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INTERNET EM CRISE
"Cidade Internet demite 30 de seus 120 funcionários", copyright Valor Econômico, 1/02/01
"O Cidade Internet, versão brasileira do portal argentino Ciudad.com, do Grupo Clarín, não resistiu à instabilidade do mercado pontocom. Seis meses depois de sua chegada ao país, a empresa anunciou a demissão de 30 dos 120 funcionários.
Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, a companhia informou que ‘a medida é resultado da revisão de projetos da operação, visando concentrar esforços em produção de conteúdo interativo e multimídia’.
Com os cortes, que atingiram 14 funcionários da área de conteúdo, cinco de tecnologia, três de comércio eletrônico e o restante de outros departamentos, serão desativadas as seções ZonaTech, Diversão e Só Games.
A reestruturação está sendo comandada pelo gerente-geral regional da Prima, Alejandro Mondrzak, que veio ao país para fazer a reestruturação do portal. A Prima é o braço de tecnologia do grupo Clarín que, curiosamente, recebeu recentemente um aporte de US$ 75 milhões do Banco Provícia para investir na expansão na América Latina.
Analistas do mercado avaliam que o Cidade Internet, lançado em julho de 2000, chegou tarde ao mercado brasileiro e em um momento que a crise começava a se agravar no mercado de internet. O portal chegou a oferecer acesso grátis para atrair tráfego, mas como aconteceu com outros provedores, acabou desativando o serviço, passando a cobrar dos usuários. Segundo a empresa, desde julho o portal registrou 500 mil usuários e vem crescendo 8% ao mês.
Na época do lançamento, o grupo Clarín anunciou investimento de US$ 140 milhões, e que estava chegando para brigar com os grandes portais brasileiros. Chegou a se associar ao jornal carioca O Dia, que desembolsou US$ 20 milhões por 10% da operação brasileira.
Na semana passada, o mercado já especulava sobre uma possível mudança nos planos do portal, quando o diretor de conteúdo, João Cury, área onde os cortes foram mais fortes, pediu demissão do cargo. Mondrzak e Vivien Rosso, responsável pela operação brasileira, continuam no comando do portal."
"Dinheiro prometido para Internet não cai na rede", copyright O Estado de S. Paulo, 2/02/01
"Mais da metade dos investimentos anunciados para as empresas pontocom ao longo de 2000 não foi efetivamente realizada até o fim do ano, e com o desempenho dos sites e portais muito aquém dos previstos antes da derrocada da Nasdaq, eles podem nunca vir a ocorrer.
O presidente do braço brasileiro da empresa de desenvolvimento de sites Lumina Americas, Paulo Puterman, chega a arriscar um número para dimensionar o tamanho desse capital na rede. Ele afirma que os investimentos do chamado capital de risco nas empresas de Internet no País não devem ter ultrapassado a casa dos US$ 100 milhões em 2000. ‘O Brasil não é os Estados Unidos. Não houve ciranda financeira e o gresso dos investimentos em Internet veio de empresas reais, como as Lojas Americanas na Americanas.com’, afirma.
Na avaliação de Puterman, nenhum fundo profissional chegou a perder dinheiro com sites no Brasil, como aconteceu no mercado norte-americano. ‘Tudo foi superestimado por aqui na hora de anunciar investimentos, mas dinheiro mesmo entrou pouco’, acredita.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas e divulgada em dezembro pela Associação Brasileira de Capital de Risco (ABCR) mostra que, no ano passado, fundos e incubadoras dispunham de US$ 2,1 bilhões para investir em tecnologia no País. Deste total, US$ 747 milhões foram comprometidos, mas as empresas exclusivamente de Internet ficaram com menos da metade do bolo, e nada garante que essa parte tenha sido gasta em 2000.
‘Os fundos nunca liberam todo o dinheiro de uma vez. São três ou quatro desembolsos, feitos por etapas, às vezes vinculados aos resultados das empresas’, diz Luciane Gorgulho, chefe do Departamento de Desenvolvimento de Novos Negócios da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão federal patrocinador da pesquisa da ABCR.
Um caso ilustrativo é o da Rio Bravo, empresa que investe em projetos de novas tecnologias. Do montante contabilizado como investido em 2000, a empresa desembolsou de fato, até agora, cerca de 40%, segundo o diretor Luís Eugênio Junqueira Figueiredo. ‘Mas está tudo correndo conforme o planejado’, explica, ressalvando que os investimentos estão direcionados, em sua maioria, para projetos de desenvolvimento de softwares para Internet e redes privadas – intranets e extranets.
