ERA TECNOLÓGICA
“O futuro das comunicações”, copyright Época, 04/01/04
“Se esta revista fosse reaberta em 2015 é provável que o cenário de ficção científica descrito logo a seguir por 12 especialistas consultados por ÉPOCA fosse apenas de um relato singelo da realidade: ?A tecnologia se incorporou a nossa vida de forma tão natural que fica difícil saber onde termina o homem e onde começa a máquina. Elas estão mais humanas, e nós mais cibernéticos. As cidades, o campo, todas as partes do mundo foram recobertas por uma espécie de teia invisível ? a rede das redes ? que conecta qualquer tipo de dispositivo eletrônico a qualquer hora e em qualquer lugar. Já se atende o telefone pela TV e se assiste a um programa ao vivo pelo celular. As compras são pagas aproximando os olhos de um leitor de íris?.
Há pouco mais de oito anos ninguém se imaginaria tão dependente das novas mídias como hoje. O celular, palavrão da informática há pouco mais de uma década, tornou-se um dos mais populares artigos tecnológicos. ?O mundo virtual é a primeira grande revolução depois da descoberta da América. Primeiro tivemos a expansão dos territórios, agora vivemos a expansão de nossos sentidos?, define Jacob Goldberg, psicólogo estudioso das novas mídias e professor convidado da Faculdade de Medicina de Londres.
Em 2004, o celular vai ganhar a capacidade de rastreamento. Imagine estar no carro e ser avisado, por mensagem de texto, que você está a 200 metros de uma floricultura que lhe dará desconto de 60%. ?Já pensou que máximo! Quero ser avisada sobre todas as baladas no fim de semana?, dispara a carioca Isabela Paschuini, de 14 anos, namorada de Guilherme Hartz, de 21. Eles se conheceram pelo celular e trocaram pelo menos 600 mensagens antes de marcar o primeiro encontro real. ?Hoje a gente se fala o dia inteiro: por ICQ, e-mail, celular, telefone fixo e pessoalmente?, lista a menina. ?Inclusive já terminamos o namoro por celular e fizemos as pazes por ICQ?, completa.
Uma pesquisa feita pelo portal Yahoo! nos Estados Unidos com 2.618 meninos e meninas entre 13 e 24 anos mostrou que os jovens consomem mais de uma mídia ao mesmo tempo. Cerca de 70% dos entrevistados escutam música ou assistem à TV enquanto estão on-line. A nova geração, especialmente a nascida no século XXI, pode aposentar os desktops (computadores fixos de mesa) e usar apenas dispositivos portáteis. E o melhor: não vai precisar plugar fio nenhum na tomada. A nova aposta tecnológica de conexão à rede chama-se WiFi e funciona por ondas de rádio. Basta conectar um chip especial ao ä laptop antes de sentar-se em frente de uma lanchonete, um hotel, uma universidade ou um aeroporto que ofereçam o serviço. Patrícia Poloni, de 24 anos, que trabalha com atualização de banco de dados, tem o hábito de acessar seus e-mails enquanto aguarda o almoço. ?É um momento de lazer, o tempo passa mais rápido?, afirma. O serviço desembarcou no país em meados de 2003.”
“Revolução, 20 anos”, copyright No mínimo (www.nominimo.com.br), 04/01/04
“Na manhã de 24 de janeiro, em 1984, Steve Jobs apresentou-se perante os acionistas da Apple Computer recitando um verso de Bob Dylan: os tempos, eles estão mudando. Mas o que seguiu à reunião anual de negócios da empresa foram números, gráficos, discussões estratégicas. O anúncio que todos esperavam de fato, Jobs deixou-o para o final. No palco negro com pano negro ao fundo, o presidente e fundador da Apple apresentou uma caixa de papelão da qual tirou um pequeno computador, quase 35cm de altura, 25 de largo, 28 de fundo. A tela era pequenina, 9 polegadas, monocromática ? o resto, todo bege. E, com uma voz metalizada, o computador falou: ?Olá. Sou Macintosh. É ótimo estar fora daquela caixa?.
