Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Laura Mattos

EMISSORAS FECHADAS

“A primeira rádio fechada no governo Lula”, copyright Folha de S.Paulo, 22/1/03

“Banho de água fria nos defensores de rádios comunitárias: em 14 de janeiro, foi fechada uma estação na cidade de Itabaiana, na Paraíba, pela Polícia Federal e pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Depois da blitz, a Vale do Paraíba FM ganhou o título de ?a primeira rádio fechada no governo Lula?.

A notícia caiu como uma bomba para operadores de comunitárias e ecoou por bate-papos na internet carregada de perplexidade: mas o PT não ia mudar isso?!

Esse susto todo, aliás, era tragédia anunciada. Muita gente que trabalha com rádio comunitária acreditava cegamente que Lula, presidente, iria resolver todos os seus problemas. E mais: que mudaria tudo da noite para o dia.

Na internet, logo após as eleições, os comentários em blogs de discussão de rádio eram recheados de inocência, para dizer o mínimo. O clima era de ?agora vai?.

Uma das razões, claro, é a ligação histórica entre o PT e os primeiros movimentos de defesa das rádios comunitárias do país. Mas aí veio o fechamento da Vale do Paraíba FM. E de outra rádio em Brasília e três em Campos (RJ).

Essas primeiras ?baixas? e, principalmente, a perplexidade que acabaram causando serão os principais focos de discussão do setor no Fórum Mundial Social, em Porto Alegre, a partir de sexta.

?Existia uma grande ilusão em torno do governo Lula e agora muitos estão desiludidos, por conta da repressão e, principalmente, em razão da falta de posicionamento do governo sobre essas questões. No fórum, nossa idéia será tentar canalizar esse descontentamento para aumentar a mobilização?, diz Taís Ladeira, representante da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc) no Brasil.

No fórum, será lançado o movimento ?Liberte nossos Presos?, que defende a liberação de equipamentos de rádios apreendidos pela PF e pela Anatel. Amarc, Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias), a rádio Muda de Campinas, entre outros, pedirão também anistia para pessoas que foram indiciadas por operar rádios sem licença do governo. Haverá ainda uma pressão para que o Ministério das Comunicações agilize os pedidos de autorização para comunitárias.

São debates relevantes, principalmente em início de governo. Mas seria bom que o fórum servisse também para questionar por que alguns chegaram a se assustar com o fato de uma rádio ser fechada no governo Lula. E 14 dias depois da posse. Será que não é hora de buscar um amadurecimento, inclusive, para admitir que nem toda rádio chamada de comunitária é ?do bem??”

“Rússia perde mais uma TV independente, copyright Público, Lisboa, 26/1/03

“O director-geral do canal de televisão independente russa NTV, Boris Jordan, demitiu-se esta semana devido a pressões do principal accionista da estação, a Gazprom, a maior empresa pública de exploração e exportação de gás. Em ano de eleições parlamentares, Putin passa a controlar os três maiores canais televisivos da Rússia.

?Jamais cederei a qualquer tentativa de influir no trabalho da redacção da NTV [televisão independente russa]. Demitir-me-ei logo que isso aconteça?, afirmara Boris Jordan, homem de negócios norte-americano de origem russa, aquando da sua nomeação, em Maio de 2001. Agora, Jordan foi obrigado resignar, depois de ter sido afastado também do lugar de director da ?sub-holding? Gazprom-Média.

A saída de Jordan foi justificada pelo novo dirigente da Gazprom, Alexandre Dibal, com ?divergências quanto à gestão dos negócios?. Mas Jordan considera que ?as verdadeiras causas da demissão vão além da esfera dos negócios?. A Gazprom depende directamente do Kremlin e Vladimir Putin, Presidente da Rússia, não escondia o seu descontentamento com o trabalho daquela televisão.

Boris Jordan foi nomeado director da NTV depois do Kremlin ter confiscado o canal televisivo ao oligarca russo Vladimir Gussinski. Os políticos liberais russos viram nele uma ?marioneta? do Kremlin que tinha por objectivo ?pôr a NTV ao serviço do poder?. Porém, o norte-americano conseguiu manter o colectivo de jornalistas e a independência da NTV em relação ao Kremlin, e transformou-o num canal economicamente rentável e popular entre os russos.

Aquando da tomada do Teatro Dubrovka de Moscovo, em Outubro passado, por terroristas tchetchenos, a cobertura da NTV foi a mais aplaudida no meio jornalístico, mas provocou a ira de Putin. Segundo este, o canal teria começado a transmitir em directo a operação de neutralização dos terroristas, o que pôs em risco a vida dos reféns. A paciência do Kremlin ter-se-á esgotado quando a NTV abordou o tema dos negócios pouco claros entre a Gazprom e o Cazaquistão.”