CORÉIA DO NORTE
O ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-il, antes de assumir o cargo do pai em 1994, na primeira transição hereditária comunista de poder, desempenhou importante papel no jornalismo, segundo o exagerado aparato de culto à imagem que lhe atribui inúmeras habilidades. Suas façanhas jornalísticas podem ser conferidas num livro de 170 páginas publicado em 1983, em inglês e espanhol, que ainda está à venda em pelos menos uma livraria da capital Pyongyang.
O grande professor dos jornalistas é uma espécie de "manual de redação" do líder coreano. Segundo Christopher Torchia, da AP [24/9/02], há fortes suspeitas de que Kim jamais tenha se dedicado à prática diária do jornalismo. Mesmo assim, ler suas dicas e feitos pode ser pelo menos divertido. As habilidades do Kim jornalista são de fazer inveja a qualquer profissional. Ele transformava cinco parágrafos em uma linha sem dificuldade e escrevia em apenas meio dia o que um mero mortal demoraria duas semanas para compor.
Em um dos episódios de O grande professor, Kim mostra a importância da apuração in loco. O líder leva um jornalista que está acostumado a escrever matérias somente pelo telefone através de um rio inundado para contar pessoalmente quantos pés há numa determinada plantação de pimenta. O mestre ensina: "Camarada jornalista, você tem que ver as coisas antes de escrever artigos. De outro modo, pode dizer coisas erradas". A lição sobre a prioridade do conteúdo jornalístico também é interessante: "Mesmo que esteja descrevendo uma paisagem ou um modo de vida, você nunca deve dar importância àquilo em si, mas sim subordinar o assunto ao conteúdo ideológico do artigo".
Desde a publicação do livro, pouco mudou no jornalismo norte-coreano, controlado pelo Estado. O conceito de quarto poder e a liberdade de imprensa não existem por ali. As atuais reformas políticas e econômicas do governo são um mistério para os 22 milhões de habitantes do país.