Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"O
gato como vítima ou vilão

Poucas reportagens de publicação recente provocaram tantas reações, por parte de leitores, como Doença de gatos preocupa Fiocruz, que mereceu chamada com foto na capa da edição do dia 1?. Além das cartas já publicadas na seção Dos Leitores, selecionamos outras duas, que aí vão, com a resposta da repórter.

?De imediato me chamou a atenção a foto em destaque
de um gato na primeira página da edição de
1?/9, porém ao ler a chamada veio a indignação
com o enfoque dado. Quando li a matéria principal não
compreendi o porquê do conteúdo da capa. Fica difícil,
para quem não acompanha a realidade desse animal, o quando
ele sofre, é perseguido, é vítima de preconceitos,
entender que chamadas como essa só pioram o preconceito contra
os gatos. Não é correto chamar a esporotricose de
doença do gato. Ele pertence a uma das espécies, entre
muitas, que adquirem essa doença, como relata a reportagem.
Várias espécies, incluindo cavalos, gatos, cães,
animais silvestres e o próprio homem, podem adquirir a esporotricose
através do contato com a vegetação. Não
sou contra a divulgação de estudos sérios,
mas com critério e cuidado para não piorar a situação
dos animais. O aumento do abandono não ajuda em nada o controle
de doenças. Os animais de estimação devem receber
atendimento veterinário gratuito, o que é inexistente.
Cães e gatos têm contato direto com seus donos, que
devem ser orientados sobre como tratá-los e como prevenir
que peguem doenças transmissíveis ou não. Como
nós humanos, os animais são seres vivos passíveis
de adquirir doenças e merecem cuidados. No caso da esporotricose,
uma medida profilática é a esterilização,
que deixa o animal mais tranqüilo, longe das brigas. Falta
empenho do poder público para realizar campanhas de esterilização
e faltam locais de tratamento, como por exemplo postos de saúde
que tenham salas de veterinária. Sempre foi preconizada a
matança de cães e gatos para o controle de zoonoses,
de forma cruel e desumana. Não há investimento no
tratamento dos animais e na esterilização. Só
promessas e nada mais?. Andréa
de Jesus Lambert. Rio de Janeiro.

?A esporotricose é uma micose causada por fungo (Sporothrix Schencki)
que vive na matéria vegetal em decomposição.
Ela é comum em pessoas que trabalham com plantas e terra
? jardineiros, floristas, por exemplo. O fungo só contamina
quando há uma lesão na pele, por onde ele penetra.
Plantas tais como roseiras e cactus ou mesmo farpas de madeira apodrecida
ou terra são as fontes de contaminação. Responsabilizar
o já tão vilanizado pequeno felino pela esporotricose
tornou a referida matéria tendenciosa. Enquanto a mídia
deve informar, tem a obrigação de fazê-lo enfocando
a absoluta verdade. O gato é vítima da doença
e não vilão, e é assim que tem que ser apresentado.
?A doença das rosas preocupa Fiocruz? não seria então
uma chamada em mais sintonia com a verdade para a reportagem??.
Ana Maria Yales, presidente da
União Societária Protetora de Animais, Rio de Janeiro.

o gato não foi apontado como vilão. Pelo contrário. Logo na segunda linha do texto principal, animal e homem são apresentados como vítimas. ?Ambos estão sendo vítimas da esporotricose (…)?. As matérias coordenadas ressaltam a preocupação com o destino dos felinos. ?Para os pesquisadores da fundação (Fiocruz) seria preciso promover campanhas educativas para que os moradores (…) não abandonem nem matem os animais?. A reportagem mostra ainda como o dono de um gato doente deve agir. A informação de que o contágio nem sempre está associado ao gato não foi omitida. No texto está clara a forma clássica de transmissão da esporotricose. ?A esporotricose costuma ser adquirida por ferimentos causados no manuseio de vegetais ou no contato com a terra (…). Por isso, a esporotricose ganhou o nome de doença da roseira?. Os gatos, no entanto, têm papel relevante na reportagem justamente porque a Fiocruz constatou um aumento no número de casos em que a doença é transmitida pelo animal.

?Na reportagem do Sr. Cláudio Figueiredo intitulada "Brasilianista
que o Brasil esqueceu" (Caderno B, 21/8) afirma-se que o historiador
inglês professor Charles Boxer ?questionou o mito salazarista
sobre a harmonia racial no império português? e ?desmontou?,
através de trabalho editado em 1963, ?a ideologia do Estado
Novo português da época?. Lê-se e não
se acredita. É simplesmente hilariante que sobre o povo que
criou o ?mulato? sejam agora lançadas acusações
de racismo. A integração racial no ultramar português
não foi ?mito salazarista? ou ?ideologia? estadonovista como
deseja o jornalista, mas política do Estado e incontestável
realidade multissecular, praticada desde o início da gesta
dos Descobrimentos, nos alvores do século XV. O Sr. Figueiredo
qualifica Salazar de ?ditador?. Será porque o estadista cortou
o passo ao comunismo e às ideologias dissolventes? Porque
exerceu a necessária e legítima autoridade dentro
dos limites da moral cristã e do direito, ciente de que saem
Deus, fora da pátria e da família não existe
nada de válido, de autêntico, de duradouro??. Marco
Pinho de Escobar, Rio de Janeiro.

?No excelente editorial Fogos Cruzados, de 5/9, foi apontado
o grave erro de um policial militar, no Rio Grande do Sul, cujo
desfecho é simplesmente inacreditável: a morte de
um jovem de apenas 16 anos e com um belo futuro de atleta pela frente.
Questiona o texto, com muita propriedade, o treinamento dado às
polícias por todo o país. Tem razão. Apenas
para ilustrar, vai o exemplo: a Polícia Civil do Rio de Janeiro
abriu concurso. Idade mínima: 18 anos. Os aprovados farão
curso de dois a três meses na Academia de Polícia.
Aprovados, receberão uma arma, e irão combater o crime,
enfrentando marginais calejados, ou tentarão decifrar crimes
praticados por velhas raposas. Número de inscritos; 100 MIL.
Escolaridade exigida: segundo grau. Com uma receita dessas, teremos
algo proveitoso? Pela lógica, não. Entretanto, toda
a sociedade ignorou o projeto de uma polícia eficiente, bem
treinada e principalmente, agindo com inteligência, quando
fez pouco caso para a luta desigual que se travou no Rio de Janeiro,
entre os que queriam uma polícia com nível de terceiro
grau, com idade mínima de 23 anos, e principalmente agindo
a partir de conceitos modernos, freqüentando a universidade
por pelo menos três anos, e os que acham isso um absurdo,
como um deputado que, ao discursar contra esse projeto, alegou que
?sem possuir nem mesmo o primário completo? teve 70 mil votos.
Por que motivo os policiais queriam terceiro grau?, perguntou. A
opinião de um parlamentar reflete, teoricamente, a opinião
de seus eleitores. Logo, estão reclamando de quê? A
polícia que aí está é a que vai continuar
a existir porque assim quer a sociedade. Inês é morta?.
Aurilio Nascimento, Rio de Janeiro."

    
    
                     

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