GOVERNO LULA
“Mídia está de bem com o governo Lula, dizem especialistas”, copyright Brasil de Fato, 13/04/02
“Os grandes grupos de comunicação do Brasil trataram o governo com benevolência nos primeiros cem dias de mandato do presidente Lula. Esta é a opinião de dois dos mais prestigiados críticos de mídia do País. As análises do jornalista Alberto Dines, editor-chefe do Observatório da Imprensa, primeira organização especializada em cr&iaciacute;tica de mídia do Brasil, e do professor titular de da Escola de Comunicação e Artes da USP, Bernardo Kucinski, também assessor especial da Presidência e titular até o ano passado de uma coluna sobre comportamento da imprensa chamada Cartas Ácidas, publicada na Agência Carta Maior, são praticamente coincidentes: os dois analistas entendem que o modo como Lula conduziu o seu início de mandato e a própria figura do presidente inibiram ataques frontais ao seu governo.
?A mídia brasileira perdeu o padrão de mesmice com a entrada do novo governo. Surgiu finalmente o pluralismo. Os jornais e colunistas em geral têm tido postura diversificada, mas prevalece uma dificuldade em bater forte no governo, dado o apoio popular e a vontade de todos de que Lula dê certo. Também a desenvoltura do presidente na frente internacional e no trato com os diferentes setores da sociedade inibem a critica da mídia. Acho até que há uma certa benevolência?, explica o professor Kucinski.
Para Alberto Dines, a imprensa refletiu neste período um certo clima de apaziguamento dos ânimos no Brasil, em que mesmo a oposição preferiu não bater forte no novo governo. Segundo o pioneiro da crítica da mídia no País, o presidente Lula teve um papel fundamental para sedimentar este clima desde o momento em que venceu a eleição e iniciou um tranqüilo processo de transição, conversando civilizadamente com Fernando Henrique Cardoso e com os integrantes do gabinete do ex-presidente. Dines também ressalta a importância do carisma de Lula ? um personagem simpático, conciliador e dono de uma biografia que dificulta as críticas pessoais. ?O comportamento da imprensa está favorável, sem cobranças extremadas. De modo geral, os jornais não estão pegando no pé do Lula?, afirma.
Mas não é só a figura do presidente que ajudou no bom-mocismo de uma imprensa que até há pouco rejeitava a liderança de Lula e tinha verdadeira ojeriza ao Partido dos Trabalhadores. A crise aguda por que passa praticamente todo o setor de comunicação também está ajudando a esfriar os ânimos dos que no fundo gostariam de criticar com muito mais força o atual governo, mas que agora dependem em larga medida da boa vontade do governo para encontrar soluções para seus problemas financeiros e gerenciais. ?Essa crise foi um ensinamento para essas empresas, que se meteram nas aventuras das privatizações e agora estão endividadas. Acho que a relativa docilidade da imprensa pode ter algo a ver com a situação em que se encontram. Mas Folha também não está bem e nem por isso está dócil?, analisa Kucinski. A opinião do professor é compartilhada por Dines, que também vê na situação pré-falimentar de muitos conglomerados um dos motivos da estranha lua-de-mel da mídia com o governo petista.
Folha: ostensivamente antipática
Kucinski e Dines concordam também sobre as exceções ao padrão de cobertura política que se estabeleceu até aqui: os dois apontaram o jornal Folha de S. Paulo como a voz mais dissonante. Dines vê também nos colunistas ? ?competindo para se mostrarem os mais indignados? ? um foco de críticas duras a Lula, enquanto Kucinski reclama da cobertura do programa Fome Zero. ?Num extremo, o Estadão vem dando um tratamento simpático ao governo, sem deixar de ser crítico; no outro extremo, a Folha vem dando tratamento ostensivamente antipático, como se fizesse da critica ao governo uma receita editorial. Com exceção da temática Fome Zero e do jornal Folha de S. Paulo, não avalio como exageradas ou injustas as criticas ao governo Lula?, diz Bernardo Kucinski. Já Alberto Dines acredita que após o episódio da famosa frase infeliz de José Graziano sobre a relação da migração de nordestinos com a criminalidade, a imprensa tem poupado o ministro. ?O Fome Zero poderia ser um prato cheio para as críticas, tantos são os seus problemas?, explica o jornalista. No caso da postura da Folha de S. Paulo, Dines acredita que não se trata sequer de um problema político: ?a Folha tem raiva do sucesso alheio?.Se o governo Lula vem sendo bem tratado pela mídia brasileira, o mesmo não se pode dizer de seus antigos companheiros que estão hoje postados à esquerda do governo, ainda que dentro do partido do presidente. Nesses cem primeiros dias de novo governo, foram eles os alvos dos ataques mais duros da mídia. Dines, porém, avalia que a imprensa tratou o tema sem grande sensacionalismo. ?A atuação do Babá e da brava senadora Heloísa Helena é um fato político relevante?, afirma o jornalista. Kucinski preferiu não dar palpite nesta seara, alegando ter poucos elementos para uma análise mais detida sobre o tema. Entre parlamentares da esquerda petista, porém, a queixa com a mídia é quase unânime. ?A imprensa bate no que chama de ?radicais? para jogar o presidente no colo da direita?, diz um assessor parlamentar que preferiu não se identificar. ?O jogo é pesado e tem gente do próprio governo pautando a grande imprensa e ajudando a nos isolar?, reclama.”
“Morde e assopra entre Miro e Anatel confunde até a imprensa”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 14/4/03
“As relações entre o Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, são tão complexas que até a imprensa começa a bater cabeça na apuração dos fatos. Notas divulgadas nesta sexta pela mídia dão indícios da confusão.
Enquanto a Folha Online e a Reuters afirmam que o ministro Miro Texeira admite que as relações com a agência reguladora são ?tensas?, a Agência Estado publica o oposto. ?Não existe conflito entre o ministério e a Anatel?, foi a frase do ministro divulgada entre aspas no site do família Mesquista. A nota destaca ainda que Miro almoça toda semana com o presidente da agência, Luiz Guilherme Schymura.
Na Folha e na Reuters o tom é outro. A nota informa que a decisão da Anatel de negar recurso da Vésper – contrariando manifestações anteriores do ministro a favor da operadora – só coloca mais lenha na fogueira entre o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e os órgãos reguladores.
O presidente e ministros vêm defendendo a retomada do poder de definição de políticas públicas nos serviços essenciais, limitando as agências ao papel de fiscalizadoras. Lula chegou a dizer que ?o Estado foi terceirizado? no país.
Miro Teixeira, segundo a Folha, disse que as agências reguladoras em todo o mundo tiveram problemas de adaptação e que, no Brasil, a Anatel acumula muitos deles. ?Desta maneira vamos convivendo com tensões, sim, é claro, porém, nós, do governo Lula, não vamos renunciar ao nosso papel estrutural?, teria declarado.
O Globo.com, por sua vez, fecha os olhos ao impasse e limita a informar que a Presidência da República está discutindo mudanças na política de telecomunicações para acabar com a indexação dos contratos de tarifas de telefonia e aumentar a competição do setor. As novas regras valeriam a partir de 2006, quando vencem os atuais contratos.
Hoje, o reajuste é feito com base na variação do IGP-DI. Segundo o ministro, essas mudanças serão realizadas por meio de decreto e respeitarão a Constituição e a lei.
Como se vê, a história é confusa e parece estar longe de acabar. Pelo menos em termos de versões e boatos, está sobrando desrespeito para com o consumidor.”