ELEIÇÕES 2002
“Artistas em xeque”, copyright Folha de S. Paulo, 29/08/02
“A aparição de Raul Cortez na propaganda eleitoral de Serra, na noite de terça-feira, contrariou a direção da Globo e trouxe à tona uma queda de braço entre as TVs e artistas que querem se engajar em campanhas eleitorais.
Cabos eleitorais cobiçados por políticos, famosos enfrentam resistência das emissoras para aceitar propostas de marqueteiros.
Protagonista de ?Esperança?, Raul Cortez teve de interromper as gravações da novela ontem para dar explicações a um diretor, braço direito de Marluce Dias da Silva (diretora-geral da emissora). O ator afirmou ao executivo que não havia dado autorização à equipe de Serra para exibir sua imagem no horário eleitoral.
A propaganda do PSDB mostrou cenas de um jantar com artistas realizado na casa de Raul Cortez, no domingo, em apoio à candidatura tucana. Além da imagem do ator, um locutor da propaganda tucana disse seu nome no ar.
Nelson Biondi, marqueteiro do presidenciável do PSDB, disse que Cortez havia ligado ontem para ele pedindo que sua imagem não fosse usada novamente no horário eleitoral. ?Mostramos [no programa] fatos da agenda de Serra e, no meio disso, estava registrada a festa do Raul. Ele falou comigo. Já pedi desculpas, e não vamos repetir a imagem?, afirmou Biondi.
Atores que estão no ar foram proibidos pela Globo de participar do horário eleitoral e de explorar sua imagem na campanha.
No mesmo programa em que Cortez apareceu, também foi mostrada cena de Regina Duarte abraçando Serra. Ela está em ?Por Amor?, no ?Vale a Pena Ver de Novo?. Como é reprise, a atriz não sabia, na noite de domingo, se podia aparecer no horário eleitoral e afirmou a Serra que iria negociar isso com a direção da emissora. Segundo a Central Globo de Comunicação, não há restrições para quem esteja em reprises.
Quando filmava o evento na casa de Cortez, a equipe de Serra teve dificuldades com globais. Regina Duarte, sua filha, a atriz Gabriela Duarte (que também está em ?Esperança?), e o ator Fulvio Stefanini e Cortez não concordaram em gravar depoimentos.
Artistas da Globo disseram à Folha que sempre tiveram de pedir autorização para o uso da imagem nas eleições. Este ano, no entanto, em que a cobertura eleitoral transformou-se em uma das principais vitrines da empresa, mesmo quem não está no ar está sentindo um clima menos favorável à participação em campanhas.
Na Band e na Record, as regras são semelhantes às da Globo. Os artistas que estão no ar não podem aparecer na propaganda eleitoral. Quem não está tem de pedir autorização e sair de licença para se engajar nas campanhas.
Na Rede TV! não há nada definido. Marcelo Rezende, apresentador do policial ?Repórter Cidadão? recusou convite para participar da propaganda de Serra, segundo a Folha apurou. A recusa, no entanto, não teve relação com restrições da direção do canal, tanto que o jornalista agora estuda proposta para atuar no horário eleitoral de Paulo Maluf (PPB), candidato ao governo de SP.
No SBT, do apresentador Gugu Liberato, um dos âncoras de Serra na TV, não há proibição, desde que ?a marca da emissora não seja usada?. Outro caso de ?engajamento? na emissora é o de Sônia Abrão, apresentadora do ?Falando Francamente?, que já apareceu no horário eleitoral de Maluf.”
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“Globo diz que a preocupação é o personagem”, copyright Folha de S. Paulo, 29/08/02
“Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, diz que a preocupação da emissora é a confusão entre artista e personagem.
?A Globo não pretende nem pode impedir que um cidadão faça política. A nossa preocupação é com a confusão inevitável da imagem de nossos personagens no ar com a do artista pessoa física -que, aliás, em muitos casos é escolhido por isso mesmo. No caso de reprise, não há problema justamente porque não há a confusão com um personagem em evidência?, diz Erlanger.
Isso irá liberar o PT a usar a imagem de Alessandra Negrini em sua propaganda. A atriz, que está no ar na reprise da minissérie ?Engraçadinha?, deve participar de um encontro entre artistas, intelectuais e cientistas em apoio ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, hoje, no Rio de Janeiro.
Outros globais que devem ir à reunião do petista são Andréa Beltrão, Cássia Kiss, Cláudia Abreu, Letícia Sabatella, Renata Sorrah e Tassia Camargo. Todos estão fora das produções exibidas atualmente.”
