Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Laura Mattos


CASO ABRAVANEL

"Caso eleva audiência da Globo", copyright Folha de São Paulo, 31/08/01

"A cobertura do sequestro de Silvio Santos quase dobrou a audiência da TV Globo ontem, que cancelou sua programação normal para fazer a cobertura do caso ao vivo, das 9h04 às 14h55.

O interesse por notícias do apresentador fez o número de aparelhos de TV ligados no período da manhã e início da tarde quase dobrar. Ao meio-dia, quando a maioria dos canais transmitia imagens da casa de Silvio Santos, a porcentagem de TVs ligadas subiu de 30 para 56 (cada ponto, segundo o Ibope informou ontem, corresponde a 46 mil domicílios na Grande São Paulo).

O SBT, que também transmitiu o sequestro sem intervalos e colocou Ratinho para fazer comentários do estúdio, não teve grandes alterações na audiência: das 8h às 15h, a média, que havia sido de 11 na quarta-feira, foi de dez ontem, o que é considerado empate técnico (veja ao lado dados preliminares informados pelo Ibope da Grande São Paulo).

Além da Globo e do SBT, Bandeirantes e Record exibiram imagens da casa de Silvio Santos sem cortes, até a sua liberação. Cultura, Rede TV! e Gazeta não cancelaram a programação normal e mostraram flashes do local.

As emissoras deslocaram praticamente toda a equipe jornalística para a porta da casa do empresário e apresentador, no Morumbi.

A Globo enviou ao local 15 equipes de reportagem, cada uma com três pessoas. A emissora fez imagens de seu helicóptero, o Globocop, além de ter na cobertura uma moto-link com microcâmera e cinco unidades móveis de jornalismo, capazes de gerar e editar imagens no local.

A moto-link é uma motocicleta equipada com câmera, que pode, com mais agilidade, seguir outros veículos e transmitir as imagens que são geradas.

A Record usou dois helicópteros na cobertura, Águia Dourada 1 e 2, além de enviar cerca de 50 profissionais ao local, entre repórteres, cinegrafistas e auxiliares.

A Bandeirantes, que não tem helicóptero, alugou um ontem especialmente para a cobertura. A emissora tinha imagens exclusivas da saída da família de Silvio Santos da casa, que foram solicitadas por praticamente todas as concorrentes. A Folha apurou que só foram cedidas ao SBT, por ser a emissora de Silvio Santos.

Espetáculo

A TV Cultura afirmou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, ?não ter interrompido sua programação para ficar direto ao vivo porque a emissora não faz ?novela? com os fatos da vida real?.

Essa é a mesma opinião do sociólogo Laurindo Leal Filho, presidente da ONG TVer. Ele acredita que a cobertura foi transformada em espetáculo. ?Principalmente por ter envolvido uma pessoa que é ícone do espetáculo no Brasil, esse talvez tenha sido o maior exemplo de confusão entre notícia e show na televisão brasileira. É um caso a ser muito debatido e estudado?, afirmou o sociólogo."

 

"TV ligada atrai a atenção no centro", copyright Folha de São Paulo, 31/08/01

"No centro de São Paulo, com os televisores da maioria das lojas de eletrodomésticos desligados por conta do racionamento, os curiosos acompanhavam a transmissão ao vivo do sequestro do apresentador Silvio Santos pelas TVs de bares e lanchonetes.

Na rua Barão de Itapetininga, ao lado do Teatro Municipal, um grupo de pessoas se concentrava ao redor do aparelho instalado na barraca do vendedor de antenas Roberto Luiz Cirilo, que não vendeu nada porque seu propagandista, o locutor J. Ávila, 54, não podia apregoar os produtos.

?Normalmente eu fico falando, mas hoje não tem condições porque está todo mundo ligado no sequestro?, disse Ávila.

O locutor, como muitos que estavam por ali, assumiu o discurso da filha do empresário Patrícia Abravanel e preferiu criticar os políticos e a situação do país, e não os sequestradores.

?Tem que olhar para o problema social. Os políticos estão esquecendo o lado humanitário, só pensam neles. O Brasil está descaminhando para uma Colômbia.?

