JORNAL DO BRASIL
"Números
da miséria e do atraso
A manchete do JB do dia 10, "Miséria e atraso no país do futuro/ Brasil é o 43? em avanço tecnológico e com R$ 14 por mês tirava 50 milhões da indigência", mereceu reparos por parte de um leitor, na verdade mais dirigidos à Fundação Getúlio Vargas, responsável pelo estudo. Mensurar a miséria é questão sempre polêmica, e é o assunto que abre esta seção.
O trabalho apresentado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) relativo à miséria brasileira, o qual é objeto destacado da edição de 10/7, nem parece produzido por essa instituição séria e respeitada. Ao divulgar que com R$ 14 por mês ? contribuição teórica dos não miseráveis (120 milhões) ? seria possível acabar com a indigência dos 50 milhões pelo Puna, a FGV dá uma de partido político populista. É uma questão de cálculo: dos potenciais contribuintes, pelo menos a metade está, apenas, um pouco acoima da linha de pobreza: portanto, não teria como contribuir; pelo contrário, estaria necessitando de uma complementarão de renda. Dos 60 milhões que constituíram o contingente de classe média para cima, no máximo a metade teria capacidade contributiva, pois não seria possível contar com as crianças, os adolescentes e donas de casa sem renda. Por conseguinte, para fixar o valor teórico individual suficiente para a erradicação da miséria dos 50 milhões, deveríamos dividir o montante mensal necessário ? R$ 1,69 bilhão ? por 30 milhões de pessoas, do que resultaria um valor de R$ 56, quatro vezes a modesta cota apregoada. Se considerarmos que, mesmo administrado por um fundo não governamental acima de qualquer suspeita, haveria um custo para administrar corretamente tais recursos, a contribuição mensal chegaria a, no mínimo, R4 60. É certo que o representante da FGV não defende a criação de um imposto ou contribuição para tal fim; argumentava, apenas, que não custaria tanto assim erradicar a miséria no Brasil, tese com a qual concordo. Acho apenas que R$ 14 estão bem abaixo da realidade. Gilson Rangel Rolim ? Niterói.
O tradicional JB, considerado por larga margem da população um respeitável veículo de comunicação, surpreende quando traz a matéria "Cinco faculdades do Rio poderão perder o registro", publicada em 5/7 complementada tendenciosamente com o subtítulo "Na lista do Ministério, está a engenharia elétrica da tradicional Santa Úrsula". Ora, se são cinco os cursos referidos, é de se perguntar a que interesses o noticiário está servindo ao citar apenas um, e em destaque. A manchete é sensacionalista ao citar não uma universidade qualquer, mas esta que tem um nome e uma tradição de seriedade. Curiosamente também, não há a menos referência à tradicional Universidade Santa Úrsula no trecho que diz que "a área que chafurdou nas piores notas foi a matemática". O curso de matemática da USU foi considerado pelo ministro Paulo Renato o melhor do Brasil, recebendo classificação A em todos os itens avaliados. Não satisfeito com uma só matéria tendenciosa, o JB traz na mesma edição outra no mesmo estilo: "Caso único no Rio", subtítulo: "Nota de um aluno pode causar fechamento de curso. A tradicional Universidade Santa Úrsula, em Laranjeiras, pode ter seu curso de engenharia elétrica fechado por conta da nota do único aluno que fez o provão". Será que o JB está torcendo para essa aluna ter obtido conceito E? E se for A? Poderia aguardar um pouco para dar tal notícia tão espetacular! O resultado do provão só sairá em dezembro, e não em agosto, como erradamente o JB noticiou. Por que também não citar o boicote de alunos de engenharia ao provão, resultado no fato de apenas uma estudante tê-lo feito? Helena de Matos, professora da Universidade Santa Úrsula ? Rio de Janeiro.
? Não houve nenhum espírito tendencioso nas duas reportagens. O JB, embora de referência nacional, é um jornal carioca. Assim, são naturais os destaques para faculdades do Rio e, sobretudo, para o caso inusitado do curso de engenharia elétrica da Santa Úrsula. A proximidade da notícia é elemento básico de seu realce num jornal. Nas duas reportagens está escrito que o resultado do Provão será divulgado em dezembro.
Quero expor meu repúdio à coluna de Ivan Lessa, publicada na edição de 6/7. É Semana da Moda em São Paulo ? São Paulo Fashion Week. Por que não? A moda é internacional e a língua inglesa é falada e entendida na maioria dos países, sendo portanto o melhor instrumento de comunicação no mundo globalizado. O resto é politicagem pura. A moda deve relembrar, sempre que possível, o holocausto dos judeus e Zuzu Angel, pois ajuda a manter na memória episódios negros de nossa história, como a ditadura militar brasileira e o nazismo alemão. Assim poderemos evoluir sem o perigo de cometeremos os mesmos erros. Quando a moda brasileira deixa de ser um erro copy-desk, resgatando a história para buscar sua identidade, evoluindo assim décadas e décadas em poucos anos, tratar com deboche a homenagem do estilista Ronaldo Fraga a Zuzu ou classificá-la como grotesca é fazer o jornalismo da desinformação. Luiz Carlos Martins Machado ? Rio de Janeiro.
Lendo o caderno Idéias, vejo na lista dos mais vendidos o livro O pequeno príncipe, na categoria Infantil/Juvenil. Espantada eu me pergunto: baseado em que critério literário? A partir de quais pressupostos? Volto-me imediatamente ao livro e na contracapa releio: "Não é sem apreensão que os amigos do Petit Prince o vêem, caído em terras do Brasil, correr aqui sua aventura. O homem de Estado, o homem de negócios, o geógrafo e até mesmo o guarda-chaves (sem suspeitar que são entrevistados no livro) afastarão o volume com desdém: livro para crianças:". Certamente conhecendo as pessoas grandes como tão bem as conhecia, e antevendo o risco a que estava exposto, o próprio autor já alertava: "Não gosto que leiam meu livro levianamente. Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças…!" Mesmo assim tal alerta não impediu a miopia, a surdez, das classificações como essa do JB, que na melhor das hipóteses traduz um elementar e grosseiro desconhecimento dessa importante obra literária. Trata-se de um livro escrito como fábula, que representa um momento denso, dramático e de grande maturidade literária ? não sem razão considerado obra prima -, escrito em uma linguagem poética, altamente simbólica, onde o autor faz uso da metáfora para expressar as questões mais importantes e cruciais que tanto o angustiavam: o amor, a fidelidade, o sentido da vida. Mergulha no imaginário infantil, onde o mistério se faz pungente, e a busca de resposta incessante: o principezinho nunca na sua vida renunciava a uma pergunta uma vez que a tivesse feito. Entrega-se a esse árduo trabalho de busca. A ele dedica todo o seu ser, seus braços, suas pernas, sua cabeça, seu coração, seu tempo que não foi eterno. E nos deixa como legado essa belíssima fábula do amor que só pode ser escrita por quem verdadeiramente se fez homem, adulto, sem nunca porém esquecer de que um dia também foi criança (bem poucos se lembram disso como nos advertiu). Portanto, reafirmo as palavras que introduzem a edição brasileira: Temos a certeza e que se trata de um livro ? e urgentíssimo ? para adultos. Marina de Souza Costa ? Rio de Janeiro."