Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Leonardo Pimentel

MÍDIA vs. HUGO CHÁVEZ

"Era uma vez um golpe", copyright No. (www.no.com.br), 15/04/02

"Para quem reclamava que a invasão da Palestina havia monopolizado o noticiário internacional, o golpe de fim de semana na Venezuela deve ter sido uma bênção. Mas bênção mesmo, goste-se ou não do presidente Hugo Chavez, foi seu desfecho, tão incomum na América Latina. Como mostra hoje ?O Globo?, Chavez reassumiu o poder três dias após ser derrubado por uma quartelada – o único dado notável desse golpe foi, pela primeira vez, ter prescindido de intermediários e colocado no poder um empresário, Pedro Carmona, que, aliás, já está preso. Chavez afirma que está reassumindo sem sede de vingança e descartou uma caça às bruxas. Uma boa chance de provar isso será julgando Carmona e seus colegas golpistas com transparência e, se possível, observadores da OEA.

De acordo com o ?Estado de S. Paulo?, Carmona dera início às manifestações contra Chavez ao convocar, em dezembro, uma greve patronal contra 49 leis aprovadas pelo presidente contra os interesses do setor empresarial. Segundo ?O Globo?, porém, sindicalistas e políticos que haviam se aliado aos empresários nas manifestações sentiram-se traídos pelo golpe de Estado, o que só se agravou com a decisão de Carmona de fechar o Legislativo e o Judiciário. ?Era como passar de um fascismo de esquerda a um fascismo de direita?, avaliou o analista político Rafael Poleo.

Mas o que pesou mesmo para a volta do presidente ao poder, mostra o ?Jornal do Brasil?, foi a divisão nas Forças Armadas. O comandante da Guarda Nacional venezuelana, Francisco Belisario Landis, admitiu que a força estava ?rachada? entre os que apoiavam Chavez e os que tentaram derrubá-lo. Reunificar o Exército, se possível extirpando os focos de golpismo, vai ser uma tarefa espinhosa.

Segundo o ?Estado de S. Paulo?, a crise na Venezuela teve conseqüências graves para a imprensa, que apoiara majoritariamente o golpe. No domingo, apenas dois dos quatro principais jornais de Caracas circularam, devido a manifestações dos partidários de Chavez, enquanto as TVs passaram o sábado mostrando apenas as falas de Carmona e seus generais, além dos ataques de partidários do presidente a sedes de jornais. Hoje, pelo menos ?El Nacional? e 2001 estavam com suas versões online atualizadas, mas diversos outros ainda não estavam no ar. A violência se manifestou também, mostra ?O Globo?, por meio de saques a lojas.

Não foi dessa vez

Quem não conseguia esconder o descontentamento com a reviravolta venezuelana era o governo americano. Diz ?O Globo? que Washington comemorava discretamente a derrubada de Chavez (aliás, os EUA foram o único país a classificar oficialmente como renúncia sua derrubada) quando chegou a notícia do fracasso do golpe. Como se não bastasse, Condoleezza Rice, chefe do Conselho de Segurança Nacional, foi a TV dizer que o presidente venezuelano estava tendo ?uma segunda chance? para acertar o rumo. Rice, não sei se vocês lembram, é a ?especialista? em relações internacionais que, antes dos atentados de 11 de setembro, previra uma união entre o Talibã e os aiatolás do Irã contra os EUA. Esqueceram de avisar-lhe que por serem respectivamente sunitas e xiitas, os possíveis aliados se odiavam mais que aos EUA, tanto que o Irã deu discretíssimo apoio aos americanos na guerra contra o Talibã. Com uma especialista dessas dá para ver como o governo dos EUA está bem assessorado.

Mal na foto

Quem também fez feio, segundo o ?Estado de S. Paulo?, foi o secretário-geral da OEA, César Graviria, que, contrariando a inclinação da maioria dos países do continente (aliás de todos, fora os EUA), tentou discretamente reconhecer o governo golpista, sendo chamado às falas pelos embaixadores de Barbados e, modéstia à parte, do Brasil.