Os homens-sanduíches, em grande parte aposentados que circulam pelo centro com cartazes presos ao corpo trazendo ofertas de emprego, também acompanhavam o caso. ?O governo devia tomar alguma providência?, disse Ernesto Mendes, 78. ?Isso é muito ruim, e logo com um homem tão bom como o Sílvio.?

O apresentador foi defendido ainda pelo vendedor Alex Pires, 25. ?Ele não tem culpa de ter dinheiro e a gente não ter?, disse.

O vendedor disse não achar, porém, que seja o desemprego a causa. ?Contribui, mas tem gente que não tem emprego e vai catar latinha, vai se virar para sobreviver.?

?Tem gente que é tão pobre e vive honestamente?, concordou a aposentada Wilma Costa, 60.

O barman José Luciê, 22, estava vindo do trabalho e também parou para acompanhar o sequestro pela TV. A opinião era a mesma: ?Acho que tem muita corrupção e faltam oportunidades, porque o povo brasileiro é trabalhador?.

Entre os ouvidos, apenas a aposentada Maria de Jesus Soares, 70, criticou os sequestradores. ?Eles são culpados, isso já vem do berço. Tem gente que nasce ruim, não é o desemprego que torna a pessoa bandido. Se fosse assim, quantos não teriam virado??"

 

"Veículos internacionais deram notícia", copyright Folha de São Paulo, 31/08/01

"A invasão da casa do empresário Silvio Santos e sua libertação foram noticiados simultaneamente ao crime por sites de jornais e de TVs, que usaram materiais de agências internacionais.

A página na internet do ?The New York Times? e a ?CNN.com? publicaram texto da agência de notícias Reuters.

O título colocado na página do ?Times? foi ?Magnata da TV brasileira mantido refém por sequestrador da filha?.

Algumas das expressões usadas na reportagem para descrever a história foram ?reviravolta? e ?drama bizarro?.

?As estações de TV transmitiram ao vivo o cerco à casa de Silvio Santos, um milionário que se tornou um ícone com seu show de variedades aos domingos. Ele tentou se candidatar para a Presidência da República.?

Disse ainda que o crime aconteceu em um momento em que o sequestro está no auge na cidade de São Paulo.

O texto da agência Reuters trazia também uma pequena biografia de Silvio Santos, que começou a vida nos negócios como um vendedor ambulante na cidade do Rio de Janeiro e ?fundou seu império com base nos programas de concurso dominicais, no ar há mais de 30 anos?.

Ao vivo

?Os negócios ficaram com ritmo mais lento no mercado financeiro de São Paulo. Na capital do país, Brasília, uma multidão acompanhou as TVs nas vitrines das lojas para assistir ao drama.?

O empresário também é conhecido por aparecer no bem-sucedido ?Show do Milhão?, diz.

Já o diário ?La Nación?, da Argentina, colocou em seu site texto do correspondente em SP e um texto da Associated Press.

O jornalista argentino Luis Esnal explicou que, por meio da ação criminosa, o sequestrador estava buscando uma garantia de vida com as autoridades.

?Há uma lei não-escrita que sustenta que, após matar policiais, o criminoso não será preso vivo?, disse.

Além desses, noticiaram o crime também ?The Wall Street Journal? (texto da Associated Press), ?Clarín?, a BBC e o ?Público?, de Portugal, entre outros sites de notícias."

 

"Folha respeitou manual e pedido dos familiares", copyright Folha de São Paulo, 31/08/01

"A Folha acompanhou passo a passo todas as investigações e desdobramentos do sequestro de Patrícia Abravanel, filha do apresentador Silvio Santos, desde o dia 21 passado.

A decisão de não publicar nenhuma informação nos dias em que durou o sequestro seguiu regra do ?Manual da Redação? do jornal. Essa norma, que se encontra no verbete ?Razões de segurança?, visa manter a integridade da pessoa envolvida em situação de risco.

O jornal adota como regra somente divulgar informações sobre sequestros após autorização expressa da família do sequestrado ou depois da conclusão do episódio. No caso de Patrícia, a Folha atendeu a um pedido da família para não noticiar o crime. O mesmo procedimento foi rigorosamente adotado em todos os casos anteriores de sequestro."

    
    
                     

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