CELEBRIDADE
“?Celebridade? entra sobre tapete vermelho”, copyright O Estado de S. Paulo, 19/10/03
“Depois de grande marasmo, a TV volta a dar sinais de vida. Este outubro até parece abril, quando começa o ano para as emissoras e, conseqüentemente, a temporada de estréias. Nesta mesma semana, o SBT colocou no ar Canavial de Paixões, uma adaptação nacional de um dramalhão mexicano, enquanto a Globo lançou a novela Celebridade, a série Cidade dos Homens e o humorístico Sexo Frágil.
O Canavial de Silvio Santos abriga exilados da Globo. Vitor Fasano, Cláudia Ohana, Débora Duarte, Oscar Magrini, Jandir Ferrari e Bianca Castanho sustentam a trama de ódios explícitos, maus, muito ruins e bons quase santos. Por mais que pareça anedótico para os padrões brasileiros, o gênero dramalhão tem público garantido. Na estréia registrou média de 12 pontos no ibope (na Grande São Paulo).
Cidade dos Homens e Sexo Frágil pertencem à casta mais nobre da programação da Globo. A segunda temporada do seriado de Fernando Meirelles (diretor do filme Cidade de Deus) é um requinte de produção. De maneira bem-humorada e quase singela, conta a história dos adolescentes Acerola e Laranjinha em um morro carioca. São os mesmos atores (só que mais crescidos) da Cidade dos Homens exibida em 2002, que recebeu o grande prêmio da crítica paulista (APCA).
Uma espécie de Turma do Gueto bem-feita, Cidade dos Homens traz para a grade da Globo o universo da periferia (ou do morro) de uma maneira diferente da usual. No roteiro bem amarrado, a pobreza é pano de fundo e não sujeito, permitindo que os medos e sonhos dos adolescentes movimentem a história.
Sexo Frágil, que substituiu Os Normais, leva o selo de qualidade de ser do núcleo de Guel Arraes, responsável pelo riso inteligente na TV.
Celebridade entrou na programação sobre tapete vermelho. Gilberto Braga provoca sempre esse frisson quando abandona seu período sabático para pegar no pesado. Com raras exceções de desvio de percurso, o público sabe o que esperar de Gilberto: glamour, gente bonita e a vantagem de entrar de graça no mundo dos poderosos. Essa platéia compareceu em peso na estréia da novela e marcou 50 pontos de média no ibope.
O telespectador sabe também o que vai encontrar em cena. Da mesma maneira que os colegas, Gilberto tem sua trupe do coração. Malu Mader, por exemplo, só dá as caras no vídeo para trabalhar em textos dele. Fábio Assunção e Cláudia Abreu também são habitués. O público também reconhece semelhanças das personagens de hoje com as do passado.
A Laura de Cláudia Abreu já mostrou que é tão maquiavélica quanto a Maria de Fátima de Glória Pires (em Vale Tudo). Predisposta ferrenhamente a destruir a protagonista Maria Clara Diniz (Malu Mader) por motivos que só serão revelados Deus sabe quando, Laura é um anjo na opinião da heroína, mas o telespectador já sabe que é uma grande bruaca. A personagem é tão sórdida que promete angariar tanta antipatia quando Marcos de Mulheres Apaixonadas.
Maria Clara é inteligente, simpática e articulada como Éster Delamare de Força de um Desejo, última novela de Gilberto. Carrega nas costas uma família aproveitadora, parece predestinada a envolver-se com os homens mais bonitos do elenco, mas guarda algum segredo.
Aliás, sem segredo não há novela. E Gilberto Braga, com certeza, vai arrastá-lo pelos capítulos como ímã para atrair o telespectador.”
“?Celebridade? trafega entre crítica e cinismo”, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/03
“Quem esperava uma pausa nos dramas da ?vida real? na novela das oito se enganou.
?Celebridade?, a nova novela de Gilberto Braga, que a Rede Globo estreou anteontem, confirma a veia provocativa do autor, hábil na arte de intervir em temas candentes.
No que tange a violência urbana, a nova novela começou dando continuidade a sua antecessora.
Maria Clara (Malu Mader), a heroína de ?Celebridade?, modelo e empresária musical, reforçou, no capítulo de estréia, a campanha dos protagonistas de ?Mulheres Apaixonadas? pelo desarmamento.
Em uma, como na outra, pacifismo combina com repetidas cenas de sacanagem, com pouca ou nenhuma sutileza.
Para compensar o desgaste de ?O Dono do Mundo?, a personagem de Malu Mader desta vez está acima de qualquer suspeita. Mulher independente e bem sucedida, ela defende pedagogicamente a sua liberdade.
O personagem de Alexandre Borges, jornalista consagrado, bêbado e desempregado, promete uma mensagem que combina com a campanha antidrogas de ?O Clone?.
O casal negro, ele fotógrafo, ela modelo de sucesso, segue a linha de ação afirmativa, também compartilhada.
Estilos
É claro que há diferenças e marcas autorais. Mestre nos meandros do glamour carioca, Braga promete colocar o dedo em feridas que mobilizam a indústria da fama, jornalismo, Hollywood e a própria Globo incluídos.
