Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Lourival Sant’anna

VENEZUELA

"Em crise, mídia deixa de noticiar acontecimentos", copyright O Estado de S. Paulo, 15/04/02

"Os acontecimentos do sábado agravaram a já deteriorada situação dos meios de comunicação venezuelanos, acossados pelo governo de Hugo Chávez e em crise de credibilidade.

Durante toda a tarde e início da noite, enquanto os fatos evoluíam de maneira dramática, com a retomada do Palácio Miraflores pelos colaboradores de Chávez, os três principais canais de televisão privados e a maioria das emissoras de rádio não noticiavam o que se passava na sede do governo.

As emissoras RCTV, Venevisón e Globovisión, tiradas do ar por Chávez na quinta-feira, e que voltaram a transmitir depois de sua queda, cobriam apenas as declarações do presidente interino, Pedro Carmona, e dos comandantes das Forças Armadas, no Forte Tiuna. E mostravam também seu próprio infortúnio: as sedes dos três canais foram cercadas por simpatizantes de Chávez, que apedrejaram e picharam a entrada dos prédios. A Polícia Metropolitana impediu que eles invadissem os estúdios.

Os dois principais jornais, El Universal e El Nacional, não circularam ontem. Os jornalistas deixaram as redações, alegando falta de segurança para trabalhar. El Nacional promoveu no sábado, na Praça Altamira, um abaixo-assinado contra a violência à imprensa.

Já a emissora estatal VTV, cujos funcionários se retiraram depois da queda de Chávez, alegando falta de segurança, retomou as transmissões no sábado à noite, com mensagens de apoio ao presidente deposto.

Os principais meios de comunicação locais justificaram a falta de cobertura do que se passava em Miraflores alegando que seus repórteres corriam riscos. De fato, alguns simpatizantes de Chávez abordavam os jornalistas com hostilidade, e se acalmavam quando constatavam que se tratava de enviados estrangeiros. Mas as agências de notícias internacionais e a rede de TV americana CNN cobriram os fatos.

A imprensa estrangeira emergiu como heroína para os simpatizantes de Chávez, por ter sido a única que noticiou o que aconteceu em Miraflores.

A notícia do abandono do palácio pelos membros do governo interino contribuiu para a mobilização dos colaboradores de Chávez.

O presidente iniciou seu pronunciamento na madrugada de ontem agradecendo à imprensa estrangeira, sob aplausos intensos da platéia de integrantes do governo e militantes. Chávez fez também uma advertência aos meios de comunicação locais, de que terão de ?emendar-se?.

?Se não fosse pelos jornalistas internacionais…?, comentava ontem o médico Juan Carlos Marcano, que levou sua filha Maidi, de 4 anos, para a frente do palácio, com um cartaz em que agradecia à CNN.

?Nosso problema não é com os jornalistas. Isso também foi manipulado aqui?, disse o médico. ?A parcialidade dos meios de comunicação também foi responsável pelo que aconteceu aqui. O povo saía às ruas e se sentia impotente, porque não era ouvido.?"

 

"Diretores de TV negam complô da mídia contra regime chavista", copyright O Estado de S. Paulo, 17/04/02

"?Não conspiramos, não queremos conspirar, não vamos conspirar, não sabemos conspirar?, assegurou ontem o proprietário da emissora de TV venezuelana Venevisión, Gustavo Cisneros. O governo de Hugo Chávez acusa os meios de comunicação de difundir abundante informação sobre sua deposição, na madrugada de sexta-feira, e se calarem no sábado, quando os chavistas saíram às ruas para retomar o poder.

Cisneros afirmou que a falta de informação no sábado se deu pelo temor dos jornalistas de saírem às ruas, uma vez que grupos chavistas cercaram as sedes das emissoras de TV e das redações de jornais.

?Os jornalistas tinham razão para ter medo, pois vinham sendo ameaçados e perseguidos?, declarou Cisneros. De acordo com outro dirigente da Venevisión, Victor Ferreres, os repórteres da emissora se reuniram com os diretores e foram informados de que aqueles que não se sentissem seguros não precisariam sair da sede.

?Asseguramos a todos que reforçaríamos as medidas de segurança para os que quisessem sair, mas ninguém quis deixar a emissora?, acrescentou Ferreres."