Bem na foto

Diga-se de passagem, como lembra a ?Folha de S.Paulo? (acesso restrito a assinantes do jornal ou do provedor UOL), a diplomacia brasileira condenou desde o primeiro momento a ruptura da ordem institucional na Venezuela. Por mais críticas que lhe faça (especialmente no episódio dos sapatos), o chanceler Celso Lafer definiu com perfeição a situação: ?Não existe golpe bom ou golpe ruim. Golpe é golpe?, disse.

Mas, voltando ao assunto

A coisa ter esquentado na Venezuela não significa que tenha esfriado na Palestina. O Estadão mostra que, como se previa, a visita secretário de Estado Collin Powell à região não deu muito resultado. Arafat condenou por escrito o terrorismo, mas disse que só combaterá os extremistas depois que Israel retirar suas tropas – até porque deve ser difícil combater qualquer coisa confinado a uma sala. Em Tel Aviv, Ariel Sharon disse que retira as tropas quando concluir a operação. A solução para esse impasse, o envio de Forças de Paz da ONU, vai ser estudada amanhã pelo Conselho de Segurança, mas dificilmente será adotada sem apoio dos EUA.

Enquanto isso, dois textos bastante fortes mostram a situação no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, violentamente atacado por Israel. O ?Jornal do Brasil? reproduz reportagem do jornal inglês ?Independent? (clique aqui para ler a versão original) falando dos relatos sobre morte e destruição, enquanto a ?Folha de S.Paulo? (acesso restrito a assinantes do jornal ou do provedor UOL) traz artigo do enviado especial Clóvis Rossi dizendo que talvez nunca se saiba realmente o que aconteceu em Jenin.

Ainda no assunto: Duramente criticado, inclusive por gente de respeito e com excelentes argumentos, por ter comparado a invasão da Palestina aos campos de concentração, José Saramago voltou a carga neste fim de semana, num artigo que, por ser bem mais ponderado, acabou muito mais contundente. Vale a pena ler. "


 

"Como se armou o golpe contra Chávez", copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 14/04/02

"Hugo Chávez, o homem que enfrentou as elites da Venezuela, sonhou com uma América Latina livre do domínio de Washington e trabalhou para unir os países produtores de petróleo, foi deposto e está preso num quartel. Seu governo foi liquidado pela adesão da maior parte das forças armadas a um apelo ao golpe, lançado pelos principais dirigentes empresariais. Pedro Carmona, líder da conspiração e presidente da federação empresarial mais poderosa (a Fedecamaras) foi feito ?presidente? esta manhã. Horas depois, dissolveu o Congresso e a Suprema Corte. Em todo o mundo, a mídia favorável ao neoliberalismo está procurando disfarçar a quartelada, preferindo falar numa ?pressão irresistível da sociedade civil? contra Chávez. O exame dos fatos não serve apenas para desautorizar esta versão e expor o descompromisso dos meios de comunicação com a democracia. Ele revela que jornais e cadeias de televisão foram os principais articuladores da trama contra o presidente eleito. Um papel especial coube à rede norte-americana CNN.

Chávez estava marcado para cair. Beneficiada por uma concentração de riquezas quase tão brutal quanto a brasileira, acostumada há décadas a viver à sombra das jazidas de petróleo, a elite venezuelana jamais perdoou seus planos de reforma social. Nos últimos meses, sentiu arrefecer a mobilização plebéia que permitiu ao presidente vencer sete eleições em dois anos – e preparou o bote. Desde o final de 2001, diversos membros da cúpula militar pregaram abertamente a deposição de Chávez. Todos foram tratados como heróis pelos jornais. Faltava, porém, a oportunidade para dar a estocada decisiva sem arranhar a fachada de democracia que, segundo José Saramago, recobre as instituições totalitárias de nossas sociedades. Ela começou a surgir há algumas semanas.