Os executivos pontocom têm procurado gastar com mais parcimônia recursos obtidos em tempos de vacas gordas. ‘Começamos a preparar o site, no início de 2000, com US$ 30 milhões para utilizar em cerca de um ano, e de fato gastamos boa parte antes de perceber que as coisas haviam mudado. Hoje temos uma estrutura mais enxuta e nos focamos em resultados concretos’, afirma o presidente do site de comércio eletrônico Fera.com, Cláudio Laniado.
Falsos anúncios – O analista de um grande fundo de investimentos, que prefere não se identificar, afirma que o mercado de Internet testemunhou, no ano passado, anúncios de investimentos e aportes de capital que sequer haviam sido levantados. ‘O melhor meio de amedrontar a concorrência, em novos nichos de mercado, é divulgar investimentos pesados.
Para fazer isso, muitos sites torraram em publicidade quase tudo o que conseguiram, esperando obter mais a partir da imagem criada’, conta. ‘Alguns tiveram êxito e outros morreram na praia, surpreendendo acionistas e funcionários.’
Segundo ele, houve drástica redução no número de empreendedores que procuravam o fundo em busca de recursos para negócios na Web. ‘Recebemos cerca de 10% do número de `business plans’ que eram enviados até setembro do ano passado’, diz. Ao longo de 2001, segundo ele, os investimentos em Internet vão se manter, mas a verdadeira briga será entre os sites consolidados, restando aos pequenos a união ou a morte prematura."
"Para consultor, capital de risco não pode ser considerado receita", copyright Folha de S. Paulo, 2/02/01
"Para o gerente de Pesquisas em Internet do instituto IDC, Mauro Peres, há bastante liquidez no mercado virtual, mas este ano será marcado por um grande número de fusões e aquisições entre as pontocom. A opinião é compartilhada pelo presidente da ITC Ventures, Índio Brasileiro Guerra Neto, para quem as empresas de Internet brasileiras não devem ficar à mercê do capital de risco. ‘Captação de investimento não é, nem nunca foi, receita’, afirma. ‘De Internet ou não, uma empresa é feita para dar lucro, e parece que só agora o mercado virtual começou a dar conta dessa simples realidade.’
Segundo Guerra Neto, este ano será marcado por associações entre empreendedores virtuais e, principalmente, destes com empresários tradicionais, interessados em levar seus negócios para a rede mundial de computadores. ‘São as empresas tradicionais que possuem fôlego para investir e esperar até que o B2B (sigla para os transações eletrônicas de compra e venda entre empresas) esteja bem definido’, diz. ‘Mas uma alternativa que pode ser viável para pequenos sites que se vêm sufocados em sua área de atuação é a união com outros de mesmo porte, para se tornarem uma marca realmente competitiva num mercado em que os peixes grandes têm mais chances de sobrevivência.’
O executivo prevê também um crescimento muito grande para a Web no Brasil, que poderá ser aproveitado pelas empresas que conseguirem manter o foco das atividades e sobreviver aos momentos de euforia e retração do mercado. ‘Só 6% da população brasileira está conectada à rede, mas em breve esse índice será suficiente para o amadurecimento dos negócios na Internet’, afirma Guerra Neto.
A expectativa realista não quer dizer, porém, que não haja crescimento na rede. Os números do IDC mostram que a Internet brasileira ainda vai crescer muito este ano e deverá movimentar, apenas com o comércio eletrônico, US$ 3 bilhões, ante US$ 1,2 bilhão no ano passado. ‘O mercado só tende a crescer.
Mas o problema é que ainda assim o bolo não será suficiente para todos’, afirma o gerente de Pesquisas em Internet do instituto, Mauro Peres.
De acordo com ele, as boas notícias vêm do fato de que os investimentos tendem a aumentar na mesma proporção em que crescem a base de usuários, a publicidade on-line e a segurança nas transações. Em contrapartida, Peres lembra que haverá, em cada área de atuação, espaço para a consolidação de no máximo três empresas. ‘No ano passado, o que vimos foi o surgimento de quase 40 sites para cada segmento, o que é completamente inviável’, diz."
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