Em janeiro de 2004 o Mac ? como terminou apelidado ? faz vinte anos. Na sua edição de 50 anos agora em dezembro, a ?Playboy? norte-americana o elegeu produto mais revolucionário do último meio século. Num mundo dominado por monitores negros e comandos de linha em verde fosforescente ou branco impossíveis de memorizar, aquele tinha ícones e janelas. Tinha mouse ? o público sequer sabia o que era um mouse. Num tempo em que a maioria das pessoas ainda gravava coisas em disquetes maleáveis de 5 1/4 (quando não em fitas cassete), o Mac trazia disquetes mais resistentes de 3 1/2 que cabiam no bolso da camisa. Um Mac se ligava ao outro em rede com dois ou três comandos. E ninguém fora técnicos sabia o que era uma rede. Aquilo a ser apagado, jogava-se, literalmente, numa cesta de lixo na tela. Tinha 8MHz de clock (um assombro) e 128K de memória RAM (pouco). Em um ano, a RAM seria multiplicada para estonteantes 1Mb.
Principalmente, o Mac era fácil de usar. Era, dizia o slogan, o computador para o resto de nós. E quando o mundo descobriu que o digital podia ser fácil, abandonou o analógico. Foram-se as caixas registradoras, as filas para sacar dinheiro no horário bancário, as longas planilhas preenchidas a mão em grossos volumes, as máquinas de escrever. Ao Macintosh, seguiu-se o Windows 3, que quase chegava lá, e a Web gráfica que tirou a Internet dos técnicos para lançá-la ao povo. Em 1995, 11 anos após o Mac, a Microsoft pôs no mercado um Windows que bem lembrava o original da Apple. Nestas últimas duas décadas, tanto se espalharam os computadores pessoais gráficos ? e tanto eles se ligaram à rede ? que fez-se a globalização.
Esta é uma versão da história longe de ser unânime. Há quem defenda que os computadores pessoais estavam fadados a ficar fáceis ? a Apple fez antes o que iria acontecer de qualquer jeito. Outra linha de argumentação é a de que ícones e mouses e quetais simplesmente não foram criação da Apple. De fato, não foram. Já estavam no iniciozinho dos anos 1970 no Alto, um protótipo da Xerox, desenvolvido no PARC, o laboratório de gênios que a empresa das fotocopiadoras financia até hoje a uns poucos quilômetros da sede da Apple. Uns anos antes do Mac, aliás, a própria Xerox lançou o Star ? o primeiro computador pessoal com interface gráfica. A empresa não acreditou no produto, caro demais e fracasso fulminante no mercado.
Acontece que um dia o jovem Steve Jobs bateu à porta dos diretores da Xerox e fez um acordo. Em troca de meio milhão de dólares em Apple IIs (o computador que sua empresa fabricava), queria uma visita guiada pelos laboratórios do PARC. Os burocratas acharam bom negócio e Jobs saiu de lá com uma penca de engenheiros contratados. Em 1983, a Apple lançou o Lisa. A 10.000 dólares por unidade, fracassou retumbantemente. Como o Star. Só que, ao contrário da Xerox, a Apple não desistiu. Pondo em risco o futuro de sua empresa quando todo o mundo tecnológico tomava o rumo do padrão IBM-PC, chip Intel, Microsoft-DOS, Steve Jobs pôs no mercado seu Lisa revisitado a um quarto do preço: o Mac. Era caro, ainda. No primeiro ano, vendeu quase nada ? tinha pouca memória. Custou ao fundador da Apple seu emprego: conseguiu a proeza de ser demitido da empresa que criou.
Foi por acidente, talvez, a sobrevivência do Mac naqueles primeiros anos. Duas coincidências. Num acesso de insanidade aos olhos dos analistas, a Apple pôs à venda uma impressora laser que custava 7.000 dólares. Num mundo de matriciais, ninguém cogitava comprar uma impressora ao preço de três ou quatro computadores. Mais ou menos no mesmo momento, uma micro-empresa batizada Aldus lançou um software chamado PageMaker. Aproveitando-se da habilidade gráfica do Macintosh, este programa diagramava jornais e livros. De repente, o custo da montagem de uma editora despencou de quase 100.000 dólares para 15.000 ? e o Mac estava salvo.
