Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

LM


CONGRESSO vs. BAIXO NÍVEL


"Câmara propõe boicote a programa de TV ?trash?", copyright Folha de S. Paulo, 12/7/02

"A Comissão de Direitos Humanos da Câmara aprovou anteontem uma campanha para incentivar o telespectador a não comprar produtos de empresas que anunciarem em programas ?de baixo nível?.

Com o slogan ?Quem financia a baixaria é contra a cidadania?, a campanha será lançada em agosto. O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), autor da proposta e presidente da comissão, tenta o apoio de ONGs e outras entidades para a divulgação e a criação de um site. Na internet, haverá uma lista dos programas de TV que ?sistematicamente atuam contra a sociedade? e o nome dos patrocinadores.

A idéia não foi bem aceita pela Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade). ?Achamos isso discutível. O Congresso costuma se isolar e não pedir a opinião das entidades envolvidas na questão?, afirma Décio Vômero, diretor-executivo da entidade.

No México, esse tipo de pressão do telespectador quase inviabilizou a estréia de ?Big Brother?, na Televisa, no início deste ano. Pressionados pela Igreja e por ONGs que defendem a qualidade na TV, grandes empresas, como Pepsi e a Colgate, se recusaram a anunciar no programa. Só depois de muita negociação, a emissora conseguiu a adesão de alguns anunciantes.

OUTRO CANAL

Cavalheiros

O acordo é assim: Kajuru não fala mal da Rede TV! por uma semana e a emissora entrega a ele uma carta que o isenta do pagamento da multa de R$ 5 milhões por rescisão de contrato. E mais: o apresentador também não pode assinar com a Record.

Novela

Na entrevista que deu anteontem à GloboNews, Serra deixou ainda mais claro que a decisão sobre o padrão de TV digital a ser adotado no país deve ficar para o próximo governo. Disse que, se presidente, dará prioridade aos aspectos econômicos. Sem dinheiro para a digitalização, as TVs nem reclamam mais do atraso.

Rescaldo

Para Gugu, a queda no ibope que vem sendo registrada no ?Domingo Legal? está ligada ao uso de ?O Clone? e da Copa pelo Faustão. Depois de amanhã, então, é dia de ?guerra? sem álibi.

Tempo real

O nome de Marlene Mattos, que rompeu com Xuxa há duas semanas, ainda está no Portal X, site da apresentadora, como diretora da Xuxa Produções e empresária da loira ?até hoje?.

Custo irreal

Na artilharia que se criou entre as duas depois do rompimento, há uma
nova versão para a separação: Xuxa não queria adaptar
seus gastos pessoais à recente redução de sua receita."

 


"Bandeira contra a baixaria na TV", copyright O Estado de S. Paulo, 13/7/02

"A Câmara dos Deputados vai lançar uma campanha para acabar com a baixaria na TV. Com o slogan ?Quem financia a baixaria é contra a cidadania?, a Comissão de Direitos Humanos vai encabeçar, a partir de agosto, um movimento contra a má qualidade da programação de emissoras de todo o País. A idéia é incentivar os consumidores a não comprarem produtos das empresas que patrocinam esses programas.

O pontapé inicial na campanha será dado com o lançamento
de um site na internet, contendo a avaliação por notas das atrações
trash – que estimulam a violência e expõem a vida das pessoas –
e informando o nome da empresa que patrocina esses programas."

 


BAIXO NÍVEL DISSEMINADO


"É inútil mudar de canal?", copyright O Estado de S. Paulo, 14/7/02

"O casamento milionário da filha do cantor Chitãozinho. A noiva do cantor Belo, que posou nua novamente, chorando que ele é inocente. A briga do ator Thierry Figueira com sua ex-namorada e protagonista da trama das 8 da Globo, Priscila Fantim. Os jogadores Denilson e Roberto Carlos falando sobre a emoção do pentacampeonato. Você já viu isso antes, mas não sabe onde? Em todos os canais de TV.