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“Autores recebem orientação para evitar tema político nas novelas”, copyright Folha de S. Paulo, 29/08/02
“Não é apenas a imagem dos atores que a TV Globo quer deixar bem longe da política no ano em que transformou a cobertura eleitoral em sua grande vitrine. Autores da emissora receberam ?orientação? da direção para evitar temas políticos nas novelas, segundo a Folha apurou.
Em comunicado interno, a Globo determina que ?conforme a legislação eleitoral, os programas de entretenimento (novelas, minisséries, humorísticos e de auditório) não poderão tratar de temas políticos durante o período que se inicia em 1? de julho e se encerrará ao final do processo de eleições. Essa proibição legal inclui temas que tratem de candidatos, partidos ou coligações?.
A regra do papel está pautada na lei eleitoral 9.504/97, que proíbe a TV de ?veicular filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente?.
As determinações, no entanto, foram além do comunicado por escrito, segundo a Folha apurou.
Benedito Ruy Barbosa, de ?Esperança?, recebeu orientação para evitar o foco em assuntos políticos até as eleições. A trama, que se iniciou em 29 e passou pela Revolução Constitucionalista de 32, deve ficar nos anos de 33 e 34 -menos políticos- até as eleições e só entrar na questão do Estado Novo, de 35, em novembro.
Uma fonte ligada à teledramaturgia afirmou que a direção da Globo chegou a manifestar preocupação em relação à imagem que a novela passaria de Getúlio Vargas -usado, principalmente, pelo presidenciável Anthony Garotinho (PSB) na campanha.
A novela das sete que estreou na segunda, ?O Beijo do Vampiro?, sofreu mudanças antes de entrar no ar. Um dos personagens centrais da trama, um prefeito, teve de ser substituído por um promotor. E o autor, Antônio Calmon, afirmou em uma entrevista coletiva que não poderia tratar de política na novela até as eleições.
Ano ideal
A avaliação da Globo é de que este ano eleitoral -com a disputa mais acirrada que em 98- seja ideal para enterrar o prejuízo causado na imagem da emissora pela edição do debate de 89 (em que Collor teve mais espaço que Lula). Há dois anos, uma pesquisa interna detectou que telespectadores ainda apontavam o episódio -de dez anos atrás- como um ponto negativo da empresa.”
“?Siamo tutti liberali?”, copyright Jornal do Brasil, 31/08/02
“O lado belga da Belíndia só tem uma preocupação: a portaria do Contran proibindo aos motoristas o uso do viva-voz e dos fones ligados a celulares. Já o noticiário político-eleitoral vai em outra direção: a convocação de Patrícia Pilar, mulher de Ciro Gomes, para entrar no horário eleitoral e tirar o marido do declínio nas pesquisas.
Deverá pronunciar-se sobre a momentosa questão do viva-voz a charmosa porta-voz do candidato neotrabalhista? E o que pensa ela sobre a compra das plataformas da Petrobras no exterior? Prefere os Mirages da Embraer ou os aviões da sueca Gripen para equipar a FAB? O que terá a dizer sobre o elogio de Lula ao planejamento econômico dos governos militares no mesmo dia em que recebia o apoio de 400 intelectuais e artistas na sua maioria perseguidos e censurados nos 21 anos de chumbo?
Tudo bem, isso é problema do Lula-Light e do peso pesado Delfim Neto, velado guru das esquerdas brasileiras, agora publicamente entronizado como seu inspirador. Patrícia terá razão ao dizer que esse não é assunto da sua competência mas os teleeleitores têm o direito de exigir suas interpretações sobre a exótica ponte Oscar Niemayer-ACM que o marido está construindo para espanto dos comunistas e fascistas puro-sangue.
Cabível que as famílias Jereissati-Gomes tenham mobilizado Patrícia para refazer a imagem de truculência que o marido encarregou-se de espalhar. Então, nesse mesmo plano pessoal, conviria que ela tomasse posição sobre a necessidade de controlar a indústria tabaqueira, evitando que o câncer continue matando tantos fumantes e ex-fumantes. Ela própria foi vitima de um tumor maligno, felizmente tratado a tempo, e o marido assume que fuma um maço por dia. Seu pronunciamento serviria para desfazer os boatos de que a campanha de Ciro está recebendo polpudos apoios do maior fabricante de cigarros no Brasil.
