engenheiro); Daniel Herz (jornalista); Francisco Pereira da Silva (radialista); Berenice Bezerra (artista); Geraldo Pereira dos Santos (cinema e vídeo); José Paulo Cavalcanti, Alberto Dines, Jayme Sirotsky, Carlos Chagas e Ricardo Moretzon (sociedade civil)."

 

"Band já negocia abertura ao capital externo", copyright Folha de S. Paulo, 3/06/02

"Deve ser concluída até o próximo dia 11 a primeira negociação oficial envolvendo capital estrangeiro em uma emissora brasileira. A TV é a Bandeirantes, que está propondo a credores internacionais a opção de transformar em ações parte da dívida externa da emissora, de US$ 100 milhões.

A emenda constitucional que permite até 30% de capital externo em redes de TV foi promulgada na última quarta, mas ainda depende de lei regulamentar.

A proposta da Band faz parte de renegociação de sua dívida, contraída em 1998 com a emissão de eurobônus. A Band oferece aos credores a possibilidade de, em dezembro de 2005, converter parte da dívida em ações da emissora, até o limite de 15% de 15 vezes o valor de seu lucro operacional.

A Band está tentando renegociar as parcelas semestrais referentes aos juros do empréstimo.

Quer reduzir as quatro parcelas de 2002 e 2003 (de US$ 6,4 milhões cada) para US$ 4,5 milhões cada e postergar o vencimento.

Para facilitar a renegociação, a Band se compromete a investir parte desse dinheiro dos juros em programação e na criação de novos canais pagos, entre eles um de música. A emissora se compromete também a priorizar os recursos que receber de sócios estrangeiros ao pagamento da dívida externa. No caso de o novo sócio injetar até US$ 100 milhões, destina 50% desse valor para a recompra de títulos da dívida.

OUTRO CANAL

Telhado

Apesar de ter o projeto aprovado pela cúpula da Globo, é duvidoso o futuro de programa dominical, desenvolvido com certo sigilo por Roberto Talma e que teria apresentadores jovens que dançam e cantam. Só entraria no ar se o ?Planeta Xuxa? acabasse, mas a produção já está sendo remanejada para outras atrações.

Golpe 1

O SBT descobriu que mais uma agência de elenco de São Paulo andou ganhando dinheiro com ?Casa dos Artistas 3?. A empresa cobrava R$ 380 para ?inscrever? pessoas interessadas em participar do programa como fãs. Oferecia consultoria e fotos.

Golpe 2

Em 3 de maio, a Folha revelou que pelo menos duas agências de São Paulo estavam fazendo serviço semelhante _e igualmente enganoso. Mas elas cobravam entre R$ 15 e R$ 50.

Raspão

A Globo conseguiu vender o top de cinco segundos da Copa para a Nestlé, que já está exibindo sua marca nas vinhetas que antecedem as transmissões de jogos. Pela tabela, a patrocinadora do ?Show do Milhão?, do SBT, pagou R$ 8,9 milhões pela ação.

Boxe

A Band ganhou a disputa com o canal pago SporTV e vai exibir, na madrugada de sábado, luta entre Mike Tyson e Lennox Lewis."

***

"Nova lei deve ampliar concentração de TVs", copyright Folha de S. Paulo, 6/06/02

"O ministro das Comunicações, Juarez Quadros, disse ontem em São Paulo que a lei que irá regulamentar a participação de capital estrangeiro em empresas de mídia poderá aumentar a concentração de concessões de TV.

A atual legislação limita a cinco o número de concessões por pessoas físicas brasileiras. Emenda constitucional promulgada na semana passada permite o controle até 100% dessas concessões por pessoas jurídicas nacionais e de até 30% por empresas estrangeiras estabelecidas no país.

A participação de pessoas jurídicas nacionais já está em vigor, mas o capital externo ainda depende de regulamentação por lei.

Segundo o ministro Quadros, o atual limite de cinco concessões por pessoas físicas/jurídicas será revisto na lei do capital externo. A tendência, por pressão dos grupos de comunicação, é ampliar o limite de concessões. Esse limite já é burlado pelas redes, que controlam mais de cinco concessões usando como sócios parentes dos principais acionistas.

