Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Luiz Carlos Merten

MEMÓRIA / GRANDE OTELO

"Um tributo à arte do inesquecível Grande Otelo", copyright O Estado de S. Paulo, 13/04/02

"Pode ser que uma coisa não tenha nada a ver com a outra. A TV Cultura e Arte prepara sua grade de programação com bastante antecedência. Portanto, a homenagem a Grande Otelo, na segunda-feira, já estava prevista muito antes da última entrega de prêmios da Academia de Hollywood. Mas não deixa de ser significativo que o maior ícone negro do cinema brasileiro volte à cena justamente após a dupla consagração de Halle Berry e Denzel Washington. A atração que a TV Cultura e Arte vai mostrar é o programa de TV do qual o pequeno Grande Otelo participou, um Vox Populi, na TV Cultura, respondendo a perguntas formuladas pelo público, nas ruas.

Trata-se, assim, de dar voz ao próprio Grande Otelo. As perguntas variam bastante, desde indagações sobre a vocação de ator e a saudade do parceiro Oscarito, até outras de conotação mais política, que se referem à própria maneira como o cinema brasileiro enquadrou o personagem negro e de que forma se deu a contribuição de Grande Otelo a essa formulação. Algumas idéias de Grande Otelo são polêmicas. Isenta-se de responsabilidade quando interpreta personagens de negros que não enriquecem em nada o processo de autovalorização dos homens e das mulheres de sua cor. Diz que era funcionário de uma organização (a Globo) e deixa claro que sua maior luta era pela sobrevivência.

Grande Otelo nasceu Sebastião Bernardes de Souza Prata em Uberlândia, Minas Gerais, em 1915. Passou a infância em São Paulo, mas foi no Rio que fez carreira em shows, cinema, teatro e televisão. Revela que seu maior sucesso foi Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, no qual interpretou o herói sem caráter de Mário de Andrade, mas diz que seus filmes preferidos sempre foram Amei um Bicheiro, de Jorge Ileli e Paulo Vanderlei, e Dupla do Barulho, em dupla com Oscarito, na estréia de Carlos Manga na direção.

Consagrado pelo elogio de Orson Welles, que o chamou de gênio, Grande Otelo morreu em novembro de 1993, ao chegar à França para ser homenageado no Festival dos Três Continentes de Nantes. Lembra seu mestre, Mesquitinha, que dizia que o ator pode aprimorar-se na escola, mas a arte da representação é um dom e a capacidade de fazer rir e chorar é intrínseca a certas pessoas, não se aprende em nenhum curso de interpretação. Grande ator, muito versátil, ele merece alguns comentários críticos no livro de João Carlos Rodrigues O Negro Brasileiro e o Cinema. O autor discute os arquétipos que o cinema nacional criou para filmar o negro. Enquadra Grande Otelo na categoria do crioulo doido. Diz que ele foi o moleque por excelência, pródigo em comicidade, simpatia, ingenuidade e infantilidade. Raramente foi personagem central. Fez, quase sempre, contraponto ao branco Oscarito. E era assexuado, na tela. Só ganhou uma parceira (Vera Regina) bem mais tarde, nas chanchadas, embora tenha formado dupla até com Josephine Baker no Cassino da Urca. A infantilização do sexo fazia de Grande Otelo uma figura inofensiva, ao contrário do Negão, outro arquétipo. Interpretações desse tipo não impedem a constatação de que o pequeno (e feio) Otelo faz justiça ao ?grande? contido em seu nome artístico."

 

LE MONDE

"Leitores do ?Le Monde? criticam novo projeto", copyright O Estado de S. Paulo, 14/04/02

"Os leitores do Le Monde reagiram indignados à publicação, em caráter experimental, de um suplemento semanal em inglês, com artigos do New York Times. A idéia foi bem recebida pelo público de 15 a 24 anos, mas a maioria dos leitores reclamou, afirmando, entre outras coisas, que o diário francês ?curvou-se à americanização do planeta? e lembrando que o jornal americano não publica uma linha em francês."