Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Luiz Orlando Carneiro

JORNAL DO BRASIL

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 13/10/01

"Ligações Explosivas

O artigo do prefeito do Rio, César Maia, sobre a ligação entre redes de terroristas e tráfico de drogas, publicado nesta página, teve especial repercussão, a julgar pelo número de manifestações de leitores. O ponto de vista de César Maia é o de que o momento não poderia ser mais favorável a um ataque decisivo também ao tráfico de drogas e armas. A discussão em torno do antiamericanismo renascente das cinzas do World Trade Center de Nova York é outra questão destacada.

Terror e Drogas

?O artigo Drogas, armas e terror, de César Maia (5/10), é corajoso, oportuno e elegante. Ele nos fez lembrar que as opiniões e avaliações sobre a tragédia de 11 de setembro não associaram ao terrorismo o tráfico internacional de armas e de drogas. Foi elegante, porque deixou de implicar o tráfico de armas e drogas na corrupção enraizada nos países que supostamente vivem em Estado Democrático de Direito, alinhados com as políticas dos Estados Unidos. Não se pode negar que o apoio dos EUA aos líderes de países ocidentais e árabes tem, da mesma forma, apoiado corrupções e ditaduras. A corrupção nos países alinhados com os EUA, que degrada a sociedade, não seria um terrorismo contra os direitos humanos e não colabora com o financiamento do tráfico internacional de armas e de drogas? O processo democrático das eleições dos governantes nesses países parceiros dos EUA é fraudado com a cumplicidade americana. É o caso de um presidente que ganha as eleições com 98% dos votos (amigos de Washington, o egípcio Hosnoi Mubarak). O prefeito César Maia á um intelectual brilhante porque sabe usar a força do seu pensamento e não uma erudição conveniente e repetitiva. Ele, neste momento, deve ter suas razões para não avaliar o tráfico internacional de drogas à luz da corrupção que coloca as sociedades reféns. A metáfora ?das artérias do sistema sangüíneo do terrorismo internacional por onde correm as drogas e as armas? bem que poderia comportar a corrupção como paredes dessas artérias?. Murilo Mendes Guimarães, Guapimirim (RJ).

?De fato, o tráfico de drogas e de armas não foi nem mesmo mencionado pela elite intelectual, por diplomatas e dirigentes americanos, russos e britânicos. Não é fácil entender por que a ofensiva retórica contra o terrorismo não inclui em sua palavrosa agenda o combate imediato e prioritário a esses traficantes. São eles que financiam a escalada do terrorismo internacional. Que terrorismo é esse que não anuncia sua causa e não proclama suas reivindicações? A omissão do governo norte-americano e de seu aliado mais veemente, Tony Blair, lembrada por César Maia, autoriza a pensar em Shakespeare, quando diz que há algo podre no reino da Dinamarca. César Maia foi o único que percebeu (e disse) que o ?rei estava nu?. O vilão maior dessa história mal contada é o traficante de armas e drogas. Vamos pensar nesse aspecto?? Marco Aurélio Chaudon, Rio de Janeiro.

?Bastante oportuna a reflexão de César Maia. Na minha opinião é objetiva, coerente e verdadeira?. Mirian Coutinho, Rio de Janeiro.

Antiamericanismo

?A colunista Dora Kramer, infelizmente, contribui mais para confundir do que para esclarecer as questões, ao apoiar a idéia de que os críticos dos Estados Unidos estariam sendo preconceituosos ao considerar os EUA broncos, só porque são poderosos. Pode-se mostrar com fatos que os EUA de fato agiram muitas vezes de forma truculenta, como quando bombardearam a casa do ditador líbio Muamar Kadafi, provocando a morte de sua filha adotiva, ou quando bombardearam apressadamente, para dizer mínimo, o Sudão, destruindo uma fábrica de produtos farmacêuticos que pensaram ser um centro de produção de armas químicas. Muitos outros exemplos poderiam ser citados para mostrar como as ações do governo norte-americano têm sido impensadas e unilaterais. Muitos civis têm sido vítimas desse padrão de comportamento em todo o mundo. Isso não quer dizer que o sistema americano não seja elogiável sob muitos aspectos, como, por exemplo, por sua tolerância para com a dissidência interna. Não se deve esquecer o exemplo de Noam Chomsky e outros, que têm sido críticos importantes das ações do governo americano e seus aliados. Além disso, a cultura americana apresenta uma grande receptividade às diferenças culturais e étnicas, o que, espera-se, não será destruído nem mesmo pela atual onda de xenofobia que percorre compreensivelmente a nação. Definitivamente, o antiamericanismo é uma bobagem?. Maurício del Giudice, Rio de Janeiro.

?A posição de Aarão Reis (JB, 7/10, página 14), de observador neutro na guerra declarada pelo terrorismo fundamentalista islâmico, parece ser o limite mais benévolo que a elite brasileira consegue sinceramente propor na sua tradicionalmente fraca identificação com a civilização ocidental. Partindo da esquerda, o antiamericanismo é o socialismo dos tolos; partindo da direita, é o patriotismo dos recalcados. Ambos abundam entre nós. Mas o foco decisivo da nossa psique coletiva é a baixa finidade com a civilização em geral. Isso vem de longe. Em 1940, oscilávamos, bem tipicamente entre o nazifascismo e as grandes democracias capitalistas. Os nazistas, em 1942, torpedearam cinco navios brasileiros, matando centenas de nossos marujos. O povo saiu às ruas pedindo guerra, mui justamente. Puro acidente conjuntural a nosso favor. Espanha, Portugal, Argentinas, Irlanda, os árabes, declararam essa tal de neutralidade, que não engana ninguém. Todos se deram muito mal, nas décadas seguintes. O Brasil se deu bem: basta lembrar o que era e o que é. Agora, nosso ?neutralismo? é como aquele escorpião que atravessa a lagoa montado no sapo da História: seguir sua natureza profunda ou ser pragmático, eis a questão. David Waisman, Brasília.

Esperanto

?A propósito da reportagem Linguagem do outro mundo (Caderno B, edição de 7/10) gostaria de esclarecer que a língua internacional esperanto está em crescimento, apesar de a imprensa não dar o devido tratamento a esse extraordinário fenômeno do mundo contemporâneo. O esperanto é deste nosso mundo mesmo, com uma literatura muito rica, jornais, revistas, editoras e inúmeros congressos internacionais, que não precisam de intérpretes, mesmo quando reúnem pessoas de mais de 50 nacionalidades. Quando é que a imprensa brasileira vai descobrir o esperanto e fazer reportagens sérias e profundas sobre o assunto?? Fabrício Rodrigues Valle, Brasília."

    
    
               

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