Como o acesso das mulheres à política no Brasil foi tardio, legítimo que tenha sido feito através de relações conjugais. Quando o desbocado Supla declarou aos quatro ventos que a maman Marta seria uma dondoca quatrocentona, se não tivesse casado com o infatigável militante Eduardo Suplicy, constatava uma realidade. Dessas conjunções afetivas podem sair incontestáveis lideranças, embora no caso da prefeita de São Paulo o status quo antes parece ter aflorado na escandalosa aprovação do Plano Diretor da cidade favorecendo o ramo imobiliário.
Patrícia Pillar é bem-vinda ao clube das militantes e das engajadas. Tem fibra e charme para ser aceita e reverenciada. Mas ao decidir pela exposição máxima no palanque eletrônico arrisca-se a ser cobrada. Ao eleitor compenetrado do seu poder de escolha não interessa se José Serra é carrancudo, careca e tem olheiras, como não interessa que Ciro Gomes seja amável e carinhoso na intimidade. O país das telenovelas conseguiu o prodígio de produzir uma candidata à função de Primeira-Dama saída diretamente dos estúdios do Projac, mas tem todo o direito de cobrar algo mais do que banalidades no horário de propaganda eleitoral bancado pelo Erário.
Estamos assistindo à mais mediática campanha sucessória e também à mais civilizada transição de todos os tempos. Os excessos da primeira podem sepultar as conquistas da segunda. O Bem Amado não pode ser reprisado, ao vivo, e levado a sério.
O neoliberalismo, palavrão nos últimos oito anos, foi de repente reabilitado por seus detratores. Banqueiro é bom, indústria farmacêutica é benemérita, o Senhor Mercado é cortejado. O romance Sarney-Lula finalmente resgatou Adam Smith e modernizou as histórias sobre o cangaço político. Agora, para usar o idioma preferido na telinha, siamo tutti liberali.”
“Voto no ar”, copyright O Globo
“1/09/02 – O jornal do amém
O ?Boa Tarde Brasil? é uma bela amostra de pseudo-jornalismo. Era a ponta que faltava na estratégia de comunicação de Serra, que se apóia em paródias de formatos reconhecíveis na música, no showbiz e na teledramaturgia. O jornal eleitoral fecha o círculo.
Valéria Monteiro faz o papel de entrevistadora instigante e ousada. Sua ousadia resume-se: 1) às generalidades. Por exemplo, na entrevista com o KLB, levantar detalhes insignificantes sobre a relação e a personalidade dos integrantes do grupo; 2) a perguntas sobre a plataforma de Serra que transmitem a idéia de que pode haver um real debate sobre a viabilidade de suas propostas. Mas, após fugaz suspense, descobre-se que, do outro lado, não há debate. Sequer um ensaio de viés crítico, uma gotinha de isenção, um espírito de advogado do diabo que possa conferir credibilidade ou formar, a partir do confronto de idéias, uma opinião consistente e plural.
Tudo isso é natural, estamos falando de propaganda. Seria esperar demais dos garotos do KLB (que recebem cachê para tocar nos showmícios, como Chitãozinho e Xororó e Leonardo) um laivo que fosse de impulso dialético, ou da vice Rita Camata, também em campanha, que viesse com elucubrações. Afinal, até um especialista como José Pastore, o primeiro entrevistado da série, em sua análise comparativa do programa de empregos de Serra com os dos outros candidatos, passou a idéia profético-epifânica de que os seus desafios são, desde já, realizações.
30/08/02 – O casal e o ?zé povo?: triângulo amoroso na TV
Seu nome, Patrícia Pillar. Credenciais: é bela, é gentil, é estrela de novela, transmite credibilidade, e sofreu nos últimos tempos. O oposto da imagem que Ciro vem amargando na campanha. Por isso, ela voltou, para defendê-lo da alegada ?conspiração? que, unindo forças políticas e da mídia, expôs o seu destempero.
Pelo que disse Patrícia, Ciro não se excedeu no linguajar nem desrespeitou ninguém. Palavras como ?burro?, ?babaca? e ?mijão? (nesses casos, é preciso repeti-las) são, a julgar pelo discurso de Patrícia, ?força de expressão?. É o preço que se paga pela franqueza. Não há pedido de desculpas. Quando Ciro xinga, é carinho. Como garantia da correção e do espírito pacífico do candidato, Patrícia pôs na mesa de negociações com o teleleitor uma ficha capaz de calar a voz da razão: ?eu o conheci e me apaixonei por ele?.