A novela trata dos paradoxos de um mundo que acena com a possibilidade generalizada de ascensão via show business. O tema promete uma profusão de perspectivas.
Celebridade aparece como sinônimo de poder. Não está dada pelo sangue azul, ?de berço?. Merece ser disputada. Justifica ambição, confundida por vezes com vulgaridade e caradura.
Celebridades nem sempre são tão poderosas quanto parecem. Há poderes concentrados em estruturas que pouco aparecem. A celebridade é instável. Vaciladas podem dar em ?desvios?.
Inveja
Em uma sociedade que insiste em negar outros tipos de inclusão, como em um jogo, a celebridade pode garantir ao menos os 15 minutos.
Mas mais que a celebridade, o tema da novela é a inveja que ela desperta nos que não são célebres. Fãs têm um pouco de rivais.
A boa índole da protagonista a torna alvo fácil da agressão, fruto de um misto de fascinação e inveja, que articula o culto às estrelas.
A ação do primeiro capítulo é exemplar: sequestro, perseguição policial, tiroteio, festival de fogos de artifício, incêndio, explosão, lancha e helicóptero.
Como em outras oportunidades, Gilberto Braga atua no fio da navalha entre a crítica moral -que reforça a existência do tapete vermelho, separando o universo dos ?astros? do cotidiano das formiguinhas- e o cinismo que justifica o ?vale tudo?.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
CELEBRIDADE. Quando: seg. a sab., às 20h45, na Globo.”
“Celebridade estréia com 50 pontos de audiência em São Paulo”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 17/10/03
“A novela Celebridade, de Gilberto Braga, com direção de Dennis Carvalho, conseguiu arcar com a responsabilidade de substituir Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, em sua estréia. O primeiro capítulo da novela marcou 50 pontos de média no Ibope em São Paulo, com 71% de participação no Estado.
É mais do que Mulheres Apaixonadas fez ao entrar no ar. Em sua estréia, a última trama de Manoel Carlos obteve 44 pontos de média, em fevereiro. Mas, ao contrário de Celebridade, que pegou um horário com audiência alta, Mulheres Apaixonadas substituiu Esperança, que deixou a faixa das oito após conseguir apenas um fraco desempenho no Ibope.
De todo modo, Gilberto Braga promoveu um festival de cenas fortes em sua estréia. Teve de tudo: romance, ação, crime e a nudez da atriz Deborah Secco, que interpreta uma manicure disposta a se tornar famosa a qualquer preço.”
CANAVIAL DE PAIXÕES
“?Canavial? completa discussão sobre fama”, copyright Folha de S. Paulo, 16/10/03
“Enquanto Gilberto Braga fazia um espalhafato no primeiro capítulo da novela ?Celebridade? (Globo), na segunda-feira, com direito ao pior sequestro da superprodução da TV brasileira, o SBT entrava com o seu bailinho na roça. Era ?Canavial de Paixões?. Uma trama rural mexicana transposta para o mundo caipira de São Paulo.
O teledrama de Silvio Santos completa o da Globo. Não por tratar do mesmo tema, a inveja, como quase todas as novelas do mundo. Mas por mostrar como funciona na vida real a indústria da fama. O SBT reaproveita atores que o Projac já explorou e depois escanteou, como Victor Fasano, Claudia Ohana, Débora Duarte e Oscar Magrini, nem melhores nem piores do que muitos globais com estabilidade no emprego.
O padrão ?Canavial? é a discussão que Gilberto Braga pôs no ar. A novela global exibe Malu Mader, fenômeno de longevidade no mundo dos célebres brasileiros. O SBT fez uma peneira com uma multidão de atores desconhecidos para completar o seu elenco. Com direito aos quase famosos da safra ?reality show?.
Mas o texto mexicano tem uma coisa ótima: a ausência da dita realidade brasileira e do merchandising social, que Manoel Carlos levou às últimas consequências no seu último dramalhão. Em tempo: Gilberto Braga, além do sequestro, também já pôs uma criança aconselhando um pai bebum. Ora, senhores novelistas, vício não é crime, deixem as pessoas se estragarem em paz. Essas campanhas acabam por desumanizar os personagens e a vida.
O enredo de ?Canavial? não tem nada de mexicano. É Shakespeare mesmo. Um ?Romeu e Julieta? agro-industrial, com os filhos de usineiros e canavieiros herdando uma pendenga familiar que trava o amor.
Sem o coloquialismo do texto da novela nacional, percebe-se algum sofrimento dos atores para carregar no drama. Perde na espontaneidade das falas, o que torna tudo mais dramático ainda. Em tempo: Claudia Ohana, desde o filme ?Eréndira? (1983), leva erotismo para onde vai. Seu viço brejeiro, no entanto, carece de mais externas na paisagem verde da cana-de-áçucar.
?Canavial de Paixões? é novela à Glória Magadan, como antigamente. O chato é que tem criança demais. E criança na TV é tão histérica quanto no almoço de domingo na churrascaria.
Canavial de Paixões, Quando: de seg. a sáb., às 21h, no SBT”