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"TVs venezuelanas são criticadas por omitir protestos pró-Chávez", copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/02

"A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que na sexta-feira havia criticado duramente o então presidente deposto Hugo Chávez pelo enfrentamento aos meios de comunicação, ao qual atribuiu parte da responsabilidade por sua queda, disse ontem considerar ?preocupante? a autocensura das TVs locais ao não noticiar os protestos pelo seu retorno ao poder, no sábado.

?O silêncio das TVs é preocupante para nós, porque poderíamos estar diante de um ato de autocensura por parte desses canais, que preferiram passar novelas e filmes, programas alheios ao que estava acontecendo?, disse à Folha o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da organização, Rafael Molina.

Ele afirmou, porém, não ter dados suficientes para afirmar que tenha havido uma ação deliberada dos meios contra Chávez. ?Ainda não contamos com informações fidedignas que nos inspirem confiança suficiente para fazer um pronunciamento. Estamos em estado de observação.?

?É condenável que silenciem pela força, mas é condenável também que silenciem por temor?, disse Molina, em referência às ameaças e depredações sofridas pelos canais de TV por manifestantes pró-Chávez na tarde e na noite de sábado.

O comunicado divulgado na sexta-feira pela SIP, assinado por seu presidente, Robert Cox, dizia que ?Chávez é o maior responsável por não haver liberdade de imprensa no país?. ?A derrubada de Chávez? é um exemplo muito válido para o novo governo encabeçado por Pedro Carmona, que seguramente reverterá isso, respeitará a liberdade de imprensa e alentará a independência judicial, garantindo assim um período verdadeiramente democrático?, afirmava o comunicado, pouco antes de Carmona anunciar a dissolução dos Três Poderes.

Segundo Rafael Molina, a SIP espera agora que Chávez ?cumpra sua promessa de que irá retificar os erros?. ?Esperamos que a imprensa venezuelana reassuma seu papel conforme as coisas se normalizem?, disse.

Em declarações durante entrevista coletiva ontem em Caracas, Chávez qualificou o golpe que sofreu como ?um jogo midiático?. Segundo ele, os militares que tentaram derrubá-lo utilizaram os meios de comunicação para se dirigir às tropas, enquanto o comandante-em-chefe das Forças Armadas, general Lucas Rincón Romero, ?foi impedido, porque o sinal do canal estatal Venezuelana de Televisión foi derrubado?."

 

"Imprensa acuada com a volta de Chávez", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 15/04/02

"A imprensa venezuelana está acuada com a volta de Hugo Chávez à presidência. As redes de TVs privadas classificaram as manifestações pró-Chávez do último domingo (15/4) como ?tumultos?, justificando assim a não-transmissão do apoio popular a Chávez. Já os dois principais jornais, El Universal e El Nacional, fecharam mais cedo por temerem invasões de simpatizantes do presidente reempossado. Em seu discurso, Chávez afirmou que os meios de comunicação são ?a maior corrupção do mundo?.

Um pouco antes de ser deposto Chávez havia decidido suspender os sinais de três emissoras de TV. Ele as acusou de promover a desestabilização do governo."


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"Venezuela: TV desculpa-se por falta", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 18/04/02

"O diretor do canal de notícias Globovision, da Venezuela, Alberto Frederico Ravell, pediu desculpas na última terça-feira (16/4) pelo canal não ter coberto a volta do presidente Hugo Chávez ao poder. As redes privadas do país não mencionaram os movimentos pró-Chávez que aconteceram no sábado (13/4), alegando medo das ameaças feitas por grupos de apoio ao presidente. Eles não permitiram que os jornalistas saíssem às ruas para fazer a cobertura dos acontecimentos.

?Se cometemos um erro, nós assumimos. Peço desculpas pessoalmente a qualquer telespectador que sinta que tenhamos falhado naquele dia?. E justificou dizendo que o canal era um ?triângulo das Bermudas?, referindo-se ao governo que havia caído, ao governo golpista e às ameaças dos grupos pró-Chávez.

A rede pública saiu do ar enquanto os golpistas assumiram o poder. A transmissão voltou quando Chávez reassumiu o governo.

A imprensa escrita também não trabalhou. A maioria dos jornalistas foi retirada das redações no sábado. Resultado: domingo não havia jornais nas bancas. Só Últimas Notícias circulou, justamente o diário a favor do governo de Chávez.

Nesta quinta-feira (19/4), o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que é importante que a Venezuela respeite a liberdade de imprensa."