Petróleo, velho estopim

Interessado em estreitar seus vínculos com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Chávez demitiu a direção da estatal petroleira PDVSA – a maior empresa em seu ramo no mundo, e a terceira maior fornecedora de óleo aos Estados Unidos. Acusou-a de viver de modo nababesco. Nomeou cinco novos dirigentes. Substituiu o militar reformado que exercia a presidência por um economista identificado com a esquerda. A opção ideológica tinha uma base real. Chávez percebera que a PDVSA funcionava como um ?estado dentro do estado?. Enquanto ele próprio estimulava a OPEP a controlar as vendas do produto, para evitar que os preços continuassem aviltados, a empresa ampliava a produção segundo os interesses dos países importadores. Perseguia sempre uma participação maior nos mercados, sem se importar com o aviltamento dos preços.

A velha direção rebelou-se. Acusou o presidente de fazer nomeções ?políticas? – como se isso fosse um crime ou uma novidade introduzida por Chávez. Recusou-se a deixar o posto, e foi, também ela, tratada pela imprensa como vítima. Recebeu o apoio da Fedecamaras e da Central Venezuela dos Trabalhadores (CVT), cuja tendência a seguir a reboque dos empresários já havia se manifestado muitas vezes no atual governo. Juntos, Fedecamaras e CVT convocaram uma ?greve geral? para 10 de abril.

A orquestração do ?golpe midiático?

A partir desta convocação, a mídia venezuelana e internacional começa a desempenhar seu papel decisivo, primeiro como articuladora do protesto; mais tarde como geradora da onda de boatos que jogará os militares contra Chávez e deixará paralisados seus apoiadores. A participação da imprensa é tão forte que o jornal independente mexicano La Jornada (www.jornada.unam.mx) chega a falar num ?golpe midiático?.

Nove dos dez jornais mais importantes da Venezuela e quatro das cinco cadeias de TV com maior audiência fazem oposição cerrada ao presidente eleito pelo povo. O sociólogo norte-americano Gregory Wilpert, correspondente em Caracas da publicação norte-americana Z-Mag (www.znet.org) relata que nos dias anteriores à greve a mídia contrária ao governo convocou o movimento exaustivamente, em chamadas que se repetiam a cada dez minuntos.

Mesmo com este apoio extraordinário, diz La Jornada, a paralisação não foi maciça. Todo o setor estatal (professores, servidores públicos, controladores dos sistemas de transportes) funcionou, assim como a maior parte do setor privado. Onde houve interrupção do trabalho, continua o jornal mexicano, ela teve muito mais característica de locaute. Os patrões fecharam as portas, os trabalhadores ficaram em casa. Ainda assim, Fedecamaras e CTV prorrogaram a greve geral, provavelmente por terem ambição maior.

Na mídia, Chávez morre antes

O golpe foi consumado quinta-feira, após uma série de fatos novos e em especial de sua deformação pela TV. Sem base em qualquer acontecimento real, as quatro redes que se opõem a Chávez passaram a especular, a partir do início da manhã, sobre a possível desaparicão do presidente, para apresentá-lo como alguém sem apoio e sem coragem. A partir do meio-dia, afirmaram que o Alto Comando Militar havia pedido sua renúncia. Difundiram à náusea os pedidos de renúncia dos opositores. Não deram voz nem imagem a nenhum representante do governo.

Uma passeata oposicionista percorreu as ruas de Caracas. O norte-americano Wilpert relata: ?Eram 100 a 200 mil pessoas [50 mil, para La Jornada]. Foi uma marcha bem sucedida, pacífica, e sem interferência governamental de nenhum tipo, mesmo tendo bloqueado ilegalmente a principal artéria de transporte da cidade, por muitas horas?.

Por volta do meio-dia, os organizadores decidiram desviá-la para o palácio presidencial de Miraflores. A boataria na TV se intensificou. Falou-se em detenção do presidente pelo comando militar, em dissensões cada vez mais amplas nas forças armadas, em greve geral por tempo indeterminado.