A falta de assunto, ou melhor, a exploração à exaustão do mesmo tema, tomou conta da TV, principalmente quando o assunto é fofoca. Que o digam os programas femininos. As receitas de salpicão de frango e cuscuz diet foram jogadas para escanteio, dando lugar a qualquer mexerico do show biz. Basta um caso de adultério, um pedido de pensão, uma sessão de pancadaria – claro, envolvendo famosos – para que a mesma futrica tome conta da pauta de todos esses programas. Vale tudo para esmiuçar o assunto, até não sobrar nenhuma pontinha, nem da paciência do telespectador.

Denilson, Roberto Carlos e os Ronaldinhos estão há duas semanas – desde a conquista do pentacampeonato – passeando por todas as atrações. De Luciana Gimenez , na Rede TV!, a Gugu, no SBT, não há onde os jogadores não tenham falado de Copa do Mundo. Com as imagens do casamento de Aline, filha de Chitãozinho, e um episódio envolvendo uma cantora que desmarcou o casamento porque teria sofrido agressões do noivo na véspera, também foi assim. De Claudete Troiano, do Note e Anote (Record), ao Melhor da Tarde (Band), todos botaram a colher e mais de um ousou inserir na tela a tarja ?exclusivo?. No pacote, estão ainda A Casa é Sua, Superpop e TV Fama (RedeTV!), Hebe (SBT), Domingão do Faustão (Globo), Mulheres (Gazeta), Falando Francamente e Domingo Legal (SBT).

Escassez de idéias, guerra pela audiência ou medo de perder o assunto do momento: se falta criatividade, sobram motivos para a repetição de temas e entrevistados na TV, acentuando a crise de identidade entre esses programas, que por si só já se assemelham.

Foi assim com o drama do ex-polegar Rafael e suas sucessivas recaídas nas drogas, com os casos das filhas bastardas de Pelé, a confusão de Vanderlei Luxemburgo e sua ex-secretária Renata Alves, o pai de Cássia Eller, Altair Eller, querendo a guarda do neto. Basta surgir um caso polêmico no ar – alguns bem banais, como a gravidez de Simony de um rapper preso no Carandiru – para todas as câmeras correrem atrás.

?Às vezes, fico na dúvida a qual desses programas femininos estou vendo. Imagine o público??, brinca o diretor do Domingo Legal, Roberto Manzoni.

O diretor do programa Falando Francamente, de Sônia Abrão, no SBT, Elias Abrão, guarda a sete chaves várias fitas gravadas com os famosos em evidência da semana. ?Sempre temos vários VTs na manga. Se o Denílson está dando audiência para a concorrente, colocamos a fita com ele. Não tem como não entrar no assunto?, explica.

Quando o time está ganhando, Abrão não ousa mudar a pauta. Na última quarta-feira, ele foi o único que conseguiu levar o ex-noivo de Gretchen para a TV. Apesar de ter mais duas matérias prontas para o dia, não arriscou perder a audiência e permaneceu durante as 2h15 de programa com o entrevistado. ?Foi um estouro, chegamos a ficar com 11 pontos no Ibope?, comemora.

Com tantas variações do mesmo tema, Abrão acha conveniente não repetir o assunto por mais de uma semana. ?É tempo suficiente para esgotar a conversa.?

Vazamento – Para conseguir sair na frente das outras emissoras, Sônia não divulga para sua equipe as atrações. ?É muito fácil vazar informação, por isso converso apenas com a Sônia.?

O diretor do Domingão do Faustão, da Globo, Maurício Sherman, também teme a divulgação de pautas. ?Tenho de passar para a Globo na quinta-feira quem virá no programa de domingo, para anunciar nas chamadas, mas chego a pensar três vezes antes de falar?, diz Sherman. Ele assume que chega a levar atrações no Domingão que passaram a semana toda em outros programas, mas alega que usa outro enfoque. Para Sherman, assuntos do momento não podem ser ignorados. ?Temos quadros fixos como Arquivo Confidencial, que nos possibilita dar outra cara à participação daquele convidado. Se no meu contexto aquela atração está protegida, tudo bem repetir?, continua. ?O julgamento fica a critério do público, que não é burro. Sabe quem fez primeiro ou quem fez melhor.?