Há outros motivos para não se dar ao Macintosh seu devido mérito. Há quem diga que estava no computador pessoal o conceito revolucionário. Mas de produtos úteis difíceis de usar, a história enche-se de fracassos e, mesmo assim, os louros cairiam no colo da Apple, que em 1978 lançou o primeiro micro com teclado. No entanto, é quando ficou fácil que as pessoas trouxeram um PC para casa e escritório.
Há ainda o problema da personalidade. Steve Jobs foi durante muito tempo um tirano, o tipo de chefe que gostava de humilhar seus funcionários publicamente. Tampouco era um técnico: sua função era (e é) dizer o que deve ser feito. O engenheiro gênio, na Apple, era o outro fundador, Steve Wozniak. Compare-se Jobs com Bill Gates. Gates era programador, entendia de como fazer as coisas, um sujeito desengonçado e agradável. Com o passar do tempo, virou Gates o ícone da inovação ? não Jobs.
Ponha-se na conta a saúde das duas empresas. A Apple lança um produto novo, a Microsoft segue atrás copiando (da Apple ou de quem for). Foi a Apple que emplacou o computador pessoal e a interface gráfica, mas 95% do mundo usa o padrão Microsoft. A Microsoft não pára de crescer. A Apple comemora quando fecha o ano no azul. Tem 2% do mercado de computadores no mundo. No início dos anos 80, tinha 85%. No início dos 90, tinha 10%. E, durante muito tempo após deixar a Apple, Jobs fracassou uma vez após a outra. Uma de suas primeiras biografias era chamada ?Milionário por acaso?, traçando o perfil de um sujeito que, cercado de gente talentosa, aproveitou-se.
Em 1996, quando a Apple estava à beira da falência, Jobs voltou a bater à sua porta. Oferecia a empresa que havia fundado após sua demissão, NeXT, e seu sistema operacional, baseado em Unix. Foi contratado ? e comprado. Neste tempo, os computadores da Apple, antes tidos como robustos, viravam sucata em poucos anos, precários. Não deu um ano e Steve Jobs era presidente da Apple. De novo. Em agosto de 1998, apresentou ao público um computador que não era bege e sim de plástico azul translúcido ? como o Mac original, acoplava numa só peça monitor e CPU. Era, e continua sendo, uma obra de design fabulosa: o iMac. A Apple fechou no azul o ano seguinte. Então, em 2001, o sistema da NeXT foi reestruturado e os Macs passaram a rodar Unix, o mais poderoso sistema operacional em existência que, pela primeira vez, era fácil de usar. Muito fácil. Continua sendo o único Unix fácil.
Vinte anos depois, o Macintosh em sua última versão continua com cara de a coisa mais moderna e bonita que se pode comprar. Continua, também, o computador que dá menos problema e é mais fácil de usar do mercado. E continua caro. Um PC montado pode custar quatro vezes menos. Um PC de marca, fora meia dúzia de exemplos, ainda assim sai mais barato. No entanto, um Mac dura ? e em vários sentidos. Apenas usuários de Linux sabem o que é ter um computador ligado faz um ou dois meses sem a necessidade de boot. E poucos, fora usuários de Mac, sabem o que é ter um computador com cinco anos de idade que continua rodando, rápido e eficiente, a última palavra em software (com talvez a adição de um disco rígido novo e alguma memória, não mais).
Steve Jobs tinha 29 anos quando lançou o Macintosh. Hoje já não é mais o tirano que foi ? mas continua o sujeito mais talentoso na hora de fazer uma apresentação que jamais houve na indústria da tecnologia. Segue milionário, e não por acaso. Seu outro negócio, a Pixar, produz desenhos animados que vão de ?Toy Story? a ?Procurando Nemo?, passando pelos ?Monstros S.A.? ? e sustentando a Disney rodeada por fracassos de cunho próprio. Dificilmente Jobs fará da Apple uma empresa líder do mercado. Mas, sem a Apple ao longo desses anos, o mercado seria medíocre e pobre em criação.