Patrícia acrescenta: como ela, o povo, quanto mais conhece Ciro, mais gosta dele. Mas, neste difícil momento a relação com o povo passa por uma crise, digamos, cognitiva. É preciso ousar. Ao estabelecer analogia entre seu amor e o amor popular, Patrícia, então, chama o povo a uma parceria quase voyeurística com o casal. O povo a ama. Agora, venha ver como Ciro é amável. Simbolicamente falando, é claro.
A atuação de Patrícia veio salvar Ciro de seu discurso vespertino. Com a voz chorosa, ele acusara mais uma vez os seus inimigos declarados e ocultos. Ciro não podia ser justiceiro e vítima, Zola e Dreyfuss, a uma só vez.
Nesta contra-ofensiva chamou também atenção a estréia da toada que, na parte da tarde, contou a vida de Ciro desde pequerrucho. Sua campanha, pouco inspirada, rendeu-se à estratégia de construir a saga familiar, de que Lula e Serra já usaram e abusaram.
Serra, de quem esperavam-se ataques novos, foi discreto, mas violento: a repetição (só à tarde) da fatídica imagem do xingamento, incluindo a pergunta, mostrou que, editada ou não editada, no contexto ou fora dele, a reação de Ciro é a mesma, e tem igual significado e valor.”
“No Ar”, copyright Folha de S. Paulo
“30/08/02 – Verdades e mentiras
E Ciro Gomes apelou para sua maior arma, Patrícia Pillar. Mas bem que poderia ter evitado o abraço de ACM, imediatamente antes, no horário eleitoral.
Poderia também ter evitado que ela começasse dizendo ser mera ?força de expressão? quando Ciro, segundo os outros, ?não diz a verdade?. A defesa é o que existe de mais ineficaz, em propaganda.
Mas a atriz também foi ao ataque, afirmando que Ciro ?é diferente dos outros políticos?, ?é diferente de tudo que está aí?, enfim, ?é honesto?.
Patrícia, que fechou seu pequeno discurso se dizendo ?mulher? de Ciro, entrou de uma vez no jogo, para o que der e vier. Agora é só esperar, que virá.
Vai ficando claro que Ciro Gomes, em sua estratégia de contrapropaganda, fará com José Serra exatamente o que o tucano fez com ele.
No site de Ciro, está lá o questionamento da ?incoerência? tucana, expressão usada como eufemismo de ?mentira? -a marca que Serra pregou nele. Pergunta-se no site, sobre uma promessa tucana:
– Será que é verdade?
Nos telejornais, a afirmação foi ainda mais direta, da boca do próprio Ciro Gomes, sob controle, em coletiva:
– Serra está faltando com a verdade.
Mas nada se compara, é claro, à abrupta intervenção de Itamar Franco na campanha, chamando Serra de ?mentiroso? e dizendo que ele não apoiou o Plano Real.
Supostamente em aliança com Lula, Itamar fez só repetir o que Ciro vinha dizendo sem parar, contra o tucano.
O mais provável é que seja uma das pequenas vinganças do errático governador -ele que não conseguiu ser o vice de Serra nem a liberação de verbas para seu governo. Mas a declaração veio por demais afinada com a nova estratégia de Ciro para ser coincidência.
Itamar, que diz votar em Lula, parece ter outro candidato no primeiro turno.
Lula nem parece estar em campanha, na verdade. Ele foi ao Bom Dia Brasil, para mais uma das longas entrevistas da Globo, e o ambiente foi estranhamente anódino, a começar das perguntas.
Não que os entrevistadores não tenham tentado. Questionaram o petista duas, até três vezes sobre temas como alianças e falta de preparo, mas ele escorregava -e parecia não haver por que insistir.
É como se a TV aceitasse que ele vai para o segundo turno e, portanto, não há conflito para explorar, agora.
De seu pedestal, Lula sorri, tranqüilo, mas com um olho na taxa de rejeição.
29/08/02 – Fofoca e insinuação
Ciro Gomes, ontem no ?palácio? da Força Sindical, fez bravata e disse que não vai partir para o ataque porque ?em time que está ganhando não se mexe?.
Mais uma metáfora de futebol -e ele deveria se lembrar que a queda no Ibope coincidiu com a derrota da seleção.
Com ou sem futebol, Ciro insistiu que ?as fofocas de que haverá mudanças na estratégia?, de que vai ao ataque, não são verdadeiras.
Mais algumas frases, porém, e o candidato mudou de estratégia ali mesmo.
Chamou a campanha tucana de ?completamente desonesta? e fez uma ?insinuação grave?, no dizer de Boris Casoy, no Jornal da Record.