Por causa das eleições, o ministro acha pouco provável a aprovação neste ano da lei que regulamenta o capital estrangeiro _e que cuja principal preocupação será manter o controle por brasileiros das empresas de mídia. Capital externo, provavelmente, só no ano que vem. Até porque Executivo e Legislativo ainda não definiram quem irá tomar a iniciativa de elaborar o projeto de lei.

OUTRO CANAL

Chilique 1

A Rede TV! diz que Monique Evans pediu licença de 30 dias para cuidar da saúde (ela sofre de depressão). A verdade é outra: ela foi suspensa pela direção da emissora após, na última sexta, no intervalo de gravações, bradar impropérios ao microfone.

Chilique 2

A apresentadora do ?Noite Afora? reclamou, em circuito interno de TV, da pobreza de sua produção e se referiu a Luciana Gimenez como ?queridinha? intocável, apesar do ibope baixo do ?Superpop?. Na hora, um superintendente da TV disse a Monique que ela podia ir para casa, que estava dispensada.

Chilique 3

Anteontem, a ex-?Casa dos Artistas? Núbia Ólive fez teste para substituir Monique _uma forma de pressionar a titular a parar de reclamar e voltar a trabalhar logo.

Aperto

A TV Globo ameaçou processar o Canal 21, da Band, por uso indevido de material da Copa. O canal colocou no ar o áudio das transmissões de jogos feitas pela Rádio Bandeirantes (AM). A rádio tem os direitos da Copa, mas o 21, não. O canal respondeu à Globo que houve um deslize e que suspendeu ontem as transmissões.

Tabajara

Os humoristas do ?Casseta & Planeta? comemoraram como se fosse final da Copa os 42 pontos de média do programa de anteontem, a maior dos últimos anos."

***

"Ação judicial emperra capital externo na Band", copyright Folha de S. Paulo, 8/06/02

"A disputa judicial entre os irmãos Saad, herdeiros da TV Bandeirantes, deve emperrar as negociações da emissora com futuros sócios estrangeiros.

Em edital publicado ontem, o juiz da 1? Vara Cível de Pinheiros, Pedro Luiz Baccarat da Silva, informa que Marcia Saad está movendo ação cautelar para impedir qualquer operação de entrada de novos sócios na Band.

A ação é movida contra João Carlos Saad, irmão de Marcia e presidente da emissora. João Carlos, Marcia e outros três irmãos tornaram-se herdeiros da emissora em 1999, após a morte do patriarca, João Jorge Saad.

No edital, Marcia afirma que ?chegou ao conhecimento? dela informação de que João Carlos estaria fechando contrato com o Deutsche Bank, autorizando o banco alemão a fazer ofertas internacionais de ações da emissora. Cita também outra operação, com a Eurovest, de renegociação de parte de dívida externa de US$ 100 milhões com possibilidade de aquisição de ações pelos credores.

Afirma Marcia Saad que as operações são irregulares, uma vez que as cotas da sociedade estão arroladas em inventário e não podem ser negociadas sem consentimento dos herdeiros e da Justiça.

Isso quer dizer que a Justiça pode declarar nula, no futuro, qualquer operação que altere a atual sociedade da Band. A assessoria de imprensa da emissora não comentou o assunto.

OUTRO CANAL

Deriva 1

O contrato de Luciano Huck com a TV Globo vence em setembro e ainda não foi renovado. Normalmente, contratos com artistas como Huck são renovados com até um ano de antecedência.

Deriva 2

A audiência do ?Caldeirão do Huck? é instável, mas a Globo não quer abrir mão do apresentador. O problema é que a emissora adotou, no ano passado, política de redução de salários.

Lavanderia 1

Depois de lavarem roupa suja ao vivo, há duas semana, Record e Rede TV! estão levando a disputa pelo terceiro lugar no Ibope vespertino à Justiça. Na semana que vem, a Rede TV! vai impetrar duas ações contra a Record, pedindo indenização e direito de reposta.

Lavanderia 2

A Rede TV! quer ocupar a tela da Record para se defender de acusação, feita no ?Note Anote?, de que o programa ?Canal Aberto? veicula reportagens forjadas, com depoimentos de atores figurantes.

Lavanderia 3

Por seu lado, a Record conseguiu na Justiça bloquear 25% do salário de José Luiz Datena na Rede TV!. O valor cobriria multa contratual de R$ 5 milhões, que Datena passou a dever após deixar a Record. A emissora alega que a saída do apresentador lhe causará prejuízo de mais de R$ 8 milhões."