Em 1984, o comercial de lançamento do Mac, que apresentava um Big Brother contra o qual a inovação se insurgia, foi dirigido por Ridley Scott, recém-famoso pelo seu ?Blade Runner?. Os rumores indicam que o novo comercial comemorativo vai reeditar a parceria. Ao ?New York Times?, de certa feita, Jobs explicou: ?O Macintosh se deu tão bem porque as pessoas que o fizeram eram músicos, artistas, poetas e historiadores que por um acaso também eram excelentes cientistas da computação?.
Ano novo, 2004 está aí. Dia 24 agora o Mac faz vinte anos, não custa um brinde ao criador e à criatura. Mesmo que o caro leitor esteja vendo este texto na tela dum XP.”
“Novas críticas de Jakob Nielsen”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 30/12/03
“O ano novo vem chegando e junto com ele novas críticas e previsões de Jakob Nielsen, o guru da usabilidade, que aponta, em seu mais recente artigo, na famosa coluna Alert Box, os Dez Maiores Erros de Design de 2003 (Top Ten Web Design Mistakes of 2003), cuja lista de avaliados incluem também sites jornalísticos.
Como sempre, as críticas de Nielsen são de interesse de webdesigners e de quem trabalha com conteúdo online em geral. Apesar de muitas vezes ele apontar erros óbvios, pelo menos vale para refletirmos sobre como ainda hoje sites comerciais ? e muitas vezes de peso ? cometem tais deslizes.
Abaixo listo e comento cinco dos erros listados por Jakob Nielsen que, certamente, servirão de base para iniciantes na mídia digital e para quem lida com esse meio diariamente.
1. Falta de clareza nos objetivos ? As empresas norte-americanas usam linguagens genéricas e gírias para descrever seus produtos e serviços. Isso pode inibir muitas vezes quem não tem fluência naquela língua. Percebo também que o modo como sites comerciais abordam e descrevem os produtos tende a deixar informações importantes em segundo plano, querendo deixar somente claro que o consumidor está adquirindo um bom produto e ponto final;
2. Novas URLs para artigos arquivados ? Por alguma limitação ou função do sistema responsável por arquivar automaticamente o conteúdo de um site, os artigos passam a ganhar uma nova url quando são arquivados, o que pode dificultar ou até mesmo fazer com que o leitor nunca mais encontre o que deseja ler, principalmente se o site em questão não possui um sistema de busca respeitoso.
3. Conteúdo sem data ? Eu sempre bato nessa tecla! O que existe de sites por aí com conteúdo de caráter noticioso, porém sem data, é incontável. Esse erro é comum aqui no Brasil e, principalmente, em se tratando de sites científicos. Tão importante quando o próprio artigo é a época, o tempo em que ele foi escrito.
4. Thumbnails de fotos grandes e detalhadas ? Para quem não sabe o que é um thumbnail, é uma versão reduzida de uma imagem detalhada que se pretende mostrar. Ou pelo menos deveria ser uma versão reduzida, pois muitos sites ainda insistem em pegar a própria imagem detalhada ? gorda em Kbytes ? e simplesmente alterar suas propriedades de largura e altura. O certo seria criarmos duas imagens: a grande que se pretende mostrar com mais detalhes e uma pequena (thumbnail) para ficar em uma página prévia junta com as outras. Tudo bem que grandes sites noticiosos não cometem mais esse erro, mas ainda é possível vê-lo muito por aí.
5. ALT Text com muitos detalhes ? O ALT Text é uma propriedade da imagem, uma alternativa textual para quem não consegue ver as imagens de um site, uma espécie de legenda. Em muitos sites, o ALT Text das imagens, que deveria ser, segundo Nielsen, enxuto, exibe informações em excesso. Não parei para pensar muito nisso. Esteticamente, um ALT Text extenso pode não ser bom, mas ele pode vir a ser funcional para deficientes visuais, que precisam de um pouco mais de informações na legenda das imagens.
Em suma, é isso. Apesar de cada vez mais os sites de peso estarem investindo na questão usabilidade, vemos ainda muitos, principalmente sites de médio porte e/ou da área médica, cometendo os chamados erros óbvios. Que em 2004 os acessos se tornem mais fáceis para todos! Feliz ano novo, saúde e paz para todos. Até a próxima!”