Ciro disse que conhece Serra ?de mil anos?, todos os seus deslizes. Que não vai falar ?porque não acrescentaria nada? ao país. Mas, é claro, falou assim mesmo, em reprodução do Jornal da Band:
– Eu tenho Ricardo Sérgio, tenho Bierrenbach.
A insinuação era um ataque em si mesma, é evidente, um ataque a ser reproduzido em progressão na TV.
Casoy, de imediato, cobrou que Ciro revele o que sabe, se é que sabe. E assim as penas da contrapropaganda começaram a se espalhar.
E não é só nos telejornais. Quem quiser mais Ciro no ataque é só procurar em seu site. Lá se define um pouco mais a nova estratégia -de atacar Serra, o governista.
No ?palácio? da Força Sindical, ele já falou da ?máquina poderosa do governo usada de forma despudorada?.
No site, trata-se do ministro da Saúde, mais especificamente. Do lado tucano, já se rebate que será perda de tempo, porque a aprovação do candidato como ministro seria muito alta, nas pesquisas internas.
Até para a contrapropaganda é preciso ser competente -saber em que alvo atirar, para não gastar bala à toa.
Mas que o ?governo? é a maior questão de Serra nesta campanha, isso é. Do âncora Renato Machado, ao entrevistar o tucano no Bom Dia Brasil, quando se perguntou sem parar do ?governo?:
– Ser ou não ser governo. Esse é um dilema que acompanha o senhor desde o início da campanha. É bom o presidente aparecer na sua campanha?
E Serra:
– Ele deve aparecer mais.
?Deve?, mas não apareceu mais desde o distante primeiro capítulo da propaganda.
O conflito de Ciro e Serra já se reproduz em São Paulo, entre
Paulo Maluf e Geraldo Alckmin. Como veículo, o horário
dos candidatos a deputado.”
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"3/09/02 À beira de um ataque?
Ciro Gomes e José Serra, com xingamentos de parte a parte, concentraram todo o início do debate, deixando Boris Casoy atônito, temeroso de que os dois trocassem as afrontas por coisa pior.
Isso, no começo -e depois, perto do final. Mas havia algo de grotesco em Ciro jogar ?sórdido? seguidas vezes na cara de Serra; e em este jogar ?mentira? sobre Ciro.
A agressão foi acima de tudo ao telespectador. Daí o sorriso insistente e vitorioso de Lula, o grande favorecido no bate-boca, a ponto de encenar uma bronca em ambos.
Já de início, Lula levantou uma questão inofensiva para Garotinho, que depois fez uma pergunta inofensiva para Lula -deixando as ofensas soltas entre Ciro e Serra, ambos à beira de um ataque.
O tempo cuidou, porém, de dissolver o antagonismo entre Ciro e Serra e deixar evidente o conflito real: a oposição de Lula, Ciro e Garotinho ao governo que apóia Serra.
Do alto de sua experiência em eleições, Alexandre Garcia observava, ontem cedo:
– O princípio básico desta eleição é: fogo em quem se destacar. Foi assim que Garotinho despencou. E que Roseana perdeu a candidatura.
E é assim que Ciro e Serra passam os dias. Presidente interino, Marco Aurélio Mello, primo de Fernando Collor, reagiu na mesma linha:
– Temos que reconhecer que o nível caiu. A quem interessam os ataques?
Interessam a Ciro e Serra, é claro, mas não só para fazer o adversário ?despencar?. Já interessam, ao que parece, até por vingança irracional.
No fim de semana, Ciro chamou Serra de ?covarde? e uma coleção de adjetivos. Serra respondeu pela web que o outro é que é covarde:
– Covarde é quem foi do partido da ditadura, quem bajulava Collor no palácio, quem beija mão de poderoso.
Seria possível cogitar que ambos estavam a se xingar como pugilistas que se encaram antes da luta -o debate.
Mas a coisa atingiu ?nível? que já não permite vislumbrar objetivos eleitorais. E olha que, como diz Garcia:
– Ainda há um longo tempo pela frente e certamente a munição mais pesada está reservada para o fim.
Ele deve saber, já que cobre eleições presidenciais desde 89.
O JN registrou na sexta, mas o mesmo Alexandre Garcia foi o único a comentar o assunto que parece ser tabu para a emissora. Foi ontem. Ele disse que Ciro ?digladia-se com suas próprias palavras com a frase, talvez do inconsciente, sobre o papel mais importante de Patrícia?."