Tiros contra os defensores de Chavez

Mais ou menos às 16 horas, ocorreram os incidentes fatais. De última hora, o governo havia convocado, pela TV estatal, seus apoiadores a defender o palácio. Mais de 5 mil pessoas compareceram. Entre eles e os manifestantes anti-Chaves interpuseram-se dois corpos militares: a guarda presidencial e a polícia metropolitana, controlada pelo prefeito Alfredo Peña, de oposição. Houve conflitos. A cerca de 300 metros do palácio presidencial, um grupo de franco-atiradores, situado no topo de edifícios, começou a atirar contra a multidão. Pelo menos dez pessoas morreram e cerca de cem ficaram feridas.

Quem seriam os assassinos? La Jornada dá pistas. Cita Maximilain Averlaiz, um francês que apóia Chávez, está em Caracas e presenciou tudo. Para ele, os tiros foram dirigidos contra os apoiadores de Chávez, por gente ligada à oposição. Wilpert, do Zmag, não chega a tanto: ?é impossível, e a esta altura irrelevante, saber quem atirou primeiro?. Mas também ele frisa: ?A mídia nunca dirá, mas a maior parte dos mortos é constituída de partidários do presidente. Os jornais também não dirão que os franco-atiradores eram membros do grupo Bandera Roja?, que se apresenta como de extrema-esquerda mas esteve desde o início perfilado com a oposição conservadora a Chávez.

Do golpe virtual ao real

Toda a mídia atribuiu imediatamente os assassinatos ao governo, continua Wilpert. Martelada insistentemente, a acusação de ?atentado contra o povo inocente? paralisa os apoiadores de Chávez e atiça o golpe. No final da tarde, são gravadas as imagens de dez membros da cúpula militar que se dizem insubordinados e ?exigem? a renúncia de Chávez. A hierarquia católica pede o mesmo. Ao mesmo tempo, entram em ação os generais Alberto Camacho, chefe da Guarda Nacional e Efrain Vazquez Velazquez, da infantaria. Pelas informações disponíveis até aqui, eles parecem ser os líderes do golpe.

Camacho, que dirige a parte das Forças Armadas com maior mobilidade e experiência em ações urbanas, adere à ?exigência? de renúncia de Chávez. Vazquez Velazquez fala como se fosse o chefe geral das Forças Armadas… e tem o crédito da imprensa internacional.

O noticiário em espanhol da CNN, que também não parou, durante todo o dia, de transmitir a voz da oposição e censurar as falas do governo, transmite imagens em que este impostor prega o golpe: ?O comandante geral do exército é o legítimo comandante de todas as tropas desta força. Ordeno a todos os meus comandantes de batalhões, brigadas e divisão, que são minha fortaleza e da pátria, que permaneçam em suas unidades?…

Até a renúncia é falsa

No meio da tarde, Chávez comete seu erro mais grave. Durante pronunciamento à nação, que apenas a TV estatal transmite, acusa as demais emissoras de violarem a Constituição. Apoiado na Lei 192, anuncia que mandará interromper seus sinais. A ordem é cumprida por pouco tempo. As TVs privadas saem do ar, mas voltam poucas horas depois. O presidente já não controla o Estado. No final da noite, os militares cortarão os sinais da TV pública, para que a unanimidade em favor do golpe seja completa.

Os que tramam contra o presidente eleito agem com cada vez maior liberdade, e os que apóiam o mandato popular estão confusos. À meia-noite, segundo La Jornada, ainda há milhares de partidários de Chávez cercando o Palácio Miraflores e uma centena diante do Forte Tiuna, quartel mais importante da capital, e da base aérea de La Carlota. Mas eles não sabem o que fazer. Entre a noite e a madrugada, os três locais são cercados por golpistas. O presidente permanece o tempo todo no palácio, certamente na tentativa de articular algum apoio militar. Por volta das 3h da madrugada de sexta, o verdadeiro chefe das Forças Armadas, Lucas Rincon, afirmou que o chefe de Estado decidira pela renúncia. Mesmo a verocidade desta informação é questionável. Na noite de sexta-feira, o fiscal-geral da Venezuela garantiu à Agência EFE que Chávez havia se recusado a renunciar. O certo é que foi preso nas primeiras horas da manhã, e conduzido para Forte Tiuna.