Para o seu concorrente, o diretor de Gugu, Roberto Manzoni, no festival da mesmice, ganha quem chegar na frente. Na guerra pelas atrações que dão audiência – já foi pior, há dois anos, quando Gugu e Faustão se matavam por sertanejos e pagodeiros -, Manzoni conta que guarda várias cartas na manga, para rebater exclusividades do concorrente. ?Já cheguei a colocar no ar um show gravado de Sandy & Junior na frente da aparição deles ao vivo no Faustão e vencemos em audiência?, conta o diretor. ?Também já aconteceu o contrário. Tínhamos uma atração ao vivo no Gugu e, no mesmo dia, o concorrente tinha um arquivo confidencial com o mesmo artista. O que vale aí é a sensibilidade para escolher o momento certo de colocar no ar a atração.?

O diretor concorda que os programas se repetem muito, mas, como Sherman, justifica que não há como ignorar assuntos do momento, em geral, fofocas que caíram na boca do povo a semana toda. ?A culpa não é só dos programas, fazemos também o que o público quer ver?, argumenta Manzoni. ?Quando alguma coisa polêmica acontece, o telespectador fica esperando para ver o que Gugu tem para mostrar sobre o assunto no domingo. Foi assim com o Rafael ex-Polegar, quando o Alexandre Pires atropelou aquele rapaz, quando o Belo foi indiciado e quando houve a megarrebelião nos presídios. Se passarmos batido por um assunto que está em alta, parece que vivemos em outro planeta.?

Concorrência interna – Entre programas da mesma emissora, a repetição de atrações costuma ser evitada de diferentes maneiras. ?Os diretores da Globo, principalmente os das atrações que vão ao ar no mesmo dia, costumam conversar para trocar idéias e não repetir pautas?, conta Sherman, do Faustão. ?No domingo do pentacampeonato, combinei com a Marlene Mattos que, se o Brasil ganhasse, a Xuxa entraria ao vivo com várias atrações, e o Faustão aproveitaria os mesmos convidados. Se perdesse, ela colocaria no ar um programa gravado e o Faustão ficaria com os convidados?, conta. ?Como era festa, valia tudo.?

No SBT, as produções costumam divulgar com antecipação memorandos internos com os convidados dos programas. ?É horrível quando o artista aparece no mesmo dia, em vários programas na mesma emissora. Já vi eles fazerem isso até com a mesma roupa?, diz Manzoni.

?Já cheguei a cancelar convidados porque descobri que o artista iria fazer um tour pelas outras atrações?, conta a diretora do Hebe, Simone Lopes. ?O problema é que vamos ao ar na segunda-feira, quando as coisas começam a acontecer. Não podemos ficar rebatendo assunto explorado por todos a semana inteira, o telespectador já está cansado.?

Mesmo assim, Simone diz que quando não há como fugir da repetição, aposta no perfil diferenciado da apresentadora, que torna a participação de qualquer convidado diferente de todas as outras. ?Ela sempre tem um comentário, uma pergunta, uma brincadeirinha a mais. Mesmo assim, evitamos o que já foi muito pulverizado.?

Neste mar de repetições e obviedade, há também quem tente sair pela tangente. A diretora do programa Mulheres, da TV Gazeta, Sandra Barbosa, acredita que arrumou uma boa maneira de divulgar as fofocas sem levar o causador da própria para a TV. ?Temos nossa nona italiana, a mama Bruschetta, que tem a liberdade de comentar todas as notícias. Não ignoramos a informação, mas a divulgamos com critério?, garante. A liberdade da nona é tamanha, que ela também comenta as declarações dos entrevistados que, muitas vezes, estão ao vivo no programa da concorrente. Também tem como recurso ler as notícias sobre o assunto em sites, revistas, colunas de jornais, com uma interpretação diferenciada, coisa que Sônia Abrão (SBT), Nelson Rubens (RedeTV!), Leão Lobo (Band) fazem também. Ah, nisso também não se sabe quem copiou quem."