Por que a elite odeia Chávez

Gregory Wilpert resume, num parágrafo, os motivos que levaram a elite a destilar contra o presidente tanto ódio. Ele convocou a Assembléia que ?escreveu uma das constituições mais progressistas do mundo e quebrou o monopólio de poder de dois partidos corruptos e desacreditados; introduziu a reforma agrária; financiou numerosos projetos de desenvolvimento comunitário e ambiental; promoveu uma reforma educacional que levou à escola, pela primeira vez, um milhão de crianças; dobrou o investimento em Educação; regulamentou a economia informal para reduzir a insegurança dos pobres; lutou por um preço melhor para o petróleo, principal riqueza natural do país; batalhou incansavelmente, no plano internacional, contra o neoliberalismo; reduziu o desemprego de 18% para 13%; introduziu em grande programa de microcrédito, voltado especialmente para os mais pobres e as mulheres; reformou o sistema tributário e atacou drasticamente a sonegação; reduziu a mortalidade infantil de 21 para 17 por mil ao ano.

Detestado pelas elites, não foi, contudo, capaz de reverter a desorganização secular da sociedade venezuelana – e, portanto, de mobilizar o povo de forma orgânica e integradora. Exímio comunicador, teve no início de seu mandato índices de aprovação próximos a 80%. Promoveu uma ampla reforma política, que livrou em boa medida as instituições venezuelanas dos corruptos que a controlavam. Mas herdou de Bolívar, além do sonho da Pátria Grande, o estilo caudilhesco. ?Esse modo de ser afastou muitos dos seus antigos apoiadores. Quando alguém se opunha a suas idéias, o presidente era tentado a rejeitá-lo e afastá-lo de seu círculo de governo?, testemunha Wilpert. Ele também crê que faltou a Chávez articular, além dos setores mais pobres, uma parte da classe média que fosse capaz de ?desenvolver uma cultura bolivarianista civil, e de conquistar apoio internacional?.

Quando Washington sorri

Desencastelada do governo e do parlamento, a elite continuou, no entanto, a exercer o poder através das grandes empresas e de seus laços com o exterior, dos sindicatos burocratizados, dos militares conservadores, da cúpula da igreja, em especial da mídia.Teve a retaguarda de Washington, confirmada, horas depois da quartelada, pelas declarações de júbilo do secretário de Imprensa dos EUA, Ari Fleischer. Os donos do poder ficarm à espreita e golpearam no momento certo. A queda dos preços do petróleo, no ano passado, debilitou a economia e tornou mais distante, para a massa de excluídos, a esperança de conquistar vida digna. Chávez tentou uma saída para frente: propôs um conjunto de 39 novas leis reformadoras. Seus índices de aprovação, contudo, haviam caído para 30% (semelhantes à rejeição). Patrões e sindicatos pelegos aproveitaram para promover um primeiro locaute-greve.

A deposição do presidente é um golpe contra toda a América Latina. Ressuscita alguns medos atávicos: há limites para os povos e os governos; quem fere os interesses dos poderosos e dos EUA deve esperar pelo pior; é preciso censurar os sonhos. Mas Chávez e sua obra permanecem vivos. Ao tentar reverter suas conquistas, ao girar para trás a roda da história, as elites serão obrigadas a expor sua face mais retrógrada. Em todo o mundo, também não será possível esconder por muito tempo que se praticou no dia 11 um atentado contra a soberania popular – e são co-autores os que deveriam, em tese, garantir o direito à informação. Para os que lutam por um mundo e uma América Latina novos se abrirá, em que pese a dor de agora, um amplo espaço para denunciar os poderosos e o Império que os ampara; e, ainda mais importante, para propor uma democracia e uma imprensa radicalmente novas e verdadeiramente controladas pelos cidadãos.